sexta-feira, 2 de outubro de 2015

(Parte 42) Hino da fé


Dois dias se passaram desde que houve – pelo menos é assim que os aldeões denominaram – o Martírio das Três Feras. Enfim, na manhã do terceiro, o navio com os guerreiros daquele lugar chegou à costa. Estavam tentando fazer acordos com outras vilas. Foi o que alguns deles falavam aos Dragões e ao Homem Santo.
Estavam inconformados com o estado da vila. Devastada. E caso não houvesse heróis ali, em pior estado estaria eliminada. Os deuses são um tanto caprichosos. Quando acreditamos que nada de ruim nos acontecerá é quando devemos redobrar a atenção. Podem nos tirar amor, fortuna, família, riquezas ou bem materiais. Ainda assim a fé permanece. E não é necessário que seja depositado tal atributo nas divindades. Basta que ela exista nos corações.
James os reconfortou com isso e muito mais. Apesar de acreditar em uma divindade, nunca sequer citada no panteão deles, o antigo Imortal Esquecido obteve atenção de todos. Propagar a palavra de Kanglor, no entanto, nunca foi sua função ali. Iria os ajudar e auxiliar no que pudesse. Pois essa era uma função dele como paladino.
Os Dragões da Justiça colaboraram também. Com os auxílios arcanos e físicos, em dois dias a pequena vila estava bem. Brincavam muito até, verdade seja dita, mas estavam bem entusiasmados com aquilo tudo.
Enquanto isso, Siegfried se apresentou ao líder daquela vila, pai de Hilde. Nos dois dias que seguiram – visto que o jovem falou com aquele homem, no mesmo dia que ele chegou – conseguiu passear com sua amada. Havia recebido a permissão do progenitor para sair com a garota.
Nunca se viu um casal tão feliz. Pareciam que haviam conhecido um ao outro, séculos atrás. Nem Lacktum queria admitir. Sentia inveja, só que James compreendia esse sentimento. Perder alguém nunca é fácil. Não importa a idade que se tenha quando isso ocorre.
Assim que os dois dias passavam os heróis se preparam para partir. Cada um ao seu modo.
O elfo se encheu de flechas. Até mesmo na mochila. Parecia uma aljava ambulante. Graças ao mago, ele obteve bom senso. Um pouco, bem pouco.
Thror treinou a exaustão. Queria usar suas novas lâminas de forma perfeita. Poderia treinar e conseguir manipular Trovoada e Relampejar ao ponto de fazer uma delas seu escudo em combate. Difícil aquilo seria. Já em sua cabeça estava mais que pronto como sempre.
Gustavo se isolou. Nem Arctus pode entrar em contato com o cavaleiro. Parecia que aquele homem quis se fechar. Algo incomodava seu ser. E o clérigo temia que estivesse próximo o dia que ele tombaria. Pois é destino de um homem igual a ele morrer contra o mal.
Ulfgar perdia os dias discutindo com Tom. Sempre eram coisas como brigas sobre martelo e raio mestre, filho e pai, Asgard e Olimpo. Ao menos o clérigo gostou do termo Valhalla. Claro que queriam falar de seus deuses patronos, e saber quais deles era o mais forte. Nunca alguém imaginou que duas pessoas contrastantes seriam tão parecidas.
E então, o dia chegou. Os Dragões e James teriam que partir em direção de Avalon. Houve uma grande série de despedidas tristes. Algumas até meio fúnebres.
O primeiro foi James com Deenar.
-Não posso partir contigo mestre? – perguntou de modo tristonho o anão.
James se agachou. Era até belo aquela cena: como se o humano referencia-se o pequeno elemental da terra. Ao fazer isso, ele segurou firme no ombro daquele que até então, era seu discípulo.
-Precisa ficar aqui. Um novo Homem Santo deve surgir. No meu lugar. Esse povo necessita acreditar em algo ou alguém. O clero cristão esta vindo. Tentando converter os homens. Alterando nossos modos antigos. E com isso, todos os deuses sumirão. Só que enquanto houver lendas, uma parte de nós ficará. Assim deve ser para sempre. Alguém que respeite as tradições. Este será você.
-Compreendo meu mestre. Sua voz me lembra uma despedida. Antes de um enterro ou cremação. Qual o motivo disso?
Eis que o mestre abraça seu pupilo, rapidamente. Como se o quisesse calar. Ainda assim, em um gesto quase fraternal.
-Você não é mais meu discípulo. Agora isso é um adeus em definitivo meu amigo. Espero que seja feliz Deenar.
Nesse meio tempo, Tom tinha problemas muito maiores com uma mulher. Valquíria o queria acompanhar. Não do modo que ele queria, contudo.

