Após um longo período de viagem, cruzando as áreas próximas o
litoral grego e passando por lugares onde antes se encontravam as polis, os
companheiros se uniam cada vez mais, como se a beleza daqueles lugares os
trouxesse só bons sentimentos. Esquecendo os problemas recentes e que teriam no
futuro, assim como os fantasmas do passado. E até mesmo aqueles que sentiam um
vazio em sua vida, não se lembrando de toda ela, pareciam não se importar com
isso mais. Parecia que os deuses sorriam para eles desde que saíram da vila
onde encontraram o primeiro dos itens. E finalmente estavam no litoral próximo
das antigas terras de Esparta. Lá encontraram finalmente a torre de Azerov, um
pouco afastada da vila.
A torre formada por firmes tijolos de alguma pedra vulcânica
parecia cobrir outro tipo de construção velha e antiquada para eles na época.
Talvez, o exercito espartano que enfrentou Xerxes, tivesse passado por ali, mas
nunca saberiam com certeza. Só a imaginação deles poderia crer sobre tal fato.
O portão da torre era feito de madeira negra, firme e rígida. Como se entrassem
em um novo mundo, o que não deixava de ser verdade.
Dentro da construção, logo quando se entrava, era possível
notar uma vasta extensa biblioteca. Havia livros de tanto tipos, titulo e capas
que fizeram Lacktum, Hugo e Halphy se sentirem bobos em comparação ao
conhecimento que tinham. Aqueles livros, com certeza, continham em alguns,
conhecimentos de séculos atrás. Para se dizer o mínimo.
Havia dois andares acima da biblioteca, ao qual entraram que
eram acessados através de uma escada em espiral. Isso graças ao formato
circular que havia dentro e fora da torre.
No centro da torre, havia uma mesa bem trabalhada, também de
madeira negra. Em uma cadeira, bem acolchoada, sentava um home idoso, com barba
branca e olhar jovial apesar da idade. Ele os encarava, como se visse velhos
amigos, com um sorriso todo para a direita. Havia varias cadeiras as quais o
mago posicionou próxima da mesa.
Madelyne – a moça encapuzada com panos que os havia contatado
antes – mostrava a casa aos jovens, mostrando submissão ao velho homem no
centro da biblioteca.
-Ora, - disse o homem que parecia ser um mago – bem vindos
jovens aventureiros.
-Obrigado – Começou Lacktum – Azerov. Obrigado por nos
acomodar. Viemos...
-Esperem! – cortou o idoso – Se sentem. Desculpe minha falta
de educação. Devem ter fome e sede também. Madelyne! Traga algo bom para esses
jovens.
-Muito grata, - disse Halphy reverenciando o mago – mas, por
favor, poderia nos disser quem é? Exatamente entende.
-Muito sábia, - falou Azerov rindo – deve ser a jovem meio
elfa das terras do rei Luís e deve ser da família Brown, não é?
-Exato.
-Os dois fortemente armados e protegidos devem ser Thror e
Federick, não é? Lacktum deve ser o rapaz mascarado, acredito... Como não
carrega livros, mas possui uma aura mágica [1]já
notei entre vocês quem é o feiticeiro.
Ou deveria dizer mais de um? Hugo e Halphy. A família Brown é conhecida
por criar os mais excelentes feiticeiros e arcanos de guerra. Mas que eu me
lembre só havia um druida.
-Estou quase um mês com eles – soltou o druida novato – Meu
nome é Seton.
Todos já haviam se sentado, exceto Lacktum. Mais chato do que
o normal, pelo jeito. Ele cruzou os braços, enquanto ouvia a voz irritante do
mago, pensava o inglês.
Ele olhou ao redor antes de prosseguir suas idéias. Colocou
as mãos sobre a mesa, como se preparasse algo tão difícil de pronunciar, que
mesmo sendo velho, sábio e experiente, fosse extremamente custoso encontrar as
palavras no fundo de sua mente. Por fim ele as encontrou.
-Meu nome é Azerov Lokias. Sou um mago que se especializou em
viagens. Magias de teleporte, transporte através da Arte, coisas assim. Nós nos
chamamos como mestres da viagem. Somos graças a isso, grandes comerciantes.
Temos muitos contatos, em vários lugares.
