sexta-feira, 7 de março de 2014

(Parte 18) Capítulo Três: Homem solitário




Já fazia alguns dias e o grupo se recuperava do surto de loucura que o inglês deve nos últimos dias. Ele pediu desculpas a todos, até mesmo a Rufgar, que seria o alvo da fúria do mago. Após muitas conversas e teorias sobre o livro, Halphy e Arctus guardaram o códice longe de Lacktum, com medo de um novo ataque. Foi uma decisão bem acertada pelo que Alexander comentou, usando como referência o que Seton falou da torre de Azerov.
Mas o caminho que eles trilhavam, não ajudava muito no processo de recuperação de seus membros. Eram colinas atrás de colinas, morros atrás de morros e os Dragões da Justiça ficavam exaustos atravessando aquele reino. Mas graças ao auxilio de Fiel e Alexander, se tornava mais fácil. O cão encontrava rastros, protegendo o grupo de conflitos contra ogros, anões e até mortos famintos. A águia conseguia mostrar caminhos mais rápidos e seguros até o objetivo do grupo. Era uma boa equipe, não fossem por estarem cansados.
Em mais alguns dias chegariam às fronteiras.
Em uma manhã, quando a neve caia forte, todos olhavam ao longe um destacamento passando por eles. Não muito perto, mas o bastante para se saber que havia cerca de seis deles. O pior é que a águia não conseguia voar para sobrevoar devido ao tempo.
-O que acha Lacktum? – perguntou Arctus em dúvida, cobrindo o rosto contra a neve.
-Não sei... Mas anões e ogros não devem ser. O tamanho não bate com eles. E nem andam como um dos mortos famintos. Estamos próximos das fronteiras então talvez possamos até pedir ajuda. Nossas provisões acabaram ontem.
-Talvez sejam soldados ou camponeses fugindo – disse Gustavo, arrumando seu elmo.
-Eu acho que são soldados – falou Thror.
-Detesto concordar com o careca com X na cabeça, mas também acho que sejam soldados – completou Halphy – Chamem de intuição.
-Vamos ao encontro deles – terminou Lacktum enquanto corria na direção do grupo desconhecido.
-Lacktum, eu não... – mesmo com Halphy insistindo para que não fossem até os estranhos.
-Deixe Brown – falou sem muita empolgação sobre o mago.
Ele se cansava das decisões de Lacktum. Apesar de ser o líder, o ruivo só trazia problemas. Era necessário alguém mais firme. E rapidamente.
Quando caminhavam, os passos foram se tornando mais pesados para alcançar eles. O mago ficava com medo de perdê-los. E depois de um bom tempo, alcançaram o grupo. Era difícil a visão até mesmo para aqueles que estavam tão próximos um do outro. Lacktum foi mais a frente conversar com eles.
-Olá? Chamo-me Lacktum e estou aqui...
Só que quando o mago iria conversar com um dos supostos homens, ele notou que não era bem isso que ele era. Lacktum conseguiu ver o que um revenant é. O resultado dos experimentos alquímicos de Paracelso, uma armadura animada, que age e pensa como uma pessoa. Não tão rápidas como os humanos, mas assim mesmo, ótimos combatentes. Feitos de armaduras pesadas como cotas de talas, lorigas, peitorais de aço e até armaduras de batalhas. De longe, realmente pareciam humanos cobertos dos pés a cabeça. Usavam até elmos. Mas de perto, poderia se notar um construto com alma transmutada em um grande pedaço de metal ou outro material. Eles não pareciam ter piedade, assim como a criatura mitológica que originou o nome dessas criaturas.
Quando Lacktum notou que o elmo estava vazio, deu um passo para trás com medo.
-Dragões da Justiça, ergam suas armas! – soltou Arctus em socorro ao mago.

Thror saltou espada e escudo contra o revenant que iria atacar Lacktum. Com a arma curta, atravessou a liga metálica que tinha vida própria. Mas isso não foi o suficiente para fazer o construto tombar. Tanto que ele golpeou no peito com uma lança. Foi um golpe quase perfeito. E quase, não significa morte. Pelo menos não para o grego da cicatriz.
