sexta-feira, 22 de agosto de 2014

(Parte 25) Templo de Sombras



Naquele lugar, Lacktum e os dragões da Justiça ficariam por uma noite. Visto que Galtran invadiria o Vale logo, com toda a sua força militar os o líder havia pedido aos homens e mulheres que permanecessem no lagar[1] aquela noite. Com isso, Arctus mandaria uma mensagem para Coração Prateado, assim que tudo estivesse seguro.
O mago se sentia péssimo ainda. Ele ainda se ressentia pelo que havia cometido contra Draclyn. Mas a promessa estava feita.
Todo o lagar era tão antigo que Halphy acreditava que deveria ser do período em que os romanos dominavam toda a ilha. Era todo cheio de ramos, mas a estrutura ainda assim, estava forte e firme apesar dos séculos passados. E não parecia ser como uma das construções.
O resto do grupo se juntava na fogueira comunitária. Eles precisavam se sentir melhor.
Gustavo aproveitou para ir falar com Lacktum. Este estava em uma janela, olhando para o norte. Ao longe era possível notar uma construção. Com certeza era o Portal de Ixxanon.
-Lacktum, esta melhor?
-Não, mas sobrevivo.
-Rapaz, se quiser pode chorar. Ninguém te condenaria.
Lacktum fitou o paladino com certa fúria.
-Não prefiro assim. Amanhã chegaremos ao Portal. Não tenho tempo para isso.
-Você tem que melhorar. Afinal, se vamos para lá...
-Tem algo que estou suspeitando.
-O que seria?
-Que encontraremos inimigos por lá.
-Por qual motivo acha isso?
-Por conta do traidor. Ele irá relatar que estamos indo. Se já não o fez.
Gustavo olhou para o mago cheio de ares de desconfiança.
Eu lhe disse sobre o que falou, mas se acalme. Isso pode não ser verdade.
-É sim. O tal Marduk falou coisas diversas sobre nós que alguns poderiam saber, mas o fato de Thror perder a memória foi algo pouco conhecido.
-Pode ser. Mas ele não esconde esse fato de ninguém.
-Porém, aqui na ilha praticamente ninguém sabe disso. Seria impossível.
-Alguém poderia ter obtido dados com alguns de nossos conhecidos. E repassado essas informações ao Pacto – sugeriu o Gustavo.
-Pouco provável – disse o mago voltando sua face para o norte – Além disso, mesmo que fosse assim, poucos sabem disso. Mesmo quando encontramos Nikus, um homem que cuidou de Thror só havia notado que ele não parecia grego. Nem nós, nem o próprio Thror comentou isso com ninguém. A não ser que isso fosse perguntado ao guerreiro. Algo nisso não faz sentido.
-Então... Se sugerir uma possível traição esta em sua mente, quem seria o traidor na sua concepção?
-Eu tenho três pessoas em mente: Halphy, Thror e Arctus.
O guerreiro sagrado se espantou com dois dos três nomes. Logo, Lacktum mostrou o modo como chegou a esses suspeitos.
Halphy é uma jovem, muito esperta e competente. Uma pessoa que, sem falta modéstia, era tão ou mais inteligente que o próprio mago. E ela já se mostrou uma mulher extremamente calculista e fria, quando necessário. Qualidades necessárias para um espião. Sem nem comentar sobre seus talentos como ladina.
Já Thror poderia ser um simplório e tolo, mas isso era uma arma a favor dele. Já que demonstrava tremendas qualidades bélicas, significava que não fosse por suas atitudes, seria até confundido com um capitão de uma milícia ou exercito. Não contando o fato de que vez ou outra, ele parece demonstrar conhecimentos da mitologia grega que até os mais experientes do grupo se espantavam. Pode até ser que ele não saiba disso, o que explicaria os estranhos surtos de sabedoria. Alguém que não sabe o que faz é uma ótima força. Bastava agora saber como era feito a passagem de informações.
E por último o padre Arctus tinha grandes chances de ser o traidor. Ele estava no grupo mais por necessidade do que por bondade, acreditava Lacktum. Não era tão clara a aversão do sacerdote pelos membros do grupo que cultuavam outros deuses, mas ele nunca escondeu esse fato. Em uma religião monoteísta como a do clérigo, nomes do tipo de Cernunnos, Odin e Athena, são profanos. Pura heresia. O tal grupo em que Kalic Benton poderia estar de algum modo, ligado ao clero. Ninguém sabia.
-E como ele mantém os poderes sagrados? – questionou sabiamente o paladino.
-Muitos sacerdotes, de ordens malignas, ou não mostram similaridades no que nós chamamos de magia. Eles chamam de milagres. Bem não importa. De qualquer modo, conseguem simular os efeitos das magias.
-Já que desconfia do sacerdote meu amigo, qual o motivo de não fazer o mesmo comigo?
-Pois você é um paladino. Seus poderes não são fáceis de simular. Seria necessária uma grande intervenção na Arte para tal feito. Um guerreiro sagrado é como uma luz que preenche a escuridão do mundo místico. Não é uma força fácil de ocultar.
-Certo, mas então por qual motivo não podemos crer que você seja o traidor? Só por estar na caverna de Ortro não podemos o descartar.
Lacktum fitou o paladino sorrindo.
-Sagaz você Salles, porém se fosse assim o grupo estaria indo para uma terrível armadilha. Veja.
E falando isso, o jovem Lacktum sacou a adaga de metal espectral. Ela não brilhava muito, mas parte da lamina brilhava contra o entardecer que caia sobre a construção. O assassino de todo território de Van Sirian estava próximo.
-Mas a última vez que esse item brilhou – relembrou um Gustavo temeroso – nos fomos atacados na torre de Azerov.
Lacktum saiu da frente da janela e se aproximou do Gustavo.
-Ele deve estar a um dia de viagem daqui. O brilho não é tão grande para estar próximo. Lembra como ele reluzia daquela vez? De qualquer modo, é a prova que eu não vou trair o grupo. Pois eu vou vingar todos os meus entes queridos. Amanhã cedo partiremos e então saberemos se aquela prole dizia a verdade.

