-Ora essa Lucian Van Kristen – disse Nico olhando com raiva
para o irmão de Lacktum – E não se espante, pois é pouco o que não sabemos,
pelo menos na visão de vocês mortais.
Lá estava o enigmático feiticeiro Nico, o mesmo que sempre
auxiliara o grupo com suas magias e palavras enigmáticas. Ele estava ali como um
anjo que surge nas escrituras antigas dos que acreditam no deus católico, ou
como o mensageiro dos deuses pagãos. Não importava como ou para que, os Dragões
da Justiça sentiram suas forças renovadas como uma chama que levanta com o
impulso correto. Como a lenha de uma nova esperança. Mas o que tinha aquele
jovem. O mago de cabelos vermelhos já tinha certeza que ele não era humano, mas
certeza de algo que seria difícil definir. Tanto poder seria difícil conceber.
Ele agora tinha certeza que os poderes do misterioso homem nublavam as mentes
de Halphy, Arctus e dele próprio só concedendo uma certeza. Havia algo maior em
jogo.
-Como sabe o nome que usava enquanto vivo? – exigiu um
enlouquecido Kalic Benton – Revele sua verdadeira forma.
-Não há um motivo para mostrar minha verdadeira forma a seres
tão inferiores como vocês. Mas mesmo assim, vim aqui exigir que se cumpra o
pacto da marca arcana. Você deve recuar diante um mago de poder superior, caso
contrário, sofrerá com a força que o Paradoxo possui! Vá de retro criatura
inferior! – exigiu Nico com só uma de suas mãos estendidas.
Foi quando o mago mascarado colocou a mão sobre a face com
sua máscara sobre ela. Novamente, seu rosto estava coberto por aquela coisa que
o tornava mais sombrio que qualquer ser na mente de todos. Ele exigiu que seus
homens e criaturas se afastassem daquele templo de sombras.
-Não sei quem és tu, mas saiba que conseguiu um inimigo para
a vida toda!
-Já ouvi isso antes e não me rebaixarei a responder a altura.
-E quando a você irmãozinho bastardo – dizia isso o mago
enquanto retirava os efeitos da barreira mística que colocou no jovem mago
inglês – Van Sirian e Azerov foi só o começo. Muito mais eu irei lhe retirar,
até que não sobre uma única migalha do que foi o legado dos Van Kristen,
compreende? Sua alma e seu corpo foram apenas o começo do inferno em terra que
irá viver filho de um adúltero!
As palavras acertavam no coração do jovem. Sua vingança foi
obliterada no momento em que Kalic Benton pronunciou que ambos possuíam o mesmo
sangue. Nunca lhe ocorreu que ele, o suposto inimigo, teria feito tudo aquilo
por um sentimento tão próximo do que ele alimentou por tantos anos. Só que era
possível ver no olho dele o mesmo demônio que o consumia a cada dia: ódio em
seu estado mais puro.
Nesse momento, o mago mascarado começou a andar com calma e
modos sinistros, até uma parede. Como num piscar de olhos, ele sumiu nas
sombras da estrutura. Talvez fosse
magia, ou algo mais tenebroso. De qualquer modo, ele sumiu como um fantasma. Os
seus soldados andavam para fora da estrutura.
Thror pensou em impedi-los, mas foi detido por Nico, com um
gesto rápido. Sua meta era cortar a cabeça do tal Yue Khan, mas sabia que sua
lamina ainda não estava afiada o bastante para aqueles olhos puxados e rabo de
cavalo. Ele se mostrou inteligente, pois mesmo em alguns combates, sempre perde
o mais tolo dos lados de qualquer modo. De todo modo, não era o momento. Assim
deixou também irem embora Matadouro.
E do mesmo modo que surgiram eles somem. Silenciosamente.
Todos do grupo – os que restaram ainda naquele grupo – se
levantaram ou se posicionaram de um modo mais respeitoso. O clérigo começa a
preparar os curativos especialmente no guerreiro careca.
-Me largue padre! – falava isso mexendo o braço ferido, como
um menino mimado o guerreiro – Mesmo estando ferido não vou morrer. A não ser
que me mexa demais como um jumento arredio! – nesse momento, Arctus até pensou
em falar algo, mas sabia que não era o momento – Se eu fosse você...
Aconselharia o mago que esta com o olhar mais perdido que Odisseu no mar. Ele
levou um golpe tão poderoso que nem o mais poderoso machado ou a mais antiga
magia conseguiria fazer tamanho dano em sua mente.
Vez ou outra Tzorv falava algo que fazia sentido. E quando
isso ocorria significava que algo estava realmente errado no mundo.
Lá estava o mago, com seus olhos perdidos para a parede pela
qual passou o suposto irmão. Mesmo depois de tudo que ele disse ele ainda
gritava em sua mente, indo contra aquelas tolas idéias. Mas nada que impeça seu
raciocínio único mostrar que mesmo que ele queira lutar em sua mente a resposta
para muito do que ele imaginava a tempos era uma coisa tão simples, e viria na
língua do antigo inimigo. Não importava o que ele fizesse, o mago Kalic Benton
II era seu irmão.
Nem Gustavo parecia ter palavras que o acalentavam. Parecia
inútil qualquer uma que proferisse. O que o fazia o lembrar que mesmo como
conhecedor dos segredos religiosos, ainda era mais guerreiro que qualquer outra
coisa.
Ele levantou e se virou na direção de Nico. Seu rosto
continuava com raiva, mas agora ele tinha que se concentrar, momentaneamente em
conseguir entender a situação. E o jovem misterioso de cabelos loiros era
talvez a maior parte das respostas.
Não importava se o feiticeiro se mostrasse como um salvador
naquele momento, o jovem inglês de cabelos ruivos estava furioso que o agarrou
pelo pano da roupa. Seus olhos se enchiam da fúria que antes estava destinada
ao mago mascarado que teria matado sem nenhum motivo a família inteira de Lacktum,
além de supostamente ter matado o velho mago Azerov.
-Me fale por qual motivo, em nome de Odin, Thor, Loki e tudo
que serve a magia nórdica, que infernos fez e o que afinal é você? Já estou
cansado de suas atitudes suspeitas! Fale desgraçado!
-Lacktum pare – gritou Thror.
-Mestre Van Kristen – falou rapidamente o pequeno suricate.
-Pare em nome de Deus – esbravejou o padre, segurando o braço
do mago.
-Deixem-no – falou calmamente Nico fitando somente Lacktum.