O sacerdote Arctus aproveitou e golpeou algo que deveria ser a cabeça da criatura. Um ataque desses mataria um homem comum, mas não estes seres desprovidos de um corpo carnal. Mas o sacerdote prosseguiu no ataque, não deixando espaço para qualquer ataque contra si. A monstruosidade também não parava.
Halphy não achava problemas para enfrentar o seu adversário, mesmo não possuindo um ponto vital para explorar. Ela obtinha bons resultados fazendo vários ataques. Além disso, o machado não tocava seu corpo, assim como, um gato foge de cães. E a meio elfa uma gatuna.
Um dos que mais temia o combate, era Gustavo. Ele conseguia sentir, que dentro das armaduras, não havia mal. Estes seres poderiam ser um processo de alquimia e necromância, mas almas dentro das armaduras não eram tocadas pelas trevas. Mesmo assim, o paladino tinha que combater, pois era sua vida que estava em jogo.
Sua espada longa teria atravessado um corpo feito de carne. Mas os revenants eram perigosos e resistentes. Agüentavam duros golpes, e não gemiam de dor. Na verdade, só soltavam um estranho barulho, que mais parecia rangidos de uma porta. Eram soldados perfeitos que não se cansavam, nem dormiam ou se alimentavam. Mas Gustavo acreditava que era possível derrotar o inimigo feito de malha.
Os únicos que possuíam problema no combate eram Seton e Lacktum. O druida foi proteger o arcano, mas acabou com problemas, já que o aliado caiu no chão. Ou seja, era necessário enfrentar dois oponentes. Com a foice, separava os oponentes deles.
Ele gritou sua arma acertando as duas pontas nos oponentes. Não causou grandes efeitos.
-Lacktum! Faça alguma coisa! – gritou o druida em desespero.
-Já farei Seton! My finger lead the force of thunder.
E eis que nenhuma chama surgiu nas criaturas de metal, mas era possível notar nelas uma coloração forte como se estivessem sendo forjadas novamente. Porém, uma delas caiu imediatamente após o uso da magia.
Isso aguçou a mente de Lacktum, que partiu em direção da armadura. Seton gritou para o companheiro, pedindo auxílio, mas esse o ignorou em nome de sua curiosidade.
O arcano chegou até a armadura procurando por algo que nem ele sabia o que era. Foi quando, ao olhar dentro da armadura um pentáculo. Ele parecia ter sido inscrito com uma faca de metal. Porém, derreteu no momento em que a magia se tornava mais poderosa. O que o levou a uma conclusão:
-Existem pentáculos[1] nas armaduras! Os destruam e acabaremos com eles!

Agora havia só cinco armaduras e o grupo precisava proteger a si mesmos a aos animais. Alexander e Fiel se mantinham calmos e observando tudo ao redor, para auxiliar em caso de problemas. Caça-Trufas já segurava Valente pelo rabo para impedi-lo de entrar no conflito. Mas o jovem suricate, se perdia no meio de toda a neve que caia.
A maré da batalha mudou isso era certo. Os golpes de grupo eram mais precisos. Como única exceção estava Thror que não sabia o que era um pentáculo.
Gustavo então rogou aos céus, enquanto erguia sua lamina para trás:
-Que o aço aqui forjado, se torne arma para as minhas vontades se tornarem realidade. Que Deus proteja a mim e aqueles que amo.
Foi quando, a lâmina de sua espada longa desceu com a fúria de um sol. Abriu uma grande brecha na armadura viva. Com um olhar atento, o paladino conseguiu a notar um pentáculo dentro de aquele ser. Quando viu o revenant pegou sua espada tentando destruir o paladino. O guerreiro sagrado destruiu o símbolo contido na parte mais firme do metal, atravessando a armadura.
Thror gritou para todos.
-O que é um pentáculo?
Enquanto todos lutavam, alguns olharam com ar de estranhamente para o grego. Como ele poderia ser tão estúpido? Ele não sabia o que é um símbolo arcano! Mas não era o momento para isso: o guerreiro da cicatriz estava muito ferido por um golpe que sofreu quase trespassando seu coração. O que ele não contava era com uma frase de Arctus:
-Pentáculo é um desenho!