Muitos estavam ao redor das fogueiras, incluindo alguns membros do grupo. Os aldeões se esquentavam como podiam. O inverno ainda imperava. Isso era notado com os ventos uivantes que chicoteavam alguns com o corpo mais fraco e a saúde debilitada.
Nesse momento frio e triste, Arctus trouxe um prato com comida para os necessitados. Estava bem quente e foi entregando aos mais fracos e Seton o auxiliava. Não foi tão bem sucedido como queria, mas fez o que era possível por eles naquela noite.
Gustavo voltava para o grupo, deixando Lacktum com seus próprios pensamentos. Todos se reuniram para conversar, só que Halphy começou a cantar:

Lá onde perdi meu coração
Nunca me ensinaram o que é o amor
Quem encontrar meu coração
Diga-me, por favor, meu senhor
Alguns membros do grupo, mesmo não sabendo cantar, começaram a criar um coro.
Lá onde perdi minha paixão
Nunca me ensinaram o que é esse calor
Quem encontrar minha paixão
Diga-me, por favor, meu senhor
E assim, todos do Vale das Esmeraldas entraram na canção.
Cante meu amor,
Cante minha paixão!
Mostre para mim,
Todo o seu coração!
Muitos sorriam e ficavam mais calmos. Seus corações não continham tanto medo quando antes. Era como se a canção tivesse despertado algum bom sentimento em todos naquele lugar.
Halphy começou a sorrir e chorar, como se a muito tempo, felicidade não tocasse aquele rosto. Alegria de estar entre os mais humildes pelo jeito. Foi quando Arctus perguntou a ladina feiticeira:
- Qual o motivos dessas lágrimas minha cara? Parece feliz?
Ela notou as lágrimas escorrendo de seu rosto.
-Faz muito tempo... Eu cantei essa canção com minha mãe. Era muito bom.
Gustavo a abraçou com extremo carinho. Ela tinha novamente um lar. Uma família.

A noite caiu no lagar. De manhã, os aldeões iriam para onde Galtran deveria estar. Enquanto os Dragões os protegessem, eles revezariam turnos para isso e segurança do lugar.
Foram separados os membros do grupo, em três turnos de vigia. Gustavo ficou com o primeiro, Halphy com o segundo e por último Thror.
Haviam passados os dois primeiros turnos e o guerreiro grego da cicatriz, começava o seu. Ele ficou fora da construção, coberto por peles, olhando para as estrelas. Ficava fitando uma em especial, que parecia ter um tom avermelhado. Por algum motivo ele se sentia bem olhando na direção dela.

Tzorv começou a cantar essa música, graças à melodia de uma lira. Ele a conhecia bem. Não graças a uma de suas memórias perdidas, mas sim uma lembrança firme em sua cabeça. Quando vivia com seu pai adotivo, Orfeu.
-Pai...

O guerreiro começou a andar em direção ao som. As notas surgiam com o dedilhado de mãos suaves. Elas continham tristeza, mas também eram belas como as asas de um anjo caído. Seu canto lembrava um serafim, uma sereia ou um súcubo. Os cabelos eram brancos e arrepiados, todos jogados para cima. Dois brincos surgiam da orelha, com mantos que misturavam um pouco da roupas inglesas com as gregas. Era como encarar um ser onipotente, mas que não esboçava um sentimento sequer na direção de Thror. O poder dele estava em seu carisma, em sua autenticidade, como um poderoso dragão das lendas. Mas não era assim que um dragão se com portava. Ele já sabia.
-Meu amado pai.
-Ora meu indômito filho de criação. Continua tolo como um Hércules, ou sábio como um Perseu?
-Pai... Porque sempre me ofende? – e continuavam a falar, enquanto se ajoelhava diante do homem – Sabe que trilhos o caminho da guerra, assim como os antigos espartanos.
-Os trata como mortos? Teus espíritos estão cheios de vida, inconseqüente filho. Esparta ainda vive naqueles que acreditam em sua glória. E tu deveria se inspirar nisso.
-Lembrarei disso pai, mas me diga qual o motivo de estar aqui? E como me encontrou?
-Ora filho, meus poderes são fortes o bastante para saber o que ocorre ao meu redor. E estou aqui para lhe preparar para o futuro, pois amanhã algo irá ocorrer que mudará tua vida e de todos ao seu redor.
-Alguém irá morrer pai?
E nesse momento, Orfeu dedilhou uma corda da sua lira, fazendo com que sumisse pouco a pouco.
-Não sei se isso ocorrerá meu filho imprudente. Mas sei que irá preferir isso.
-Como assim?
E do mesmo modo que surgiu, Orfeu sumiu. Deixando pó e cinzas onde estava.

