sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

(Parte 9) Capítulo Dois: A pequena mostra de paz



Após um longo período de viagem, cruzando as áreas próximas o litoral grego e passando por lugares onde antes se encontravam as polis, os companheiros se uniam cada vez mais, como se a beleza daqueles lugares os trouxesse só bons sentimentos. Esquecendo os problemas recentes e que teriam no futuro, assim como os fantasmas do passado. E até mesmo aqueles que sentiam um vazio em sua vida, não se lembrando de toda ela, pareciam não se importar com isso mais. Parecia que os deuses sorriam para eles desde que saíram da vila onde encontraram o primeiro dos itens. E finalmente estavam no litoral próximo das antigas terras de Esparta. Lá encontraram finalmente a torre de Azerov, um pouco afastada da vila.
A torre formada por firmes tijolos de alguma pedra vulcânica parecia cobrir outro tipo de construção velha e antiquada para eles na época. Talvez, o exercito espartano que enfrentou Xerxes, tivesse passado por ali, mas nunca saberiam com certeza. Só a imaginação deles poderia crer sobre tal fato. O portão da torre era feito de madeira negra, firme e rígida. Como se entrassem em um novo mundo, o que não deixava de ser verdade.
Dentro da construção, logo quando se entrava, era possível notar uma vasta extensa biblioteca. Havia livros de tanto tipos, titulo e capas que fizeram Lacktum, Hugo e Halphy se sentirem bobos em comparação ao conhecimento que tinham. Aqueles livros, com certeza, continham em alguns, conhecimentos de séculos atrás. Para se dizer o mínimo.
Havia dois andares acima da biblioteca, ao qual entraram que eram acessados através de uma escada em espiral. Isso graças ao formato circular que havia dentro e fora da torre.
No centro da torre, havia uma mesa bem trabalhada, também de madeira negra. Em uma cadeira, bem acolchoada, sentava um home idoso, com barba branca e olhar jovial apesar da idade. Ele os encarava, como se visse velhos amigos, com um sorriso todo para a direita. Havia varias cadeiras as quais o mago posicionou próxima da mesa.
Madelyne – a moça encapuzada com panos que os havia contatado antes – mostrava a casa aos jovens, mostrando submissão ao velho homem no centro da biblioteca.
-Ora, - disse o homem que parecia ser um mago – bem vindos jovens aventureiros.
-Obrigado – Começou Lacktum – Azerov. Obrigado por nos acomodar. Viemos...
-Esperem! – cortou o idoso – Se sentem. Desculpe minha falta de educação. Devem ter fome e sede também. Madelyne! Traga algo bom para esses jovens.
-Muito grata, - disse Halphy reverenciando o mago – mas, por favor, poderia nos disser quem é? Exatamente entende.
-Muito sábia, - falou Azerov rindo – deve ser a jovem meio elfa das terras do rei Luís e deve ser da família Brown, não é?
-Exato.
-Os dois fortemente armados e protegidos devem ser Thror e Federick, não é? Lacktum deve ser o rapaz mascarado, acredito... Como não carrega livros, mas possui uma aura mágica [1]já notei entre vocês quem é o feiticeiro.  Ou deveria dizer mais de um? Hugo e Halphy. A família Brown é conhecida por criar os mais excelentes feiticeiros e arcanos de guerra. Mas que eu me lembre só havia um druida.
-Estou quase um mês com eles – soltou o druida novato – Meu nome é Seton.
Todos já haviam se sentado, exceto Lacktum. Mais chato do que o normal, pelo jeito. Ele cruzou os braços, enquanto ouvia a voz irritante do mago, pensava o inglês.
Ele olhou ao redor antes de prosseguir suas idéias. Colocou as mãos sobre a mesa, como se preparasse algo tão difícil de pronunciar, que mesmo sendo velho, sábio e experiente, fosse extremamente custoso encontrar as palavras no fundo de sua mente. Por fim ele as encontrou.
-Meu nome é Azerov Lokias. Sou um mago que se especializou em viagens. Magias de teleporte, transporte através da Arte, coisas assim. Nós nos chamamos como mestres da viagem. Somos graças a isso, grandes comerciantes. Temos muitos contatos, em vários lugares.
