Após três dias os aventureiros estavam próximos de uma vila
pequena. Não ficava próximo ao litoral como esperavam, mas era bela como toda a
região perto de Delfos. Era possível ver ao longe a vila da qual falara o
Oráculo.
Uma vila pequena construída próxima a antigas ruínas. Era
possível ver um templo antigo, ainda sendo usado para adoração aos deuses. Um pouco
ao leste, já era possível ver a colina em que encontrariam um dos pedaços do
conjunto. Mas qual pedaço? E de qual dos dois conjuntos?
Os aventureiros chegavam à cidade, carregando Thror. Ele
havia sido atacado por uma criatura que havia fugido de sua sepultura, pensou
Lacktum, no mínimo. Pelo menos é o que parecia. Afinal, foi o primeiro que eles
ouviram falando. E mesmo atacando o morto faminto e o destruindo, o grego foi
afetado pelo toque dele. E esse toque lhe exauriu a constituição e resistência
de todo o seu corpo.
Levando o corpo febril de Thror até uma das casas, foram
auxiliados pelas pessoas da vila. Outros, só observavam de longe a situação.
Tentando despertar o grego, o levaram até o sacerdote local.
Ele cultuava a Zeus e era bem velho, já que possuía cinqüenta verões de vida.
Não se aventurava mais, mas tinha sabedoria dos tempos antigos sobre as
criaturas da noite.
Quando chegaram lá, o guerreiro foi deitado para ser curado
daquele mal que lhe tomava o corpo.
- Ele foi atacado por uma
cria do ódio[1]. A
força de sua vida será restaurada em um dia – falou o sacerdote Nikus aos
companheiros aflitos – mas deve permanecer em repouso.
- Obrigado, - disse Federick com um sorriso no rosto,
enquanto via o grego respirar fundo pela dor – muito grato sacerdote.
- Não há o que agradecer. E, como todos aqui, pode me chamar
de Nikus.
- Esta ouvindo grego? Seus compatriotas nos auxiliaram! –
falou isso o paladino batendo com força no ombro de Thror, que tossiu.
- E você quer me matar? Tome cuidado! - exigiu o guerreiro
febril.
As crianças riam e viam pela janela com ar de curiosidade.
Estavam amontoados aos montes, um acima do outro, para ver o ferido Thror.
-Olha só! – disse um dos garotos.
-Vejam a marca na cabeça! – disse outro apontando para a
antiga ferida acima da testa de Thror.
-Aonde se machucou assim? – perguntou o mais novo com cara de
curioso.
-Eu não me lembro, - disse Thror passando a mão na careca e
com grandes marcas de cansaço – mas nem sinto mais dor aqui. Afinal, como tenho
sangue de espartano...
Nesse instante, um garoto protestou:
-Você não é espartano!
Richard, que estava de pé, se espantou com que o garoto
disse. Federick, sentado ao lado de Thror, se ergueu de imediato, espantado.
-Como assim? – disseram os dois fora de ordem.
-Ele não se parece conosco! – continuou o menino grego.
Nikus então interrompeu o garoto. Fechou a janela com
rigidez, para que não atrapalhasse, forçando os garotos a não verem o ferido.
Ele continuava tratando com cuidados divinos Thror.
- Αυτός ο Δίας αποκαταστήσει τη δύναμή του! Έτσι, πώς οι ακτίνες διασχίζουν τον
ουρανό!
E com a magia, emanava um brilho
dourado da palma da mão do sacerdote. De Thror, saia uma luz azul escura, que
sumia toda que tocava o brilho dourado de suas mãos. Quando a luz azul sumiu, a
luz da mão de Nikus também o fez.
-Perdão pelo constrangimento. Mas pensando bem... Ele não
esta muito longe da verdade. Sua aparência não lembra alguém descendente dos
povos helenísticos.
-Como assim? – perguntou um surpreendido Thror.
Ele olhou atentamente para Thror. Sua feição era confusa.
Sempre passando a mão na cabeça em sinal de confusão.
Richard olhou para Halphy. Ela observou sem entender também.
E Hugo se sentia completamente atordoado em relação a isso.
-Esta querendo dizer que Thror não é grego? – soltou Halphy.
-Ele não tem aparência igual a nossa, seu queixo não é
parecido conosco, muito menos do seu jeito. Ele definitivamente não é grego.
Todos se sentiram estranhos, quando falavam, mas notaram que
Thror estava confuso demais. Ele não compreendeu aquilo: viveu na Grécia por
toda a vida que se lembrava com Orfeu, mestre e pai adotivo dele. Orfeu lhe
contou sobre as lutas de guerreiros espartanos ao qual dizia que eles
descendiam. O que era engraçado é que Thror não tinha ciência alguma de seu
passado. Então, como Orfeu sabia disso ou falava sobre isso? Thror ignorou
aquilo como ignorava tudo, naquela época. Mas se fosse qualquer outro que
usasse mais a mente do que a força física, diria que aquilo era estranho
demais.
Orfeu ensinou a Thror como lutar e digladiar. Ensinou a ele,
qual a diferença entre as duas palavras. Lutar significava combater até a sua
morte ou do adversário. Digladiar significava viver ou morrer, pela glória do
combate e os gritos da torcida que olhava o espetáculo. Depois disso, mesmo
nunca sabendo sobre essa arte de combate, ele decidiu a arte dos gladiadores.
Mas agora, se sentia completamente atordoado. Seria o que
Orfeu falou, pura mentira? Ele não acreditava nisso e soltou:
-Tudo bem, - disse sorrindo Thror – eu sei que sou grego e é
isso que importa.
-Que nada - disse ironicamente Federick – vai ver, você vem
das mesmas terras de onde venho. Que tal?
-Eu sou um homem e de espírito guerreiro. Não um franguinho
emplumado.
