domingo, 13 de julho de 2014

(Parte 22) Capítulo Dois: Prece dos refugiados



Lacktum acordou. Estava muito mal pelo soco que recebeu daquele homem. Era extremamente forte, apesar da pouca idade que aparentava. Mas se o que disse foi verdade, ele era bem mais velho que a maioria das pessoas no mundo.
Pelo que soube de seus estudos com Azerov e do período em Avalon, o grupo era formado por vinte e um membros em algumas lendas. Entre eles haviam homens e mulheres de diversas profissões e ofícios, entre magos, guerreiros, sacerdotes, menestréis, necromantes e rastreadores. Os membros eram, em sua grande maioria, humanos. Porém, havia também elfos, meio elfos, anões, elfos negros, filhos de anjos e demônios. Entre eles, não havia uma única liderança, mas um trio de homens que tomavam a frente das decisões. Seus nomes eram Kalidor Hein Hagen, James Gawain e Galtran Coração Prateado.
Galtran, quando o grupo surgiu, era o mais novo dos três. Era o mais poderoso deles também. Sua fúria era implacável. Um animal em batalha, alguns contavam. Ele derrotava seus oponentes, como uma fera que devora sua presa. Sua marca registrada era o uso de dois machados em combate, além lógico, do uso de machadinhas. As armas serviam como proteção do mesmo modo que se tornavam destruidoras em um combate. Mas seu maior dom surgia da transformação dele como um dos membros dos druidas, os sacerdotes celtas. Pois a junção de seus dons divinos com a perícia nos machados o tornava um monstro. Havia uma frase sobre Galtran, recitada pelos bardos como alerta: nunca enfrente um homem que luta que parece com um urso com cabelos vermelhos. Ele é pior que um animal ou qualquer outro ser na face da terra.
O arcano estava em uma grande, mas improvisada tenda. Tiraram o máximo de neve para fazer um acampamento, era notável. Havia muitas vozes lá fora, como se preparassem para algo. Suas mãos estavam amarradas a um dos alicerces da tenda. Em outro, estava o cão conselheiro, Alexander. Preso como Lacktum.
Sem pestanejar, ele tentou levantar. Conseguiu com muita dificuldade. Após isso, com muita calma chamou Alexander.
-Acorda Alex!
-O que... Como? – levantou o focinho rapidamente com muita dificuldade. Ele estava amarrado, e bem, pelo pescoço.
-Onde estamos? Você sabe?
-Estamos no acampamento do Coração Prateado.
-Quer disser que aquele era realmente um Imortal Esquecido? Pelas traquinagens de Loki e pela arma de Thor!
-Bem, até onde sei já conheceu Gor e Gibraltan. Qual é o espanto?
-Talvez esteja possuindo consciência do quão importante esse grupo é para a história do mundo. Suas ações afetaram povos afastados, mesmo atuando especialmente na Inglaterra. Com Gor parecia que sentia que estava junto a um colega, nada mais. Gibraltan, não conhecia direito. Só pedi a ele algumas magias para auxiliar no combate. Tirando logicamente, quando encontramos Kalidor Hein Hagen.
-Vocês conheceram Kalidor Hein Hagen? O mestre do baronato do lobo negro? Ao qual passou suas terras aos Van Kristen?
-Sim... Mas não sabia que isso ocorreu. Van Sirian era dos Hein Hagen? Na verdade, ouvi lendas. Mas como sempre nunca acreditei. Como não deveria ter acreditado que seria um bom líder...
Alexander ouviu essa última frase com estranhamento.
-Depois lhe contarei como se sucedeu de seu ancestral obter suas terras. Mas acredita que não é digno de liderar os Dragões da Justiça? Ora Van Kristen, você é o mais correto para liderar.
-Como posso fazer isso? – um enfurecido Lacktum bravejou – Halphy é sagaz como uma águia e uma cobra juntas. Thror pode ser tolo, mas não confiaria minha vida a nenhuma outra espada com um coração tão bom. Até Arctus se mostra um sensato líder. E olhe que sempre odiei os sacerdotes do Deus Cristo, como meu pai falava. Não entendo o motivo dessa escolha.
-Não foi Arda que o escolheu.
O silêncio se instaurou entre os dois. Uma pergunta surgiu na mente de Lacktum.
-Como assim? Não foi o regente quem me nomeou como líder do grupo?
-Não. Você já deve saber. Foi Aluniel.
Era tão estranho ouvir aquilo. Como se deu aquela situação? Ele continuava não se sentindo como merecedor daquele posto.
-Mas ela sempre foi mais amiga de Halphy. Já vi isso. Quer dizer, ela sempre conversou mais com ela.
Alexander latiu com raiva.
-Você não entendeu. Halphy é ágil e inteligente, Thror é perito no combate e Arctus é sábio. Você esta certo. Mas eles não possuem uma coisa. Solidão.
-Solidão?
-Sim, solidão. Entenda, você é alguém com um passado sombrio e triste. Você mesmo se gaba disso. Alguém que sofreu com a morte dos entes queridos e precisou superar isso. Esse alguém forte seria a escolha para lidar com decisões perigosas. Alguém que pensaria na dor alcançada por aqueles que ele ama. A solidão nos fortalece, mesmo quando nos consome. É só não se deixar vencer por ela. Pois é fácil não acreditar. Ou a magia que você tanto estudou foi simples de controlar? Aluniel confia em você, assim como Azerov confiava.
Calaram-se mais uma vez. Quando Lacktum digeria as palavras do cão, notou que realmente as palavras faziam sentido. Era algo que deveria ter sido falado antes. Um homem entrou na tenda interrompendo a conversa e qualquer tentativa de fuga que pensassem.
-O mestre pediu sua presença diante dele.
O guerreiro desamarrou somente Lacktum, que pensou em reagir, mas então notou mais três homens fora da tenda. Além disso, seu físico fraco e o golpe que levou do suposto Galtran, impedia qualquer chance de fuga. Sem contar com a musculatura de seus captores. Era como se fossem feito de puro aço.