Então, Thror abriu a guarda da criatura. Nesse momento, a armadura caiu no chão como uma fruta madura. O guerreiro saltou em direção da criatura a impedindo de levantar. Com o escudo, bateu no elmo do revenant. Então viu dentro da armadura um estranho desenho.
-Tem que ser esse!
Quando falou isso, com a espada curta, riscou o símbolo com força. Rápido o bastante para que não fosse golpeado pela lança.
-Tivessem falado que era um daqueles símbolos que o Lacktum sempre vê nos livros. Seria mais fácil para mim!

A batalha se mantinha ferrenha.
Seton já havia dominado seu adversário. O problema é que nenhum dos dois conseguia acertar um ao outro. Mesmo assim, o druida tinha vontade de acertar o adversário da mesma forma que fez com o outro. Não conseguiu.
O revenant estava preparado para qualquer ataque. Parecia que aprendiam, entendiam e sabiam como desviar dos golpes. Com a maça, tentava fazer um ataque em resposta ao jovem druida. Nada ocorria de diferente.
E então, eis que surgiu Gustavo com sua espada longa atravessando as costas do construto. Mas o símbolo estava na parte da frente, por dentro da armadura. Isso não causou nenhum efeito no ser.
Mas agora, ele tinha que lidar com dois adversários. Seria um desafio.
Halphy lidava com o monstro como uma menina que brinca. A criatura estava muito ferida, se é que se pode falar isso em um caso assim. Havia várias marcas na cota de malha vazia e não tinha mais apoio, afinal, suas pernas haviam sido cortadas pela adaga certeira dela. Eis que o monstro caiu diante depois de tanto tempo.
-Esses monstros se enfraquecem depois de muitos golpes! – disse Halphy girando a adaga – Devem estar muito feridas agora! Ataquem com tudo!
Nesse instante, do dedo de Lacktum saltou um pequeno raio de eneregia pura.
- Hell fills up this fire, but he will attain my enemies!
A criatura foi afetada pelo fogo do arcano ruivo. Mas nem tanto quanto o jovem queria. Ela não se abalou pelo golpe de energia. Na verdade, era até possível comparar o dano recebido um pequeno corte na pele. E não a explosão de energia que surgiu subitamente com a magia.
O que a criatura não contava, era com o poderoso golpe da espada de Thror, pelas costas, enquanto segurava o elmo. Era como se estivesse segurando a cabeça de um inimigo, ele tombou diante das botas do grego.
-Thror... – iria começar a falar o mago.
-Não precisa se preocupar em me agradecer! Notei que este saiu de perto do clérigo...
-Não iria agradecer! – disse Lacktum contrariado – Só queria saber o motivo de continuar a segurar o elmo com a mão do escudo.
Foi então que o homem da cicatriz olhou para o elmo. Então, o jogou no chão com receio que ganhasse vida de novo.
Seton ainda tinha dificuldades em enfrentar o seu oponente, pois além de ter se afastado de seus aliados, ficou encarregado do anão Rufgar. Ele não poderia largar o prisioneiro que poderia delatar o grupo. Foi nesse tempo, que o revenant se aproximou o bastante para fazer golpe perfeito. Mas foi interrompido pelo corpo do anão, que saltou servindo como escudo.
-Vai druida!
Foi como em um piscar de olhos: a foice atravessando o revenant, enquanto o anão caia de dor. O construto também caiu.
-Ei barbudo, esta bem? – soltou o aflito druida.
-Não acha... Que uma espada curta irá me matar, não é?
Seton sorriu e começou os procedimentos mágicos de cura no peito do anão.

Todos foram até o anão. Exceto Lacktum que parecia querer contemplar a vitória. Viu Halphy ajudando o padre.  Também viu o jovem Gustavo cumprimentando Thror pelos excelentes golpes desferidos. Viu a raiva de Valente por não participar do combate, enquanto Caça Trufas se sentia aliviado. Alexander e Fiel estavam alegres, só pelo fato, de todos estarem bem. E como todos se reuniram ao redor de Rufgar para saber se ele estava bem.