Havia discussões entres os dois já que ele nunca imaginou o que jovem realmente queria. Erro grande.
-Você quer ser clériga? De Zeus? – perguntava o jovem aos gritos e com tom inconformado.
-E qual o problema nisso? Falou-me tanto dessa divindade... Eu quero servir a ele por isso. Não posso?
-Pode! Lógico... Só que achei que iria querer outro deus. Ou melhor, deusa. Como Athena, Demeter e até Hera... Quem sabe a deusa da sorte... Por algum motivo não consigo me lembrar o nome desta.
Valquíria notou o jovem divagando. Tratou de cortá-lo desse transe. Estalou os dedos na frente de sua face.
-Não quero saber disso. Por ser mulher devo venerar uma? Sem sentido. Além do que, você só me falou de Zeus. Nenhum outro. Então a não ser que sua virilidade fale tão alto que não permita treinar uma mulher nesses caminhos.
-Não fale assim dos deuses. Mas há sentido no que diz minha cara. Até que deve ser bom isso para mim. Uma clériga de Zeus me auxiliando. Assim poderei combater de forma melhor...
-Por favor, de novo isso de se perder em pensamentos? É novo demais para ficar assim meu caro.
-Certo! Você pode ser uma sacerdotisa. Só me faça um favor: troque imediatamente essas roupas.
-Nunca que irei usar as mesmas vestimentas citadas por você uma vez. Minha bota é grande mesmo, minha saia dividida para me facilitar correr e uso peles do modo que os do meu povo sempre faziam e ainda o fazem. Se não esta satisfeito com isso então eu volto para minha casa. Além do que, foi você que criou a maldita aposta. Caso a memória lhe esteja falhando também.
-Raios. Esta bem mulher. Entre no navio.
Ela se abaixou. Pegou as coisas que trouxe de sua humilde morada e foi até a embarcação. Antes beijou a face daquele que seria seu mentor de agora em diante. Alguns dos homens ao redor riram do fato.
-Praga Tom. Fraco mesmo, hein? Consegue eliminar um terrível ogro mago, ao qual unificou seres de diversas raças. Porém, não convence nem um mulher – afirmou Lacktum com um sorriso.
Sem ter como negar Tom só confirmou com a cabeça. Os Dragões tinham mais um membro em seu grupo agora. Valquíria das terras do norte. E com coragem superior a muitos ali.

Valente ficou preso em um compartimento da embarcação. Longe dos humanos, pois poderia assustar os humanos. Não era como Rec, ao qual lacktum escondia através da magia. Fazendo o que lhe foi pedido ele se sentia nervoso.
Ao menos ele estava sem nenhum rato ao seu redor. E estava junto da comida. O problema continuava no fato de estar em um lugar extremamente apertado.
Nada poderia fazer por enquanto.
-Espero que eu possa fazer algo logo. Estou farto de ficar no pano de fundo.
Quem imaginaria Valente como peça chave de um dos principais confrontos que estariam por vir.