Eles passaram pelos ogros sem dificuldades. Afinal, ogros não eram conhecidos por seu intelecto. Muito menos pela sua percepção. E mesmo que não pudesse ver, o som era um possível delator de Halphy e Nico.
O cheiro daqueles ogros era diferente dos que encontrou na ilha da bruxa. O odor de maresia foi trocado por um de carniça. Criava certo enjôo na ladina, mas ela como líder, estava preparada para aturar qualquer coisa. Mesmo o fedor de um horrível ogro pestilento. Humanos já eram terríveis com isso, mas os monstros pareciam abusar desse problema. Pelo menos os homens eram bonitos.
Os ogros apesar de sua leve semelhança humana tinham uma aparência brutal e bestial. A pele estava coberta por verrugas grandes e nojentas. Possuíam mais que o dobro de um homem. Esses tinham o tom de pele marrom escuro. Suas vestes consistiam em peles sobrepostas uma em cima da outra.
A caverna que adentravam não tinha nada de incomum, só o fato de ter sido construída recentemente. Com certeza, o construtor usou poderes arcanos na fabricação daquele local. Talvez tenha sido a tal prole de Argos. Quanto poder surgia de um verme mágico como as tais criaturas das lendas gregas? Não era momento para isso.
Passavam por vários corredores. Um mais escuro e sinistro que o anterior. O mal residia naquele lugar. Era possível notar as trevas daquele lugar devido ao inerente em cada pedra. A magia do lugar criava esse ar de escuridão. Talvez realmente o inimigo fosse poderoso.
Enquanto cruzavam alguns dos inúmeros corredores, encontraram cerca de dez ogros desde a entrada. Quando pensavam em voltar para pedir auxilio ao grupo, um ogro moveu a cabeça em direção aos dois. Foi quando Halphy se lembrou de algo.
-Essas bestas têm o faro apurado não é? – cochichou ela para o feiticeiro.
-Acredito que sim.
-Praga! Se soubesse disso, ou melhor, se me lembrasse... Teria reparado na direção do vento dentro da caverna.
-E o que faremos? Estamos em desvantagem.
Notou que estavam no lugar mais desfavorável da caverna. O ser enorme que com certeza mostrava que tinha sentido o cheiro dos dois no ar, logo encurralaria a dupla de batedores invisíveis. E mesmo que fosse burro como uma porta, aquele ser não seria enganado por algo tão aparente para seu sentido.
Halphy colocou as mãos para trás, na altura da cintura. Ela engoliu em seco, como se estivesse prestes a cometer um grave e terrível erro, assim como em Starten. Mas aquilo já não significava mais nada. Toda essa jornada foi o maior de todos os erros. Um a mais não faria diferença. A ladina iria agir. Então, ela quebrou o efeito mágico da invisibilidade.
Quando o ogro iria esboçar um ataque com as poderosas mãos em combate, a ladina correu na direção dele feito uma ave de rapina.
Ela pegou pela juba do monstro e subiu no pescoço alongado, como uma cobra que se entrelaça em uma árvore. Em instantes, a jovem ladina já estava acima do monstro. E em muito menos tempo ainda, uma faca estava perfurando o crânio do ser. Isso fez com que ele caísse. Foi quando ela saltou para longe do corpo inerte, fazendo um grande eco.
Sem poder ser enxergado, Nico falou:
-Impressionante! Pareceu com um dos homens do Oriente!
Do corredor, começou a surgir um enorme ogro. Ele segurava, com as duas mãos, uma clava do tamanho de uma árvore pequena. Corria como se ele fosse destruir quem surgisse na sua frente. Batia a arma no chão como a fera brutal que era, enquanto gritava algo na língua profana daquela raça. Com certeza, ouviu o barulho da queda do companheiro.
Halphy não se abalou com o surgimento do novo desafiante. Ela retirou a arma que estava enfiada na cabeça do monstro como um relâmpago. Com igual velocidade, ele arremessou a faca na direção da garganta do ogro. Isso fez com que um espirro de sangue surgisse. Ao que parece, a jovem acertou um ponto vital preciso dele. Um novo oponente caiu, gritando.
A meio elfa falou para Nico:
-Eu não estou fazendo como os homens do Oriente. Estou fazendo melhor do que eles. Homens não fariam metade do que faço.

O resto do grupo esperava, olhando os dois ogros que ficavam se com suas armas. Era nojento. Às vezes coçavam as costas e um estranho inseto – do tamanho de uma bota – caia de lá. Outras coçavam com as mãos as partes baixas com as mãos. Nesses momentos, Thror e Valente sentiam uma imensa vontade de vomitar.
Ficavam esperando um sinal de Halphy. O que demorava demais a acontecer. A garota era a mais inteligente de todos, mais também a mais ousada. Era até engraçado imaginar que eles tinham certo receio de entrar em lugares que não temia. Parecia tão frágil fisicamente falando. Mas sua alma era preenchida com uma poderosa chama e força. Isso fazia deles um grupo extremamente diferente, afinal, os lideres eram muito impulsivos.
O padre Arctus achava que os membros do grupo seguiam muito mais os instintos do que a razão. O que causava medo na mente dele. Então, ele se tornaria a razão dos Dragões da Justiça. Junto com Gustavo, poderia lidar com problemas que a Igreja tinha. Eles eram bons, só mal guiados. Uma mão de aço com a força de Deus seria o suficiente.
Mas não era mais o momento para isso.
Os dois ogros que ficavam na entrada, olharam na direção da caverna. Um grito ecoou até a saída. Se houvesse um sinal para Halphy, deveria ser esse. Turin iria ficar escondido enquanto entrassem.

Nesse momento, o guerreiro grego saltou. O escudo na frente como um estandarte. A espada curta afiada como a língua de uma serpente, ficava abaixada, enquanto percorria o campo nevado. Os ogros olharam aquela cena com certo medo. Não por conta do homem armado, indo na direção deles. E sim, por conta do grande número de pessoas surgindo como um bando de lobos famintos.
Seton, Arctus, Gustavo, Valente e Fiel, saltaram na mesma direção do guerreiro. Eles pretendiam não chamar a atenção antes. Coisa que Thror impediu com seus ataques inconseqüentes. Companheiros não abandonam os outros, alguns pensaram, mesmo nos piores momentos.
-Maldito grego da cicatriz! – gritou o padre com raiva.
-E vocês falaram que eu traria problemas! – falou de forma ferina o pequeno Valente.
Os dois ogros se posicionaram se preparando para o golpe dos inimigos. Mas o guerreiro Thror se adiantou com a arma acertando o flanco esquerdo de um dos monstros. Então acertou o lado em que o guerreiro segurava o escudo. Um golpe como aquele deveria ter inutilizado o braço dele. Ele só não ficou bem, como zombou do inimigo.
-Isso é máximo que os ogros conseguem em combate? Ha!
Com os olhos cheios de fúria ele tentou golpear Thror. Só que Seton chegou virando a enorme foice, acertando a mão da criatura. E por alguns instantes, o monstro estava desarmado.
Enquanto isso, Arctus, Gustavo, Valente e Fiel flanqueavam o ogro. Os animais atrapalhavam a visão do monstro, enquanto os outros atacavam. Porém, sem tanto sucesso. Arctus então entoou:
-Che mano di Dio in quest'uomo diventi un protettore delle anime attraverso il potere di Miguel.
O corpo de Gustavo se encheu de uma poderosa luz. Parecia como um anjo vingativo. E com isso, ergueu a espada como um Davi que enfrentava seu Golias. Assim, sua espada se encheu de grande poder, enquanto atingia seu oponente. Era como uma chama divina preenchida no mesmo momento em que recitava sua oração.
O monstro cruel se feriu com sua própria maldade. Corações cheios de raiva se tornam fracos em um combate. E isso fere demais quando a luz toca essas pessoas ou criaturas.
Então o ogro estava quase acabado. Mas usava ainda a clava como apoio para impedir sua queda. De repente, surge a maça de Arctus. E com ela, a destruição da clava do monstro e de seu maxilar.
O outro se mantinha firme. Sabia se posicionar. Girou o corpo com intenção se acertar Thror e Seton. Porém, só conseguiu atingir o grego.
-Pelos deuses! Você esta bem Thror? – falou um Seton espantado.
-Estou! – soltou um ferido guerreiro – Acabe com ele Seton.
Ele então levantou a foice rapidamente, de uma maneira que atingisse a cabeça do oponente. O bloqueio da clava foi preciso naquele momento.
Um fitava o outro. O druida da foice encarava pacientemente o ogro e sua clava. Era uma luta, tanto física quanto espiritual. Um celta fosse um sacerdote, guerreiro ou seu descendente sempre tinha em seus corações a força para derrotar qualquer ser. Pelo menos é o que sentiam no coração, todos aqueles de sangue poderoso. Houve então uma reação, e ela foi de Seton.
Novamente, ele levantou a foice tentando acertar o ogro. Quando notou um novo golpe, o ogro gargalhou. O bloqueou com a clava.
-Não saber lutar humano! – disse o inimigo enorme – Você tem que acertar.
-Eu acertei – falou isso enquanto aproximava a face do enorme ser que enfrentava – Nos chamamos isso de distração na minha terra.
O ogro notou que Thror se adiantou em sua direção com a espada em punho. Um golpe seria preciso, se no mesmo momento o adversário monstruoso não conseguisse se defender com um sonoro golpe com a mão livre. Ele acertou o punho do grego antes que fosse acertado pela espada do mesmo.
Outra espada surgiu. Ela atravessou a criatura. O sangue escorreu dele. Tanto pela boca, como pelo peito dele. O monstro se ajoelhou pela dor. Mas não sem antes golpear o atacante Gustavo.
Como golpe de misericórdia, a maça de Arctus acertou a cabeça do ogro. Nesse instante, era como se uma fruta atingisse o chão. E vários pedaços dela voassem nas roupas das pessoas próximas.
-Eca! – falou o enojado Seton.
-Bem – falou o sacerdote Arctus – melhor que nada.
Gustavo andou em direção ao guerreiro grego caído no chão. Estendeu sua mão ao amigo ferido. Mesmo com o orgulho despedaçado, Thror segurou o braço do colega paladino. Este o levantou de uma vez.
Enquanto tirava a neve de sua armadura, Thror viu Arctus se aproximando com olhos de raiva para ele. Uma bronca logo viria.
-Você tem algum problema com autoridades? – disse um irado Arctus – Não era para contornar os dois ogros pelo menos? Sem chamar a atenção lembra?
Quando Thror iria falar, o paladino interrompeu:
-Ele esqueceu.
-Ora essa. Com vocês dois para me ajudar... Não sei como estamos vivos.
Os dois continuavam o riso, quase gargalhando. Arctus olhou para eles com ar de reprovação. Já o druida tirava a foice da clava do ogro. Era cômico reparar que alguns do grupo sentiam que aquilo parecia uma diversão para eles. Foi quando uma tocha se acendeu. Iriam entrar na caverna como um resgate para a jovem ladina imprudente.