-Ora seu bárbaro careca! Já lhe mostro o que uma ferida bem
feita no centro de sua cabeça, e não esse golpe para ferir donzelas que tem
acima de sua testa!
-Ah seu...
-Ah chega! – exclamou Halphy apartando o dois – Ou juro por
algum deus, que enfio um virote no pescoço de cada um quando estiveram
dormindo.
Os dois pararam como duas crianças que são repreendidas pela
mãe. Nikus olhou a cena, segurando o riso. Enquanto, Hugo e Richard desataram a
ridicularizar os dois vendo a patética cena de Halphy separando os marmanjos. E
depois que não havia mais ninguém na casa de Nikus, e nem que riam mais da cena
de Thror e Fedrick, notaram algo.
-Onde esta Lacktum? – perguntou Halphy.
Foi então que todos olharam uns aos outros com ar de
interrogação. Lacktum sumiu e só agora notaram isso. Halphy ficou furiosa com o
mago ruivo.
O mago caminhava, mesmo já estando cansado e com a tarde
quase acabando. Ele iria subir a colina. Tinha alguma intuição sobre o que iria
achar lá. E sua intuição não o levou a Lirah Lugarao’Céu, mas fez com que ele
soubesse o que havia abaixo da cidade de Starten. Algo grande. E a intuição
estava mostrando o que devia fazer: subir a colina onde acreditava estar um dos
itens que buscava e o obter.
Era uma colina pequena, e nela era possível notar ruínas
estranhas. Na verdade, não conhecia muito sobre a Grécia, mas sabia que
naquelas terras não havia coliseus. Isso era algo de criação romana. Mas ao
longe, e agora que se aproximava, parecia exatamente o que ele estava vendo.
Destroços de arquibancadas de épocas extremamente distantes e armas
enferrujadas pelo tempo. Era tudo o que se podia ver por todo o lugar.
O sol se abaixava no horizonte, trazendo com ele certo receio
a Lacktum. Receio, pois Lacktum nunca tinha medo puro.
Foi então, que surgindo do nada, apareceu um lobo tão grande,
que tinha o tamanho do próprio Lacktum. Seu olhar mostrava uma fúria, que não
era comum dos animais. O próprio mago tinha certeza de ter visto esse olhar, na
frente de um lago, quando notou seu reflexo, cheio de vingança. Ele vociferou,
provocando no mago um olhar de admiração única. O lobo caminhou até Lacktum
lentamente.
-O que faz aqui homem? – saiu do focinho do terrível lobo.
-Eu estou aqui para encontrar um item único, - disse isso sem
temer o jovem Lacktum – e só sairei daqui se o voltar com ele.
O lobo estranhou as palavras do rapaz. Nunca uma pessoa tinha
ficado muito tempo ali, após escutar a voz terrível do lobo.
-Calma! Preciso encontrar esse item logo – disse o arcano
tentando deter a fera com sua sabedoria.
O lobo continuou indo em direção a sua presa. Parecia que ele
encontrou um novo brinquedo para hoje. Ou algo para forrar sua barriga.
Maldito Thror Tzorv! Tinha que passar mal agora? Por sua
causa vou ter que enfren...
Quando iria terminar a frase ouviu do lobo:
-Você disse Thror Tzorv?
-Sim.
-Homem careca e com barba? Com uma enorme ferida na cabeça?
-Sim. Você o conhece?
-Não. Mas o mestre conhece. Não sei se você tem sorte ou
azar. Mas acho que ele gostaria de conversar com você.
Lacktum ainda sentia que precisava se preparar para um ataque
do lobo. O animal lhe deu as costas e acenou com o focinho, como se quisesse
que o mago o seguisse. Lacktum não entendeu a debandada do lobo, mas o seguiria
por enquanto.
Halphy começava a pegar seus equipamentos. Os havia deixado
no chão da casa de Nikus. Era pesada demais a mochila com todos os itens que
ela levava, mas agora com o sumiço de Lacktum, ela achava que precisaria deles
em uma emergência.
Desde que saíram do reino da França, não se afastaram muito
um do outro, em momento algum. Mas por qual motivo ele teria desaparecido?
Halphy desconfiava do motivo, mas não revelaria aos outros. Muitos confiavam
nas magias de Lacktum, e mesmo Gor que liderava o grupo desde Starten, o tinha
como um segundo em comando. O guerreiro ficou o tempo todo fora da casa do
sacerdote, esperando que Halphy saísse. Foi quando a ladina ajeitava suas
luvas, enquanto passava pela porta.
Gor colocou a mão no ombro de Halphy. Ela olhou espantada.
-Você sabe qual o motivo que lhe deixei ir atrás de Lacktum?
– disse Gor sério.
-Lógico – disse sorrindo a moça – Pois você acredita em
minhas habilidades.
-Não – respondeu ele, de forma áspera – pois na verdade, são
essas habilidades que me fazem temer você. O motivo é que não vou deixar Thror
que ainda precisa melhorar dos ataques daquela criatura morta viva. Nem Hugo ou
Richard, tem capacidade suficiente para enfrentar alguma criatura por aqui.
Sendo que Thror é um dos melhores guerreiros do grupo e os dois amigos não
estão no nível de nós, você se torna a opção nesse caso. E antes que pergunte,
Federick é muito instável. E então procure o garoto. Mas olhe o que vai fazer.
Sei muito bem como pensa pequena – falava o inglês com o dedo apontado para
Halphy – e como ele, sei que vai querer ir atrás dos artefatos.
-Oh homem de pouca fé – soltou Halphy, irônica.
Ela começou a andar na direção da colina, certa que
encontraria um dos artefatos. E talvez Lacktum no processo.