-Mas Nico... - falaram alguns.
-Deixem-no – repetiu ele com voz firme, mas ainda
transparecendo calma.
Todos se afastaram calmamente dos dois jovens. Enquanto isso,
Lacktum segurava compulsivamente a roupa do jovem de cabelos loiros.
-Vamos me fale sua criatura maldita! Fale-me logo!
-Tudo bem Lacktum, mas antes – falava isso enquanto retirava
as mãos do mago de sua toga com extrema facilidade – saiba que não esta com
raiva de mim, por ocultar quem eu sou. Nem de seu pai por esconder algo assim.
Nem de Lucian... Ou Kalic Benton II. Muito menos de seus amigos que nada
puderam fazer. Você esta com raiva, pois mesmo depois disso você não consegue
chorar pelo que ocorreu mesmo sabendo que talvez, só talvez, pudesse ter
impedido tudo. Mas lhe garanto, não havia nada a ser feito.
Lacktum o soltou e colocou sua mão direita sobre a cabeça,
como quando sentimos grandes dores nessa parte de nosso corpo. O resto dos
Dragões e animais que o acompanhavam, correram em sua direção. Com um gesto, o
arcano os interrompeu e disse:
-Se acalmem! Foi só uma leve enxaqueca.
Todos sorriram e foi quando Thror disse sua besteira do dia,
enquanto abraçava o companheiro:
-Nem parece que você encontrou um parente seu hein?
Nesse mesmo instante, alguns colocaram as mãos sobre seus
rostos e olharam com raiva para o guerreiro com a ferida em forma de X na
cabeça.
-Que foi que disse algo de mal? – falou um revoltado Tzorv.
-Não – disse Lacktum sorrindo envolvido pelo abraço – Você
esta certo. Eu tenho um irmão ainda. E por ele... Devo viver!
-Bem, essa frase seria mais de Van Kristen, mas... – disse
isso um padre um pouco relutante – se revele Nico! Qual sua verdadeira forma?
Retire-nos essa duvida.
O feiticeiro olhou para todos com olhos amendoados de ouro.
Ele então começou a andar em direção ao centro do lugar. E então falou calmamente:
-Sou um dragão.
Nesse mesmo instante, algo aconteceu. Nico curvou-se para
frente, com uma rapidez tremenda. Logo em seguida, seus cabelos se eriçaram
como se eles dobrassem de tamanho, porém, não possuíam mais uma característica
de partes do feiticeiro humano que conheciam. Eles pareciam mais a pelagem de
um animal selvagem. Seus olhos dourados, que muitos não notavam antes, agora
tinham uma força maior em toda a sua extensão. E nem sequer ele havia mudado
seu corpo ainda. Em seguida, de suas costas, um par de asas magníficas surgiu
como quando uma borboleta se levanta abrindo seu casulo. Tão grandes que quase
atingiram o teto do lugar. Seu corpo começou a mostrar uma estrutura maior e
que rapidamente acabou rasgando suas roupas. Era como se pudessem ver uma
criança nascendo alguns pensariam. A pele foi trocada por escamas brilhantes e
poderosas, que traziam fascínio e temor. E logo a criatura tomou lugar do
feiticeiro, como um ser único no universo. Mesmo que eles tenham visto
recentemente um dragão, nada os preparou para ver aquele ser, tão grande em
poder e magnificência. Até mesmo, uma parte do corpo que logo reconheceram como
uma cauda trazia com ela certa imponência com pequenas farpas, que mais
pareciam de puro metal dourado. Cor essa que atingia boa parte do corpo tal
qual a coroa de um rei, mas muito mais poderosa e imponente. E por último, de
onde ficava a face do arcano brotavam chifres na parte de cima, enquanto
estranhos pelos surgiam do queixo, como uma imensa barba que atingia até o peito
da criatura – o que mostrava quão colossal este monstro magnífico era.
Arctus olhou com tanto
espanto, que se esqueceu de fazer uma de suas famosas pragas contra qualquer
criatura que não servisse o deus católico. Thror caiu ao chão machucando até mesmo
seu traseiro no processo. Seton colocou a foice de lado como sinal de
referência. Os animais fizeram o mesmo com mais rapidez orgulho, afinal, acima
dos animais só estavam os elfos e os dragões, alguns diziam. Lacktum estava
espantado, isso era claro, mas como o bom curioso e audaz líder dos Dragões da
Justiça, ele agora examinava o dragão com extrema cautela.
Sua barba imensa, sua aura de poder – que já era grande
quando ele tomou a forma de um homem – seu tamanho e o fato dele ser mais forte
até que Daehim que enfrentaram recentemente significava que no mínimo ele
deveria ser um ancião entre os de sua raça.
-Bem que eu imaginava que você era imensamente poderoso, mas
isso beira o impensável – o pequeno mago falou tentando conter o espanto.
-Perdão meu pequeno amigo humano, – disse Nico, como se
dirigisse a uma formiga – mas menti por muito tempo a vocês irmãos de viagem.
Para começar saibam quem eu realmente sou. Chamo-me de Ikkanon, uma das três
estrelas douradas de Isis. Deusa que foi esquecida por seu povo, mas ao qual
nunca se esqueceu de vocês. Meus irmãos se chamam Ixxanon, que se tornou deus
perante os homens e as criaturas desse mundo, e Ixxamon, que atingiu as
estrelas e criou sua própria constelação com seu corpo ao partir desse mundo.
Todos se sentiram extasiados com o que ocorria ali. E foi
Thror quem disse as palavras para fazer a todos saírem do transe:
-Por Zeus... Você é grande Nico.
O dragão riu, fazendo o que pareceu um terremoto por alguns
momentos.
-Sim amiguinho, realmente estou. Muito grato devem ser a
Seton. Graças ao que lhe ensinei você pode impedir algo pior.
O druida sorriu com muito orgulho enquanto fechava os olhos.
-Só fiz o necessário!
Quando tudo isso ocorria, em um país muito distante, onde o
gelo é tão comum como a grama nas terras dos heróis, sua força se mostrava
maior que o normal. Mas lá há um homem que também já foi herói. Sua espada
estava colocada na frente de uma caverna antiga, a qual muitos achavam ser
maldita. Era exatamente por conta disso, que seu atual morador usava aquele
lugar. Para se afastar da escoria humana que tanto protegeu. Aqueles que nunca
souberam nem se importavam com o que estava para acontecer. Que deram as costas
para os deuses esquecidos de Atlântida. Que deram as costas para Kanglor, seu deus,
o senhor da fúria e dos combates até a morte.