Ele estava sozinho naquele instante. O mago estava no meio acampamento cheio de homens bem armados e fortes o bastante, para com o punho, atravessasse o peito do mago. Nesse momento, Lacktum decidiu que não iria lançar magias. Quando tentasse, pensou ele, alguém quebraria seu braço
Tinha um pouco de lama que sujou a face do arcano. Ele teria gritado de raiva, se não tivesse medo de levar os golpes dos outros membros do acampamento. Os homens ali riam do fato. Ele segurava o temor dentro de si.
-Ora vejam! – soltou Galtran – Nosso mago despertou.
-Você é o Coração Prateado? – perguntou irredutível Lacktum.
-Sim. Sou Galtran.
-Antigo membro dos Imortais Esquecidos?
O guerreiro se espantou com a última pergunta do jovem. Poucos tinham noção da vida de Galtran. Pelo menos, quando participava de seu antigo grupo. Não eram muitos os membros de sua antiga companhia que nasceram nas Terras Altas. E mesmo que ele fosse um fanfarrão e gozador, nunca revelava certos fatos de seu passado. Mesmo quando ficava extremamente bêbado. Onde o garoto ficou sabendo sobre isso? Era um enigma. Mas não para agora.
-Não sei onde você soube sobre os Imortais, mas eu juro que você vai falar disso depois.
-Depois? – pensou alto o mago – Depois do que?
-Bem, nosso povo tem um modo bem peculiar de resolver problemas. Como você é um invasor...
-Eu? Invasor? – falou Lacktum indignado.
-É, você! Não é inglês?
-Sim, mas...
-Então é um invasor.
-Isso não faz sentido! Pensei que você fosse um líder. Alguém...
-Alto lá! – retrucou o guerreiro ruivo – Sou um líder, mas como um maldito inglês que é com certeza deveria ter chegado aqui ferido ou morto! Tanto faz. Como não sei se você é um dos espiões das tropas invasoras?
Foi então que Lacktum procurou a adaga que lhe foi concedida por seu pai. Não achou.
Galtran então retirou de seu manto um pequeno item. Lacktum notou que o item que ele segurava era o presente de seu pai.
-Devolva-me! – exigiu ele.
-Devolver? Por acaso é parente dos Van Kristen? Essa arma tem o brasão dos Van Kristen.
-Sou um Van Kristen criatura sem mente! Devolva-me!
O druida guerreiro começou a andar em volta do mago. Não parecia com ninguém da família que conhecia. Era fraco e nem sabia lutar pelo pouco que viu. Soube que a família de seu antigo companheiro era voltada para a batalha, pelos boatos. O que aquele saco de carne mal feita poderia fazer em um combate verdadeiro?
-Você não pode ser um Van Kristen.
-Eu sou!
-Então prove.
-Você esta com a minha prova! – falava isso enquanto apontava para a adaga na mão de Galtran.
-Não com isso! Você poderia ser um ladrão que roubou um deles, ou até um assassino que colocou veneno em sua comida e vinho. Você irá provar do nosso modo.
-Eu um ladrão? Você esta ficando louco homem? Veja se tinha algum item de ladino comigo! Nenhum! Qual o motivo para tanto então? Isso não vai servir de nada! Por acaso – pensou o mago enquanto começava a compreender parte da intenção de tudo aquilo – quer que eu lute? Mas isso não provaria nada! É patético! É ridículo!
-Era de se esperar isso de um inglês. Mas saiba... Nosso país, nossas regras.
Todos que estavam ao redor da arena riram. Era uma cena engraçada, ver um inglês mostrando o quando era patético para eles.
O mago olhou ao redor. Então gritou com raiva, enquanto envergava o corpo para trás. Todos olhavam com receio para ele. Não parecia mais um mero inglês.
-Tudo bem bando de bárbaros idiotas! Eu entro no seu desafio sem sentido! Se essa é a única maneira de se fazer entender! E verão como age um Van Kristen em combate! Venha logo Galtran! E termine com essa besteira!
Todos se calaram, enquanto Galtran esboçou um sorriso.
-O que foi que eu disse de errado? Hein?
-Nada. Mas não serei eu que vou lutar com você.
-Como assim?
-Adoraria fazer isso com um inglês pulguento. Mas fico meio irado e fora de controle em combate. E é muito ruim. Não queira ver. Mas meu amigo Eric será um desafio melhor.
Surgiu então um homem, aparentemente mais forte que Galtran. Era loiro, com uma barba e não usava camisa. Portava um escudo e uma espada de madeira. Parecia estar cheio de cicatrizes. Um guerreiro experiente era claro. O que já causou temor em Lacktum.
-É com Eric que você lutará suposto Van Kristen.
-Ah, esta certo, suposto Coração Prateado. Que maldito dia para despertar...

