Para compensar o fato que não estou escrevendo o livro Contos do Tempo Perdido, irei publicar uma vez por mês, o livro Arquivo Sombrio. Nele, trato do estudante de história, Carlos Eduardo. Ele se vê envolvido com uma série de mortes na cidade de Guarulhos, devido a fatos que envolvem seu pai e fotos comprometedoras da época da ditadura. Mas no fim, Carlos descobrirá que ele esta mais envolvido com coisas bem mais pesadas do que os Anos de Chumbo...
Introdução
Há
um ano comecei a escrever essas linhas para talvez ficar um pouco mais calmo
depois de tudo que eu passei em 2006. Isso acontecia, pois nunca imaginei no
que acarretaria estudar historia. Sempre gostei de estudar essa matéria pelo
que me lembro. Acho que isso se deva ao fato de sempre ter gostado das
historias relacionadas às cruzadas, sobretudo quando se tratada sobre os
templários. Mas começo a me perguntar se não deveria ter feito outro curso
qualquer com menos perigos. Sei lá... Talvez administração ou letras que são
cursos mais chatos.
Mas
antes de falar sobre os fatos devo salientar duas coisas: quem sou eu e alguns
fatos históricos que me envolveram nesse ano.
Bem,
meu nome é Carlos Eduardo Oliveira. Sou um dos filhos de dona Sandra Souza,
atualmente dona de casa. Meu irmão mais novo se chama Claudio e é um verdadeiro
idiota, mas não nos fixemos nele. Meu pai morreu há muito tempo atrás. Possuo
três tios: Roberto, Conceição e Benedita. Tenho só três primos de primeiro grau
devido ao meu tio Roberto e a mulher dele, Aparecida. Os nomes são Robson,
Ramon e João Paulo. Atualmente estudo na UnG, fazendo curso de história e
trabalho a tarde como operador de maquina de xerox. Chique não é?
Gosto
de comer todo tipo de massas e comidas japonesas, especialmente apimentadas.
Odeio verduras. Tenho como hobbys tocar bateria, ficar mexendo em meu
computador e escutar rock. Se bem que também tenho uma guitarra, mas a toco mais
para descontrair.
Os
fatos importantes até agora são que eu sou um estudante de historia e a morte
de meu pai. Sempre fui um ótimo estudante de historia, mas nunca o mais
brilhante. É que sempre gostei das historias da Idade Média. Sabe, historia de
cavaleiros errantes que lutavam contra exércitos. Coisa de garoto mesmo. Tudo
bem que aqui no Brasil os garotos só pensam em futebol, mas eu pensava nisso.
História.
Meu
pai já é um caso diferente: com oito anos de idade meu pai havia morrido. Foi o
máximo que minha mãe falou sobre ele. Nunca soube nenhum dado sobre a vida
dele, além do que consta no meu sobrenome. Família paterna, vida fora de casa,
nada. Mesmo assim nunca gostei dele. Nunca estava em casa para ajudar minha
mãe, então eu aprendi a trabalhar desde cedo. Havia vezes em que chegava bêbado
da rua. E espancava qualquer um que estivesse na sua frente. Qualquer um mesmo.
Sempre o odiei. Bem qual filho não odeia um de seus pais?
De
qualquer modo, eu sei que os meus problemas esse ano começaram por conta dele e
da ditadura militar.
Ai
esta o outro fato que ferrou minha vida. Como um estudante de história estudo
vários períodos da historia nacional e internacional, e devo confessar que um
dos mais importantes são os chamados, anos de chumbo. Um período conturbado que
pega de 1965 a 1985 na historia do nosso país. Ironicamente nasci em 1985.
Pouco depois que ela acabou.
O
ano era 1964. O até então presidente, Jango, se recusou a tentar enfrentar uma
resistência armada ao movimento militar que começou um golpe de Estado. No
começo, se dizia que seria uma intervenção passageira devida “aos desmandos
provocados pela infiltração esquerdistas no país”. As Forças Armadas teriam uma
função patriarcal quase. Os tolos jornais da época saudavam isso como uma vitoria
do movimento democrático, acreditando que quando tudo estivesse bem haveria
votação e um presidente seria escolhido. Bobinhos...
Havia
muitas coisas para serem feitas, entre elas – principalmente - reorganizar o
país. O Brasil necessitava de um Poder Executivo forte, além de formar um novo
governo a partir das alianças da UDN e PSD, das lideranças militares e dos
diversos empresariados.