Quase todos haviam se despedido dos habitantes da vila naquele dia. Acolhedores e fortes sempre. O povo da região possuía muita garra em seu modo de vida simples. Com tudo isso eles já passaram por muitas coisas. Algo que nem os Dragões imaginariam. E estava enraizado em suas almas.
Estavam todos concedendo adeus as pessoas. E isso dificultava ainda mais a vida de Siegfried. Não foi dito muita coisa pelo que os bardos contam. Uma conversa simples, entre amantes.
-Quando irá voltar meu amado?
-Eu não sei. Juro, entretanto, que de alguma forma retornarei para você. Prometo-lhe.
-Não jure algo que não irá cumprir. O faça simplesmente.
-Eu o farei. Acredite Hilde. De alguma forma farei isso nem que para isso volte de uma forma nunca antes vista.
-Sabe que eu creio cegamente em você. Que o esperarei.
-E por isso, eu lhe peço... Caso o peso dessa espera seja demais para sua tão pura alma... Permito-lhe que encontre alguém digno. Com o qual terá uma família feliz como eu desejo a você. Pois a empreitada para salvar meu pai, não sei quando terminará.
-Não importa o quanto eu espere. É você que vou sempre esperar.
-Esta certa disso?
-Lógico!
-Minha Hilde. Amo-te tanto quanto existem estrelas no céu noturno. Na noite mais decorada com essas luzes.
-E eu a vocês, tanto quanto grão de areia na praia. Da mais longínqua terra e do mais extenso território.
-Tão pouco? – soltou Siegfried de modo irônico.
-Seu parvo.
-Eu sou. Por você eu sempre serei.
-É sim. O meu tolo.
-Agora irei partir.
As mãos dos amantes se desvencilharam. Pouco a pouco. Tão lentamente conseguiam ou poderiam fazer aquilo. Quase na velocidade de uma batida de coração. Quando os brancos de seus olhos não mais se cruzavam aqueles dois puderam agir de modo adequado na atual situação. Ele caminhou na direção do navio, de forma firme e decidida. Já a jovem correu para longe, o mais rápido que pode. Um casal que tentaria manter a chama do amor em ambos, mesmo com a distância.
Ao se encontrar com os Dragões, Lacktum perguntou se ele tinha certeza de sua atual decisão.
-Sim. Além de cuidar desses dois pesos – apontando na direção do anão e do elfo – necessito encontrar uma cura para meu pai. Compreende meu amigo?
-Cuidar do elfo? Pois sim! Não necessito disso – disse Bahamunt.
-Cuidar do elfo sim, pois EU não necessito disso! – gritou o ranzinza anão.
-Não necessitam disso para mim. Sei me cuidar muito bem, diga-se de passagem.
Enquanto falava isso, o elfo esfregava um anel em sua mão.
-Por qual motivo faz tanto isso? – perguntou Ulfgar na doca.
-Ora para encontrar minha mãe é claro – respondeu o elfo a sua frente.
Alguns homens o olharam com estranheza. Ulfgar os acalmou dizendo que eram coisas de elfos. Muito ali já tiveram convívio com os sidhes de Midgard. Por isso não estranhavam tanto o arqueiro ali. Seus hábitos, porém nunca passavam despercebidos...
-Eu lhes disse que talvez, se continuarem conosco, as pessoas ao seu redor... Não lembrem mais nada sobre vocês. Eu ainda não sei como isso funciona completamente. Mas é um efeito poderoso do que os mais antigos tratam como Paradoxo.
Siegfried abaixa a cabeça. Em seguida diz:
-Não terá sido tempo perdido. Além disso, eu sinto, dentro de mim, que uma pequena fração do meu ser esta aqui. Nessas terras, de onde nunca nasci. E que sempre vivi.
Ao falar aquilo, Siegfried subiu enfim na embarcação. E Lacktum questionou aquele fato. Caso estivesse naquela situação, o mago faria a mesma coisa?

Enfim, o navio concedido para a viagem deixou aquelas terras gélidas e ao mesmo tempo, tão calorosas. As forças e ânimos se inflaram com toda aquela situação. Alguns, pelo fato de conhecerem uma terra totalmente desconhecida e mística. Outros, por voltarem em uma ilha tão sombria, mas magnífica e bela. Pois assim também era a Arte. Ao mesmo tempo bonita e mirabolante. Intrínseca como uma chama escondida. Gentil como um ser celeste. Tolos são aqueles que acreditam plenamente nesse poder. Pior ainda aqueles que não o fazem.
Enquanto o navio passava em certo ponto, de um penhasco era visível uma figura. Feminina com certeza. Era uma última despedida. Tanto da amiga, que arriscaria a vida em aventura quanto dos heróis que partiam. Acima de tudo, do homem amado.