O que ele não viu, foi o golpe de uma adaga em suas costas.
-Mestres Hazik e Kalic Benton II mandam lembranças... Disse uma voz.
Lacktum então ouviu o metal se afastando do corpo. Ele colocou a mão nas costas e tentou olhar a palma da mão. Não houve tempo. Caiu inconsciente no chão.
-Ruivo! – gritou Thror.
-Lacktum! – gritou Halphy.
-Mas o... – e antes que Arctus terminasse a frase, entendeu o que foi dito pelos companheiros. Ele conseguia ver, próximo do corpo inconsciente do mago. Lacktum, um homem de vestes negras, capa vermelha e usava um capuz para esconder sua face. Segurava uma adaga grande cheia de um líquido vermelho e negro que escorria de sua lâmina. Apontando para o grupo, saltou:
-Meus mestres querem os itens do Desalmado e do Cavaleiro de Platina! Com isso seu colega poderá viver! Estarei naquela direção – disse apontando para um morro -  e quero que cheguem antes do anoitecer... Se não...
E nesse instante, o assassino fantasmagórico sumiu com a mesma velocidade que surgiu. Com a ajuda da neve naquele lugar. E a cada momento ela ficava maior, quase cobrindo o corpo do mago.
Todos foram até seu líder caído. Ele foi erguido pela jovem Halphy de todo aquele branco. Ela o virou procurando a ferida. Arctus e Seton não entendiam o motivo da ladina querer ver o golpe no corpo do mago antes deles. Alguma coisa a intrincava.
Foi quando a jovem encontrou a ferida. Notou que ao redor dela, havia uma substância esverdeada. Temeu que sua conclusão estivesse certa. Cheirou e então a fala do estranho. Ela sabia o que era aquilo.
-Praga! Vamos encontrar um lugar seguro para deixar Lacktum! Isso é veneno de quimera[2]! Temos que achar uma cura ou ele não sobreviverá!

Encontraram uma caverna, não muito distante de onde tiveram o conflito com os revenants, para deixar Lacktum mais acomodado. Era um local cheio de pedregulhos, mas era o único lugar seguro para depositar o líder e o colega Lacktum com aquela neve toda. Sendo que agora ela se tornou tão poderosa.
O jovem de cabelos vermelhos continuava inconsciente e extremamente febril. Sua pele ficava quente e seu corpo mole como uma trouxa de roupas.
Todos se preocupavam com o destino do rapaz. Caça-Trufas era só choro, enquanto Valente se mantinha ao lado do mago, esperando a melhora do amigo. Todos os outros se entreolhavam. Como se cada um quisesse que o companheiro ao seu lado tivesse a resposta para aquela situação.
-Vamos até onde ele esta – disse Halphy com toda a certeza em sua voz.
-Ele? Refere-se aquele homem encapuzado? – soltou Arctus estranhando.
-Sim. Não temos opção. Conheço o veneno e ele trará a morte ao Lacktum quando o dia raiar... Ou até antes.
-Mas então temos muito tempo para conseguir a cura – disse Thror aliviado.
-Não é bem por ai – respondeu a ladina – É certeza que ele irá morrer quando amanhecer! Temos que encontrar aquele estranho!
-Mas você acha que ele realmente deve ter essa cura? – perguntou Arctus com medo da resposta.
Halphy ficou calada, como se tentasse achar a resposta. Olhou para a mochila e a pegou.
-Você vai levar a mochila dele? Qual o motivo? – perguntou um Seton assustado.
-Os itens estão divididos entre nós. Um deles esta com Thror. Outro com Gustavo, pois foi o item que causou a morte de seu irmão. Tanto que Lacktum, Azerov e eu decidimos isso. Faltam então os dois itens que Lacktum possui. Até onde percebi, a máscara é o principal problema do conjunto do Desalmado. Parece ter vida própria e fica mais poderosa com os outros dois. Vou levar a máscara, pois se houver o problema de ser roubada, pelo menos nos livraremos do item que nos traz mais inimigos. Mas não podemos deixar que a busca por essas coisas, traga um mal tão grande para Lacktum. Ele sofreu tanto... E não merece...