Mas
houve então em 09 de Abril de 1964, o Comando Supremo da Revolução, uma junta
militar que assumiu de fato o poder do país, promulgou um conjunto de regras
políticas denominadas Ato Institucional número 1, mais conhecido como AI-1.
Esse Ato fortalecia o Poder Executivo e concedia ao presidente poderes para
suspender direitos políticos, cassar mandatos e exonerar funcionários públicos.
Antecipando
a Constituição, que previa eleições pelo Congresso Nacional 30 dias após a
declaração de vacância dos cargos de presidente e vice-presidente, foram
escolhidos o general Humberto de Alencar Castelo Branco como presidente, e o
político do PSD mineiro, José Maria Alkmin como seu vice.
Deveria
haver eleições em Outubro de 1965, sendo que entre alguns dos principais
candidatos a eleição estava o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Porém,
pressões dos udenistas levaram o governo a o incluir na lista de cassações
políticas, acusado de corrupção em Junho de 1964.
Um
mês depois foi aprovada uma emenda constitucional que adiando a eleição para
1966 e que prorrogava o mandato de Castelo até 1967. Era a institucionalização
do Regime Militar.
Esse
período trouxe varias mudanças no cenário social, cultural e especialmente
político de onde vivemos. Houve repressão: foi criado o DOPS (Departamento de
Ordem Política e Social) e outras coisas que pareciam vir direto da “Segunda
Guerra Mundial”, mídias como jornais e rádios tinham que tomar cuidado para não
falar nada contra o regime, um milagre financeiro que foi seguido de uma crise,
repressão aos estudantes e professores de faculdades que eram sempre declarados
como subversivos. Isso sem contar com as outras ditaduras militares que
ocorriam nos países latino-americanos como a Guatemala, Chile, Argentina e
Peru.
Era
uma verdadeira Era das Trevas, onde algumas pessoas perderam filhos, pais,
irmãos, sobrinhos, netos e amigos... E que nunca tiveram a chance de enterrar
seus entes queridos. Mas o que sempre me deixou mais revoltado é que em vários
dos países em que ocorreram essas ditaduras houve a punição dos responsáveis
por esses massacres. No nosso, alguns ainda estão no poder.
E qual o motivo disso? Bem, digamos
simplesmente que os relatos a seguir tratam sobre revelações incríveis sobre o
período dos Anos de Chumbo e mais ainda, sobre meu pai.
Capítulo
1 – O tiro nas sombras
Voltei
de mais um dia de trabalho escravo na Casa de Xerox do Dennis. E quando digo
escravo, não estou me referindo aos escravos da antiguidade entre os egípcios
ou gregos mais bem tratados, mas estou me referindo aos que existiram aqui
antes da abolição da escravidão. Era um saco, ao quais os únicos que me faziam
companhia eram as máquinas e o “Imperador das Máquinas Sith do Mal” Dennis. Um
apelido carinhoso que estava acostumado a falara para ele. Ele nunca entendeu
isso. Agora sei por que Little Richards falava “wobombiluba biloubombum”.
Em
casa temos um portão tão grande que deixaria qualquer ladrão com medo de
ultrapassar. Sou o único que possui um emprego, já que minha mãe vivia doente.
Meu irmão? Que bom seria se ele tivesse emprego, mas assim como Deus não deu
asas às cobras, ele não deu força de vontade para o Claudio procurar um
serviço. Ainda penso que cobras merecem mais as asas do que o meu irmão
dinheiro.
Abri
o portão e logo em seguida – pois não vi o que havia ali - cai em um monte de
caixas de papelão que antes recheavam um dos quartos ao fundo da nossa casa.
Depois de me recuperar da queda, ainda deitado gritei a plenos pulmões quem era
o causador daquela zona. Já imaginava que só poderia ter sido uma pessoa.
Claudio
mostrou a cabeça pela janela e então começou a rir da situação em que me viu.
Logo em seguida soltou:
-O
que foi Du? Cansou-se de dormir no nosso quarto e agora vai dormir no quintal
mesmo?
Como
não tínhamos muito dinheiro, meu irmão e eu dividíamos um quarto. Pelo menos
não dormíamos em um beliche.
-O
seu otário, a mãe nunca te falou que não era pra mexer nessas coisas?
-Mas
foi à mãe mesmo quem disse para retirar essas coisas lá do quarto babaca.
Foi
então que levantei, e calmamente, soltei palavras comuns a qualquer moço que
estivesse nervoso com a situação:
-Oh
mãe! Que merda é essa que o Claudio tá falando aqui?