Uma noite antes de partirem, além de Thror que foi visitado pelo pai, Seton foi visitado por outra pessoa. Quando ele estava desacordado, em uma barraca improvisada, alguém surgiu como uma sombra através dos panos. E chamou o druida.
Como se estivesse em um sonho ele levantou e disse:
-Quem é?
-Sou eu. Nico. E preciso lhe falar algo.
-O que seria?
-Algo para lhe ajudar rapaz.
-Não compreendo...
-Amanhã, quando entrarem no Portal de Ixxanon saberá do que falo. Agora escute...
E se passou boa parte da noite com essa conversa.

Eis que os aldeões do Vale das Esmeraldas começaram a sair em direção a um lugar seguro. Eles andavam com especificações que Arctus e Lacktum davam, pois haviam ouvido do próprio Galtran Coração Prateado. E foi quando o líder do grupo disse.
-Bem, Dragões da Justiça... Vamos?
Todos estavam preparados. Armas próximas aos corpos, magias memorizadas e coragem em seus corações. Todos gritaram em coro.
-Avante!

Enquanto andavam, o mago e a ladina prestavam atenção no templo que começava a surgir a sua frente. Já Thror e Gustavo notavam o que era mais evidente: que ao redor do enorme templo havia uma grande quantidade de esqueletos ao chão. O que significava que há muito tempo atrás, talvez até mesmo em alguns séculos atrás, houve uma grande batalha ali. Mas tão terrível que fez com que as pessoas que viviam perto daquele lugar nunca se aproximarem dos corpos. O que fazia sentido já que nenhum dos membros do grupo queria se aproximar dos corpos. Era um misto de respeito, temor, efeitos arcanos e a divinos, impedindo que os corpos – boa parte, vestidos com armaduras da época em que Roma dominava boa parte do mundo conhecido – fossem profanados ou roubados de qualquer forma.
E no fim, chegando próximo do templo, era possível ver que lá havia vários desenhos diferentes na estrutura do templo, feita de rocha forte e antiga. Talvez tão velha quando os dragões que as lendas citam. Mas seja lá como for já tinham consciência que dragões existiam. Teriam que entrar e viajar a qualquer custo