Gustavo colocou a mão no ombro do jovem. Ele balançou a cabeça como se negasse seus próprios pensamentos.
-Vamos com você – disse Gustavo.
-Sim, mas só vão comigo Thror e você. O resto fica para cuidar do inglês. E não adianta querer vir comigo Valente. Os itens de Platina ficam.
-Tudo bem – soltou meio triste o suricate. Afeiçoou-se ao mago. Talvez por ser tão impertinente quanto ele. Preferiu ficar ao seu lado.
Seton e Arctus conseguem cuidar dele? – perguntou Gustavo.
Eles simplesmente confirmaram com a cabeça. Não havia o que se fazer, a não ser tentar manter o amigo bem.
-Tomem isso, é uma erva para neutralizar venenos. Vamos então os outros – terminou Halphy, para saírem daquele lugar.
E o grupo formado por três pessoas atravessou a neve forte e perigosa das terras inglesas. Enquanto a febre crescia no corpo do mago Van Kristen.

O caminho era difícil. A neve atingia a cintura de todos e tornava quase impossível andar. Mas aquele não era um momento para pensar nas dificuldades.
Aqueles três cruzavam o oceano branco composto de gelo. Causaria medo até em pessoas experiente. Mas isso não era algo para se ter naquela situação. Um dos seus estava com sérios problemas.
Gustavo e Thror acompanhavam a ladina. Ela nunca se colocou na posição de líder, mas não seria o melhor momento para isso. Mais de cinco meses se passaram desde que começaram a viver como companheiros. Gor era o líder no começo, mas mesmo Halphy notou que o soldado inglês não servia como líder. Mas o jovem de cabelo de fogo se mostrou um líder destemido nos momentos de dificuldades. Isso foi mais claro com o ataque na torre de Azerov tomando as rédeas da situação. Ele sabia ser mais capaz do que o mago, mas era melhor o peso da liderança dos Dragões da Justiça nas costas dele do que nela. O que deveria fazer? O que qualquer um faria no seu lugar? O que ele faria no seu lugar?
-Halphy! – gritou Thror.
-O que foi?
-Como vamos atacar aquele homem? Que estratégia fará?
-Eu ainda não sei! Mas imagino quem seja! – falou a garota apressadamente.
-Quem seria? – perguntou Gustavo.
-Augustus! O especialista em assassinatos! Já estudei métodos para matar e combinam com o de um famoso homem que aprendeu sobre esse tipo de arte com orientais!
-Mas espere um pouco... – falou desorientado o paladino – Quer dizer que os membros do Tigre Demoníaco já estão de olho em nós? Isso é um absurdo!
-E o que isso tem de tão importante? Não importa - falou isso a ladina alterando o tom de voz mais ainda – o Lacktum esta sofrendo inconsciente naquela maldita caverna! E o único método de tratar veneno de quimera é uma pétala de lótus[3]! Só através disso vamos recuperar ele! Então, ou agimos agora, ou perdemos!
Quando Halphy iria voltar a caminhar, foi impedida por Gustavo, que segurou em seu ombro.
-O que foi agora?
-Nós vamos salvar eles?
Halphy se manteve firme. Uma mulher era quase sempre consolada em um caso desses, mas não era isso que ela queria. Odiava que a tratassem como uma garota fraca, mas ela sabia que era natural tal atitude, vindo de homens. Era o momento de Halphy mostrar o que era líder.

-Onde... Estamos?
Lacktum falava isso, enquanto acordava. Ao seu redor estavam Valente, Furta-Trufas, Fiel e Alexander, todos quietos. O suricate chorava pelo mago. Isso era notável.
-Em uma caverna a leste de onde fomos atacados – respondeu Alexander.
-Onde estão os outros?
-Arctus e Seton estão na saída da caverna, vigiando. Thror, Gustavo e Halphy foram atrás do assassino. Ele talvez possua a cura para o veneno que esta em seu corpo. Rufgar esta com Seton.