Entregaram-lhe uma espada de madeira improvisada. Lacktum não quis um escudo.
Sorte que havia decorado magias suficientes para aquele dia. A magia não funcionaria direito em um combate direto. De repente, sentiu muita falta do velho Thror. Mas achava que mesmo que o grego da cicatriz teria dificuldades com aquele homem enorme. Pelo menos ele teria uma maior chance de vitória.
Os dois se uniram no meio da arena. Enquanto Eric batia a espada na madeira do escudo. Era algo que até onde Lacktum sabia, vinha dos costumes dos homens do norte. Com certeza ele também deveria se um homem da religião asgardiana. Costumes de bárbaros, alguns diziam. Lacktum começava a concordar.
Gritos pediram por uma luta. Eis que Galtran saiu da arena. Então, gritou com certa satisfação:
-Que comecem o duelo!
-Praga! – gritou Lacktum quando notou o homem loiro correndo na direção de si em uma investida, com a espada erguida.
O mago se esquivava dos golpes, enquanto tentava conjurar uma magia, mas o guerreiro não permitiria. Sempre o acertando em todos os pontos possíveis. Fazia Lacktum perder a concentração.
Ele corria para alcançar um dos cantos da arena. Pensava que poderia conjurar uma magia ali. Mas não conseguia.
-Praga! – um novo acerto em sua mão a fez arder. Tanto pela dor do golpe, quanto pelo choque da magia partida.
Magias partidas, normalmente causavam efeitos ruins. Poderiam ser pequenos ou enormes. Desde dor física a efeitos colaterais arcanos bizarros. E era isso que Lacktum mais temia.
Esquivou-se de um novo golpe de guerreiro. Aproveitou a deixa para correr para o outro canto. Quando o fez, tentou conjurar uma magia, mas sua mão tremia muito. Novamente, perdeu a concentração devido aos golpes que sofreu.
E uma nova investida apareceu devido ao guerreiro Eric. Muitos juraram, que mesmo feito de madeira, se acertasse perfuraria o peito dele. Especialmente o mago que serviu de alvo. Lacktum esquiva.
Em certo momento, o arcano ruivo se esquivou de um dos vários golpes e pensou em lançar uma magia que destruiria todos ao redor. Contraiu sua mão. Mesmo não gostando disso não poderia machucar todos no acampamento.
Uma investida iria surgir.
O meio do campo. Lá seria seguro conjurar algo. Então a magia não afetaria nenhum inocente. Mas será que ela não falharia, era o que pensava. Um erro ali poderia colocar tudo a perder.
-Magia é acreditar em si mesmo – ele falava enquanto começava a correr com as mãos cheias de mana. Lembrou-se de palavras de muito tempo atrás de alguém que lhe serviu de mestre.
O inimigo não se intimidava com o esquálido mago. Mas deveria. Parecia que o mana não saia só de sua mão, mas de todo seu corpo. Era como uma fonte de água cristalina com cores distintas, mas que se concentravam especialmente em um tom vermelho. A magia começou a tomar forma de uma esfera de energia pura em fogo. Pulsando como um coração, Lacktum colocou a magia na frente do corpo na mão esquerda.
O adversário estava próximo demais, para sair de frente do golpe arcano. De repente, o mago soltou a esfera.
-Magia é acreditar em si mesmo! In my hands the flame dragon emerges. The ancestral force of destruction.
Então o coração de fogo tomou toda a arena em um movimento de pensamento. Era uma bela e imensa bola de fogo. Tão grande, que até mesmo um observador distante veria ela claramente. O vermelho se confundia com outros tons de destruição. A magia se consumiu tão rapidamente quando surgiu.
Todos os observadores olhavam atônitos para a arena cheia de chamas. O fogo estava se dissipando. Se acertasse uma das tendas, com certeza iria colocar fogo em todo o acampamento. Aquele inglês era louco alguns diziam.
Galtran observava arena, severo. Especialmente para o centro da fumaça.
Foi quando a figura cheia de queimaduras e feridas, de Lacktum surgiu no campo de batalha triunfante. Parecia um rei que retomava seu domínio após anos. Ele olhou na direção do líder daquele acampamento com muita raiva.
-Eu acho que venci Galtran! Se quiser saber, achei tudo isso sem sentido! Não havia motivo para matar um homem seu! Não teria como saber se eu sou um Van Kristen através de uma luta!
Galtran riu.
-Sinceramente, eu não quero saber o que acha ou o que deixa de achar. Nós temos certos costumes. A luta demonstra sua verdadeira natureza, não suas palavras. A prova disso, é que fui enganado varias vezes em minha vida. Por palavras. Eu te amo é fácil de pronunciar, mas difícil de provar. Disser que tem saudades qualquer um poder falar. Mas demonstrar, normalmente é impossível às vezes. Pois somos fracos como meros homens sempre são. Mas algo entre os que nascem do sangue dos Imortais Esquecidos mostra que seus corações estão em suas ações – e soltando novo riso – Ah! E Lacktum... Eric não morreu.
Lacktum notou que Galtran apontava para trás. Quando observou a fumaça se dissipando, notou que surgia a forma do guerreiro descamisado e loiro. Com o punho cerrado, ele golpeou o arcano que logo caiu no chão. O guerreiro sentou ao lado do corpo do desmaiado mago ruivo.
Galtran falou com seus homens, pedindo que levassem os dois para sua tenda onde os curaria.

Eles entraram na caverna temendo o que pudesse acontecer com Halphy. Mas então notaram, que deveriam se preocupar com os pobres ogros.
Havia vários corpos de ogros por toda a extensão da caverna. Quase todos com golpes precisos em áreas específicas do corpo. Era como se tivessem enfrentado um furacão.
Seis ogros foram mortos pelo que contaram. Passaram pelos corpos com ar de espanto. Será que teriam sido Halphy e Nico? Mas eles não seriam tão perigosos.
O grupo nunca esteve tão enganado.
No último corpo, encontraram a ladina Halphy Brown, limpando sua arma, enquanto o feiticeiro misterioso ajustava o pulso que crepitava mana. Não pareciam nem um pouco cansados ou exaustos. A jovem tinha uma feição de satisfação, quase sádica. O rapaz parecia meio irritado com a atitude dela. Todos estavam espantados com a cena, mas não poderiam se abalar ali.
-Halphy! – gritou Arctus desesperado – Sabe onde é que estão os prisioneiros? E a prole de Argos?
A jovem guardou a adaga e então respondeu:
-Acho que estão no caminho da esquerda – falava enquanto apontava para um dos túneis – Mas o do meio... Acredito ter visto dois ogros fugindo. Não sei... Meus instintos dizem que a prole esta lá. Vamos, me sigam!
-Certo! Você esta no comando de novo.
Halphy se sentiu bem. O comando do grupo não era sua meta, mas agradava a idéia de liderar. Sempre se achou mais competente que Lacktum ou Thror juntos. E Arctus, apesar de sua suposta sabedoria estava há pouco tempo no grupo. Além de que ela compartilhava as idéias de Lacktum sobre os sacerdotes católicos.
Mesmo assim, o grupo se movimentava na direção do túnel. Como uma tropa que adentrava território inimigo, todos se preparavam para um ataque surpresa.
Seton então olhou para Nico e perguntou:
-Foram mesmo vocês que fizeram aquela chacina? Com certeza foi através de sua magia que conseguiram.
Nico balançou a cabeça em negativa. Seu rosto diante da luz da tocha que Seton havia acendido e segurava, parecia espantado. Mas não assustado.
-Conheci muitas pessoas e monstros. Posso lidar com diversos seres, pois sei que sou poderoso. Tenho certeza! Mas essa garota não teme nada! Parece possuir a persistência humana e o orgulho da raça dos mais perigosos elfos. Ela poder ser só uma meio elfa, mas poucas vezes viu um sidhe tão corajoso, quanto ela. Tenho pena de quem se intrometer em seu caminho.
Quando Seton perguntou, sabia que ouviria uma boa resposta. Mas não imaginaria que escutaria alguma coisa que deixaria suas pernas tremendo tanto. O grupo não tinha só uma ladina feiticeira e meio elfa. Possuía uma especialista na arte de matar, uma assassina.