Nesse lugar funesto, um homem surgiu, tentando enfrentar o
frio com varias peles de lobo negro do norte, com certeza. Era obvio isso pelo
tamanho das peles que eram somente duas. Seus cabelos negros chicoteavam seu
rosto. Parecia ter vindo de terras muito distantes mesmo, mas demonstrava
grande satisfação ao chegar naquele lugar. Ele estava na entrada do lugar e gritou:
-Ei, Homem Santo! Vim aqui pelos seus conhecimentos de uma
época em que os deuses caminhavam entre os homens! Em que os guerreiros lutavam
mais por honra do que por terras ou fortunas! Onde os guerreiros esquecidos
ainda existiam! Eu clamo por sua sabedoria!
No mesmo momento, um homem de barba mal feita surgiu da
escuridão da caverna. Era realmente humano, mas deveria estar acostumado com
penumbras e as trevas que surgiam do coração do inferno. Isso era visível já
que seu rosto estava cheio de raiva e rancor. Possuía muitas peles que cobriam
seu corpo, além de uma roupa também pesada, só que sem nenhuma armadura. Suas
mãos estavam cobertas com faixas preparadas muitas vezes com o intuito de
melhor segurar uma arma pesada. E com elas, pulou no pescoço do homem que
gritava no lugar. E se enfureceu com as palavras e seus cabelos, tão negros
quanto o do agredido, lhe concediam um aspecto de loucura, como se estivesse
possuído por um demônio ou uma entidade poderosa. Como se as forças antigas
estivessem na voz daquele homem e uma magia antiga o despertou. Mas não era
isso. Mesmo o mais antigo e sábio ser do mundo sabe que as palavras podem ferir
mais do que a lamina mais afiada.
O homem de peles de lobo negro segurava o outro pelas mãos e
dizia sorrindo:
-Que coisa, parece que perdeu parte de sua força divina Homem
Santo.
O homem tomado pela raiva gritou a plenos pulmões:
-Desgraçado! Maldito seja homem! Meu nome não é Homem Santo!
Nunca pense em pronunciar meu nome novamente Kalidor Hein Hagen! Saia de minha
casa! Saia de meu lar! E nunca mais volte miserável! Por Kanglor e tudo que
ainda tenho de força em meu coração, juro que nunca mais sairei daqui!
-Bem devo começar a explicar, minhas funções nesse grupo. Ou
melhor, meus verdadeiros motivos para estar aqui. Bem como imaginam, estava
aqui para vigiar os passos de todos que estão aqui. Isto se devia a importância
que cada um possui.
-Isso parece claro para alguns... Mas fica difícil evidenciar
em outros membros – falou Arctus com seu tom de desprezo pelo que era arcano –
Se é que me compreende.
-Sim, entendo seu receio quando ao que provem da magia, mas
lhe garanto que sou um ser de puros intentos. Muitos de vocês têm importância
vital, tanto para deter o inimigo, como para auxiliá-lo.
-Interessante... - disse Lacktum – Então alguns, podem ajudar
nossos inimigos?
-Sim – respondeu prontamente Nico, ou melhor, Ikkanon.
-Quais de nós? Halphy é uma delas, isso se mostrou claro.
-Bem o outro é você Lacktum Van Kristen.
-Eu? – soltou um espantado mago. Tudo bem que seus hábitos
nunca foram os melhores perante os outros por muito tempo, mas ele estava mudando.
Tão lentamente como uma tartaruga, só que estava.
-Sim... Veja, seu nascimento estava previsto em antigas
escrituras que um de meus irmãos disse ter visto com um antigo ser iluminado.
Que sua existência trazia um grande perigo para todo mal existente nessa terra.
Ela dizia algo como, o nascimento de um filho da casa de Van Kristen, com
cabelos vermelhos como o fogo, traria o fim a todo o mal que surgiu no começo
da era dos cristãos. Seu apogeu viria em 1147, quando um evento cataclísmico, o
faria ascender com o poder de abrir o Portal da Verdade.
-Caramba! Sempre me achei importante, só que assim é muito
exagero!
-Isso me traz mais temor que admiração meu caro Lacktum –
falou Arctus.
-Acho que sei o motivo disso padre – interrompeu Ikkanon –
Sendo a profecia verdadeira, isso significa que há dois seres capazes de
impedir o mal que esta para surgir. Um deles esta aqui, junto a nós e o
conhecemos como Lacktum. Mas o outro se autodenomina Kalic Benton II e sabemos
que se chama Lucian Van Kristen. Que atualmente serve Sinestro, um ser de
índole maligna e poderes incríveis.
-Muito bem colocado... Ser – falou com certo ar de
repugnância ao dragão.
-Se Lucian for o Van Kristen que pode impedir o mal, isso
significa que poderá até ser pior para nós que ele esteja do lado de Sinestro –
refletiu Lacktum.
-Isso é obvio, mas as profecias não corretas. Há sempre
pequenos trechos que não compreendemos ou ignoramos. Seja lá de onde elas
surgiram. Mas há também o fato que não me lembro de toda a profecia.
-Ah que ótimo, entre todos os dragões que poderíamos ter de
nosso lado – falou isso o mago inglês colocando a mão sobre o rosto em forma de
decepção – temos o único que não tem memória!
-Acredita ser fácil lembrar-se de algo que leu de relance a
milênios? – soltou o dragão dourado um pouco irritado.
-Bem, ao menos sabe onde esta essa escritura?
-Não. A tabua foi escrita pelos antigos deuses dos egípcios,
e estes sumiram sem deixar qualquer pista sobre a profecia ou de como ela
funciona. De qualquer forma... Seria difícil encontrar.
-Ótimo, só temos todo o reino egípcio e mais além. E quando
aos outros? E suas importâncias nessa jornada?
-O jovem sacerdote Arctus terá como função relatar muita
coisa a Santa Sé, já que boa parte do que vocês estão passando se deve a ações
dela.
-O que insinua demônio?
– disse um exaltado Arctus, diante as patas dianteiras de Ikkanon – Que
como tantos outros, o Santo Padre esconde algo? Ou aqueles que o servem.
Ikkanon esticou a cabeça, de modo que sua bocarra ficasse de
frente ao pequeno homem. Qualquer um se apavoraria, com exceção daqueles homens
jovens e tolos. Apesar, de que alguns soltavam frases de alerta ao padre.