Os sete companheiros comiam enquanto escutavam o experiente mago. Este olhava um pouco irritado na direção do guerreiro grego que comia frutas, produzindo e um barulho estranho, bizarro e chato. Lacktum olhou com muita raiva para Thror. Não parecia o simples e obsessivo mago que acompanhara desde Starten. Parecia uma criatura desalmada...
Foi então que Azerov continuou:
-E nesses anos todos, que estive em aventuras, conheci muitas pessoas e aprendi muitas coisas novas. Através de livros e pergaminhos. E com isso fiquei sabendo sobre os mais diversos itens e artefatos poderosos. Mas nenhum objeto teria a mesma importância que dois itens que achei em uma pesquisa – então foi o momento que Azerov mostrou alguns pergaminhos com desenhos únicos – Em uma consulta que fiz ao encontrar esses pergaminhos, eles descobriram um fato único para meus olhos tão cansados. Que esses itens são chamados de Vestes do Desalmado e Pele do Dragão de Platina.
Foi quando todos pararam de comer. Lacktum mesmo com toda a sua arrogância, se sentiu completamente atônito. Thror parou sua tão saborosa comida, só para ver os queixos boquiabertos de seus companheiros. Ele não compreendeu, como de costume, o que estava acontecendo. Até Halphy ficou pasma, e não foi através de nada na Arte.
A única pessoa que não se espantou com as palavras de Azerov, foi Madelyne, que soltava risos contidos, no fundo da sala.
Após o momento de espanto, todos olharam curiosos, o que ele tinha a falar sobre os itens. E então Azerov se levantou em direção a uma das prateleiras da biblioteca. Tirou um livro de capa marrom, bem surrado.
-Mas que pergaminhos seriam esses? – soltou Lacktum tentando tomar o controle da conversa – Fomos até Delfos para sabermos mais sobre os itens. Saber sobre suas histórias...
-Não meu caro, - disse Azerov interrompendo Lacktum – vocês queriam saber a localização de cada um desses artefatos. Não sua história ou criação. Vocês são jovens e não sabem o que realmente querem na vida, nem o que desejam na frente de um modo mais simples de adivinhação. Imagino o que pediriam na frente de um gênio djinn...
-Nesse caso, mestre das viagens, me diga qual o nome do livro que lhe concedeu tanto conhecimento sobre esses fatos? – perguntou Halphy.
-Aqui esta! – mostrando outro livro, esse de capa marrom avermelhada, como resposta a pergunta do jovem mago – Foi escrito por um chamado Murak, servo do grande Kalidor, barão das terras do Lobo negro. Este livro se chama Livro das Vidas Esquecidas. Foi reescrito por monges – falava isso enquanto andava pela biblioteca de modo engraçado – aos quais adoravam o Cristo Deus. E então...
-Você o roubou, - apontou e falou alto Halphy de olhos e ouvidos, bem atentos, para Azerov – não é mesmo?
-Ora, sagaz pequena língua arcana. Sei também dos seus talentos metamágicos adormecidos. Muito esperta, mas tente não adivinhar meus pensamentos.
-Tudo bem, - respondeu Halphy com olhar malicioso – ficarei quietinha agora.
-Bem o tal homem escreveu as historias individuais de cada um dos Imortais naquele tomo, que foi reescrito para o inglês. Sorte minha ser fluente nessa língua. Caso contrário, demoraria bem mais para encontra isso.
E quando ele proferiu essas palavras, jogou na mesa um par de luvas de couro com inscrições arcanas que pareciam conter necromancia em seu interior.
-É o que penso? – soltou Lacktum, quase em um tom apavorado, e ao mesmo tempo, de frenesi.
-Sim essas são as luvas do Desalmado. O mago que se fundiu a suas vestes, se tornando a chave para fechar os Portais do Apocalipse. Mas colocando a mão esquerda sobre os itens – pegar esses artefatos vai acarretar em um futuro, que talvez, você não irá controlar.
-Eu não ligo para o meu futuro, mas sim para o meu destino.
Lacktum então tirou a mão que ficava em cima dos itens aos quais Azerov mantinha sobre as luvas. Halphy até tentou impedir o ruivo inconseqüente, mas já era tarde demais. As luvas já cobriam as mãos do obsessivo mago inglês. E os olhos brilhavam com um fogo diabólico no jovem.
-Você poderia o deter. Por que não o fez? – perguntou Halphy a Azerov.
-Você também não fez feiticeira - falou irritado, mas conformado o velho Azerov – então não em incomode. Garoto tolo... Futuro e destino é praticamente a mesma coisa.