Argos.
Esse tipo de monstro se esconde em cavernas enormes e perigosas, pois as lendas contam que a luz do sol feria seus olhos arcanos, como punição de Apolo, como um favor a Zeus. Por isso era uma criatura subterrânea, alguns diziam.
Isso foi mais notado, quando todo o grupo viu que onde a prole de Argos se escondia, era cheio de pedras mais pontudas. Pareciam até as presas de um dragão, de tão afiadas que estavam. O que não conseguia amedrontar os companheiros.
Algo que poderia trazer temor para os Dragões era a cena que eles presenciavam. No lugar havia os dois últimos ogros daquele bando. Estavam usando armaduras leves, que para eles, mais pareciam pequenas tiras de metal. Suas clavas eram feitas de um enorme e resistente carvalho. Havia uma sombra entre as duas criaturas, que parecia ser protegida pelos seres enormes.
Aquilo era uma prole de Argos.
Uma esfera de carne aparentemente distorcida. Vários olhos estavam incrustados na pele do monstro. Algumas vezes, era possível notar que os olhos formavam quase um rosto, mas só ocorria para criar um senso bizarro de estética. Só possuía uma única bocarra que parecia estar sempre sorrindo. Era como se surgisse do seu pesadelo mais horrível. O ser repulsivo flutuava no ar como uma mancha negra que surgia nas mentes dos mais fracos.
Os dois seres truculentos se posicionaram de forma que protegessem a prole. Mas era possível notar que o lugar forçava os inimigos a passarem por ele para chegar até o monstro.
Com isso, a criatura começou a falar:
-Ora então são esses os tolos aventureiros que adentraram meu covil. Por qual motivo invadem o lar de Ortro?
Seton segurou o riso, enquanto Halphy falou:
-Pois nós viemos destruir você criatura. Solte os habitantes da vila e pouparemos você e seus servos. Que tal isso?
-Acreditam mesmo que poderá me enfrentar? Noto que fizeram um bom serviço até agora. Mas os dois ogros que sobraram são meus melhores soldados. Além do que, não conseguiram me enfrentar em um combate arcano.
-É isso – grunhiu o ogro.
-Mestre certo – soltou o outro.
Foi quando a ladina pegou a besta que não usava a um bom tempo, apontou para a criatura líder. Ela mirava com extrema cautela.
-É isso que você diz – ela respondeu – Nico ataque com tudo!
A mão de Nico se encheu com um raio de energia pura. Era como se uma lança fosse jogada. Halphy percebeu que o golpe arcano era tão poderoso, que tinha quase certeza que seu efeito tinha surgido com sua força máxima. Ela ouviu sobre arcanos que conseguiam trazer a potência máxima da Arte, mas eram raros. Como poucos dominavam esse poder, ela pensou que ele talvez fosse do Oriente na verdade.
A prole de Argos se protegeu flutuando para longe da linha de visão do golpe. Parecia que ele mesmo, sentia medo daquela magia. Nico poderia ser calmo, perigoso e tremendamente assustador, é o que os mais inteligentes se perguntavam.
Mas logo em seguida, literalmente, em um piscar de olhos, a bizarra criatura disparou uma grande carga de energia. Foi em direção de Thror.
Quando o raio atingiu, fez o guerreiro grego se sentir cansado e exausto. Ele já se sentia fraco pelo dia difícil que passou, mas não tão rápido e de forma terrível quanto aquela magia o fazia sentir. Era algo pavoroso.
Os ogros partiram para o combate, acreditando que Thror estava fraco demais para combater.
-Venha aqui careca da cicatriz. Irei enfiar meu punho no seu peito e arrancar seu coração como se fosse uma galinha.
Foi um ledo engano do ogro.
Nesse mesmo instante, o guerreiro que ainda parecia abatido, olhou com raiva para o inimigo.
-Você me chamou de careca da cicatriz?
Quando o ogro levantou a clava, foi possível notar que Thror se agachava com a finalidade de acertar suas pernas. O que conseguiu tão rápido como um relâmpago.
Isso não desestabilizou o monstro, mas concedeu tempo suficiente para que Thror pudesse passar por debaixo dele. Foi quando o grego bradou:
-Não... Fale... Mal... Da cicatriz!

Um dos ogros mantinha-se firme. Enquanto o outro parecia firme, sem levar nenhum golpe. Enfrentando ele, estavam Seton e Arctus. O druida tentava, inutilmente, acertar o monstro. Era como tentar afetar uma parede de tijolos.
Mas um sacerdote como Arctus sabia exatamente o que fazer nesses momentos.
-Metatron's words, let the weak by putting yourself in the way of the righteous.
De repente, a muralha viva parecia não conseguir conter os golpes do jovem druida. Enfraqueceu rapidamente, devido às palavras místicas. Mesmo em uma língua que não conhecia, elas afetavam o ouvinte. O enorme ogro se sentia desestabilizado.
-Ah! Homenzinho maldito!
-O que acha disso agora? – falou Seton.
Então a foice acertou a mão do enorme adversário. Esse, nem sequer demonstrava dor. Aproveitou para golpear os sacerdotes.
Enquanto isso, os animais ficavam escondidos. Não pelo fato de temerem algo, afinal, Valente e Fiel não temiam coisa alguma. O problema é que Furta Trufas desmaiou ao ver a prole.
-Acorda Furta Trufas! – dizia Valente, enquanto batia no focinho do colega.
A prole de Argos, autodenominada Ortro, soltou raios na direção de quatro alvos. Um raio azul atingiu Gustavo, enquanto um raio vermelho acertou Seton. Para Halphy, surgiu uma enorme nuvem de fumaça. Por último, uma mancha negra tocou Thror.
O ombro do paladino foi machucado por uma grande parcela de gelo. Aquilo impedia o movimento do braço, além de gerar uma dor tremenda. Era como partir gravetos de madeira.
Já o raio de cor avermelhada, jogou o druida contra a parede. Foi possível ouvir os ossos partindo como um boneco quebrado. A parede ficou cheia de fissuras.
A fumaça que afetava Halphy parecia querer sufocar. Mas o ar estava cheio de um veneno estranho. Ele entendia disso. O efeito daquela magia era criar uma névoa venenosa, mas que na afetava mais a jovem, pois ela tinha trabalhado seu corpo contra forças nocivas – naturais ou não.
Com a mancha negra afetando Thror, parecia que nem sentiu a perigosa força arcana.
Halphy, após tossir o veneno, voltou a preparar a besta.
-Gustavo, esta bem? – gritou enquanto mirava para o oponente sua arma – Pode me ajudar atacando o monstro?
-Tudo bem – ele respondeu. Pegou a lâmina com a mão inábil, já que a outra estava parcialmente paralisada, e golpeou o humanóide monstruoso. O golpe foi eficiente, mas não o suficiente. Ele se mantinha de pé.
A ladina se mantinha na posição. A arma estava na posição precisa. Não havia erro. E não houve.
O virote zuniu no ar, atravessando o combate entre os heróis e os ogros, para conseguir acertar o líder dos monstros. Mesmo com os olhos se revirando no ar, o projétil dela acertou o alvo. A criatura flutuante gritou de dor finalmente.
Ninguém saiu do lugar. As armas se colocavam entre eles como se impedissem os aventureiros de atingir Ortro. Um dos ogros cuidava de Thror e Gustavo, enquanto o outro lidava com Seton e Arctus. Não era uma situação comum dois combatentes e dois sacerdotes partirem para cima de seus alvos de forma direta, mas Halphy tinha um plano: se eliminassem um dos ogros rapidamente, seria mais fácil o grupo alcançar a prole de Argos.
Depois de certo tempo, a criatura preparou outras magias pelos olhos. Uma enorme carga de energia – do mesmo tipo que afetou Thror inicialmente – atingiu Gustavo. Sem resultado. Outro raio, de luz acertou Halphy, mas sem uma conseqüência verdadeira. Seton e Arctus foram atingidos pelo mesmo raio espiralado, mas só o druida foi realmente atingido sentindo muita dor. Ele caiu no chão. Um último, rápido, explodiu na pele do guerreiro grego. Nada que ele não lidasse sozinho.
Foi quando a ladina feiticeira notou algo. Os olhos não disparavam as magias em uma ordem correta. Eram aleatórios. E até os números de ataques aumentavam.
-Gustavo, passe logo por esse monstro! – gritou ela comandando o grupo – Se não o matarmos logo, ele poderá lançar magias mais perigosas!
-Esta bem! Vou tentar! – foi quando o paladino levantou sua espada na direção do oponente. O golpe de sua lâmina foi perfeito na parte esquerda do ogro. Tanto que com seu último corte, fez a criatura cair, enfim.
Terminando o golpe, Gustavo se abaixou, enquanto colocava a espada para trás se posicionava na direção do monstro. Fazia isso enquanto corria. Um novo golpe acertou a criatura flutuante.
O ogro continuava seus ataques. Agora com uma freqüência louca. Se ele não se defendesse seria morto com certeza. O padre mais esperto conseguiu prejudicar sua mira. Era o momento de se mostrar como alguém forte.
Foi quando o ogro cometeu um deslize. Sua clava bateu no teto da caverna. Isso fez com que pedras caíssem. Algumas o acertaram. Nem sequer o machucou o bastante, mas foi tempo suficiente para um golpe certeiro de Arctus.
-Era minha vez! – gritou Seton como uma criança insatisfeita, enquanto estava no chão.
O ogro caiu, enquanto os ossos da face se partiam devido a arma do padre.
-Desculpe... Eu acho...