Eles entraram naquele lugar cheio de poder, que mais lembrava um templo. Cheio de energia arcana, isso era obvio. O corpo daqueles, mais voltados para a magia se sentia desconfortável, como se o tudo ao seu redor emanasse energia. E isso criava neles a sensação de que um deus passou ali há muito tempo. Que segredos, Ixxanon passou para aqueles que o serviam? Esse poder era mais aparente com as gigantescas colunas ao seu redor que sustentavam o teto. Tinha vários metros de altura com um desenho bem trabalhado de um céu noturno. Diferente de Avalon, não havia lá um céu tão vivo, mas o lugar nem precisava. O tamanho e magnitude dele criavam a sensação esperada de uma construção dedicada a um deus dragão. No meio do lugar, mais precisamente no chão, havia também um enorme mapa que encarava o espaço estrelado do teto. Uma parte parecia seria os reinos como a Inglaterra ou França, mas havia outros – muitos outros – que nunca viram em qualquer mapa. Não havia nomes, muito menos dados, que indicassem do que se tratavam os novos mundos, se poderia se disser assim. Mas o que realmente espantava a todos eram as estruturas entre o teto e o chão: uma escadaria gigantesca que ficava em forma de espiral em um dos cantos do templo, e replicas de vários astros que compunham o espaço ao redor de Gaya – isso quem constatou foi Lacktum.
Havia todos ali. Marte, Vênus, Plutão, Saturno, Júpiter e todos os outros astros reis. Cada um com seu tamanho, e ao que parecia, tinham as formas e cores referentes a cada um. Mas o mais espantoso é que flutuavam e não estavam presos ao teto, muito menos ao chão. Eram livres como seus correspondentes. A magia predominava ali.
Além disso, Arctus não tolerou algo que fez Lacktum o censurar rapidamente. Ele afirmava que a estrutura referente ao sol não poderia estar no centro de tudo aquilo. Mas mesmo que o mago explicasse o monge nunca iria compreender que suas palavras eram as corretas sobre o assunto.
De qualquer forma, nada disso deixava te conceder esse ar de fascinação ao grupo. Parecia que tudo era feito de energia arcana pura e bruta. E com isso tornava o lugar em uma grande massa de força mística. O que causava neles uma sensação de admiração e medo. Tudo isso ao mesmo tempo, como se algo mais forte existisse. Não que nunca acreditassem nisso, havia aqueles que tinham suas religiões e credos próprios, mas era como se fosse uma parte daquele deus na terra. Uma pequena demonstração da força de uma entidade poderosa nesse universo. Em pura força natural e clara. O universo era mesmo colossal...
Ao centro, no mapa de Gaya, havia um obelisco sobre o que seria o reino da Inglaterra. Ele parecia ser feito do mesmo material da pedra que esteve em pose de Azerov. Com certeza deveria ser uma pedra dedicada ao grande Ixxanon. E foi então que Lacktum, Seton e Arctus notaram que havia um obelisco desses em cada astro rei. Então começavam a compreender, em partes, como funcionava toda a estrutura. Além disso, havia três anéis de ferro com runas especificas de transporte a longas distâncias. Isso foi visto com alguns olhares bem atentos e curiosos. Significava que através deles era possível levar o usuário para qualquer ponto do mundo conhecido... E desconhecido.
-Veja isso Thror – falou Lacktum, como se tivesse encontrado um brinquedo novo – É uma pedra de teleporte!
-Lacktum, qual parte que você não entendeu que sou o guerreiro do grupo? – soltou de forma sarcástica o guerreiro mostrando sua espada curta.
-Mas note as marcas e a cor da pedra... Isso demonstra que ela consegue viajar pelos planos... Sem grande esforço! Isso é único no universo.
-O universo é grande Lacktum – respondeu Seton.
-Bem, único para mim. Esta melhor? De qualquer modo essa pedra nos envia para qualquer lugar que consigamos energizar. Esses três anéis são um modo de nos localizarmos através da trama arcana.
-Como assim? – questionou Arctus, mais curioso do que realmente queria admitir.
-O primeiro aro de ferro é feito para levar as pessoas pela linha do horizonte de leste para oeste, e vice-versa. Algo parecido ocorre com o segundo, mas se dirige do sul para o norte. Mas o terceiro parece ser único.
-Como assim? - perguntava Gustavo, guardando sua arma na bainha.
-Veja aqui. Cada símbolo parece ter um significado em uma língua antiga, como o atlante, ou até o nórdico. Há também escrita em língua que não conheço e que até – ouso proferir – não existem nesse plano de existência.
-Como a língua dos anjos? – Arctus perguntou achando ter acertado;
-Não. Sou versado nas línguas demoníacas e celestes, só que não identifico nada desse plano aqui – e falava isso o mago apontando para uma parte do aro. Parecia que minúsculos símbolos adornavam o estranho anel de ferro que circundava o obelisco. Mas, ainda havia um detalhe que ele iria explicar – Olhem isso, há uma seta em cada anel. Deve ser o posicionamento exato ao qual cada parte deve ser colocada para enviar os usuários. Realmente esse templo pode os enviar até mesmo para outros planos! Agora compreendo o motivo de isso ser feito de aço tão nobre.
-Deve ser aço de damasco – disse Gustavo colocando a mão no aro – Dizem que é mais leve e resistente que qualquer material desde épocas remotas até hoje. Posso tocar nele sem nenhum problema.
-Creio que sim, já que ao que parece não foi carregado. Para tal, seria necessário gastar grandes quantias de energia arcana de qualquer fonte. Seja divina ou arcana! Isso é incrível! É um catalisador de energia proveniente de qualquer tipo de poder místico, que transporta o usuário para qualquer lugar que se queira ir praticamente!
-O que ele disse? – exclamou o desatento e pouco culto guerreiro do grupo.
-Nós podemos ir para onde nos pediram – respondeu Gustavo.
-Ah sim, agora entendi! Então Lacktum energize essa pedra... Lacktum? O que houve? Ei, essa adaga esta brilhando de novo!
E o mago do grupo, que até então estava ajoelhado – para melhor identificar os poderes que operavam no obelisco do Portal de Ixxanon – notou que a arma que colocava junto ao pulso, presa por tiras de couro, agora estava radiando uma luz azul.
-É Thror, e esta brilhando mais do que antes!
E do ponto mais alto da escadaria seria possível notar a figura de um ser humanóide com um, sobretudo negro coberto por peles, ao qual ainda não se podia ver direito o rosto. Ele batia palmas, mas se alguém pudesse notar atentamente, perceberia que suas mãos eram cheias de feridas e quase estavam em completa decomposição.
Ele parou com o aplauso macabro e começou a proferir:
-Muito bem Lacktum! Seu show foi algo único! Nunca vi nada igual. Sinceramente nunca vi mesmo! Maravilhoso! Mas... Agora é minha vez de ser o protagonista. Tudo bem meu querido?