Os sete companheiros comiam enquanto escutavam o experiente
mago. Este olhava um pouco irritado na direção do guerreiro grego que comia
frutas, produzindo e um barulho estranho, bizarro e chato. Lacktum olhou com
muita raiva para Thror. Não parecia o simples e obsessivo mago que acompanhara
desde Starten. Parecia uma criatura desalmada...
Foi então que Azerov continuou:
-E nesses anos todos, que estive em aventuras, conheci muitas
pessoas e aprendi muitas coisas novas. Através de livros e pergaminhos. E com
isso fiquei sabendo sobre os mais diversos itens e artefatos poderosos. Mas
nenhum objeto teria a mesma importância que dois itens que achei em uma
pesquisa – então foi o momento que Azerov mostrou alguns pergaminhos com
desenhos únicos – Em uma consulta que fiz ao encontrar esses pergaminhos, eles
descobriram um fato único para meus olhos tão cansados. Que esses itens são
chamados de Vestes do Desalmado e Pele do Dragão de Platina.
Foi quando todos pararam de comer. Lacktum mesmo com toda a
sua arrogância, se sentiu completamente atônito. Thror parou sua tão saborosa
comida, só para ver os queixos boquiabertos de seus companheiros. Ele não
compreendeu, como de costume, o que estava acontecendo. Até Halphy ficou pasma,
e não foi através de nada na Arte.
A única pessoa que não se espantou com as palavras de Azerov,
foi Madelyne, que soltava risos contidos, no fundo da sala.
Após o momento de espanto, todos olharam curiosos, o que ele
tinha a falar sobre os itens. E então Azerov se levantou em direção a uma das
prateleiras da biblioteca. Tirou um livro de capa marrom, bem surrado.
-Mas que pergaminhos seriam esses? – soltou Lacktum tentando
tomar o controle da conversa – Fomos até Delfos para sabermos mais sobre os
itens. Saber sobre suas histórias...
-Não meu caro, - disse Azerov interrompendo Lacktum – vocês
queriam saber a localização de cada um desses artefatos. Não sua história ou criação.
Vocês são jovens e não sabem o que realmente querem na vida, nem o que desejam
na frente de um modo mais simples de adivinhação. Imagino o que pediriam na
frente de um gênio djinn...
-Nesse caso, mestre das viagens, me diga qual o nome do livro
que lhe concedeu tanto conhecimento sobre esses fatos? – perguntou Halphy.
-Aqui esta! – mostrando outro livro, esse de capa marrom
avermelhada, como resposta a pergunta do jovem mago – Foi escrito por um
chamado Murak, servo do grande Kalidor, barão das terras do Lobo negro. Este
livro se chama Livro das Vidas
Esquecidas. Foi reescrito por monges – falava isso enquanto andava pela
biblioteca de modo engraçado – aos quais adoravam o Cristo Deus. E então...
-Você o roubou, - apontou e falou alto Halphy de olhos e
ouvidos, bem atentos, para Azerov – não é mesmo?
-Ora, sagaz pequena língua arcana. Sei também dos seus
talentos metamágicos adormecidos. Muito esperta, mas tente não adivinhar meus
pensamentos.
-Tudo bem, - respondeu Halphy com olhar malicioso – ficarei
quietinha agora.
-Bem o tal homem escreveu as historias individuais de cada um
dos Imortais naquele tomo, que foi reescrito para o inglês. Sorte minha ser
fluente nessa língua. Caso contrário, demoraria bem mais para encontra isso.
E quando ele proferiu essas palavras, jogou na mesa um par de
luvas de couro com inscrições arcanas que pareciam conter necromancia em seu
interior.
-É o que penso? – soltou Lacktum, quase em um tom apavorado,
e ao mesmo tempo, de frenesi.
-Sim essas são as luvas do Desalmado. O mago que se fundiu a
suas vestes, se tornando a chave para fechar os Portais do Apocalipse. Mas
colocando a mão esquerda sobre os itens – pegar esses artefatos vai acarretar
em um futuro, que talvez, você não irá controlar.
-Eu não ligo para o meu futuro, mas sim para o meu destino.
Lacktum então tirou a mão que ficava em cima dos itens aos
quais Azerov mantinha sobre as luvas. Halphy até tentou impedir o ruivo
inconseqüente, mas já era tarde demais. As luvas já cobriam as mãos do
obsessivo mago inglês. E os olhos brilhavam com um fogo diabólico no jovem.
-Você poderia o deter. Por que não o fez? – perguntou Halphy
a Azerov.