Passaram-se os dias lentamente. A embarcação cruzava no mar com velocidade única. O skeid[1] reformado pelos aldeões da vila e reforçado com feitiços tornavam-no quase um peixe na água. Suas almas agora se enchiam no peito com a vontade de encontrar mais respostas.
Para tanto, quando podiam os jovens treinavam. Pois sabiam que as respostas não viriam sem conflitos. Verbais ou físicos.
Thror usava suas lâminas junto de Gustavo, agora mais extrovertido. Tom guiava Valquíria nos caminhos e segredos de Zeus como podia. Bahamunt usava suas flechas contra a impetuosa defesa de Ulfgar de modo único. Estavam prontos. E agora estavam mais instruídos por Lacktum o quanto conseguia. Ainda que ficassem cansados fisicamente.
Em uma manhã, o paladino James chegou próximo do jovem mago. Ele estava do lado esquerdo, na frente do navio, onde ficava a cabeça de dragão esculpida. Parecia contemplar um futuro misterioso.
-Ouvi que você era meio fraco para viagens marítimas – comentou o membro dos Imortais Esquecidos.
-Criei um pequeno truque para acabar com enjôo. Uma simples mágica.
-Ora! Você parece sábio. Conseguiu criar até uma magia. Parabéns jovem talento.
O jovem riu desconcertado.
-Que isso. Foi apenas um simples truque. Se fosse uma magia mais poderosa eu poderia falar algo. Gabar-me talvez.
-Do jeito que vai nem tenho certeza se precisará do meu treino. É um prodígio meu caro.
Com isso dito o mago duvidou das palavras daquele homem.
-Desculpe. Como pode um homem de arma ensinar um mago? Não quero duvidar do senhor.
James sorriu e se apoiou na cabeça do dragão no barco. Então questionou o mago:
-O que é a magia Lacktum?
Lacktum convencido, quase debochou daquilo.
-É o meio pelo qual alteramos a realidade ao nosso favor. Todo mago e feiticeiro sabe disso.
-Parabéns! Mas o que disse são fezes, próximo do que realmente ela é. Entenda que ela é bem mais que isso. Ela provém dos nossos sentimentos. Não importa se eu sou bom ou mau, a magia esta em nós. Em tudo ao seu, e ao meu, redor. No arquimago poderoso, no guerreiro audaz ou no aldeão trabalhador. A arma de um homem que combate não é uma espada, machado ou lança. É o conhecimento que obteve para manejar aquele item. Assim como você lida com a Arte deve saber que isso também é feito através do seu coração. E ai você extrai o mana para seus feitiços e encantos. Isso difere as focas arcanas da famosa Lei. Até um morto sem descanso tem esse poder, como pode ver por Kalic Benton II.
O jovem mago sabia que mesmo sendo um abridor, aquelas palavras faziam sentido. E ao perguntar ao paladino como obteve tal conhecimento, ele obteve uma resposta bem simples: eu vivi.

Em outro lugar, em uma espécie de santuário arcano, dois encapuzados caminhavam até um circulo mágico. Os dois conversavam seriamente. O primeiro usava um capuz muito maior.
-Mestre, você acredita que estou pronto? Crê que eu posso estar apto para trilhar esse caminho?
O segundo notou aquela pergunta com um tom de fraqueza. A falta de confiança naquelas palavras. Isso era comum, visto o tamanho de sua missão. Não poderiam deixar que aquilo enfraquecesse suas determinações.
-Não tema. Wolfgard seu nome estará em lendas. Recitaram poemas e histórias. Lendas e feitos surgiram sobre sua graça. Estamos partindo para Avalon onde poderão alcançar uma grande proeza. Lá, o destino lhe possibilitará encontra e finalmente libertar o seu pai.
A dupla alcançou o lugar com alta magia, o ponto mais forte dali. O segundo homem mexia suas mãos decrépitas lentamente. Fazia círculos no ar, além de criar movimentos únicos e circulares. Estava clara sua concentração em cada elemento daquele rito. Quando isso ocorreu àqueles gestos ficaram rápidos, quase frenéticos. Enfim, brilhos arcanos e forças realmente poderosas preenchiam o lugar rompendo o tempo e o espaço. Depois de que cada uma das marcas obteve sua posição, os dois sumiram com a vontade daquele mago.
Um detalhe que vale mencionar é que o primeiro homem era filho de um dragão. E um Dragão da Justiça ele estava destinado a ser.