Lacktum estava á frente de uma alcatéia de animais tão
grandes e pavorosos, que poderia ficar com muito medo, se não estivesse tão
determinado. Havia uma estátua grande e imponente, do que parecia ser um
guerreiro grego. Abaixo, havia um suporte para a escultura de pedra bem grande,
bem trabalhado.
Na frente da estátua havia um lobo maior, com quatro chifres
enormes e de seus olhos faiscava uma luz vermelha que se perdia no ar. Seus
dentes eram tão pontiagudos quanto os dentes de um vampiro e tão mortais,
julgava Lacktum.
Esse lobo se dirigiu ao mago com passos silenciosos e
maliciosos.
-Quem és tu abridor? – falou o lobo pausadamente.
Os lobos ficaram todos deitados ao redor da arena em ruínas.
Observando das arquibancadas, eles lambiam os focinhos como se vissem um ótimo
desjejum.
-Sou Lacktum Van Kristen, o último conde de Van Sirian. Filho
de Dwalin, o poderoso guerreiro do lobo do norte, das terras inglesas.
-Sinto um fedor vindo de tu. E um de meus vassalos proferiu
que conheces meu inimigo. O homem que descende dos guerreiros que possuíam
sangue que se alimentava com a guerra. Um parente dos fabulosos espartanos.
Thror Tzorv, o pretendente a gladiador.
-Sim, - disse Lacktum, afirmando – ele anda comi...
E de repente ele é interrompido novamente pelo grito de fúria
do lobo.
-O maldito ao qual procuro me vingar a anos! E tu o trouxe
ele até mim? Não foi?
-É – falou pausadamente Lacktum, para não irritar o lupino enorme
– bem, algumas coisas... Ainda devem ser feitas. Coisas que preciso – dizia ele
enquanto o lobo passava ao redor do arcano, com sua cauda espinhada – para lhe
entregar o guerreiro Thror.
-E eu devo crer – vociferou o lobo com um focinho engraçado,
quase humano – que me entregará o demônio numa bandeja adornada de pura prata
para mim? Acreditas que sou um tolo? Seu cheiro denuncia que vocês estão
juntos, a pelo menos, dois meses. São companheiros... E quer que eu creia em
você?
-Sim.
-Como poderei acreditar nisso?
-Primeiro não. Não sou tão amigo de Thror assim. Mesmo que
não acredite em mim. Segundo, você pode me fornecer algo que eu quero. Algo
poderoso, que você não pode usar. Pois esse lugar é antigo e pode possuir itens
raros que estou buscando. E se for o que quero, todos ganhamos.
Era possível notar no animal, mesmo possuindo um focinho em
vez de um rosto, uma expressão como um sorriso.
-Posso ser um animal soturno, mas é você que possui veneno na
boca estrangeiro.
O lobo levou o mago até alguma abertura no suporte da
estátua. Nela viu alguns pesos em ouro. Mas nada daquilo o interessava. Só um
item o interessou: uma máscara, feita de um couro diferente, no formato de um
rosto. Isso se devia ao fato de que ela vinha de um rosto humano de verdade.
Aquela era uma máscara diferente, com quatro tiras de couro presas nas pontas
da face que deveriam se prender na cabeça do usuário. A máscara do Desalmado
estava na frente de Lacktum.
Foi então que Lacktum viu seu plano surgindo. Ele disse ao
lobo líder que voltaria ao povoado, fazendo isso, ele arrumaria um modo de
afastar Thror dos outros então criaria um sinal para chamar a alcatéia. Assim,
poderiam o atacar e o destroçar, como o líder dos lobos queria. Pelo menos, era
isso o que queria que as bestas
pensassem.
Na verdade ele planejava encontrar o grupo e com eles
destruir o bando de bestas lupinas. Com isso, eles conquistariam, não só a
máscara, mas todos os tesouros que os lobos guardavam. Lacktum comentou isso ao
lobo demoníaco que relutou em aceitar o plano. Porém, o mago ainda tinha sangue
de nobre e como tal, ainda sabia ser diplomático no momento certo. E não iria
trair o grupo. Pelo menos dessa vez...
Mas ele sabia que aquilo não serviria com o bando de lobos
gigantes. Se tentasse tratar com eles, com suas mentes animalescas, poderiam o
atacar. Ou o devorar.
Porém, o líder era diferente. Sentiu no ar a malícia dos
humanos. Mais do que isso, pois os trejeitos na criatura o faziam fácil de
reconhecer como algo que provinha dos homens, que vinha do mal abissal – não
muito diferente demais um do outro, pensou Lacktum.
O arcano sabia que tratando com um lobo que fala, mas que pensa
como lobo, não teria chances. Mas o chefe deles pensava com conhecimento de
razão e não com instinto. E mesmo a razão, trazendo a consciência, também – às
vezes – traz um mal que o faz tira ela de vista: a vingança.
Foi então que o lobo trouxe a máscara até as mãos de Lacktum.
E este por sua vez, sentiu compulsivamente, o desejo de vestir a máscara, ao
qual atendeu sem dúvidas. Nem Lacktum sabia que o item possuía seu próprio
intelecto e vontade. E agora Lacktum possuía poder, - ele o sentia passar
através da máscara – mas pagaria caro por isso.
E aquilo seria algo que lhe custaria caro demais. Mas o trato
foi feito.
Ele chegou perto na cidade quase à noite. Quando isso
ocorreu, reparava no rebuliço que estava acabando a frente de uma das casas.
Isso era até engraçado, pois agora, era o motivo do rebuliço naquele momento.
E não era à toa: mesmo sendo um druida, sua foice curta não
era o mais aparente de seus adereços. O que era realmente visível mesmo, só
poderia ser a imensa foice de combate em suas costas. Arma essa que mais
pareceria um item de um agricultor camponês, não fosse pela anatomia e todos os
escritos galeses representando batalha.