-Você também não fez feiticeira - falou irritado, mas
conformado o velho Azerov – então não em incomode. Garoto tolo... Futuro e destino
é praticamente a mesma coisa.
Qual o motivo de Azerov querer ajudar o grupo era o que
muitos deles se perguntavam. No dia seguinte, houve a resposta. Através dos
jovens ele poderia obter itens mágicos e um vasto tesouro. Cada lugar que
possui um dos itens são masmorras perigosas e terríveis, possuindo muitos
perigos, mas vastas recompensas. E isso seria útil para o mago, tanto quanto
para o grupo, afinal através do mago obteriam um modo de chegar aos conjuntos.
Mas o que talvez nunca soubessem, e nem o mago queria
transparecer, é que ele fazia isso, pois era bom. Poucos como ele auxiliavam os
mais jovens por bondade. Mesmo pedindo parte dos espólios, o que sobrava para
Gor, Lacktum e Halphy, era sempre ricamente comentado por Azerov, para que
pudessem se tornar mais competentes com os itens arcanos.
Algo que começou a tomar os pensamentos de Lacktum.
Azerov acomodou os aventureiros em suas respectivas camas na
torre. Todos ficaram no mesmo andar. Lacktum reclamava, mas o velho mago sempre
o convencia a se acalmar. Pareciam pai e filho de um modo único. Todos os dias
conversavam como se conhecessem um ao outro, há vários anos. Eles tratavam
sobre vários temas arcanos. Abjuração, conjuração, duelos arcanos, quem foram
seus mestres na Arte e o que desejavam com ela. Logo, Azerov se compadeceu do
jovem e vingativo Van Kristen. E o Lacktum criou laços afetivos com velho
caduco, como gostava de chamar o dono da torre.
Foram tempos de paz para todos naquele grupo. Eles riam,
cantavam e comiam todos os dias com uma alegria única. Thror, que perdeu a
memória de sua vida passada, preenchia as novas com lembranças boas. Já Halphy
aproveitava a ajuda Azerov e Hugo para praticar nos primeiros passos da Arte.
Gor, Richard e Hugo aproveitavam e se deslocavam até uma vila próxima e
festejavam o fato de não estarem em aventuras tão cedo. O jovem Federick
treinava muito com o grego, mas sempre que podia, conversava com a serva
Madelyne.
E todos faziam isso, pois Azerov iria os mandar atrás dos
itens. Isso graças ao fato do mago - além de ser um mestre das viagens - ter
consigo uma pedra de Ixxanon.
Esses itens possibilitariam a concentração de energias
metamágicas, que os faria viajar no tempo e no espaço. E através disso se
deslocariam de acordo com a vontade do conjurador. Essa pedra seria um pedaço
de rocha vulcânica brilhante, com desenhos arcanos de conjuração, que faziam
parte dos lendários Portais de Ixxanon. O Grande Dragão Dourado havia cedido
seus conhecimentos como grande feiticeiro, com a finalidade de auxiliar os
humanos a tentar se compreender e respeitar, Porém, qual não foi à surpresa do
Segundo Sol ao saber que os humanos usavam os portais como modo de guerrear e
obter lucro. Ele destruiu alguns desses portais, mas deixou outros intactos,
protegidos por criaturas poderosas de sua extrema confiança. Isso ocorreu antes
de sua ascensão à divindade.
Mas um dos fatos que mais aguçou a mente de Lacktum, foi um
tomo que Azerov, todo dia ficava lendo naquele mês. Lacktum o viu poucas vezes,
mas notou que estava escrito em diversas línguas. Era necessário ser mais que
um mero poliglota para saber de onde vinham aquelas escrituras. As letras e
símbolos, ao que pareciam gregas, francas, inglesas, fenícias, germânicas,
babilônicas, rúnicas, atlantes, romanas, hunas, acadianas, hieróglifos, escrita
de tempos mais antigos que a própria escrita, gaulesas, persas, eslavas,
olímpicas, sidhes, asgardianas[2],
ctonianas[3],
draconianas[4],
a língua amaldiçoada dos ogros[5],
gigante, silvestre, linguagem druídica, faéricas, enochianas[6],
abissais, espirituais, elementais, algumas que ele ouviu só em lendas, e outras
que mesmo com seu vasto conhecimento, nunca ficou sabendo. Lacktum não resistiu
e perguntou a Azerov o que era aquele livro.