E
fui entrando na cozinha, onde minha mãe era soberana. Estranho como mães tem
uma força maior dentro da cozinha. Já repararam. Ela me olhou com seus olhos cheios
de inconformismo querendo que me retratasse de lago que nem eu sabia.
-Quem
te ensinou a falar isso mocinho? Eu que não fui! Ficar falando essas coisas
feias.
-Ah
ta. Não quer que eu fale merda?
-Isso
mesmo.
-Tá
legal. Que porra é essa que o Claudio falou? A senhora vai jogar aquelas coisas
fora?
Ela olhou mais nervosa do que inconformada com
o fato de eu estar perguntando sobre as caixas. Enfim, depois de suspirar, pois
sabia que perderia em uma conversa contra mim ela começou a cortar uma carne
para o jantar.
-Estou
me livrando daquelas coisas para arranjar um quarto para um de vocês dois.
Pensei que ficaria contente.
-O
atual quarto é meu! – soltou rapidamente da sala o enxerido do meu irmão.
-Que
se dane! – soltei em retribuição, e continuei a conversa com minha mãe – Mãe lá
pode ter coisas importantes pra gente e relacionadas ao... Você sabe quem.
-Nunca
demonstrou interesse sobre algo relacionado ao seu pai meu querido? Por que
agora?
-Não é interesse. Só que pode haver documentos
importantes e outras coisas de valor lá dentro. Pretende levar aquilo pra onde.
-Nenhum
lugar. Vão é pro lixo meu filho.
-Lixo?
Deixa eu olhar o que tem primeiro.
-Filho...
Eu não quero que você olhe...
Nessa
hora, peguei as mãos dela e olhei fundo nos olhos.
-Eu
sei que não sou o melhor filho do mundo, mas mereço saber um pouco sobre o pai.
Mesmo que seja para ter mais raiva dele ou não. Eu sempre respeitei a senhora e
nunca mexi naquelas caixas. Já o Claudio...
-Eu
tô ouvindo seu veado! – disse o infeliz outro filho de minha mãe.
Minha
mãe me olhou de um jeito meigo, como quando sabe que estou certo de algo.
Colocou a mão sobre minha cabeça, com dificuldade, já que sou visivelmente mais
alto fazendo um carinho que só ela poderia fazer.
-Tudo
bem filho. Mas faça isso hoje à noite, pois amanhã é dia do lixo passar aqui,
ouviu?
-Sim.
Após
ouvir minha resposta, ela deu de costas para mexer em outras coisas para o
jantar. Não queria saber sobre meu pai, mas poderia ter uma família que nunca
conheci por conta das atitudes inconseqüentes de meu pai. Além disso, realmente
poderia haver dados importantes e documentos ali nas caixas.
-É
mano – falou meu irmão, que surgiu feito um fantasma das minhas costas – acho
que você conseguiu chatear a mamãe. Coisa feia
-Ah
cala a boca seu otário – falado isso, dei um tapa em sua cabeça.
...
Enquanto
isso, fora da USP, um homem corria. Os relatos das câmeras mostravam um,
sobretudo esfarrapado. Ele carregava consigo um monte de livros e papeis e
parecia estar fugindo de algo ou alguém. Os que olhavam na rua achavam se
tratar de um bêbado, afinal, cara ele tinha. Mas seu jeito mostrava ser um
professor de faculdade. Talvez um professor bêbado.
As
câmeras que registraram esses fatos foram das lojas de carros próximas. Já que
eram carros, a maioria pelo menos de marcas internacionais. E convenhamos: a
USP não esta nem um pouco preocupada com a segurança de seus alunos.
Mal
sabia eu que minha vida cruzaria com a dele. Não necessariamente vivo.
...
Subi
para a UnG pois estava quase atrasado para aula. Quando disse quase, quis
disser, completamente. Cheguei ao final da primeira aula. Engraçado ser uma
pessoa que mora próximo da universidade, mas que sempre me atraso por uma coisa
ou outra.
Talvez
eu devesse cortar meu cabelo como minha mãe pediu dias atrás. Uso cabelos que
mais parecem à juba de um leão de tão grande. De longe pareço o Dave Mustaine.
Já de perto pareço um headbanger qualquer. Mas tenho estilo. Adoro Sepultura,
então ando pra cima e pra baixo com a camiseta com o símbolo deles. Tenho um
rosto comum fora isso. Pelo menos é o que me dizem meus amigos.
Uso
tênis de marcas simples. Nada extravagante. Tipo um Neebok. Cópias piratas? Com
certeza. Mas às vezes são mais confortáveis do que os originais. O que me ajuda
a subir o morro.