Quando lá chegou, tentou fugir dos olhares dos gregos que ali
viviam, fazendo perguntas sobre com quem falava sobre os problemas. Nesse
momento, aqueles que sabiam do que se tratava, apontavam a cabana do sacerdote
Nikus.
E ele foi se dirigindo a pequena casa de pedra.
Lacktum voltava acompanhando do lobo que o encontrou no mesmo
dia. O lobo líder – ao qual o nome, Lacktum descobriu, era Cícero – ainda tinha
um pouco de seu instinto e queria o mago vigiado o quando podia.
E descendo a colina o lobo serviçal só o alertou:
-Não nos traia humano! Ou meu mestre irá devorar como
aperitivo você.
-Tudo bem. Pode ter certeza, que depois do plano correr bem,
você não me verá mais – disse com um sorriso malicioso.
-Eu não compreender sua fala. Mas o plano será feito hoje ou
amanhã?
-Amanhã – disse prontamente o mago, para que seu plano
falhasse – pois preciso iludir o grupo e os fazer que Thror deva ficar junto a
mim. Sozinho.
-Lembre bem humano. Se trair meu mestre, te devoraremos.
-Tudo bem.
Então Lacktum desceu a colina. O mago se preparava
mentalmente para que seus amigos o auxiliassem a destruir a alcatéia, não por
motivos nobres, mas para obter o tesouro das feras. Tudo na vida tem um preço,
pensava ele. Salvava a vila e ganhava mais do que tinham.
Ele já tinha tudo em mente e precisava de seus aliados para
destruir os lobos. Estava para se tornar poderoso, mas ainda necessitava da
ajuda dos companheiros. Assim, eliminando os lobos, teria que dividir os
tesouros daquele lugar com eles. Mas já era de se esperar.
Foi quando percebeu que tudo poderia sair errado. E isso se
devia ao fato de Halphy subir a colina por outra ponta e correr em direção ao
lobo que voltava ás ruínas. Ele iria tentar deter a garota, mas foi então que
notou que seu corpo não se movia. Na verdade, ele queria ir impedir a jovem
ladina, mas seus reflexos o traiam. Isso aconteceu a ele no começo não
compreendeu foi então que notou a verdade. Só havia uma coisa que o impedia de
sair do lugar. Algo novo e diferente nele. Ou nem tanto. A máscara do Desalmado
o impedia de correr.
Você não deve
ir até lá Siga o plano
Halphy queria aquele item, não importasse o que fosse. Assim
como queria o item de seu ancestral, ela teria mais chance de conseguir ele,
com mais poder ainda. E um dos artefatos do Desalmado seria uma das chaves para
obter o artefato de Sinestro.
A ladina temia que, como ela, outros notassem o que realmente
era Sinestro. Um de seus temores era Lacktum. Não era companheiro, nem tão
pouco amigável, mas captava as coisas melhor que os outros. Halphy temia que
alguém tivesse notado algo em Delfos. Mas até agora...
Ela foi lenta e
não acompanhou Lacktum – na verdade nem o viu saindo da casa, erro imperdoável
para si mesma – mas ela compensaria tudo agora.
A jovem procurou o arcano, mas como não o achou na cidade ela
foi as ruínas. Mesmo que Lacktum não fosse até as ruínas, sabia que talvez La
se encontrasse um dos itens do Desalmado. Era como se seus instintos a
trouxessem até aquele lugar. E todo tipo de mago e feiticeiro sabe que não se
deve seguir o coração ou a razão, mas sim seus instintos. Talvez tenha sido a
única coisa que os deuses nos deram de bom, pensava ela.
Foi então, que ao subir aquela colina, ela viu o imenso lobo
e viu sua oportunidade. Como aventureira e ladra, ela sabe que seja em
masmorras ou ruínas feras e monstros sempre guardavam tesouros.
Ela então gritou ao lobo. Na verdade, nem ela sabia o motivo
de ter feito isso, mas já era tarde. Ela estava na beira da colina.
-Quem é você? – vociferou o lobo.
-Lobo gigante, - falou Halphy mais para si mesma, do que para
a fera a sua frente – que fala e que tem um hálito terrível... Bem, gostaria de
saber se possui alguns itens que poderia usar... E você não. Posso livrá-lo de
uns itens indesejáveis e fazer algo de bom. Que tal?
-Espere... Você cheira estranho... Parecer Lacktum.
-Sim, o conheço! – disse Halphy como se tivesse descoberto
algo bom.
-O aliado de Thror Tzorv?
-Sim, isso mesmo!
-O maldito que meu mestre quer destruir?
-É mais ou menos...
-Vocês estão zombar de meu mestre?
-Não... É... Bem... Podemos começar de novo... Com licença,
você disse estão zombar?
-Seu amigo já vir aqui e falar que... Esqueça, eu irei
destruir você. E isso é o bastante.
O lobo abaixou a cabeça preparando o bote. Ficou com olhos
maliciosos para a meio elfa, que ergueu o braço com a besta de mão apontando
para a temível fera.
-Calma! Acho que temos um problema aqui... Olha o que eu
realmente queria era fazer um acordo. E obter um item.
-Calar boca fêmea humana!
Foi quando o enorme lobo pulou em cima de Halphy. Com as
patas sobre a jovem ladina, prendendo seus braços, ele rangeu os dentes como se
quisesse mostrar um ácido sorriso.
Halphy pensou em como gostaria de não estar ali. Talvez
tivesse que viajar com outros humanos tolos, crentes que se fossem a Jerusalém,
seus pecados seriam redimidos. Pelo menos lá não teria que enfrentar as
bizarras criaturas das terras onde nasceu. As guerras lá deveriam ser
horríveis, mas nenhum lobo enorme e grotesco se divertiria a suas custas. O
único mal deveria ser aqueles sarracenos, sobre os quais diziam ser adoradores
de demônios ou outros deuses – o que no final da no mesmo – os padres. Será que
os sarracenos eram tão horríveis quanto aquele lobo? Talvez sim, talvez não,
mas ela trocaria aquele imenso e terrível lobo por qualquer guerreiro cor de
cobre, com chapéu feito de panos que ela encontrasse pela vida.