Ele explicou ao jovem inglês que conseguiu contatar de forma
pacífica, uma criatura que se alimentava de mentes humanas. Eles trocavam
favores. Azerov se tornava um meio de comunicação e de obter itens para a
criatura. Enquanto esta lhe fornecia magia antes, nem sequer poderia imaginar.
Porém, ele teria morrido... Lendo o livro. Ao que parece o monstro teria um
aprendiz, outro como ele, que compreendeu o que teria ocorrido. Ele encontrou o
mestre, depois de dia sobre o livro, em um estado mumificado, como se as forças
dele fossem drenadas lentamente. Sabendo que Azerov tinha um grande
conhecimento, e por isso, teria mais chance de traduzir o livro.
Da origem do tomo, nada se sabe. O que Azerov sabia, é que
não parecia com nenhum grimório que tenha visto ou ouvido falar. O material do
livro era muito antigo. No mínimo, anterior ao surgimento dos reinos
mesopotâmicos. O que era contraditório já que o material do qual era feito era
de papel. Como alguém poderia ter feito um livro desses tanto tempo atrás, de
um material que só agora era usado em larga escala?
Mas Lacktum não se dedicou muito, depois da explicação de
Azerov, sobre o livro. Começou a trabalhar em outras coisas: a criar itens
poderosos e até mágicos. Os itens eram feitos na forja da vila, com ferro dos
anões que Azerov concedeu ao mago e a Thror depois de ser recompensado com
serviços e algumas moedas. Além disso, o velho caduco cedeu algumas magias
novas ao jovem mago de cabelos vermelhos. E um delas se tratava sobre ou
controle de chamas.
O único problema é que ninguém notou o distanciamento de Gor,
antes do dia da viagem.
Ao completar cerca de um mês, o grupo se uniu no segundo
andar, a pedido de Azerov. Viram símbolos de conjuração poderosos ao redor de
toda a sala, e no centro, havia alguns itens mágicos e mundanos muito bem
preparados.
A energia metamágica entrava na pedra com o um rio que flui
de sua foz, e atingia o dedo.
Quase nem notaram a escada que subia para o observatório.
Isso se devia ao fato de Azerov exigir que ninguém subisse lá, a não ser se
fosse necessário. Mas o que ele definia como necessário poderia ser qualquer
coisa.
-Entrem no meio do circulo – exigiu com um tom bem mais serio
que o normal, o mago veterano.
Todos, com exceção de Hugo e Richard entraram no meio da
conjuração. O animo dos dois amigos diminuiu drasticamente para entrar em
aventuras. Por isso treinariam com Azerov para se tornarem poderosos. Nem
pareciam os mesmo que haviam partido com o grupo no começo da jornada. Ficaram
só olhando os outros na porta que ficava para a escada.
-Tem certeza disso? – avisou o arcano experiente para os
jovens no circulo – Irão para o Oriente?
Lacktum tocou a testa com dois dedos, como sinal de
cumprimento para Azerov. Como se fosse um até logo.
-Se lembrem – falou o mago Azerov olhando atentamente para
todos, com as mãos estendidas para frente – já contatei um guia e negociante no
lugar em que irão aparecer. Seu nome é Naktuh. Então, estejam preparados...
Agora!
Pouco depois, o grupo formado por Gor, Lacktum, Thror,
Federick e Halphy sumiu. Foi quando Madelyne apareceu na frente da porta do
andar para avisar que o desjejum estava pronto. Richard e Hugo ficaram
espantados com o poder de Azerov.
-Bem, - falou mais calmo e sarcástico o mago e
dono da torre – vai ficar um tanto calmo isso aqui. Já estou com saudades
daquele mago mal criado. Bem, vamos descer. A comida não espera ninguém, e
Madelyne sabe fazer ovos como ninguém.
[1] A
aura mágica é como uma espécie de efeito arcano que surge sobre aqueles que são
usuários de magia. Um mago experiente consegue “sentir” a aura de outros ao seu
redor. E às vezes, consegue até reconhecer o quão poderoso ele é.
[2]
Linguagem dos povos do norte em geral
[3]
Linguagem dos povos subterrâneos, quase sempre malignos
[4]
Linguagem dos dragões, comumente usados em magias
[5]
Não existe uma linguagem propriamente falada ou escrita. Seriam símbolos
bizarros que só os da raça normalmente conhecem
[6]
Linguagem dos anjos
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