-Meu caro homenzinho dos costumes novos, qualquer homem, seja
santo ou não, esconde algo. Sua função nesse grupo era encontrar os artefatos
malditos certo? Se os pegasse e entregasse aos seus mestres, o que pensa que
eles fariam com eles? Os colocaria a vista de todos, ou ocultariam o mais
rápido e prudentemente possível? Eles devem ter muita fé em suas ações.
O homem de batina se calou rapidamente. Mesmo sabendo da
importância de seus mestres em sua vida, sabia que a igreja continha seus
problemas ocultos. Alguns que nunca poderiam vir a publico, pois se viessem,
trariam o caos. Não somente a hierarquia daquele grupo religioso, como toda fé
que conseguiram nos séculos anteriores.
-De qualquer forma, não existe nada que eles tenham como
certo. Só que, a Igreja esteja de pose de um artefato que pode abrir o Portal
Infernal.
-Esta brincando?
-Nunca brincaria com isso sacerdote – já respondeu zangado o
imenso ser.
-Por todas as forças da natureza! – soltou Seton.
-Como isso é possível? – gritou Arctus.
-Mas que força criou tal artefato Nico? – perguntou o mago e
líder do grupo.
-Foram pessoas que serviram a Hades nos tempos antigos – ele
respondeu prontamente.
-Hades? – gritou perplexo Thror e com um tom de fúria – O
Senhor do Mundo dos Mortos? O senhor de tudo que não vive? Mestre do Submundo
grego? Que controla o Tartaro, o rio Estige e os Campos Elísios?
-Sim meu caro. O que há demais nisso? – perguntou curioso o
imenso ser.
-Não sei o motivo – disse o guerreiro com marca em forma de X
na cabeça – mas parece que meu sangue ferve quando ouço tal nome. Era como...
Como...
-E ai meus caros Dragões da Justiça, esta nosso terceiro membro
de importância tremendo nesse grupo. O jovem e poderoso guerreiro, Tzorv. A
verdade é que parece saber mais do que realmente sabe. Ou melhor, ele não se
lembra de certos fatos, mas isto esta prestes a ser desvendado. O lugar para
onde pretendem ir, traz consigo uma mulher com poderes acima de qualquer um
nessas terras e em varias outras. Talvez, só talvez, ela desvende os enigmas
por trás de tudo que ocorreu com você guerreiro. E vão ver que ela os irá
treinar para serem mais do que apenas meros guerreiros, sacerdotes e arcanos.
Vocês estarão prontos para enfrentar qualquer problema futuro.
-Mas Arda nos disse...
-Exatamente – disse Alexander, o cão que se calara até então
– Arda, o regente de Avalon. Não nosso rei e líder. Não foi nem Altair, meu mestre,
nem Arthur Pendragon, rei por direito. Ele não é nada a não ser um mero
usurpador do trono até que estejamos prontos para receber o que realmente
merecemos.
-Tenho medo de você cão – falou o arcano com um rosto de
sarcasmo – Tem certeza que não é um homem assumindo a forma de animal?
-Ora só digo a verdade. Afinal, você deveria saber disso,
visto que estão vivos não por conta dele, mas sim por Aluniel.
O semblante de Lacktum mudou para algo mais sério.
-Não me esqueço disso Alexander. Se não fosse por conta do
sacrifício dela talvez não estivéssemos vivos nesse momento. Se casar com
alguém que não se ama deveria ser algo impensável para os elfos.
-Mas foi necessário para que os Dragões estivessem preparados
para o que estava por vir.
-Do que adiantou Alexander? Dois membros saíram do grupo em
Avalon, um dos mais inteligentes entre nós traiu o grupo. Não querendo
desdenhar dos Dragões, mas só possuímos algumas poucas curas, mas quase nenhuma
força bruta e arcana. Nenhum ladino para parear com Halphy ou seu intelecto e
poder de combate.
-Tudo que você falou faz sentido mago, - falou um irritado
Thror – mas quando a força bruta... Eu tenho mais que suficiente para matar
qualquer um.
-Você me entendeu Thror! Mesmo que fossemos enfrentar
criaturas como kobolds ou duendes verdes, nada disso seria o suficiente para
enfrentar um exército. Precisamos de um grupo coeso e forte para estar à frente
de situações perigosas. Agora me entendeu?
-Mais ou menos... Mas eu mato.
-Eu sei Thror.
Ikkanon levantou sua cabeça quase atingindo o topo do lugar
novamente. Ele estava com uma face de calma.
-Meus amigos, meus pequenos amigos, se acalmem e reflitam.
Não há porque se desesperar. Já que vocês estarão viajando para um lugar
seguro. E lá treinaram para se fortalecerem e se tornarem poderosos. E com isso
trazerem mais aliados para o seu lado. E quem sabe, nem tudo isso seja preciso
para trazer, não aliados, mas amigos de verdade.
-Devo confessar – falou Seton um pouco receoso – que fiquei
um pouco decepcionado por Halphy ter nos traído. Ela era um dos três membros
fundadores desse grupo e um dos mais fortes. Mas mesmo assim, com as palavras
de ser tão majestoso sinto uma grande esperança crescendo em meu coração. E uma
grande fome.
Todos riram. Somente Lacktum se manteve quieto, como se
tivesse descoberto algo.
-Sua voz! Era sua voz – refletiu e gritou como se houvesse
descoberto uma nova magia – Foi ela que havia escutado no templo dedicado a
Ixxanon! Só pensei nesse fato agora, após tudo que ocorreu e meu coração se
aquietou!
-Isso meu pequeno senhor das magias do espaço e tempo. Agora
caminha na trilha para superar o paradoxo e controlar seu destino. Lembra do
que falei: E este é o momento em que deve decidir, se sua vingança importa mais
do que o controle sobre o seu destino. E você o fez. Agora deverá decidir mais
uma vez, mas com outro ideal.
-Na verdade, - disse se lembrando daquele dia fatídico o
inglês – foram outras palavras suas que me salvaram.
-Quais foram?
-Você tem que perguntar a si mesmo, se ainda quer um lugar ao
céu, ou não. Você quer?
Nesse momento o imenso dragão esboçou um sorriso. Enquanto
Lacktum, que parecia triste e desconsolado, de repente se lembrando de algo bom
sorriu.
Grécia. Terra de heróis. Nessas linhas escrevo sobre uma nova
personagem que irá se encontrar com dos Dragões da Justiça, já que ele
concederá sua vida para protegê-los. Mas o que o destino reserva para nós
quando embarcamos em uma viagem pode não ser tão bom quando imaginamos.