Só obrou Ortro no combate. Halphy com a besta começou a querer negociar:
-Olhe aqui Ortro, – disse ela enquanto preparava outro projétil – acredito que seria melhor se entregar ou será destruído. O que acha? Podemos ser clementes.
-Clemência? De uma fealith e um bando de humanos fedorentos? Nunca! Não irei entregar meu corpo e alma corrompidos para criaturas tão insignificantes e gananciosas. O mal permeia o meu ser, mas meus olhos enxergam não só o que é aparente. E essa mancha negra que eu possuo vocês também tem. Não serei tolo para me entregar.
-Então, - disse Gustavo agitando a espada longa – não diga que não avisamos.
-Dragões, ataquem! – gritou Halphy liderando.
-Por Ares e Zeus! – disse Thror saltando na direção do monstro coberto de olhos. O golpe acertou um dos olhos do monstro.
Os olhos piscaram novamente. Uma grande quantidade de magia se espalhou por todos os lados como uma terrível e poderosa tempestade. Com força o suficiente para danificar a caverna. Mas não o suficiente para destruir.
Novamente os raios foram atingindo o grupo. Vários deles estavam extremamente feridos. Gustavo parecia não se conter de dor. Vários espinhos de madeira surgiam no corpo de Arctus . Seton sofria com uma mancha profana no seu corpo. Thror parecia confuso, sem saber quem atacar. Só Halphy se matinha de pé mesmo com pedras afiadas cortando sua pele. Apontava a besta na direção da prole.
-Ora essa fealith! Esta com tanto medo que não consegue me atacar? – gritou o monstro se achando superior.
Ela riu daquilo.
-Qual foi a graça?
-Primeiro não sou uma fealith. Sou uma meio elfa e me chamo Halphy. E eu não estou atacando, pois estava preparando uma magia. Soyez doux comme un oiseau survolant la mer. Et aussi dévastateur que le loup sur la proie!
A seta atravessou a boca do monstro como se fosse água. Ele caiu no chão sangrando um líquido verde fedorento.

Seton foi ajudar o resto do grupo, incluindo Halphy, que conteve a dor até agora. Os golpes das pedras feriram suas pernas, barriga e o rosto. Mas se manteve firme até então. Alguns efeitos arcanos estavam sendo dissipados.
-Dói muito? – disse o druida para a garota.
-Só quando eu fico olhando para esse seu rosto de... Ai! – ela soltou enquanto o druida curava a ladina feiticeira. Ela ficava muito irritada com perguntas tolas.
Arctus se aproximava do corpo da prole. Ela tentava manter-se viva. E era algo que o sacerdote logo resolveria.
Ele ergueu sua arma quando a massa de carne e olhos fitou o sacerdote de Deus. Quando ele iria golpear o monstro, a criatura disse:
-Espere homem do deus Cristo!
O padre hesitou. Por algum motivo sabia que ouviria não seria plena verdade, mas não estaria tão longe dela também.
-O que quer demônio? Não queria clemência antes. Qual o motivo de querer falar agora?
-Nunca pedirei clemência a um humano! Mas sei de algo que poderá lhe ser útil... Meus olhos arcanos conseguem não só lançar magias, mas podem ver o que as almas sentem e desejam... Um de vocês esta para trair o grupo... Posso lhe falar quem é. Uma barganha.
As palavras faziam sentido para Arctus.
-Isso deve ser uma gestão mágica! Morra cria infernal! – após isso, golpeou o temível ser.
-Argh! – soltou em agonia ser – Isso não foi magia e você sabe que eu falo a verdade.
Todos olharam e ouviram a conversa entre Arctus e Ortro. Todos se entreolhavam, enquanto o padre fitava todo o grupo. Era verdade. Ortro não lançou magia alguma. Esse é o maior poder de um demônio: semear o mal e a mentira usando uma verdade cruel.