Terminada
a primeira aula saímos para o intervalo. Não havia muitas pessoas com quem
conversar a não ser Gabriela, Douglas e Joseane. Eles eram meus amigos desde o
começo do curso. Talvez porque muitos nos viam como estranhos nos padrões da
maioria, o que eu sinceramente odiava. Gabriela usava uma cadeira de rodas, não
uma melancia no pescoço. Algumas pessoas pensam que um cadeirante é sem pernas.
Douglas era diferente. Era mais novo do que eu, mesmo assim tinha uma mente
mais aberta e era um líder nato. Bem diferente do que eu jamais seria. Por
ultimo, havia a Josiane, que só por seu modo de vestir as pessoas a comparavam
com uma gótica. Bando de idiotas que não tem muita idéia do que seja uma pessoa
com visual próprio. Éramos um grupo único na UnG.
Foi
quando sai por ultimo, pois peguei as coisas do dia com um colega meu, que eu
cheguei ao refeitório para ver uma cena única. Estava a Gabriela tomando Mupy,
o Douglas terminando um livro e a Joseane vendo mensagens do namorado no
celular. Todos sentados ao redor de uma das mesas do lugar. A cena seria até
comum, se não fosse à amiga deles. Lá estava a Cibila, a bruxa.
Nunca
entendi muitas coisas sobre magia, já que toda a minha vida foi extremamente
cética. Ela sempre me olha como se quisesse atravessar minha alma. E pelo que
sei, ela segue uma linha de magia que lida com a previsão do futuro. Posso não
acreditar nisso, mas eu tenho medo dela. Oh se tenho.
O
pessoal me pediu pra sentar. A Joseane largou o celular e partiu para me
abraçar loucamente como só ela poderia fazer.
-Josi...
– apelido que arranjei pra ela – larga meu pescoço... Tá me enforcando...
-Ah
tá bem Du! – respondeu ela voltando ao lugar – Du a Cibila viu meu futuro!
-Ah
viu é? – olhei para Cibila. Não sei por que, mas acho que até devia saber a
previsão. Sempre é, “tome cuidado com isso”, mas “sua vida vai ser repleta de
felicidade”.
-Você
deveria ver seu futuro Carlos – falou Douglas com os olhos por sobre o livro.
Ele estava lendo O Príncipe de Maquiavel – Pelo menos pior não pode ficar.
Eu
olhei para ele com ódio. Não de verdade, pois era um ótimo amigo, mas daquele
modo que só amigos podiam olhar para outro.
-Já
que é assim faça você primeiro isso Douglas... Nada contra Cibila, mas não
acredito nisso. Sem querer ofender – respondi me achando o sábio.
-Não
ofendeu – novamente os olhos dela me dissecavam. Eu pensei que talvez ela
estivesse afim de mim, mas logo descartei essa idéia.
-Já
viu o meu – Doug respondeu enquanto colocava o livro na mesa – Descemos mais
cedo, pois a aula do Everaldo tava chata.
Então,
Gabriela soltou a frase que eu nunca queria ter ouvido:
-O
que foi Carlos? Tá com medo.
Até
hoje me arrependo de não ter tapado os ouvidos. Muita gente chega pra mim
dizendo que era o destino. Que eu tinha que escutar aquelas palavras. Mas a
verdade é que eu nunca queria saber de ter escutado aquilo que Cibila dizia ser
o futuro. Isso se deve ao fato ela falou no final da previsão,
coincidentemente, ter realmente ocorrido. Eu sempre achei essas bruxas como
charlatãs. Se tiverem como ver o futuro por que não ficam milionárias? Bem, de
um jeito ou de outro respondi:
-Tá
legal! Tá legal! Olha logo essa mão pro povo parar de me encher...
...
A
polícia disse que o tal homem teria se aproximado de minha casa e encontrado um
rapaz que pichava uma parede. Não havia câmeras no local. Então a única coisa
que sabiam com certeza era o que garoto havia contado sobre o fato.
Estaria
pichando atrás de um mercado, quando esse homem chegou – todo desengonçado - para
ele e falando que pagaria duzentos reais se entregasse para ele o spray.
Qualquer um faria isso. O que havia incomodado o jovem era que logo em seguida
o homem pediu que ele corresse o mais rápido possível.
Tudo
nesse caso era estranho: o senhor então começou a pichar a parede do mercado,
com algo que o jovem não sabia o que estava escrito. Quando já estava na
esquina, o tal homem teria jogado vários pacotes de lixo para cobrir a parede.