Seu nome era Tom Drake Harem. Ele havia recebido esse nome de
um clérigo que protegia os costumes dos tempos helênicos. Cultuava a Zeus e
prestava homenagem a ele. Seu surgimento diante seu pai adotivo foi algo raro:
certa vez, Markus, um sacerdote de Zeus, já com grandes poderes, teria
encontrado uma criança recém nascida e m uma tempestade tão perigosa e poderosa
que mal sabia como o bebê não foi varrido daquele lugar. Acreditando que a mãe
morreu – o menos cruel a se pensar naquele momento – ele o criou como seu
filho. Em certo dia, quando os ventos do mar se tornavam poderosos demais, e a
colheita da aldeia em que viviam iria ser destruída, nem Markus e seus poderes não
conseguiriam deter as forças daquele tempo sinistro. E nesse pandemônio que
estava à vida do clérigo de Zeus, o jovem Tom havia sumido. Para onde o pequeno
rapaz, que nunca causou problemas teria ido? Será que os ventos que o trouxeram
agora o tomaram de seu pai? Se for assim isso seria um choque duro demais para
o sacerdote do Imperador dos Trovões. Que fosse a vida dele e não a de seu
filho a ser tomado por essa tormenta! Só que ao procurar por todos os lugares,
um aldeão encontrou o garoto próximo a um precipício com os braços estendidos.
Seu pai foi ao seu encontro e pediu para que ele não saltasse dali, que a
colheita seria reposta depois de algum modo. Mas o garoto respondeu que não
estava tentando se matar e sim falar com os espíritos do ar que brincavam ali.
E então ele pronunciou:
-O Pai de Tudo que Viaja em Tuas Nuvens, Senhor das Estrelas
e do que Paira no Céu, Dono dos Raios e Trovões, tem piedade de mim e de teus
filhos que mantém as tradições antigas com respeito e dignidade. Nossa colheita
deve sobreviver assim como o povo de sua aldeia, agora manda teus filhos mais
travessos pararem com isso, para que sacrifiquemos nossa primeira parte da
colheita em teu nome. Quem fala é um de seus filhos mais ardorosos.
Nesse mesmo momento, as nuvens se dissiparam, as águas
retrocederam e qualquer vestígio de tempestade sumiu daquele lugar. Tom olhou
para Markus simplesmente falando ao pai como se fosse à coisa mais comum:
-Nosso Pai nos escutou. Zeus nos escutou!
Bons tempos haviam se passado, e o garoto Tom deu lugar a um
poderoso clérigo. Ele era tão bom com a espada, quando com a lança. Seus
poderes cresciam, mas nem tanto quando naquele impressionante dia da tempestade.
Mesmo assim, ele era hábil em aprender os caminhos da magia divina. Fácil seria
a palavra mais apropriada. Seguiu seu pai, trilhando o caminho da adoração a
Zeus.
E no dia se sua partida todos os aldeões estavam o olhando
com certo ar de saudade. Ele era muito querido por todos. Mesmo sendo
tempestuoso demais.
-Bem amigos o norte do mundo me chama. Afinal é para lá que
meu coração esta mandando ir e propagar a fé no maior dos Imperadores.
-Não vá Tom – disse um dos aldeões com ar de saudades.
-Mas eu devo ir meu amigo. Para auxiliar aqueles mais desafortunados.
-Na verdade estava só querendo meu dinheiro de volta!
-Praga de trovões – falou o clérigo.
Após isso, seu pai adotivo bateu com um cajado em sua cabeça.
Nunca gostava de ver Tom praguejar; E sempre o punia rapidamente.
-Para onde pretende ir meu filho?
Ele então sorriu para Markus.
-Vou para terra onde antes havia homens que pilhavam e
destruíam sem distinção, usando os mares como suas estradas e rotas de fugas.
Para o extremo norte desse muno.
Alguns se espantaram, mas outros diziam que isso só poderia
ser coisa de um bom e velho Tom.
-E a pedra meu filho? Esta contigo.
-Sempre meu pai. Mesmo porque eu também não consigo me livrar
dela.
Aqui será necessária uma explicação: quando o jovem Markus
encontrou seu filho, junto a ele estava uma pedra com propriedades arcanas. Era
simples como parte de uma pequena rocha, mas ainda possuía um formato quase
oval. O sacerdote de Zeus a levou junto ao recém nascido. Certa vez, ele tentou
separar a pedra do garoto. Qual não foi sua surpresa ao perceber que o item
sumira num piscar de olhos e voltará para as mãos da criança. Anos se passaram
e nada de concreto foi obtido sobre o item a não ser que era um artefato
interessante. Mesmo Tom tentou se livrar dele, uma vez ou outra, o que terminou
com cenas hilárias, como uma pedra voadora que acertou sua cabeça criando uma
imensa concussão.
-Talvez, não sei o motivo, mas talvez em algum lugar distante
exista a resposta sobre minha origem. E dessa pedra maldita.
-Sei por experiência que você pode ser um pouco afoito, mas é
sábio em suas decisões. Vá, parta meu filho. Que o céu de Zeus esteja sempre
limpo em seu caminho.
-Ele estará. Pelo trovão ele estará. Adeus meu pai.
-Adeus meu filho.
E tom começou a caminhar pela estrada que ficava próxima a
uma pequena e singela plantação. Só que antes de partir, ele tentou jogar a
pedra mais uma vez no ar. A pedra voltou diretamente para sua mão.
-Por mil almas do Tártaro! Quando vou me livrar de você coisinha
incomoda?
Foi assim que Tom Drake Harem caminhou em direção a uma
aventura a qual, outros heróis já haviam se entrelaçado.
Um dia havia se passado desde que houve o combate contra
Lucian e os membros do Pacto de Guerra. Todos estavam bem. E estranhamente,
Lacktum esboçava um belo sorriso. Não parecia incomodado com a traição da meio
elfa, nem com o fato do mago que tanto caçou ser seu irmão bastardo. Sua mente
estava concentrada em partir para onde Alexander exigisse que fossem.
Para conseguir abrir o portal do templo seria necessário um
grande gasto de mana. Com Nico ali, isso foi mais rápido do que muitos
esperavam. È notório que dragões são grandes arcanos por natureza. O que
contribui para que muitos os venerem e os temam.