Laccktum despertou na garupa de um cavalo. Ele estava junto de Galtran, enquanto cruzava a neve. Havia vários cavaleiros ao redor deles. E em um deles, o mais próximo, estava o cão Alexander.
-Mas que loucura é essa? Para onde vamos? Ei? – perguntou o mago nervoso e afobado.
-Vila dos Meio Sangue. Seu amigo Alexander nos avisou sobre o seu grupo. Então, vamos ajudar eles.
-Ele falou com vocês? – se espantou o mago, enquanto olhou novamente para o canino colega.
-Ele falou comigo. E ele é de Avalon. Não era para falar?
Para ele, o guerreiro ruivo, fazia todo sentido.
-É faz sentido – disse o mago conformado.
-Vocês ingleses são muito tristes. Não tem calor nem paixão. Precisam de mais força. E mais poder. Desistem facilmente.
-Você se refere aos ingleses ou só a mim?
Galtran sorriu e completou.
-Você tem o sangue dos Van Kristen. Uma família nobre e forte pelo sangue. Sua vontade é mais poderosa que qualquer outro ser nessas terras. Mostre um orgulho maior! Mas não humilhe quem esta abaixo de você. É como um código de cavalaria. Parece muito fácil, mas não é tão simples quanto pensa. Com grandes poderes surgem responsabilidades de igual tamanho. Compreende? Não, acho que não. É um inglês! – gritou sorrindo o guerreiro druida – Nunca entendem o que significa ser forte.
-Olha, - disse um irritado Lacktum – não sei qual o motivo de agir feito um garoto comigo. Mas se você acha que isso vai causar algum efeito positivo... Detesto lhe contar, mas não irá.
Galtran se calou. Mas logo continuou com menos empolgação.
-Seus pais foram mortos por Kalic Benton II? Não foi isso? Foi mais de um ano atrás pelo que soube. Ficamos sempre sabendo sobre nossos entes queridos. Mesmo que esses parentes, de muitas gerações ou não, nem saibam sobre nós. Meu filho esta em outro plano de existência[1], por isso não sei muito dele. Nem sei se ele esta vivo. Mas sempre me lembro dele com carinho... Não nos envolvemos com eles, pois podemos ferir quem amamos.
Com tudo isso Lacktum abaixou a cabeça. Só que o guerreiro ruivo continuou:
-Nunca abaixe a cabeça honre a memória deles. Mas se lembre: não será com sangue que vai fazer isso.
-Então será como?
-Isso você terá que descobrir. E sozinho.
O cavalo cruzava a neve com força. O homem de cabelos ruivos e trajes tipicamente dos homens das Terras Altas liderava com um ar de orgulho um grupo enorme de homens armados e, aparentemente, prontos para qualquer problema que surgisse. Eles balançavam as armas que zuniam no ar.
Gritavam frases de ofensas uns aos outros, como brincadeiras tolas de crianças. Hinos de guerra eram entoados, sempre que possível, junto a hinos de morte, com tom de deboche. Lacktum tentava entender como funcionava a mente daqueles homens das Terras Altas. Pareciam moleques armados com espadas e machados. A felicidade deles e suas risadas não acabavam mais. Era como se estivessem se dirigindo a uma enorme festa, ao qual, estavam empolgados demais. Mas se aquele grupo de homens guerreiros se sentia em uma comemoração, o inimigo seria sua refeição como prato principal.

Após descobrir uma boa quantidade do tesouro de Ortro, o grupo foi procurar pelos membros da vila. Era o caminho que não haviam seguido antes.
Não havia mais nenhum ogro. Tochas fortes mostravam onde estavam presos os habitantes da vila. Era uma cela de ferro, com certeza moldada com magia pura. Atrás das grades, os rostos desolados dos moradores, fitavam para o grupo como anjos que vieram lhes tirar do Inferno em vida. Todos lá dentro, mostravam rostos desolados de dor, cansaço e fome.
Halphy foi à frente, preparando os equipamentos para abrir a jaula.
-Esperem um pouco, - falou ela rapidamente enquanto mexia na tranca com os aparelhos – já te soltaremos.
-Graças aos deuses esquecidos! – soltou um deles.
-Quem são vocês? – outro perguntou.
Foi quando Thror soltou, com as mãos na cintura falando:
-Nós somos os Dragões da Justiça!
-Thror... – falou Gustavo com ar de vergonha – Qual o motivo de falar dessa forma para eles? Nem devem nos conhecer.
-Bem, agora nos conhecem.
-Ainda tento compreender sua mente grego louco.
As pessoas da vila saíram da prisão de ferro amedrontadas e  bem lentamente. Devia-se isso ao fato de não confiar plenamente no grupo. Afinal, foram aterrorizados até então pela prole de Argos. Estavam fragilizados, mesmo que ver rostos humanos os tranqüilizasse.
Era possível ver o motivo do ataque a vila. Além de possui meio elfos ali, tinham entre eles filhos de elementais, de gênios, de demônios e dragões. Cada um com suas próprias características. Eram um diferente do outro, em vários aspectos. Chifres, asas, patas, olhos faiscantes, peles de pedra e até um terceiro olho que Thror jura ter visto em uma moça com tom de pele diferente. O que era meio difícil de notar com tantas pessoas impares.
Um homem, um ancião entre os de meio sangue, surgiu como líder daqueles pobres seres. Parecia ser uma mistura de um elfo com dragão. As orelhas eram mais longas que o normal, quase transparentes também. A pele, especialmente próximo do rosto, era cheia de escamas. Os traços élficos superavam os dracônicos, mas ainda assim, mostravam a elegância e o poder de ambas às raças em sua fisionomia. Estranhamente, uma barba longa surgia daquela criatura. Halphy estranhou que tanto o pai e a mãe dele eram criaturas que são conhecidas por sua longevidade e físico excelente.  Ele ainda vestia uma roupa verde cheia detalhes arcanos. Parecia que antigamente foi mago ou algo parecido. Mas agora suas vestes estavam tão mal cuidadas que mais parecia um mendigo.
-Muito grato meus queridos jovens – começou ele – Meu nome é Vardemis Kanon, sou o líder dessa vila. Então possuem o nome de Dragões da Justiça? Muito apropriado.
-Obrigado – disse Halphy calmamente.
-Muito grato – falou Thror.
-Como podemos retribuir ao salvamento de vocês?
-Não precisa! Espoliamos o lugar onde estava a prole – disse Seton segurando um enorme saco de moedas.
Todos os membros do grupo e alguns moradores da vila olhavam para Seton com raiva e espanto. Aqueles que o conheciam duvidavam que fosse um druida. Os que não, achavam que era um louco. Mas nada que fosse para se preocupar. Agora pelo menos.
-Mesmo assim, - continuou o líder da vila – posso os presentear com itens únicos.
Quando ele falou isso, apontou para um meio elfo que começou a correr em sua direção, do fundo da multidão de aldeões. Os membros do grupo não entenderam, mas foi pedido que esperassem. Eles o fizeram, e logo em seguida, e logo em seguida foram surpreendidos com aquele rapaz ao seu lado. Com ele estava: duas espadas longas distintas, uma esfera coberta por um pano e um item pequeno que lembrava o que viram em Delfos.
-Meus amigos – disse Vardemis, enquanto pegava os itens e os distribuía – esses são itens que nos foram concedidos por nossos pais, ancestrais ou entes queridos. E eles agora passarão a ser de vocês, pois os merecem depois do que fizeram por nós. Tomem, e não aceitarei suas recusas de forma alguma. Deixe que explique o que cada uma possui de propriedades arcanas e divinas. A espada negra, com a caveira no cabo, é chamada de Vampira de Almas. Ela drena o adversário até não restar mais nada. É o que dizem as lendas sobre ela. Esta, mais clara e com runas na lâmina, é uma de três irmãs. Fim-dos-Dragões tem um dom sagrado contra os dragões malignos. Seu poder é único contra eles. Já essa esfera – falava isso enquanto retirava o pano que estava sobre ela – é conhecida como bola de cristal. Era muito usada pelos antigos atlantes, pois através de sua magia ela vislumbra longas distâncias. Ótima para estudar inimigos. Desde que saiba onde ele esta. Por ultimo, um espelho com dons parecidos com a bola. Mas com uma habilidade incrível inerente. Ele também lê os corações de quem se vê através dele. Tanto que pode se comunicar com a pessoa escolhida. Esses itens agora são seus. Pois os merecem.
Todos agradeceram e os itens foram distribuídos o melhor possível.
A Vampira de Almas foi entregue para a ladina, com quem muitos acharam estar adequada a arma. Além de ser uma ótima proteção. Já Fim-de-Dragões ficou com o padre, afinal, era ele o mais preparado para tal dom. Outro item caiu nas mãos de Halphy. A bola de cristal foi entregue para ela. Já o espelho se tornava um problema: Arctus e Seton queriam o entregar para Lacktum, enquanto Halphy queria mais um dos presentes. No final, foi guardado.
A meio elfa ficou furiosa com a decisão do grupo, mas precisou aceitar aquilo. Pelo menos por enquanto.
Todos os habitantes  da vila agradeciam aos heróis. Mas nenhum deles se sentia como um. Afinal, eles não sabiam como lidar com pessoas que precisavam de auxilio. Na Grécia e no Reino da França, quase não puderam notar como os agradecimentos eram sinceros.
Com as poucas peles que tinham, Halphy mandava cobrir os pobres seres que moravam na Vila dos Meio Sangue. Eles na eram preparados – em boa parte – para o tempo frio que estava lá fora. Esses que aturavam climas pesados de inverno ficavam sem peles.
Feito a entrega dos itens, assim como as das peles para o bando de refugiados, todos abandonaram a caverna. Um por um, guiados pela ladina, saíram do lugar que foram mantidos como cativos.
Mesmo que a cena fosse deprimente para um espectador desavisado, para os Dragões da Justiça era algo maravilhoso. Pois o que faziam, significava algo maior. Algo de valor.
Arctus abraçava Gustavo e Seton enganchando pelas cabeças de ambos. Era como se por alguns segundos fossem irmãos de sangue. Enquanto os três andavam, Halphy fitou a lâmina com o nome Fim-dos-Dragões. Ela fazia isso enquanto andava. Mas sua espada negra era mais poderosa pensava ela.
Valente arrastava o companheiro furão. Ele ainda estava desmaiado. Como sempre, Furta-Trufas só atrapalhava. Pelo menos era o que o suricate pensava.
O ferido Turin que via tudo de fora da caverna, notava que a frente estava seus familiares. Eram uns dos primeiros a sair daquela escuridão. Os abraçou como se tivessem nascido novamente.
De repente, a águia pousou no braço da jovem dizendo:
-Você foi muito bem Halphy. Uma excelente líder.
-É, mas não vejo o momento em que entregarei esse posto ao Lacktum. Isso cansa a alma!
Thror que ouvia tudo riu por alguns instantes. De qualquer modo, era verdade o que a ave disse. A garota era uma ótima líder. Sempre foi perspicaz e muito capaz, mas naquele dia ela se mostrou apta a liderar um grupo de combatentes.
O dia estava acabando, mas parecia que alguém tinha feito uma linda imagem no horizonte. Como salvadores, os Dragões da Justiça fitavam aqueles com salvaram com orgulho.
-Minha alma parece triste mesmo assim – disse Thror – Gostaria de compartilhar isso com meu pai Orfeu.
-Relaxe. Não é o único – falou Gustavo.