Notava
que com o homem, havia vários documentos. Parecia um professor de universidade
ou no mínimo trabalhava para um escritório.
O
garoto no final não se afastou tanto e ficou pensando se deveria voltar. Era
estranho, mas pensou que o senhor estava sendo seguido. Quando então chegou a
pensar realmente voltar para lá, era tarde demais. Aquele senhor estava morto
com certeza. Um tiro no peito.
...
-Hum,
interessante.
-É?
– disse eu sendo sarcástico – Enquanto ela olhava a palma de minha mão.
-Carlos,
quieto! – exigiu Joseane.
-Esta
bem! – respondi. Porém, continuei – O que esta vendo ai?
-A
dor de uma separação recente.
-Ela
é boa não é? – disse Josi com um sorriso. Eu retribuo para ela com uma cara de
tédio.
-A
Carla me dispensou recentemente. Todo mundo aqui da faculdade sabe.
-Ah
para Du... – disse Gabriela tentando proteger a vidente Cibila.
-Ela
terminou no refeitório ali de baixo! Na frente da UnG inteira! Até os
professores sabem disso.
-Não
é pra tanto... – disse Doug tentando contornar.
-O
professor Carlos tava me consolando! Eu entrei em fossa por um mês!
Cibila
exigiu silêncio. Ela ainda tentava ver o futuro através de minhas mãos. Eu tava
estranhamente achando que ela queria fazer carinho. Aprendi desde cedo que
mulher nenhuma tinha interesse por mim. Esforços eu fazia para me tornar
interessante. Cortei até mesmo meu cabelo, mas parecia que não agradava em
nenhuma área. Vai se entender isso. Por isso teorizei: todo o homem é burro,
toda a mulher é louca! Essa era minha máxima para explicar meu estado de
solteiro perpetuo.
Por
fim, depois de alguns acertos e erros, Cibila disse:
-Alguém
do passado vai surgir para você essa noite.
-Alguém
do meu passado? Quem? Meus tios de Itaim? Eles são legais.
-Não
do seu – disse ela, agora com olhos preocupados, assim como a voz – Do seu pai.
Fiquei
realmente bravo. Não gostava do meu pai mas colocar meu pai no meio era jogo
sujo.
-Olha
meu pai...
-Eu
sei que ele esta morto. Vi nas linhas de seu passado. Mas é alguém que não sabe disso. Que não
poderia saber disso. Pois ele traz consigo um peso muito grande. Vejo grilhões.
-Grilhões?
– soltou Douglas.
-E
flashs. Como se fossem danças profanas. Danças do demônio.
-Tudo
isso você vê na minha mão? – começava a achar que minha mão deveria ser uma
verdadeira televisão pra ela ver tudo aquilo. Direi a mão rapidamente.
-Qual
o motivo de estar tão nervoso comigo? – ela perguntou.
-O
pai dele morreu em 1993 – falou Douglas em resposta.
Fui
saindo. Levantei-me em um rompante de raiva. Putz, o pessoal sabia que não
gostava dessas coisas de magia e vidência. Mas não, eles tinham que insistir
com aquilo. O pessoal começou a pedir desculpas
Cibila
ainda queria falar comigo, o que o próprio Douglas impediu. Mesmo assim ela
tentava falar comigo.
-Vai.
Pode a deixar falar... – pensei eu. Pior não poderia ficar.
-Só me faça um favor. Tome cuidado
com a palavra Aran.
Eu
não entendi o que aquilo significava, mas senti verdade nas palavras dela.
Mesmo assim, subi pra sala. Pedi que o pessoal ficasse, pois não queria ser
atrapalhado por ninguém. Iria pensar um pouco.
Imaginava
até que poderia ser verdade o que ela falou. Pois sempre quis conhecer minha
família paterna.
-Isso
é besteira – disse isso sozinho enquanto olhava pela janela do segundo andar do
prédio de história, para o Shopping Internacional de Guarulhos.
...
Voltava
da aula, após os acontecimentos maravilhosos do refeitório – para quem não sabe
isso foi sarcasmo. De qualquer modo passei por um lugar onde havia uma grande
movimentação de curiosos. Com certeza se devia a alguma morte, desova de corpo,
estupro, acidente de moto ou – no melhor dos casos – roubo. Mas como era atrás
do mercado tinha certeza que só poderia se tratar de morte. Lá já foi morta uma
porrada de gente. Bem, nem quis saber e fui direto para casa.