Os Dragões estavam a postos. Arctus, pela primeira vez, tirou pergaminhos no lugar de sua maça pesada. Gustavo erguia sua lamina e iluminava a todos com o brilho contagiante dela. Seton apontava a foice um pouco à frente do mago, como que para protegê-lo. O próprio inglês carregava suas mãos com tamanha energia arcana que parecia uma imensa tempestade arcana. Só Thror que como sempre, demorava a entender o que aquela situação significava: uma eminente batalha.
-Ora essa que imensa raiva é essa que vejo saltando do seu coração e parando nos seus pulsos? Até parece que não esta gostando de me ver Van Kristen...
-Desgraçado! Matou meu pai, mãe, minha irmã e minha noiva! Além de ter matado um homem que valia para mim como um segundo pai e ainda tem o disparate de querer me confrontar? Você não é só louco, você é suicida! Mas eu farei o serviço para você!
-Pode me chamar de suicida meu querido Lacktum... Mas pelos motivos certos.
Nesse instante, o mago sombrio saltou ao chão sem um dano sequer ao corpo. Parecia uma pluma negra, que atinge o piso com suavidade, mas trazendo uma mensagem de mau agouro. Só que o ruivo inglês nem sequer se incomodava com isso. Ele se sentia tão poderoso que sua primeira ação foi se deslocar até Kalic Benton. Esse por sua vez gritou rapidamente trazendo o mago a sanidade:
-Azerov iria querer que soubesse os motivos do seu inimigo em combate não é?
Nesse momento, o mago parou de frente ao mascarado. Agora era possível ver claramente o adorno no rosto dele. Era de aço polido e ricamente preparado, com o intuito de só deixar os olhos visíveis. E mesmo eles pareciam não ter vida, e sim, só a loucura continuava neles.
As mãos de Lacktum continuavam a transbordar o poder das magias que ele preparou. Ele respirava com raiva e ódio em seu coração.
-O que sabe sobre Azerov seu maldito? Ele foi mais que um pai, foi um amigo fiel e alguém com quem eu me identifiquei. Eu o amava. E você o matou!
-Será mesmo? Ou será sua sina que se completa? Diga-me – e falou isso o mascarado em tom de deboche – como é nascer em uma estrela amaldiçoada?
-Do que fala seu maldito? Você realmente matou Azerov, meu mestre? Responda criatura!
-Não vê que ele não dirá nada que seja realmente necessário a não ser que sirva para confundir sua mente! – gritou Arctus se colocando um pouco mais a frente. Ele já notava como funcionavam as ações do mago mascarado. Como uma serpente que prepara seu bote certeiro contra a vítima indefesa: Lacktum.
O mago inglês estava com as emoções transbordando assim como as magias que acumulava em sua mão, como mana puro! Mas não eram as palavras de Kalic ou Arctus que o impediam de atacar. Estava à frente do assassino de todos aqueles que lhe trouxeram alegria e o que fazia ele se conter? Não era nada do que havia sido dito antes, então seria o espírito de Azerov operando nele, ou algo mais sinistro? As repostas estavam ali, naquele lugar.
-Me responda meu querido Lacktum, qual a sua relação com seu falecido pai antes dele morrer? – perguntou o sombrio arcano.
Isso sim era novidade no andar das coisas. O miserável matou todos os que ele amava, agora lhe fez uma pergunta que o desestabilizou mentalmente. A relação entre o jovem Van Kristen e seu pai sempre foi difícil. Nos momentos de fúria e decepção é fácil para qualquer um ver os entes como figuras amáveis e bondosas. Porém, revirando o baú de memórias ele começou a se lembrar da quantidade de brigas que vivenciou com ele, das discussões, do tratamento inicial ao saber que iria se casar com Lirah e tudo mais que nós, esquecemos dos mortos, não por respeito, mas por amarmos eles demais. Seu pai era autoritário, rígido e ríspido. Cheio de uma força e orgulho que não o permitiam um momento de fraqueza sequer no corpo ou na alma. Era como uma rocha forte e poderosa, fria e sem sentimentos. E quando os demonstrava, quase sempre, não era afeição e sim uma falsa sensação de satisfação quando ao filho. Pois por mais que a criança Lacktum tentasse, nunca era o bastante para Dwalin, o nobre cavaleiro Van Kristen.
 -O que isso significa bruxo? Que conhecia meu pai? Que me conhecia? Acha que cairei em seus truques? Que sua magia me engana? Nunca!
-Vejo que ainda carrega a adaga... É bom mesmo. Talvez seu maior traço de afeição fosse suas armas não é?
Novamente, o estranho arcano mascarado se revela sábio e venenoso. Isso se devia ao fato que seu pai realmente era um homem áspero e que sempre visava o lado bélico da vida. Nada mais que a força bruta, a força de combate era visada por ele. Como se os deuses dele obrigassem o jovem Lacktum a se mostrar forte para o pai. Talvez houvesse sentido em tudo aquilo. Afinal, não foi por sua fraqueza – física ou arcana – que sua família, amigos e tanto outros haviam morrido? As dúvidas que tanto tempo atrás ele dissipou agora voltavam como demônios, fortes caprichosos, maliciosos, cruéis e maquiavélicos. Era como se ver refletido na água, como a criança que já havia sido muito tempo atrás. Assim se pareciam as palavras daquele miserável.
-O que sabe dessa adaga Kalic? – perguntou com medo de fazer tal questão ao inimigo.
-Não acredite nesse homem Lacktum! – gritou Arctus novamente.