Thror e Gustavo arrumavam as armaduras e tentavam manter elas
o mais limpo e utilizável possível. O que era difícil visto que já estavam
altamente danificadas pelos repetidos golpes que sofriam em combate. O punho do
estranho monge oriental ainda machucava sua barriga, pensou o guerreiro grego.
Arctus orava. Sua fé não parecia abalada, mas duvidas surgiam
em sua cabeça. Em alguns momentos, ele culpava o dragão por pensamentos tão
pouco confiáveis sobre seus mestres da Santa Sé. Dizia a si mesmo que eles se
deviam a alguma bruxaria dele. Só quando se concentrava demais, pensava no mais
lógico: aqueles pensamentos já estavam lá mesmo antes da criatura surgir em
suas vidas. Pensamentos que refletiam no que o teria feito partir nessa cruzada
pelos artefatos. Sua mente estava confusa.
Só Seton parecia muito calmo. Na verdade não calmo, mas sim
sonolento. Estava tirando uma pequena soneca.
O mago inglês que conseguiu energizar a esfera central do
templo gritou tirando todos de seus afazeres.
-O que? Hã? – fez Seton que pareceu perdido pela atitude do
colega mago – Qual o motivo desse grito?
Lacktum que tinha Valente no seu ombro respondeu prontamente
debaixo da estrutura:
-Terminei de energizar a orbe do templo. Partiremos daqui a
pouco. Pegue seus equipamentos mais essenciais.
Após todos estarem prontos, foi novamente um momento de
despedidas. Alexander e Fiel iriam deixar o grupo.
-Bem meus caros humanos – disse o cão guia Alexander – aqui que
nos despedimos de vocês.
-Muito grato cão. Nunca me esquecerei de vocês. Vão para
onde? Avalon?
Alexander olhou para Nico, agora já na forma humana
novamente, e disse que não. Altair havia os instruído a ir para Arcadia, o
reino élfico que se localizava perto da Grécia já que havia coisas sinistras
ocorrendo em Avalon. Ele não poderia explicar o que era, pois ainda não havia
provas suficientes. Isso deixou a cabeça de Lacktum e Arctus confusa. Mas
compreendeu que tudo se revelaria com o tempo. Nada de tentar descobrir coisas
com a qual não possa lidar.
-Bem todos contados e presentes? – disse Nico falando em tom
de brincadeira.
-Só mesmo Caça-Trufas que sumiu... – falou o pequeno e triste,
suricate. Ele ainda acreditava que o colega medroso estava vivo, fosse lá onde
estivesse.
-Bem então vamos – falou o líder dos Dragões da Justiça.
Agora parecia que esse título tinha mais sentido. Ele se sentia forte para
levá-los a qualquer lugar. Talvez fosse a presença de Nico, mas ele queria
acreditar que não. Era que o fato que agora ele se sentia parte deles. Mesmo
após a traição e as reviravoltas – não somente em sua vida, mas de todos os
membros do grupo – eles eram um símbolo que deveria perseverar custasse o que
custasse.
-Adeus meus jovens amigos, que Ixxanon os proteja – disse o
dragão dourado.
-O mesmo me digo dragão Ikkanon – falou o mago, antes de acionar
o portal – Axis mundi!
E com isso, um grande vórtice de energia de tom azul, mas que
parecia ser formado por eletricidade, tocou cada um deles. Isso foi pouco a
pouco fazendo que cada membro da comitiva sumisse, até que o arcano que evocou
tal efeito fosse o único sobrando. Então, até ele desapareceu.
-Me diga, nobre Ikkanon vai para onde? – perguntou Alexander.
-Eu vou atrás de Halphy, mas acho que vai ser complicado,
pois para isso preciso enfrentar Zacharias eu acredito.
Os jovens se sentiam como se tivessem passado por um sonho.
Isso se devia ao fato que quando abriram os olhos não estavam mais na frente do
lugar conhecido como Portal de Ixxanon, e sim de uma vila horrível e com um céu
nublado, pouco convidativo. As casas estavam todas fechadas e pareciam ter
olhos em cada fresta de porta ou janela. Eram olhos temerosos e com certo ar de
pavor recente. Os jovens sentiram algo assim, mas não com tamanha intensidade.
Não era mais uma sensação de sonho e sim de pesadelo.
-Onde diabo está todo mundo dessa cidade? E onde nós estamos
– falou Gustavo irritado.
-Não use palavras tão feias Gustavo – disse Lacktum
sarcástico – Mas verdade seja dita, não reconheço esse lugar. Não se parece com
a Inglaterra. Nem com nenhum outro lugar que conheço... E estamos no inverno
lembram e vejam seus pés... Terra fresquinha... Meio queimada, mas sem nada de
neve.
-Verdade seja dita: parece que o lugar foi carbonizado pelo
sopro de um dragão – falou um espantado Arctus.
-O que acha Thror? – perguntou Lacktum sabendo que o
guerreiro era perito em certos assuntos.
-Não sei tanto de criaturas quanto você mago. Mas se pudesse
dizer, afirmaria que aqui houve um combate.
-Combate? Certeza?
-Sim. Vejam – apontando para alguns pontos distintos ali – Há
partes que estão cheias de marcas de pés, além de chamuscados e até mesmo terra
revirada.
-Muito bem guerreiro – disse Gustavo.
Os aventureiros começaram a ir à direção da vila diminuta que
nem sequer possuía um templo ou igreja. Eram estranhos os olhos por entre as
casas. Pareciam querer ver as almas daqueles homens por medo. Mas ainda assim
possuíam força para combater caso fosse necessário.
Enquanto passavam por ali, Gustavo perguntou a Lacktum:
-Quem é que devemos encontrar aqui? Alias, nem sabemos onde
estamos!
-Se acalme paladino, pois Alexander me falou que aqui nessa
cidade havia uma pessoa que me informaria onde esta o nosso alvo.
-Teremos que matar alguém?
-Não. Mas usei o termo alvo, pois ficava mais bonito. Olhe
ali...
De repente, um único homem, segurando um instrumento de
agricultura como se fosse uma arma, surgiu na frente da casa. Ele parecia ser o
mais bem protegido por uma armadura. Isso, pois usava uma defesa quebrada e
remendada. Seus pés estavam descalços.
-São amigos da bruxa?
-Bruxa? – disse Arctus rapidamente e com certa raiva nas
palavras.
-Não finjam que não sabem. Usam poderes e armas estranhas.
Com certeza devem ser...