-Veneno? – o mago se ajeitou, mesmo com a dor que sentia no corpo. O corpo ardia. E quando o ponto onde havia sido atacado tocava a parede da caverna, ardia mais ainda.
-E... Mas onde estão meus itens?
-Halphy os levou.
-Como? Maldita ladina!
-Isso ela fez para te salvar – gritou Valente irritado com a atitude do arcano.
-Calma... Calma – falava Furta-Trufas para tentar acalmar o companheiro animal.
-Halphy pensou que, já que o inimigo quer os itens, valeria mais a pena perder a máscara que os outros itens – Alexander disse.
-Verdade – consentiu o mago – isso bem o jeito dela de pensar. E bem certo confesso.
-Também é o seu jeito.
-É... Isso é verdade...
-Me diga – começou Alexander, alterando o tom da conversa – você esta triste o tempo todo. Qual o motivo disso?
Foi então que Lacktum notou que as memórias de seu triste passado ainda o marcavam. As imagens de seu pai, mãe, irmã e sua noiva sumiam em sua mente. Assim também ocorria com o que se lembrava de Azerov. As pessoas surgiam e sumiam em sua vida. E o pobre Federick, que lhe surgia como um fantasma devido ao seu irmão. Ele comentou tudo aos amigos animais.
Alexander se compadeceu do sofrimento do mago. Mas falou:
-Você agora lidera um grupo de companheiros leais. Aliados que estão dispostos a arriscar suas vidas pela sua. O veneno não é só proveniente de serpente ou criaturas das trevas. Ele vem também das trevas que surgem no coração. Corroem a alma e o espírito. Esse veneno nós causa tanto frio que sentimos nos tornando outras pessoas. Pois, um veneno altera tudo que há por dentro, sendo forte ou fraco fisicamente. E nem mesmo um arcano com tamanha inteligência como você pode sobreviver contra esse veneno. Só quando seu coração se livrar do mal que reside nele... Haverá uma pequena chance de redenção. Pois a vingança não trará seus entes e amigos queridos de volta. Só fará com que perca o pouco que lhe resta de bom em sua vida. Matar por matar é matar. Matar para proteger algo ou alguém, é algo de valor verdadeiro.
-É fácil falar! – se revoltou Lacktum – Não foram vocês que perderam aqueles que amavam!
-E isso lhe concede algum direito divino? Algum poder digno do deus da vingança? E nunca se esqueça: sempre se pode perder mais! Um coração com uma ferida não é algo incomum. Mas se o seu coração se encher de trevas, causará desgraça aos que estão ao seu redor.
O jovem virou seu rosto. Com a dor, parecia que dormiu rapidamente. Alexander pegou uma coberta e cobriu o arcano, como o bom cão que era.
-O que acha Alexande? – perguntou Fiel, em cima de uma pedra.
Valente se aninhou ao lado do mago. Furta-Trufas chorava com medo da sina de seu amigo.
-Eu não sei Fiel... Eu não sei.

-Vejam! Falta pouco até o morro.
Thror gritava isso como um cão que encontra a caça para seu dono. Havia uma parte no morro que subia em uma espécie de ladeira natural. Pelo que se notava era o único lugar onde haveria alguém naquele frio todo. Deveria ser ali que se escondia o maldito homem.
Halphy já ouviu falar sobre os assassinos. Os homens das terras escaldantes do Oriente. O temor aumentava no coração dela. Por isso, ela criou um plano: ela apareceria na frente do encapuzado, sozinha. Assim, o fazendoele acreditar que o grupo deixou à ladina ir sozinha até o lugar marcado. Era quase certeza que outro ponto de acesso existia naquele lugar. Podendo fazer uma emboscada ao inimigo. Ela sabia que isso era pouco provável, mas tinham que tentar.
O paladino e o guerreiro começaram a contornar o lugar. Enquanto isso, a ladina se tornou a isca para seu próprio plano.