 Kalic olhou com raiva para o clérigo.
-Você é o tal padre que foi mandado pela Santa Sé... Cale-se! – e com um simples movimento de sua boca, o sacerdote do Deus Único foi calado com um pequeno poder arcano – Não se preocupe... Não o feri nem o matarei. E então Lacktum que tal voltarmos ao nosso assunto?
-Do que fala demônio? Por que usa o nome de meu pai como se o conhecesse?
Nesse mesmo instante, Kalic riu, como se Lacktum tivesse contado a melhor piada de todos os tempos. A mais bem feita e mais engraçada. Uma piada mortal. Digna do melhor dos bufões.
-Ora meu caro mago inglês. Não nota que possuímos sotaques parecidos? Somos farinha do mesmo saco podre!
-Pare de rodeios seu maldito! E me diga o que quer de mim?
-Nada filho de Dwalin, nobre do Lobo Negro, aquele que descende dos servos de Kalidor Hein Hagen. Mago que segue as linhas nórdicas da magia. Não sei direito sobre o seu mestre, mas deve ser competente para treinar um homem tão mimado... Homem? Foi o que falei? Garoto mimado teria mais sentido.
-Isso era algo que não é tão difícil de descobrir. Você quer me impressionar com tão pouco - nesse momento, Lacktum deu de costas para Kalic.
-Você se lembra de uma casa que ficava próxima do baronato, ao qual moravam uma criança e uma mulher?
Foi quando Van Kristen se sentiu desconfortável. Lembra-se de quando algo em sua vida não parece ser uma memória, mas não parece fazer sentido? Nem todos já passaram por isso, mas os poucos que tiveram essa experiência ficaram desconfortáveis. E o mago de cabelos vermelhos se sentiu completamente fora de foco. A casa não lhe era conhecida, mas tinha sido citada algumas vezes em sua infância. Discussões acaloradas lhe vinham à cabeça entre seu pai e mãe, mas nada concreto. Como se fossem várias reviravoltas na sua mente pequena.
-Quem morava lá mesmo? - perguntou se virando com calma Lacktum.
Naqueles instantes, o grupo parecia notar que na frente da máscara, não havia expressão, mas era quase como se um sorriso surgisse nela.
-Uma bruxa, uma arcana poderosa e seu filho. Que aprendeu tudo que ela sabia. Desde muito cedo.
Os Dragões da Justiça ficaram calados. Eles notavam a dança de Lacktum e Kalic como se fossem uma presa e seu caçador. Eles se moviam ao redor um do outro, e mesmo o mago ruivo sendo tão sagaz, parecia estar lidando com o mais cruel demônio dos infernos mais antigos. Mas era só um homem. Assim como Van Kristen.
-Que importância eles teriam?
-Para o seu pai? Nenhuma... Afinal, eles foram abandonados pelo pai da criança. Sendo considerado bastardo, nunca foi admitido como parte da família. Mas porque alguém faria a tolice de admitir um rebento ilegítimo? Ele já tinha uma família linda! Qual motivo ele iria desperdiçar, com uma arcana louca que maltratava seu filho por não possuir nenhuma serventia? Hein? Diga-me?
Lacktum parecia confuso. As palavras faziam sentido, mas não para ele. O que uma coisa tinha a ver com outra? Por enquanto nada.
-Quem eles eram realmente? - disse Lacktum falando para o chão.
 -Como é? - perguntou em resposta, de um jeito que seria cômico, se não fosse a situação.
 -Eles têm alguma importância, de tal magnitude, que estão sendo citados aqui. Quem eles eram e por que estão sendo citados nessa conversa demoníaca?
Kalic virou de costas e tirou a máscara. Bufou um sopro gélido que impregnou o lugar.
 -O garoto era um filho de um nobre, que estava predestinado a nascer, pois ele foi escolhido para alcançar uma graça que poucos humanos obtiveram. E que nem os deuses poderão impedir, pois escrito esta que isso será maior que tudo no universo. Afinal, eles deveram obter aquilo que é a maior verdade da vida: a própria verdade. Mas com medo do que estava escrito, o nobre mandou caçar mãe e filho em certa época. Foram acolhidos por um... Homem, que sabia dos feitos que o garoto poderia alcançar. Depois, após terríveis acontecimentos, o garoto perdeu a mãe e seu mentor. Buscou vingança contra aquele que lhe deu a vida - nesse momento, Lacktum pensou que o mago que segurava a máscara em sua mão iria falar como se referisse a uma pessoa distante, mas até mesmo o dom de voz mudou - Foi quando eu cheguei ao baronato dele, minhas mãos queimavam por vingança. Eu iria o fazer sofrer até no outro mundo. Maldito! E todos aqueles a quem amava! Não importa como fosse Dwalin iria sofrer! Sim Lacktum Van Kristen! A criança era eu, o nobre era seu pai! Kalic Benton I me cedeu seu nome, mas antes possuía um nome concedido por minha horrível e cruel mãe. Era Lucian. E meu sobrenome era para ser Van Kristen! Sou seu irmão, seu tolo e patético homem!
Lacktum se calou.
...
Thror começou a andar em direção ao seu líder de grupo. Porém, foi detido por um ataque de uma arma estranha que havia batido em sua lâmina. Parecia ser um pedaço retorcido de metal pequeno, menor do que um punho, mas com quatro pontas fortes. Quase teria feito a arma cair da mão de Thror, se este não estivesse prevenido.
De repente, das sombras, surge um homem com feições orientais, com roupas de mesma origem, bem leves. Não usava botas, mas sim sandálias surradas e sujas. Além de um rabo de cavalo enorme, apesar de quase não possuir cabelo no centro de sua cabeça. A cor de sua pele demonstrava que não era de muito longe. Além de ter as palmas de sua mão carregadas de energia arcana.