-Meu caro, - falou Arctus com autoridade – juro que somos de
boa índole. Deus nos protege mais do que imagina – ao falar isso, Arctus mostrou
seu símbolo sagrado - E essa tal bruxa, saiba que se for realmente guiada pelo
mal talvez possamos fazer algo contra ela. Eu sou um servo de Deus.
-Padre? Certeza? Parece mais com um guerreiro mercenário!
-Ora... – e quando ele iria golpear o camponês com sua maça,
eis que foi detido por Thror.
-É verdade – disse Gustavo – Que os céus caiam se Arctus
mente meu senhor. Diga-nos onde esta a tal mulher a quem chamam de bruxa?
Aquele homem então com o objeto de agricultura apontou na
direção de uma estrada mal cuidada, e em que a grama parecia um pouco maior que
o normal. Lacktum reclamava que teria que andar por aquele caminho inóspito,
mas muitos já tinham certeza que era por conta da preguiça de querer passar por
um caminho tão cheio de plantas.
Eles haviam chegado a uma casa depois de um longo caminho
pela estrada. Era escura e parecia que possuiu vida naquela floresta há muito
tempo. Mas muito tempo mesmo. Como se as forças que controlavam o bem ao redor
da estrada fosse mais que qualquer coisa, banido dali para sempre. Como um
sonho que nunca mais retorna a nossa mente, como uma sensação que se perde do
coração quando perdemos a quem amamos. Seja para o bem, ou para o mal.
Muitos ali sabiam como era e não gostaram do que sentiam.
Longe, viram uma cabana, pequena e feia. Pelo menos parecia
confortável. De sua pequena e singela chaminé saia uma fumaça pequena e
convidativa. E a frente, notavam que havia uma mulher, ao que parece.
-Será ela a bruxa? – falou Seton.
-Talvez, mas não vá perguntar isso – falou seriamente o mago
inglês.
-Por que não? – perguntou um curioso Thror.
-Senhorita, por acaso é a bruxa que estamos buscando desde
que saímos da ilha mística de Avalon e passamos por toda a Inglaterra,
perseguidos por criaturas do mal? Pergunta muito sensata – Lacktum proferiu
isso sarcasticamente, mas com certa acidez na voz ao guerreiro grego.
-Hum! – o soltou em resposta Thror.
Então se aproximaram dela o suficiente para uma conversa
simples. Viram que usava uma saia branca, um tanto surrada pela sujeira de um
campo, com certeza. Mesmo assim parecia extremamente bela. Não havia sequer um
sinal de velhice.
-Senhorita, nós...
E antes que pudesse terminar a frase Lacktum foi atacado e
ferido em um ponto fatal de seu corpo. Não o matou, mas rapidamente fez jorrar
sangue da ferida como um enorme jato de água. Isso ocorreu, pois escondia uma
espada curta debaixo da saia com tiras de couro presas a perna.
Em seguida, em retaliação, Thror foi direto ao combate. Sacou
sua espada e escudo assim partiu com tudo para contra ela. Qual não foi seu
espanto, quando notou que a jovem desviou de seu golpe quase que dançando e
ainda por cima, com um leve toque no punho dele, fez com que a espada longa do
grego caísse. Ele ficou furioso com o acontecido.
Arctus lançou uma magia de forças divinas contra a
desconhecida. Mas, novamente, ela surpreendeu a todos refletindo a magia em
Arctus que ficou desacordado no chão. Quando viu que seu mais querido amigo
teria tombado diante daquela mulher Gustavo gritou de raiva:
-É você a bruxa que buscávamos! – esbravejando isso, o
paladino soltou sua espada com a máxima força de sua lamina. E novamente só com
um toque suave de sua mão livre ela segurou a espada de Gustavo e disse:
-É até desperdício usar magia contra vocês, mas o farei mesmo
assim. Troveje!
Nesse instante, ela parecia uma tempestade já que sua mão era
um ninho de relâmpagos que se conduziam a arma de Gustavo. Este por sua vez,
gemia com a dor provocada pela poderosa magia de outrora. Não parecia ser tão
forte assim aquela magia pensou Lacktum, mas ela a tornava. Foi o que pensou o
arcano.
Lacktum, sangrando muito, tentou soltar uma magia em direção
a ela. Só que a surpresa foi que ela o golpeou com uma boa seqüencia de chutes
– dois no peito e um no rosto – enquanto tomava impulso para pular contra Thror
que mal conseguia se preparar para o próximo ataque.
-Mas que?! – nesse momento, o guerreiro grego que havia
acabado de pegar sua arma, a soltou. Porém, não foi por um golpe de desarmar,
mas sim por um poderoso ataque que fez jorrar sangue contra ela. A tal mulher
não se importou com isso. Na verdade estava acostumada ao que parecia.
Ele até mesmo pensou em ir para cima dela novamente, mas foi
detido pelo grito do líder dos Dragões da Justiça:
-Pare Thror!
-Ora qual o motivo disso Lacktum?
-Olhe para a mão vazia dela!
E quando Thror fitou a mão vazia dela, notou que lá havia uma
grande e poderosa esfera de puro poder. Maior que o mago do grupo conseguiria
conjurar, talvez até mesmo o dobro. Aquilo era a maior bola de fogo que um ser
humano poderia fabricar até então pensaram aqueles que tinham conhecimentos
arcanos. Ela dissipou a magia, com a mesma facilidade que a conjurou.
Lacktum caiu ao chão. Seus cortes e machucados eram tantos
que não conseguia manter-se de pé. Ele estava cansado e deitou no chão sujo.
Foi quando a mulher pisou em sua mão.
-Argh!
-Ah coitado do Van Kristen! Pensei que ele estivesse
acostumado com dor!
-Praga! Alexander não nos mandou para uma bruxa, mas para um
diabo! Qual o motivo de nos fazer sofrer?
Ela riu e ficaram evidentes as orelhas pontudas de um elfo
embaixo dos cabelos castanhos. Com olhos sádicos, mas ainda assim muito
convidativos ela disse:
-Serei eu que os treinará contra Sinestro e seus asseclas,
pois já tive o sangue dele correndo em mim. Muito prazer sou Iliana Brown, a
avó de sua amiga Halphy Brown. Muito prazer novamente!
-Halphy... Juro que se isso foi uma armação sua eu te pego
onde estiver! – praguejou o arcano de cabelos de fogo.
-Pare com isso garoto. Não deve competência de se proteger de
Halphy e acha que vai sobreviver a mim? Não me faça rir...