Era necessário se manter calmo. O assassino não deveria suspeitar, nem um pouco, sobre as ações dela. A vida de Lacktum dependia disso. Demorou um para conseguir conceder tempo aos seus amigos.
Quando viu o homem ele estava em uma parte da ladeira do lugar. Estava sem capuz, mostrando a pele morena com um par de olhos azuis. Ele portava outra arma. Uma espada, mas pelo que Halphy notava, ela não parecia estar envenenada como a outra. Mas todo o perigo poderia estar escondido em pequenas coisas.
Ele começou:
-Halphy Brown.
-Augustus, não é?
-Há! Minha fama me precede.
-Não muito, mas sei o suficiente para distinguir um ladrão de um assassino.
Eles não se aproximaram o bastante para um golpe de suas respectivas lâminas, mas não estavam tão longe que não pudessem notar suas ações. Augustus sorriu e falou:
-Sim. Estou aqui para obter os itens. E deve estar com, no mínimo, a máscara.
-Item pequeno. Fácil de colocar na mochila. Óbvio.
-Bem óbvio.
-Mas o que mais quer?
-Como? – falou sarcasticamente Augustus.
-Usar uma arma com veneno em Lacktum. Falar para se encontrar com você, criando a idéia que possui uma cura para o veneno de quimera. Se você estava só querendo um dos itens, por qual motivo não o matou logo? O que você quer, tem relação com o ruivo. E quero que me diga agora.
Foi então que o assassino se mostrou surpreso. Ele superestimou a garota. Deveria ter obtido mais dados sobre ela. Apesar de que tinha ordens expressas de não se atrever a mexer um fio de cabelo de Halphy.
-Você é muito perspicaz menina... Para uma fealith. Mas existe uma falha em seus planos.
-Como?
-Não pense que me engana garota. E fale para seus amigos tentarem fazer menos barulho.
Nesse momento, Thror deveria estar acreditando que não criava nenhum barulho com sua enorme coleção de armas e sua armadura. Além de que, sua vantagem do terreno não era mais tão ampla devido ao assassino ter descoberto sua presença. Estavam, ele e Gustavo no alto da formação.
-Já ouviu falar em ser discreto? – falou baixo o guerreiro sagrado.
-O que é isso? – ficou realmente curioso o grego.
-Agora imagino como meu irmão foi morto! Por Deus!
Mesmo estando em minoria, Augustus não demonstrava estar em situação desfavorável. Ele sabia que os mais precipitados estavam entre os guerreiros. Ou seja, os mais descuidados.
Enquanto pensava isso, Halphy sacou sua besta disparando o conteúdo da arma contra o estranho. O virote passou próximo do pescoço, quase o ferindo mortalmente. Mas não foi o bastante.
Ele aproveitou esse ataque e sumiu em pleno ar.
Agora os Dragões estavam em perigo.

Não era magia. Halphy tinha noção disso através de seus dons arcanos, o que necessitaria de componentes verbais e gestuais. Aquilo era um truque avançado, prestidigitação, não a Arte.
Ela tinha que se preparar para o ataque iminente do inimigo. O assassino Augustus deveria manter a si mesmo nas sombras para conseguir continuar com o truque. De onde partiria o golpe era uma incógnita. Mas nem tanto se ela estivesse certa. O inimigo talvez não a atacasse, pois ladrões e assassino usavam habilidades parecidas que poderiam anular um ao outro, e naquela conversa ela conseguiu o deixar confusa sobre si. Mas o caso de Thror e Gustavo era diferente. O alvo mais provável era o grego que não possuía grande poder defensivo. Ela mesma acharia mais fácil eliminar ele primeiro.
-Thror, fuja! – ela gritou.
Mas era tarde. Do mesmo modo que sumiu, ele surgiu ao lado de Gustavo, o atingindo em um ponto preciso de seu corpo. O que fez com que o paladino ficasse completamente paralisado. Deixando Thror completamente desguarnecido. A meio elfa não pensou nisso.
Augustus rapidamente conseguiu render o grego, segurando seu corpo com uma mão e com a outra encostava a arma no pescoço do mesmo. Thror pensou em usar a força para se soltar do assassino. Só que era difícil na atual situação.