-Mas que merda é essa? - disse o careca Thror com ódio do inimigo.
-Honorável guerreiro gleco, querer me desafiar em combate?
-Mas é óbvio! - com isso, o guerreiro se levantou, pulando por cima do novo oponente, saltou com lâmina em fúria frenética. Só que nesse mesmo momento, o oriental deslizou por baixo de Tzorv, como se fosse feito de água. Tão fluente como este elemento. Em seguida, o inimigo do grego o atingiu com força arcana, como uma pedra batendo contra costelas humanas.
-Argh! - gritou ele, ao cair devido ao golpe e a dor causada. Caiu ao chão, deixando cair seu escudo de lado.
Nesse momento, Lacktum que estava atônito até então virou e começou a ir na direção do amigo caído.
-Thror!
-Não! - disse Kalic Benton mostrando sua face pela primeira vez. Seu rosto estava decomposto, não tanto quanto alguns imaginariam, mas o bastante para criar pesadelos - Não deixarei estragar a festa antes da hora - nesse mesmo instante, uma muralha invisível de energia surgiu a frente do arcano, líder dos Dragões. Batia contra a barreira com tanta força que sua mão ficava dolorida a cada golpe.
Nesse mesmo instante, outras criaturas começaram a surgir das sombras. Os menores e mais fracas eram mortos famintos, tão horríveis quando aqueles que viram em Starten, mas alguns possuíam proteções fortes. Couraças bem trabalhadas, mas corroídas com a força do tempo. Armas de mesma qualidade e duração.
Só que com eles, surgiu uma criatura maior, grande o bastante para encobrir o corpo de Arctus com sua sombra. Ele parecia com um ogro comum, mas mais magnânimo que qualquer outro. Possuía pele azul, com o peito completamente branco. Presas amareladas e horríveis criavam muito temor nos corações. Uma armadura cheia de detalhes escritos com letras na língua dos ogros, mas com efeitos mágicos e poderosos. Dois chifres brotavam de sua cabeça enorme e abaixo deles, brilhavam duas luzes de onde deveriam ser ver os olhos. Era pura energia arcana. O padre não havia notado esse ser que o espreitava por estar atônito com o que ocorria ali, além de se preparar para expurgar os mortos.
Seton grita para Arctus:
-Padre! Cuidado com o ogro!
-O que? - foi à única coisa que conseguiu responder. Logo em seguida, o enviado da Santa Sé sofreu um ataque da arma do ogro. Esta surgiu do nada. Como um vento cortante e decisivo, ela jogou Arctus contra uma das paredes do templo. Ele deveria ter ficado no chão.
Quando olhou, notou melhor a arma do oponente terrível. Era um machado feito de madeira poderosa e negra em seu cabo. Porém, havia duas lâminas em cada ponta da madeira, e cada era extremamente afiada. Mesmo com todas as marcas de batalha no terrível item, ele parecia ser forte o bastante para resistir a vários golpes poderosos. A criatura o segurava como um item de tamanho médio.
Eis que o ser grita:
-Ogro não! Ogro arcano! Me chamar Matadouro!
Era um espetáculo horrível. Todos, com exceção de Halphy e Seton estavam com oponentes extremamente poderosos. Arctus tinha a frente um ogro poderoso, o que impedia de usar seu poder para afastar os mortos. Já Thror, conhecido por seu combate feroz estava perdendo espaço para o oriental misterioso. E Lacktum via a tudo sem poder fazer nada.
O guerreiro poderoso do grupo então, com grande dificuldade, escapou do golpe daquele misterioso inimigo. E em seguida, golpeou as costas dele com ferocidade única.
-Ahá! Acertei você olhos fechados!
-Não entender polque esta contente honorável combatente - falava isso sem mudar a expressão de seu rosto - Não conseguil me derrotar, nem me matar é fraco.
-Cale a boca miserável! Com minha espada acerto qualquer um!
Nesse instante, o oponente sorriu.
-Então é só inutilizar sua arma, jovem gueleilo?
Falando isso, o inimigo saltou alto e distante o bastante para ficar numa situação segura. E em rápidos e estranhos movimentos de braços, ele finalizou golpeando o ar. E uma estranha pressão de ar afetou o corpo de Thror que ajoelhou de dor. Ele se posicionou como em um combate corpo a corpo, mesmo estando distante do alvo.
-Não achar justo moler sem saber nome de executor. Meu nome é Yue Khan.
-Desgraçado - disse isso o ferido Thror, que logo em seguida soltou sangue.
-Thror! - gritou o já triste mago – Halphy, Gustavo ajudem eles!
E nesse momento, Lacktum notou que os mortos famintos ignoravam a ladina feiticeira. Foi quando ele notou um sorriso da face de sua companheira de grupo.
-Desculpe Lacktum, mas agora é minha vez de revelar algo.
Com isso, a meio elfa sumiu em uma bolha de energia dourada do lado de Gustavo.
Lacktum ouviu a voz de Kalic, e disse:
-Ah, esqueci de lhe disser, Halphy traiu seu grupo. Era o clímax da pequena festa de despedida dos Dragões da Justiça. Pois todos iram morrer hoje! - e com isso soltou uma gargalhada de satisfação e loucura. Por último, Lacktum que tentou manter sua voz baixa em sua garganta, de repente soltou tão terrível grito de dor, que quem escutasse tal som, não saberia disser se era uma pessoa ou uma fera ferida no coração.
O grupo dos Dragões da Justiça havia sido traido, mas mais do que isso, foi por uma amiga.