Qual o motivo de Azerov querer ajudar o grupo era o que muitos deles se perguntavam. No dia seguinte, houve a resposta. Através dos jovens ele poderia obter itens mágicos e um vasto tesouro. Cada lugar que possui um dos itens são masmorras perigosas e terríveis, possuindo muitos perigos, mas vastas recompensas. E isso seria útil para o mago, tanto quanto para o grupo, afinal através do mago obteriam um modo de chegar aos conjuntos.
Mas o que talvez nunca soubessem, e nem o mago queria transparecer, é que ele fazia isso, pois era bom. Poucos como ele auxiliavam os mais jovens por bondade. Mesmo pedindo parte dos espólios, o que sobrava para Gor, Lacktum e Halphy, era sempre ricamente comentado por Azerov, para que pudessem se tornar mais competentes com os itens arcanos.
Algo que começou a tomar os pensamentos de Lacktum.

Azerov acomodou os aventureiros em suas respectivas camas na torre. Todos ficaram no mesmo andar. Lacktum reclamava, mas o velho mago sempre o convencia a se acalmar. Pareciam pai e filho de um modo único. Todos os dias conversavam como se conhecessem um ao outro, há vários anos. Eles tratavam sobre vários temas arcanos. Abjuração, conjuração, duelos arcanos, quem foram seus mestres na Arte e o que desejavam com ela. Logo, Azerov se compadeceu do jovem e vingativo Van Kristen. E o Lacktum criou laços afetivos com velho caduco, como gostava de chamar o dono da torre.
Foram tempos de paz para todos naquele grupo. Eles riam, cantavam e comiam todos os dias com uma alegria única. Thror, que perdeu a memória de sua vida passada, preenchia as novas com lembranças boas. Já Halphy aproveitava a ajuda Azerov e Hugo para praticar nos primeiros passos da Arte. Gor, Richard e Hugo aproveitavam e se deslocavam até uma vila próxima e festejavam o fato de não estarem em aventuras tão cedo. O jovem Federick treinava muito com o grego, mas sempre que podia, conversava com a serva Madelyne.
E todos faziam isso, pois Azerov iria os mandar atrás dos itens. Isso graças ao fato do mago - além de ser um mestre das viagens - ter consigo uma pedra de Ixxanon.
Esses itens possibilitariam a concentração de energias metamágicas, que os faria viajar no tempo e no espaço. E através disso se deslocariam de acordo com a vontade do conjurador. Essa pedra seria um pedaço de rocha vulcânica brilhante, com desenhos arcanos de conjuração, que faziam parte dos lendários Portais de Ixxanon. O Grande Dragão Dourado havia cedido seus conhecimentos como grande feiticeiro, com a finalidade de auxiliar os humanos a tentar se compreender e respeitar, Porém, qual não foi à surpresa do Segundo Sol ao saber que os humanos usavam os portais como modo de guerrear e obter lucro. Ele destruiu alguns desses portais, mas deixou outros intactos, protegidos por criaturas poderosas de sua extrema confiança. Isso ocorreu antes de sua ascensão à divindade.
Mas um dos fatos que mais aguçou a mente de Lacktum, foi um tomo que Azerov, todo dia ficava lendo naquele mês. Lacktum o viu poucas vezes, mas notou que estava escrito em diversas línguas. Era necessário ser mais que um mero poliglota para saber de onde vinham aquelas escrituras. As letras e símbolos, ao que pareciam gregas, francas, inglesas, fenícias, germânicas, babilônicas, rúnicas, atlantes, romanas, hunas, acadianas, hieróglifos, escrita de tempos mais antigos que a própria escrita, gaulesas, persas, eslavas, olímpicas, sidhes, asgardianas[2], ctonianas[3], draconianas[4], a língua amaldiçoada dos ogros[5], gigante, silvestre, linguagem druídica, faéricas, enochianas[6], abissais, espirituais, elementais, algumas que ele ouviu só em lendas, e outras que mesmo com seu vasto conhecimento, nunca ficou sabendo. Lacktum não resistiu e perguntou a Azerov o que era aquele livro.
Ele explicou ao jovem inglês que conseguiu contatar de forma pacífica, uma criatura que se alimentava de mentes humanas. Eles trocavam favores. Azerov se tornava um meio de comunicação e de obter itens para a criatura. Enquanto esta lhe fornecia magia antes, nem sequer poderia imaginar. Porém, ele teria morrido... Lendo o livro. Ao que parece o monstro teria um aprendiz, outro como ele, que compreendeu o que teria ocorrido. Ele encontrou o mestre, depois de dia sobre o livro, em um estado mumificado, como se as forças dele fossem drenadas lentamente. Sabendo que Azerov tinha um grande conhecimento, e por isso, teria mais chance de traduzir o livro.
Da origem do tomo, nada se sabe. O que Azerov sabia, é que não parecia com nenhum grimório que tenha visto ou ouvido falar. O material do livro era muito antigo. No mínimo, anterior ao surgimento dos reinos mesopotâmicos. O que era contraditório já que o material do qual era feito era de papel. Como alguém poderia ter feito um livro desses tanto tempo atrás, de um material que só agora era usado em larga escala?
Mas Lacktum não se dedicou muito, depois da explicação de Azerov, sobre o livro. Começou a trabalhar em outras coisas: a criar itens poderosos e até mágicos. Os itens eram feitos na forja da vila, com ferro dos anões que Azerov concedeu ao mago e a Thror depois de ser recompensado com serviços e algumas moedas. Além disso, o velho caduco cedeu algumas magias novas ao jovem mago de cabelos vermelhos. E um delas se tratava sobre ou controle de chamas.
O único problema é que ninguém notou o distanciamento de Gor, antes do dia da viagem.