Ela estava em outro lugar. Cercada de ruínas de um velho, mas
outrora, majestoso castelo. Era poderoso em sua época de glória alguns
pensariam. Mas era hoje em dia um lugar que atraia espíritos maus. Metafórica e
literalmente falando. Parecia que cada sombra dos escombros daquela estrutura
pularia contra ela com garras afiadas. E houve um momento em que ela jurava que
uma delas parecia passar por sua perna, como a mão de um morto faminto...
-Esse é o lugar mesmo? – falou um pouco apreensiva a jovem
meio elfa
-Sim tenho certeza – respondeu friamente o mago mascarado –
Algum motivo para se sentir apreensiva?
-Ah nada, é maravilhoso o lugar. Sinto-me tão bem, como se
qualquer nesse lugar quisesse me matar...
-Não se desespere minha cara flor de espinhos... Logo será um
lar para você...
-E um caixão também não é?
-Isso só você poderá responder. Mas devo confessar que sua
frieza ao encarar os Dragões foi formidável. Pena eles terem fugido graças a
Nico.
-Aquela coisa do tamanho de um castelo que brilhava era Nico?
Huuuuuum que coisa interessante...
-Sim, eu mesmo constatei com as magias que ele usou para
chegar até ali. Pareciam carregar uma grande aura arcana, mas raros são
feiticeiros que possuem esse tipo de poder. Só poderia ser um dragão.
-Olha, pensei muita coisa, mas um dragão confesso que me
surpreendeu.
-Realmente, até mesmo para mim isto foi um choque.
-Deve ter sido... Mas me diga quem tanto esta nesse castelo
dos infernos?
-Não trate essa construção como algo profano minha cara – e
disse isso enquanto andava em direção ao portão – Essa será a sede de um novo
mundo. Um mundo controlado por nós do Pacto de Guerra. E com isso traremos a
paz que esse mundo precisa.
-Acredito muito nisso.
-Por qual motivo desdenha de nossas metas?
-Pelo mesmo motivo que odeio a maioria dos homens. Pois
mentem! Olhe você busca vingança. Yue Khan e Augustus são contratados pelo
nosso mestre. Nem sei o motivo de Mallmor, mas conheço um mentiroso quando o ouço
com dez ou mais palavras. E por ai vai. Vocês não me enganarão. Diga-me, qual a
idéia de nosso mestre? O vovô esta fazendo o que?
-Pergunte para ele. Afinal, ele possui um laço de sangue com
você. Não comigo.
Antes de subirem as escadas Halphy se deu conta de um fato.
-Ah sim, acabei de me lembrar... Quem me vigiava? – disse ela
com uma face perversa.
-Como? – soltou um falso e sarcástico o homem a sua frente.
-Não minta para mim mago morto. Acha que nunca desconfiei de
alguém me vigiando para me delatar ao grande Sinestro? Ele sempre sabia para
onde iríamos, caso contrario seriamos atacados com mais rigor enquanto
atravessávamos a ilha! Pensa que me engana? Seu mestre sim, você nunca!
Kalic olhou com reprovação, mas ainda assim, um tanto
admirado com as atitudes daquela fealith. E então ambos viram Mallmor, que
parecia trazer consigo uma mochila que se movia em suas costas. Bem estranha e
bizarra era o seu movimento. Sem aviso, o anão soltou o conteúdo no chão:
Furta-Trufas!
-Furta!? – falou a jovem espantada mostrando até mesmo certo
sinal de receio pelo animal estar ali e fitou o mago – O que ele faz aqui? Sei
que podemos ter que eliminar os Dragões da Justiça, mas me nego a matar um ser
como ele. Sem culpa nenhuma!
Os três – Kalic Benton, Mallmor e o próprio Furta-Trufas –
começaram a rir freneticamente. Então, o pequeno animal começou a se decompor
diante de todos. Parecia que seu focinho havia se tornado um nariz cheio de
verrugas, seus olhos tomaram mais expressão de algo quase humano, suas patas pareciam
agora cobertas por diminutas botas, sua cabeça cheia de pelo antes, agora
estava careca e seus dentes pareciam um amontoado de presas mal colocadas na
boca, mas afiadas.
Quando a transformação foi completada, o ser tomou a forma de
um duende. Isso era obvio pelo pouco que a jovem Halphy conhecia. Ela suspirou
de alivio, mas começou a temer por si. Ele era o espião de Sinestro.
-Vejo que ainda possui muito do que chamo de fraqueza dos
homens. Seus sentimentos não podem ficar a vista garota. Caso contrário, não
será digna de encarar lorde Sinestro. Ele é perigoso e extremamente poderoso
minha cara e sabe o que se passa nas almas dos humanos.
-Mas eu não sou humana! Sou uma meio elfa...
-Parte humana – quis insistir o mago mascarado.
-A maior parte élfica – ela soltou já um pouco nervosa.
-Tudo bem, tudo bem – disse Mallmor, apaziguando os ânimos –
De qualquer modo, estamos todos juntos agora. Para deter os Imortais
Esquecidos.
Halphy ergueu uma sobrancelha de espanto.
-Vamos enfrentar os Imortais e não os Dragões?
Kalic olhou serio para a jovem.
-Os Dragões são só mera distração se formos pensar, com
exceção de Lacktum, mas isso é pessoal. Os Imortais podem se tornar um estorvo
pelo que me passaram um homem de extrema importância no nosso circulo interno.
Seu nome é Zacharias. Você o conhecerá bem...
Ele então começou a entrar, assim como o duende que não
conhecia o nome. Mallmor caminhava quase que entrando ao mesmo tempo em que a
jovem Brown pelo portão principal da ruína em forma de castelo. O portão era negro
e cheio de detalhes em forma de dragões e cavaleiros, como se ali antes fosse
um lugar em que se caçava esse tipo de criatura. Visto que todos os desenhos
pareciam com bravos guerreiros com armas típicas para isso. Era um lugar
sinistro agora, cheio de maus fluidos e impressões. Mallmor fez um gesto no
portão para Halphy de modo cavalheiro, mas antes disse:
-Um ninho de cobras venenosas.
-Como? – soltou Halphy espantada com as palavras surgidas
dele.
-Minha cara senhorita, onde vai entrar é um ninho de cobras.
Se prepare, pois caso contrário o veneno que irá lhe tomar será demais para sua
vida. Acredite, eu sei.
Nesse instante, Halphy viu Mallmor fechar o portão, e com
isso escurecendo – talvez – todas as chances de fugir daquele lugar de sombras.
Seria mesmo aquilo que ela queria? Ela teria que descobrir sozinha.
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