-Se você mexer qualquer parte de seu corpo – falou o assassino Augustus – eu não mato só você cicatriz, como levo o seu amiguinho parado aqui do lado! Agora quieto.
-Ora seu...
-Thror, não se mexa! – implorou Halphy. Ao ouvir isso, ele aquietou como uma estátua.
Gustavo estava parado como em uma posição de defesa. Quando o golpe paralisante o afetou, fez com que o paladino ficasse assim. A dor tinha sido tremenda, mas se sentia inútil naquela situação e por ter caído nela.
Augustus então guardou a arma que usava para pegar entre seus pertences, um pequeno saco que exalava um perfume adocicado. Thror se lembra do cheiro, não sabia de onde, mas era conhecido.
Ele então jogou o pequeno item aos pés de Halphy. Essa constatou imediatamente que se tratava de uma pétala da flor rara. Memórias voltaram para a meio elfa. Mas as ignorou.
-Agora imagino parte do que seja tudo isso! Kalic Benton II não quer matar nem a mim, nem a Lacktum. Já suspeito do motivo. Mas mesmo assim – olhou Halphy para o pequeno saco – muito grato Augustus.
-Esta bem. Bem então... – quando o inimigo iria se despedir surgiu um raio de energia do nada. Do lugar que ficava entre Halphy e Augustus surgiu uma forma que começou como transparente, mas foi tomando uma forma mais definida e concreta. Era Lacktum, que não conseguiu atingir Augustus.
-Lacktum! – gritaram os dois colegas quase ao mesmo tempo.
-Muito bem Van Kristen – falou novamente de forma sarcástica o assassino – Mas falta muito para me pegar com um truque dessa categoria. Adeus, donzela Brown.
Nesse instante, sumiu novamente largando Thror que caiu no chão enquanto tentava sacar sua espada. Tudo em vão. O assassino sozinho conseguiu vencer sozinho, os Dragões da Justiça. Não era momento para se manter pensando nisso de qualquer forma. Lacktum que estava com o braço estendido devido a magia, caiu ao chão, quase morto. O veneno fazia efeito.

Halphy chegou ao corpo frágil e febril do arcano. Ele parecia tão quente quanto uma fogueira. Ele balbuciava e espumava pela boca. Era horrível.
Com certeza, Lacktum aproveitou uma distração de todos na caverna para nublar a visão de seu corpo, pensou a jovem. Mas não era hora para refletir sobre isso. Ajoelhou-se rapidamente.
Colocou a pétala de lótus na boca do mago. Forçou a boca do mesmo para mastigar. Ele mal tinha força para isso.
-Vamos cabeça de fogo! Fique vivo! Anda!
Nenhuma reação.
Thror levou Gustavo até próximo dos amigos. O corpo do paladino continuava adormecido, mas começava a sentir mobilidade em seus membros. Pelo menos estava melhor que Lacktum
Continuava sem nenhuma reação.
Halphy colocou a mão no chão em desespero. Ela tremeu quase chorando, assim como os outros. Foi quando ela sentiu algumas batidas afetuosas na cabeça e uma voz fraca, mas sarcástica dizendo:
-Você fez o que pode Brown...
Ela levantou a cabeça como um gato.
-Lacktum! Seu louco! – respondeu à jovem quando notou que quem falava era o arcano petulante.
Os dois guerreiros sorriam, enquanto a jovem Halphy o abraçava com força. Ela não chorou, mas pouco não o fez. Não era por ser mulher, mas acabou se afeiçoando aquele romântico vingativo.
-Ai! Me solta Halphy! Eu ainda estou ferido esqueceu? – começou a rir enquanto falava isso.



[1] Um símbolo geométrico que consiste em uma estrela de cinco pontas com traçado contínuo. É o símbolo chave dos magos e sacerdotes de origem celta.
[2] O veneno da quimera é duas vezes mais potente que qualquer elixir, mineral ou veneno proveniente direto da natureza.
[3] A lôtus teria várias propriedades como anular completamente venenos, recuperar mana e até mesmo curar corpos.



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