Ao completar cerca de um mês, o grupo se uniu no segundo andar, a pedido de Azerov. Viram símbolos de conjuração poderosos ao redor de toda a sala, e no centro, havia alguns itens mágicos e mundanos muito bem preparados.
A energia metamágica entrava na pedra com o um rio que flui de sua foz, e atingia o dedo.
Quase nem notaram a escada que subia para o observatório. Isso se devia ao fato de Azerov exigir que ninguém subisse lá, a não ser se fosse necessário. Mas o que ele definia como necessário poderia ser qualquer coisa.
-Entrem no meio do circulo – exigiu com um tom bem mais serio que o normal, o mago veterano.
Todos, com exceção de Hugo e Richard entraram no meio da conjuração. O animo dos dois amigos diminuiu drasticamente para entrar em aventuras. Por isso treinariam com Azerov para se tornarem poderosos. Nem pareciam os mesmo que haviam partido com o grupo no começo da jornada. Ficaram só olhando os outros na porta que ficava para a escada.
-Tem certeza disso? – avisou o arcano experiente para os jovens no circulo – Irão para o Oriente?
Lacktum tocou a testa com dois dedos, como sinal de cumprimento para Azerov. Como se fosse um até logo.
-Se lembrem – falou o mago Azerov olhando atentamente para todos, com as mãos estendidas para frente – já contatei um guia e negociante no lugar em que irão aparecer. Seu nome é Naktuh. Então, estejam preparados... Agora!
Pouco depois, o grupo formado por Gor, Lacktum, Thror, Federick e Halphy sumiu. Foi quando Madelyne apareceu na frente da porta do andar para avisar que o desjejum estava pronto. Richard e Hugo ficaram espantados com o poder de Azerov.
-Bem, - falou mais calmo e sarcástico o mago e dono da torre – vai ficar um tanto calmo isso aqui. Já estou com saudades daquele mago mal criado. Bem, vamos descer. A comida não espera ninguém, e Madelyne sabe fazer ovos como ninguém.


[1] A aura mágica é como uma espécie de efeito arcano que surge sobre aqueles que são usuários de magia. Um mago experiente consegue “sentir” a aura de outros ao seu redor. E às vezes, consegue até reconhecer o quão poderoso ele é.
[2] Linguagem dos povos do norte em geral
[3] Linguagem dos povos subterrâneos, quase sempre malignos
[4] Linguagem dos dragões, comumente usados em magias
[5] Não existe uma linguagem propriamente falada ou escrita. Seriam símbolos bizarros que só os da raça normalmente conhecem
[6] Linguagem dos anjos

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