Mas foi nesse momento, que um brilho faiscou no ar e o lobo
foi jogado de lado pela força que surgiu subitamente. O poder arcano vinha de
mãos trêmulas, não por medo, mas pela vontade de sobrepujar o artefato e
proteger Halphy. Lacktum tremia com a mão apontando para o lobo e seu olhar de
vingador.
-Estamos quites Halphy! Mas sai de perto desse lobo! – gritou
Lacktum com força em direção a ladina.
-Esta bem! – gritou em resposta a Ladina.
O lobo tenta investir novamente, o mago saca uma adaga e
dispara contra a besta. Ele fere bastante a fera fazendo jorrar mais do sangue
bestial.
Em um momento, o enorme lobo partiu em direção dos dois
companheiros. Halphy já se encontrava ao lado de Lacktum. O medo causa um
estouro de jovialidade em algumas pessoas, pensou o mago, fazendo correr com
mais vontade.
Nesse instante. O enorme lobo atacou Lacktum, ferindo ele
gravemente. Halphy segurou o companheiro para que não caísse devido aos
ferimentos terríveis. E por pouco ele não caiu na grama pelos golpes.
Eis que das mãos do mago surge um jato de energia que se
projetou, abrindo o peito da criatura, com vários dardos de poder arcano. A
criatura então se desfalece no chão com suas poucas forças.
-Perdão mestre Cícero...
Os dois companheiros se olhavam. Ele, ainda sentado, pelos
golpes sofridos no combate, gemia pela dor e rangia os dentes de raiva. E ela
olhava a princípio rindo de tudo depois com uma face de pergunta olhou para
Lacktum.
-Estamos quites? – perguntou Halphy.
-Lembra? Em Starten? Quando me salvou dos mortos famintos?
Estamos quites.
-Faz tempo mesmo. Nem lembrava. Você sempre se lembrava disso
na viagem.
-É lógico! Você sempre me lembrava!
-É só um detalhe – respondeu a ladina rindo sarcasticamente.
Os dois chegam à noite na casa de Nikus. Halphy apoiava
Lacktum, devido ao enorme ferimento no flanco esquerdo. O sangue escorria pelos
dedos do arcano, como uma pequena cascata.
Houve um pouco de dificuldade para descer a colina, mas nada
incontornável. A única coisa que restou do combate foi um rastro de sangue da
colina até a vila.
Eles são recepcionados por Gor, que olha com terror e medo
para Lacktum e Halphy. Terror por ver seu companheiro extremamente ferido e
medo pelo que pode ter ocorrido com ele para deixar alguém assim, seriamente
abatido. O guerreiro aparou Lacktum em seus braços para levá-lo até Nikus.
Ele o levou no quarto de Nikus, onde antes estava Thror, que
já havia se recuperado. O sangue jorrava agora da ferida do jovem mago. O
sacerdote colocava emplastro no ferimento de lado esquerdo. Isso ao menos
estancaria o sangue até o dia seguinte quando tivesse mais magias.
O sacerdote já havia deixado Lacktum bem. Mas que aqueles
dois teriam feito para o mago se machucar tanto? Foi então que Halphy explicou
metade do que aconteceu, é lógico, pois se explicasse tudo poderia ser acusada
como a causadora do acontecimento. E mesmo não suportando os excessos de
Lacktum, em geral, gostava do grupo, até do mago de orbitas pequenas como sua
esperança.
Mesmo assim, Lacktum não estava bem. O grupo precisava se
preparar para um ataque dos lobos, assim como todos da cidade. Nikus disse que
as feras sempre estiveram por aquele lugar, mas eram sempre afastados pelos
brilhos e efeitos criados pelo sacerdote. Isso até a chegada de Cícero.
O lobo líder se tornou o alfa, através da força e do medo.
Mais poderosos que os poderes que Nikus
obteve. E até hoje era assim.
-Então, - disse Halphy com a cabeça dolorida do combate
demais cedo – o que faremos? Eles devem atacar hoje à noite.
-Não, - respondeu Nikus rapidamente – por um estranho motivo
o líder age como humano. Acredito que ataquem com o nascer do sol.
-Bem você acredita mesmo nisso!? –disse Gor confuso.
-Já sobrevivi a Cícero antes guerreiro. Sei do que falo.
Estes lobos irão atacar ao amanhecer.
-Tudo bem! – interrompeu a Ladina – Mas o que importa é como
vamos combater eles?
-Matando Cícero, - soltou o acamado Van Kristen – assim
acabamos com a alcatéia.
-É uma boa idéia, - soltou Gor com uma expressão feliz, quase
infantil – Mas não precisa se levantar Lacktum. Fique ai seu mago teimoso.
-Tudo bem então! – Voltou então a deitar na cama, com uma
face até engraçada, para a sempre seria atitude do arcano.
-O que faremos então? Colocamos um de nós contra cada dos
lobos daquela colina? – disse Richard gesticulando para os amigos.
-Não há como – falou Halphy já sentada na cadeira de madeira
de Nikus – Eu e o Lacktum mal agüentamos com um deles. E pelo que o mago disse,
existem oito do mesmo tipo de lobo que nos atacou.
-Como falei, - tomou a palavra Nikus – eles são comandados
pela força de Cícero. E ele tem um poder infernal dentro de sua alma, um mal
que vasculhou todas as terras que existem graças a Helena e Pandora. Tudo por
conta de um homem: Thror Tzorv.