Tudo havia se tornado cinzas. Nada além de pó. Sua confiança, seus exageros, tudo na vida de Lacktum Van Kristen era agora um grande nada. Era um momento em que as sombras pareciam engolir e eclipsar qualquer perspectiva nos olhos do mago. Nada mais certo, afinal, tudo tinha sido um mero devaneio de sua alma. Os amigos que perdeu ou aqueles que lhe traíram, os inimigos que derrotou e que agora tinham sido substituídos por outros... Mesmo que derrotassem as mais vis criaturas, elas nada eram em comparação a um grupo tão grande quando um batalhão de combatentes de diversas raças. E ele estava ali, impotente, sem forças. Mas o que fazer? Como? Nada era a palavra, a não ser esperar. Esperar que sua vida tivesse um rápido e triste fim. Ele estava resignado...
Mas algo estava errado.
Lacktum parecia estar diferente. Não era felicidade, muito menos prepotência. Era algo mais bruto mais selvagem. Não era confiança, tão pouco um mero devaneio de superioridade. Não era nem sequer uma fúria cega, ao qual ele tanto treinou para conter. Era mais bem mais que isso. Nada mais que a chama de um dragão que estava latente dentro dos corações a quem ninguém confiaria nada. Alguns chamam de esperança.
-Como dragões nós nascemos. Nossas espadas são nossas presas. Nosso poder é nosso sopro...
Nesse instante, Kalic Benton revelado agora como Lucian, olhava para o mago. Achava que o meio irmão estava rezando. Foi quando notou que ele simplesmente balbuciava algo. Parecia ser um brado sem sentido.
-O que fala Lacktum? Quer morrer mais cedo, é isso?
-Nossas forças são nossas garras. Nossos sonhos são nossas asas.
E enquanto pronunciava essas palavras, o arcano levantava de seu estado de catatonia olhando para os aliados. Ele estava gritando enquanto via a cena infernal.
-Vamos repitam comigo seu bando de Dragões idiotas!
-Mas o que... Espere você esta tentando os motivar?
-E nosso brado de justiça será escutado pela eternidade! Dragões levantem! Guiem suas armas para a justiça!
Em um instante, como em um passe de mágica os companheiros de Lacktum havia se levantando de sua agonia. Afinal, Halphy não traiu só o mago, mas todos os que com eles estavam. Além de que seu líder não estava morto, muito menos em agonia como antes. Ele estava firme. Mas nem tanto quanto antes, era óbvio.
Thror que sentia os impactos dos golpes gritava que depois de matar o monge, iria quebrar o crânio por ter o chamado de idiota. Arctus se sentia acuado, mas resistia bravamente com suas curas, não por muito tempo. Já Gustavo cortava os mortos com tremenda facilidade, mesmo com a imensa quantidade deles, que não rodeavam só eles, mas todos os membros restantes dos Dragões da Justiça. Mesmo Valente tinha dificuldades para livrar a ele e seus outros amigos animais dos ataques das criaturas necromânticas. Mas... Onde estava Seton?
De repente, o druida cheio de excentricidades e manias havia sumido. Kalic Benton havia desviado o olho um momento e perdeu ele de vista. Com certeza fugiu, aproveitando a confusão. Mas foi então que o mago notou que Seton não havia escapado. Já que ele surgiu do seu lado como se fosse uma sombra e pegou na mão de seu adversário cadavérico.
-Mas esta querendo morrer mais cedo rapaz? Não sabe que meu toque pode matar um homem comum em instantes?
-Você que não sabe a verdade Kalic, pois aqui não manda em nada. E eu não sou um homem comum! Sou um druida. Que as forças do Paradoxo brilhem nesse lugar. Eu exijo que o tratado antigo de Gaya venha até nós e seja respeitado por esse mago! Seton, usuário dos caminhos divinos da natureza exijo isso!
Com isso dito, as mãos de ambos brilharam, e Kalic viu uma runa surgir por alguns momentos nas costas da sua.
-Você esta convocando o Tratado do Paradoxo? Como? Só conheci magos muitos poderosos que soubessem sobre tal coisa. Ou criaturas de forças inigualáveis com magias latentes.
-Um conhecido me ensinou isso, mas não sabia se servia para algo bom. Ao que parece era sim – falou isso o druida soltando um grande sorriso.
De repente, uma luz dourada saiu de onde estava a runa e cruzou o templo. Era uma esperança surgindo, pois logo após ela sumir, conseguia se escutar um grito forte de algum ser. Um rugido forte. De uma poderosa criatura ao que parecia.
-O que é isso? – disse Lacktum ao qual foi respondido por Seton:
-Isso, é o nosso aliado, arcano mascarado.

Nas sombras, uma garota olhava a tudo com olhos de alguém mais velho.




[1] Lagar são locais equipados para espremer, por exemplo, uvas e azeitonas, e assim fabricar vinho e azeite.

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