Quando chegavam à vila, as pessoas olhavam com desconfiança para um estranho grupo armado que chegou, pouco depois deles.
Os Dragões partiram na frente dos habitantes da vila. Tinham medo, pois estavam sem boa parte das magias de cura do padre e do druida. Tirando que não houve tempo para curar os aldeões e os membros do grupo de várias das feridas em combate.
Thror sacava sua espada curta, com o escudo de lado. Halphy retirou com as duas mãos, sua espada recém adquirida da bainha, colocando ela na sua frente de modo ameaçador. Gustavo colocou a espada na sua frente, como se fosse um sinal de sorte contra os inimigos estranhos que surgiam. Arctus e Seton foram colocados atrás para quaisquer eventualidades. Valente mostrava os dentes em uma cena bizarra e engraçada. Furta Trufas, que finalmente despertou, desmaiou novamente. Só fiel não era visto. Para o grego isso era até bom.
-Qual é o plano Halphy? – perguntou Gustavo, já se preparando para o combate.
-Não sei. Nem se haverá um combate. Não sei... Mas acho que esses homens não vieram atacar.
-Por Zeus, Poseidon e Hades! Garota dominada pela lua! Acha que vieram então fazer o que, afinal? – soltou Thror com raiva – Brincar?
-Calado Thror! – gritou Arctus.
-Me deixe fazer algo – sugeriu o druida pronto para o combate.
Nesse mesmo instante, o líder atravessou de modo atrapalhado entre os habitantes da vila. Parecia aflito. Logo se intrepôs entre os heróis e os forasteiros. Queria impedir o conflito.
-Se acalmem meus jovens! Eles não são invasores! – disse Vardemis, temendo o pior.
-Então quem são eles? – perguntou a já preocupada Halphy.
Eis que um homem de cabelos longos e ruivos surgiu na frente deles. Era forte. Possuía uma pele de urso cobrindo parte de seu corpo. Dois machados estavam em sua cintura. Havia um pequeno símbolo neles.

Ele desceu de sua montaria conde havia um rapaz encapuzado. Chegou até Vardemis o abraçando. E então olhando para seu rosto, enquanto segurava seu ombro disse:
-Olá velho amigo!
-Galtran! O que faz aqui? Não era sua função proteger as fronteiras?
-Fiquei sabendo que vocês estavam com problemas e então vim auxiliar... Mas parece que era mentira! – disse o ruivo sarcasticamente.
Os habitantes do vilarejo começaram a falar, enquanto os Dragões da Justiça se perguntavam como o guerreiro ficou sabendo dsso. Afinal, eles disso através de Turin que até onde sabiam, tinha sido o único que conseguiu fugir julgo da prole de Argos. E só.
-Me perdoe à indiscrição, mas quem contou a condição dessa vila? – perguntou Halphy diretamente ao tal Galtran.
-Alguém muito arrependido e que quer rever vocês – falou o homem com peles de urso. Nesse momento apontou para sua própria montaria. Havia nela, um homem usando capuz até então que não notaram. Ele o retirou. Era Lacktum. Comum rosto todo inchado, mas era ele.
Todos do grupo aventureiros soltaram sons de alegria.
-Lacktum! – disse Thror completando – Você esta mais feio que o monstro minotauro! Hehe!
-Muito grato – falava isso enquanto saltava do cavalo com certa dificuldade. Parecia bem ferido. Arctus foi ajudar o companheiro.
-Meu Deus! Onde conseguiu tantas marcas? Tem até queimaduras! Onde esteve? Em um combate contra um exército de magos?
Foi quando Lacktum olhou para Galtran com ar de satisfação. Como se tivesse conquistado algo. Agora entendia como aqueles bárbaros pensavam.
-Brinquei com uma bola de fogo.
Os Dragões olhavam com estranhamento, enquanto Lacktum e Galtran riam com um fato desconhecido para o grupo. Novamente, olhos de estranhamento.
Arctus foi levando o amigo até uma cabana, enquanto Valente arrasta Furta Trufas.
-Maldito gordo! – esbravejava o suricate.
Muitos não estranhavam aquela cena da vila, já que conheciam uma grande quantidade de seres bem mais estranhos. Mas os soldados de Galtran olhavam com espanto para os pequenos animais.
Foi quando a ladina feiticeira olhou para Seton. Ela sorriu.
-Que bom! Pelo menos a liderança não esta mais em minhas mãos.
-É – disse Seton – Deveria ser um fardo.
-Era mesmo.



[1] Plano de existência se refere a mundos primários, ou seja, mundos que em resumo tem várias características de Gaya. Mas cada qual, com sua peculiaridade. Mais detalhes durante os outros volumes dos Contos.

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