Thror iria se levantar ao ouvir o som do próprio nome, mas
foi detido pela mão firme de Gor. Ele estava de pé ao lado do grego. Ninguém
ainda havia falado o nome do grego para Nikus. Ele sabia que o tolo guerreiro
da cicatriz se culpava pelo que ocorreu até agora na vila, mas o inglês sabia
que entregar o companheiro não iria servir de nada.
-Ele fala isso para todos que estão dispostos a ouvir sobre o
homem que eliminou sua alcatéia original.
Todos se calaram. Nada sabiam de Thror pouco antes da sua
entrada no grupo. Mesmo a certeza sobre ele ser grego não havia mais. Quem dirá quais problemas ele não poderia vir
a envolver todos em um futuro não tão distante?
-Mas como iremos lidar com os lobos? – questionou Gor com
força – São mais fortes, e mesmo eu sendo bem treinado, não posso combater só
com a ajuda de Thror no combate corpo a corpo.
-Mesmo que fossemos atacar a distância, não seria suficiente.
Eu acertei um deles – falou com as mãos juntas e olhando para baixo, temerosa –
Ou melhor, Lacktum o feriu bastante. Mas foi a magia que o feriu. Magia que, me
perdoe por isso Hugo, é a mais poderosa em nosso grupo. E agora que ele está tão
ferido... Ele não pode entrar em um combate desse modo.
-Bem eu posso ajudar... – falou uma voz, vindo da sala ao
lado. Quando repararam puderam ver um homem jovem com cabelos castanhos, roupas
verdes, uma estranha trança cheia de penachos, e outras ao qual parecia surgir
das suas costas. Isso sem falar em sua enorme foice que ficava presa nas suas
costas devido a uma tira de couro. Ele tinha um prato de comida nas mãos, que
devorava sem receio algum na frente do grupo.
-Quem é você? – soltou Halphy com ar de espanto.
-Meu nome é Seton, e sou um druida – e olhou atentamente para
a ladina – Tenho algo que irá fazer esses lobos pararem o bastante para não ser
necessário um grande derramamento de sangue.
Richard, como druida, se sentiu ofendido. O que ele acha que
pode fazer que um druida que estava a tanto tempo no grupo não poderia? E
então, Richard perguntou com raiva:
-O que você tem que eu não tenho?- gritou Richard com Seton
-Experiência.
Amanheceu naquele lugar, como nunca antes. Pois naquela vila
um combate iria se desenrolar. Talvez, não tão glorioso como as batalhas de
outrora, mas talvez houvesse um fim para um problema da vila. Mas afinal, qual
o motivo de Lacktum se preocupar com gente tão humilde? Ele tem que encontrar
um demônio na forma de homem, e um evento esta escrito em seu destino. Como,
por Odin, um ser tão egocêntrico, ele esta preocupado com essa inútil vila, foi
o que pensou Halphy e o próprio Lacktum.
De repente, Lacktum notou que em sua face estava uma das
chaves de sua vingança e da conquista daquele evento único que iria se
desenrolar em menos de um ano, acreditava. Ele iria tirar a máscara para
respirar melhor.
Não conseguiu.
Era sua vontade enfraquecendo diante de uma pele humana, em
forma de máscara. Mas qual seria o motivo daquilo? Quanto poder detinha um mero
item como aquele? E como ele exercia tamanho controle sobre o mago? Nem ele
sabia.
Mas sabia que por algum motivo, a máscara e ele
compartilhavam um mesmo desejo de vingança. Fosse isso algo que os unia, em
alguns momentos, ele sentiu um leve toque da insanidade fluindo da máscara e
adentrando o espírito dele próprio.
Os lobos desciam a colina como os imensos seres antropomorfos
que existiam nas costas de mediterrâneo. Os alquimistas os chamam de primatas e
saltam de forma desordenada, mas são lobos que desciam aquele lugar. Os tais
seres não foram tocados pelo mal. Aqueles lobos sim.
A vila olhava com medo para a cena dos lobos naquele lugar.
Os lobos se cercavam como se protegessem uns aos outros. Exceto Cícero.
Ele mordia, latia ou gritava para os outros lobos, com a
finalidade de abrirem caminho. Assim, como um general exige que seus homens se
posicionem com suas armas, Cícero exigia que eles se colocassem na sua frente.
Todos abriam uma fresta nas janelas. Olhavam com medo para as
criaturas lupinas, as crianças um pouco por curiosidade. E se as coisas
continuarem assim, eles com certeza vão ter que ficar escondidos para sempre.
Foi quando notaram, um manto verde e cinza se dirigindo a
alcatéia. Ele mantinha a foice nas costas e conservava um sorriso sarcástico
enquanto caminhava lentamente até os lobos. Ele faz um pequeno gesto se agacha
como se cumprimentasse os lobos.
Richard começou a compreender o plano do estranho: os druidas
possuem o dom único de se comunicar com animais através de expressões corporais
e imitações de sons produzidos pela fauna. Mas qual seria disso? Seton já sabia
que os lobos falavam. Não necessitavam daqueles gestos para se comunicarem.
Seton gesticulava de modo a imitar os lobos. E Richard
traduzia os gestos.
-Seton fez um gesto de reverencia aos lobos. Diz que não quer
fazer mal aos lupinos, mas não pretende deixar que façam mal a vila.
-O lobo ao lado de Cícero, - observou Hugo com atenção –
rangeu os dentes agora. O que quer dizer com isso?
-Cale-se Hugo! Caso contrário, não consigo traduzir o que
eles querem disser.
Richard, Hugo, Halphy e Gor se colocavam na casa de um dos
aldeões próximos do centro da cidade. Isso tudo se fazia necessário para
auxiliar Seton. Lógico, em caso de falha, o que eles realmente não queriam.