Em determinado momento daquela viagem, enquanto Tom tentava ensinar certos costumes dos gregos para Valquíria e o resto do grupo mexia nos remos, Valente começou a cantar. Era a mesma canção cantada por Thror tantas vezes. E o guerreiro careca com cicatriz acompanhava o suricate com sua voz. Até que bonita. Ainda assim já era repetida muitas e muitas vezes no mar.
-Parem de cantar a mesma coisa sempre praga – exigiu Ulfgar irritado. Anões gostam de canções, mas nunca de repetições.
-Então querem que eu cante o que? – perguntou Thror enquanto remava. Ele estava até que bem distraído.
-Eu não sei. Só mudem de música! Oras!
Sem que pudessem pedir algo, os membros dos Dragões da Justiça ouviram uma voz até que graciosa. Meio tremula e fraca. Era James Gawain na borda do navio cantando. Uma perna estava na parte lateral da embarcação e a outra na parte superior.
Terra de urso, terra de águia
Que nos deu o berço e a benção
Os jovens pararam seus afazeres para ouvir aquilo. Não parecia ser forte a canção. Porém, o coração dentro do paladino tinha certeza do motivo de cantar. Muitas pessoas pensam que uma música só deve ser proferida por um bardo. Só que em seu coração se houver uma chama antiga que o faz querer cantar – seja perda, amor, ódio, raiva, lamentação, inveja, serenidade, bondade, caridade, confiança, orgulho, luxuria, temperança ou até crença – deve o fazer com as letras que encontrar.
Bahamunt interrompeu falando que aquilo era comum das mulheres cantarem.
Nova surpresa, pois Lacktum o seguiu, de pé, cantando:
Terra de urso, terra de águia
Que nos deu o berço e a benção
Terra que nos dá esperança
Vamos voltar por entre os montes
Então, mesmo aqueles que não sabiam cantar aquele som tentavam repetir seu refrão. Criando um som único por todo aquele mar. Até mesmo a pequena criatura animal que sempre os acompanhava.
Vamos voltar, vamos voltar
Vamos voltar por entre os montes
Enquanto faziam isso, ninguém notava que na mão de Lacktum, além de seu grimório havia outra coisa. Um tomo. O mesmo que foi entregue por Azerov. O livro da loucura de Lacktum

As águas não eram mais do mar. Pareciam mais com as de um lago ou rio caudaloso provavelmente. Além disso, brumas surgiam. Não era como uma simples neblina matutina. Havia algo ali que era vibrante, atraente, belo e único. Muito raro. Quase mítico. Ninguém ali sabia descrever perfeitamente o que era aquilo, mas alguns sabiam o que significava. Haviam enfim, chegado às fronteiras de Avalon.
James e os membros mais antigos do grupo pareciam caçar algo com seus olhos. Era uma pessoa. Qualquer figura que os auxiliasse chegar até a real Ilha das Brumas.
Tom, Ulfgar, Bahamunt, Siegfried e Valquíria estranhavam aquela reação tão sem sentido dos colegas. Achavam até que estivessem mais loucos que o elfo. Esse não se ofendeu naquele momento.
Foi Thror que apontou em uma direção dizendo com muito orgulho sobre sua descoberta:
-Ali! Mestre James! Nas pedras! Há um elfo! Como quando chegamos à primeira vez em Avalon. Não é o mesmo, mas sei que se trata de um.
O mesmo que deve a atenção chamada mirou na direção apontada. Ele colocou a mão no ombro do guerreiro grego.
-É isso mesmo amigo. Muito bem.
Era notável que o sidhe usava vestimentas arcanas de tom azul berrante. Cabelos longos presos em formas trançadas o faziam ter um mais nobre ainda. O que parecia estranho para um lugar tão isolado na água. Seus olhos demonstravam um poder tremendo e cheio de segredos que alcançavam facilmente almas tolas que o fitassem. E ele pairava em cima das pedras. Não havia dúvidas que descenda no mínimo, de uma casa nobre dos elfos.
-Ora essa. Eu entro nas terras dos elfos. Para qual motivo? Ver mais deles malucos como esse aqui – e ao falar isso, Ulfgar apontou para Bahamunt. De um modo irônico.
-Não faz sentido! – soltou Tom – Até chegarmos aqui nada havia. Olhei na mesma direção do guerreiro. Em um fechar e abrir de olhos, após ele falar isso, ai estava o sidhe. Nessa pedra. Em um lago! Como?
Ao ouvir isso, Lacktum logo tirou a duvida do clérigo.
-Aquele é como poderíamos chamar... De um porteiro. É ele quem protege as fronteiras entre as terras de Avalon e a nossa. Assim como ocorre em outros reinos élfico, eu presumo. Seus poderes são demasiados grandes. Podemos comparar seus dons ao infinito dos céus, ou a extensão das águas no mar. Nem sei se isso seria suficiente, acredito.




[1] Outro nome para os drakkar, navios de guerra viking. Chegava a 22 km/h (12 nós)

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