Pois, mesmo não conhecendo o druida de cabelos castanhos, não queriam ver uma
morte sem motivos.
O druida continuava seus gestos e modos de falar com os
lobos. E então eles pararam e começou a falar.
-Humano idiota! Nós falamos língua latim.
-E nos sermos animais...
-Eu fiz isso – falou isso enquanto se levantava da posição
quadrúpede em que estava – pois queria que vocês confiassem em mim. E também,
disser que estão se enganado seguindo o lobo que os lidera por medo.
Os lobos miravam seus focinhos uns aos outros, no que seria
uma cena cômica, se não fosse o momento dramático. Era como se tivessem
diversas dúvidas do que ele falava.
-Esse lobo busca vingança contra um homem. Essa criatura esta
usando vocês para acabar com um problema que é dele. Por uma besteira, se me
permitem dizer. Essa matilha é de vocês, não dele. Eu senti no cheiro de vocês.
Ele não pertence ao bando, mesmo sendo poderoso. E esses poderes apesar de
também virem das trevas da natureza provem dos reinos inferiores também. E nada
de bom pode vir disso. Cernunnos criou a vida para que possamos ter total
liberdade em escolher nosso destino com ela. Não sei se acreditam em mim ou
não, mas se lembrem, ele não alguém em quem possam confiar.
Seton temeu por sua vida. Ele era bom com animais, mas não
sabia o quanto. Receou que não obtivesse sucesso na comunicação com os lobos. E
qual não foi sua surpresa, ao ver os lobos se posicionando longe de Cícero.
-Mas o que pensam que estão fazendo? – começou a vociferar o
lobo líder – Eu sou o líder de vocês!
-Essa luta não é nossa. Ele está certo – disse um.
-Você já tem sua chance – disse outro.
-E então como vai ser? – soltou Thror saindo da casa onde era
mantido. Erguendo sua espada enquanto caminhava em direção ao oponente lupino.
-Eu devorarei seu coração Thror Tzorv, filho de Orfeu, homem
de Esparta. E me vingarei!
-Se vingar por qual motivo? – disse o guerreiro com um ar
sarcástico – se me permite perguntar...
-Grego petulante! Tu não se lembras de quando, nas terras
espartanas, perfurou e matou um lobo enorme que devorava homens e mulheres, por
vontade de seu pai? Ele lhe disse que seria um bom treino.
-Sim, mas acredito que você não falava naquela época.
-Então, não deve saber que quando fez isso, não matou um
animal macho, mas sim uma fêmea que acabará de dar a luz! E que sua cria estava
escondida em uma toca a razoável distancia de houve o embate.
-Isso aconteceu, pois era o destino dela perecer diante de
mina lamina.
-Então pereça, sobre minhas presas!
Após isso Cícero salto no ar, como um demônio que acabou de
fugir do Hades. Mesmo assim, Thror conseguiu o cortar em pleno ar, com um golpe
que o feriu demais. O lobo se lambia, aonde o grego havia ferido.
Cícero se esgueirava parecendo menos com um lobo e mais com
uma serpente. Seus chifres se mostravam ameaçadores como um enorme touro em
fúria e seus olhos não transmitiam o de um animal. Ele já não era mai um lobo.
O novo bote da criatura demoníaca ocorreu mais próximo ao
chão. E ao que parecia, o guerreiro não estava preparado para isso. Já que
quando ele ocorreu, foi possível ver um jato de sangue jorrando do homem da
cicatriz. Este por sua vez colocou a mão na coxa, o lugar ferido pela fera
abissal. Havia uma grande marca de ferida no corpo, o que ele nunca foi
acostumado. E ele gostou daquilo.
O próximo golpe seria mortal, ou no mínimo, decisivo. Os
olhos procuravam uma brecha na defesa, um do outro. Olhavam os pontos vitais
com cautela. Cícero mancava com a pata dianteira, enquanto Thror, ajoelhado,
usava a espada longa como apoio.
Tzorv se sentia como se tivesse visto uma cena parecida, de
um passado tão distante que lhe aguçava os sentidos. E mesmo que Nikus tenha
lhe falado que ele não era grego, ou que não se lembrasse daquele lugar, algo o
fazia sentir bem só de estar pisando naquele chão. Parecia que ele fazia parte
daquelas terras. Que o Olimpo seja bom comigo, pensou ele.
O imenso lobo demoníaco disparou como um cavalo puro sangue.
E isso fez o coração de Thror bater como só havia feito uma vez... Mas quando,
ele não lembrava. Aquele não era o momento de se lembrar daquilo. Não era
mesmo.
Foi então que Cícero gritou com fúria enquanto corria contra
o guerreiro.
-Eu sou melhor que você! Pois sou o líder desse lobo! Pois
sou o mestre desses lobos! E em nome de minha mãe, terei minha vingança!
Segurando firme, com as duas mãos na espada longa, enquanto
se erguia com dificuldade e lentamente, ele levantava o corpo preparado para o
final da batalha. O lobo deu o bote. O grego, mesmo sentindo grande dor no
joelho, dobrou o corpo e levantou a espada acertando novamente o inimigo em
pleno ar. Ele colocou as duas mãos no cabo para se assegurar da força do golpe.
-Não pode ser – disse debilmente o lobo enquanto caia.
Então, Thror levantou vacilante, colocando a mão sobre o
sangue na espada. Os homens e mulheres na vila saiam correndo em comemoração.
Os companheiros do homem da cicatriz se sentiram bem, pois tinham deixado o
grego resolver todos os problemas como um homem.
Os lobos haviam ido embora. O druida Seton viu tudo de uma
pedra que ficava no centro da cidade. Eles nunca foram maus, só incompreendidos
pensava ele.
Thror seguiu até o corpo do inimigo abatido, e com sua lamina
apontada ao coração, dizia isso enquanto a enfiava com força tremenda:
-Se você é o mestre dos lobos, eu sou o rei dos cães.
Em dado momento, não se sabe por qual motivo, Lacktum sentiu
pena do lobo. Ele não sabia o motivo, mas se pareciam. Só que tudo passou em
sua mente como uma nuvem.
Todos na vila comemoravam a vitoria dos estrangeiros sobre os
lobos. Todos olhavam com louvor os seus heróis, mais ainda ao guerreiro careca
de nome Thror. Todos estavam contentes com exceção de Lacktum.
Ele dizia que já não tinham nada o que fazer naquele lugar.
Halphy e Richard já notaram as mudanças por conta da mascara do Desalmado.
Acharam melhor ignorar por enquanto. Arrumaram as coisas e seguirem seu
caminho.
Antes de partirem, foram contatados por um mago chamado
Azerov, através de uma jovem que usava vários mantos que a cobriam da cabeça
aos pés. Ele soube que o grupo estava na área e poderia ajudar em sua busca, o
que causava certo ar de estranhamento. Poderia ser uma cilada, mas era a única
pista que tinha, sobre os artefatos. Então iriam até esse homem.
A moça encapuzada – que Thror brilhantemente começou a chamar
de Encapuzada – pediu que fossem a uma pequena vila próxima do Peloponeso, onde
Azerov morava. O mago mandou as informações mais corretas sobre os artefatos o
que aguçou a curiosidade de muitos ali. E todos concordaram que depois de terem
deixado passar os dois itens que se encontravam na ilha da bruxa, iriam pelo
menos pegar de uma vez todos os itens que estavam na Grécia. E mesmo Thror
Ouvindo que não era grego, estava ansioso para conhecer as ruínas de Esparta.
Enquanto saiam, Thror reclamava de não ficarem para as
comemorações pela sua vitoria. Seton, que entrou no grupo para se aventurar um
pouco mais, consolava o guerreiro. Bem diferente de Federick que o repreendia,
falando que se fossem heróis de verdade não se importariam com recompensas.
Novamente o grego se irritou com o paladino. Mas foi mais repreendido ainda por
Lacktum, que parecia mais zangado desde que colocou aquela máscara maldita.
Eles subiram a colina, onde havia as tais ruínas do coliseu.
Nem acreditaram naquilo. Nunca souberam sobre coliseus tão grandes em qualquer
lugar que não fosse Roma. E muito menos que havia um na Grécia. E alguns até
pensaram que aquilo poderia reacender as chamas da memória de Thror, mas não
tiveram chance.
Quando notaram, viram um homem portando elmo tipicamente
espartano, lança escudo, espada curta, sandálias e um pano que cobria suas
partes intimas. Não se via a face abaixo do capacete, mas se via que ele, no
mínimo descendia dos espartanos. Seu corpo exalava o medo que um lobo traz
sobre sua presa. Era possível ver em seu andar a nobreza dos guerreiros, assim
como o rei Leônidas quando enfrentou Xerxes, não deixou sua face fora da visão
dos jovens. E assim como Menelau traído por Helena, ele trazia fúria em seu
coração
Antes que qualquer um pudesse reagir ou falar com o estranho,
este trespassou o braço de Richard com a lança, causando dor intensa. Retirando
da carne do druida a arma, - sem antes causar mais dor – ele a lançou no ombro
de Hugo. Este caiu tamanha a dor do golpe. Todos notaram que se ele quisesse
poderia ter matado os dois.
Mas qual o motivo de tamanha raiva? Qual o motivo, forte o
bastante, para alguém tão poderoso atacar eles? Será que sabia sobre os
artefatos? Alguém, praticamente seminu, estava enfrentando a todos sozinho. Ele
não parecia ser um mero homem.
Gor, Halphy, Lacktum, Federick e Seton iriam esboçar uma
reação, quando sentiram uma pressão no ar tão forte , que os prenderam no chão.
Tão forte que eles caiam ao chão como se tivessem sido golpeados por uma
poderosa arma. Todos ali já sentiram certa vez a dor de serem perfurados por
uma arma de perfuração, corte ou contusão de uma arma natural ou não, mas nunca
com tanta intensidade quanto a mera presença daquele homem. Era como se ele
fosse uma arma por si só. E o único que estava livre dessa presença era o
guerreiro Thror.
O guerreiro foi erguido pela poderosa mão, tão rápido, que o
vento não teria tempo de reagir. É como se tivesse uma velocidade ofuscante.
Enquanto Thror se debatia, chutando o corpo do poderoso homem ou tentando tirar
as mãos do seu rosto sendo esmagado, ele fitava Thror com olhos faiscantes de
tom de oliva. E então ele falou para o guerreiro rendido, como se fosse uma
chuva de flechas aos ouvidos:
-Tu não mudaste nada. Nem em teu espírito, nem em tua
persona.
-Quem é você homem? – gritou com voz abafada.
-Tua mente... Humana nega o que tens a frente de teus olhos.
E assim se manterá.
E com a mesma velocidade que surgiu o homem de roupas dos
tempos antigos, este sumiu em pleno ar. Como se nunca tivesse existido naquele
lugar. Em todos os sentidos.
A grama que deveria estar rebaixada nos lugares onde pisou,
não tinha sequer as marcas de suas sandálias.
Os que tinham sido atacados pelo estranho pediam assistência
aos druidas e o paladino, como se suas almas quisessem fugir de seus corpos
imediatamente. O próprio Richard colocava a mão em seu ferimento tentando o
cauterizar, mas tinha dificuldade de se concentrar. Halphy e Lacktum se
perguntavam boquiabertos, como não tinham resposta alguma para aquele fato. Só
Thror tinha resposta para aquilo. Mesmo sem saber.
-Por Ares... Quanta fúria...
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