A praia era linda. Haviam colocado os pés naquele lugar
divino. Sentiam tanto prazer de estar ali, que se criou uma atmosfera pura e
bela na alma de cada um, acabando com o seu cansaço. Se não fosse por tudo que
passaram antes, nem alguns resquícios de tristeza sentiriam mais. E o ar
parecia só trazer boas lembranças.
Um litoral com areias da cor do ouro. Pequenos morros, mas
que possuíam nuvens carregadas era a vista de onde estavam. Alguns pássaros
voavam em uma formação em v. Os aromas tornavam o lugar tão lindo que causava
até alivio aos corpos feridos e as almas aflitas. Não era possível imaginar mal
naquele lugar. Mas os poucos que se atreviam a compreender de magia sabiam que
aquele lugar exalava a mana puro. E então, eles saíram do transe em que se
colocaram por conta própria.
O porteiro Lunariel já havia pegado seus barcos e ido embora,
sem nem ao menos se despedir. De qualquer modo, os aventureiros estavam
extasiados, observando tudo ao seu redor. Tudo parecia, literalmente, tão
mágico.
Foi então que Gor falou:
-Vamos amigos, temos que chegar ao centro da ilha.
Começaram a andar quando viram Thor com um rosto que parecia
o de um animal sedento. Ou outra coisa pior dependendo da situação. Mas graças
aos deuses, era só fome dessa vez.
-Frutas! – gritou o grego.
Ele correu feito um louco na direção de algumas árvores.
Estavam recheadas de maçãs, uvas e outras frutas, de diversos tons, tamanhos e
formas. E saiam todas do mesmo pomar, algumas até desconhecidas pelos mais
experientes. Algumas, tão grandes, que saiam do chão e não do topo das árvores
como era de costume. Era um banquete para a boca e para os olhos. Criavam novos
gostos em suas línguas, de outras terras com certeza.
Halphy já começou gritando para Thror, assim como também para
Seton, Richard e Hugo, que seguiram o grego, que parassem de comer aquelas
frutas. Poderiam ser venenosas ou conter alguma magia, mas nem deram ouvidos
para a meio elfa. Era algo diferente da situação que saíram, não fazia muito
tempo. Algo bom e reconfortante.
Madelyne era a única que se mantinha silenciosa e triste até
de mais. E por algum estranho motivo, a ladina sabia que sua amiga não se
entristecia por Azerov e sim por estar pisando naquele lugar.
Lacktum ria especialmente de Thror, que mais parecia um garoto
grande. A boca lambuzada de suco e sementes de frutas tornava cômica a
aparência do guerreiro. Halphy continuava preocupada, mas foi apaziguada pelo
sacerdote Arctus. Pelo que tinha notado, não havia veneno, nem magia alguma no
pomar. Era algo que não era só divino ou mágico simplesmente. Algo sutilmente
poderoso. Como se a natureza tivesse criado vida naquele lugar e não quisesse
alertar ninguém.
-Peguei algumas delas para qualquer eventualidade – soltou
Thror, cheio de dentes e sementes na boca.
Quando estavam para sair das proximidades das árvores, todos
ouviram uma voz dizendo:
-Poderia... Soltar... Essas trufas... Senhor?
Foi quando todos olharam ao redor, tentando encontrar o dono
da voz. Era esganiçada, tímida e baixa. Parecia que a voz tinha até medo de se
pronunciar.
Thror então levantou um dos seus braços, onde havia algumas
trufas. Eis que entre as frutas surgiu um pequeno focinho com um par de olhos
animais. Era um espécime quase perfeito de texugo. Ele estava entre os
alimentos.
-Poderia... Soltar? – surgiu do focinho do animal.
-Ahhh! – soltou Thror, enquanto largava as frutas no chão
pelo pânico que sentiu.
-Ahhh! – soltou a criatura em resposta.
-Deus meu! – falava Arctus enquanto fazia o sinal da cruz.
-Ora, espantoso – disse um boquiaberto Lacktum, enquanto
apontava para o pequenino ser.
-Aquele animal falou? – a única que parecia estar tomando
ciência da situação bizarra em que estavam.
-Acho que sim... – disse um incrédulo Richard.
E enquanto todos falavam o pequenino ser se colocava atrás de
uma pedra que ficava no pomar. O medo era claro em sua face... Ou seja, lá o
que for que aquele ser tinha.
O paladino não agüentava mais as atitudes dos outros e temia
que aquilo fosse arte do demônio. Havia ouvido falar de bruxas que usavam
animais infernais para se comunicar e tentar os mortais. Sacou sua espada
longa, apontando na direção do texugo.
-Afinal, o que é você? Uma criatura do demônio ou alguém
ludibriado pelos encantos desse lugar? Assim como os homens de Odisseu? Diga
logo ou irei cortar sua... Cabeça!
-Mas... Mas... É... Ai, ai... – depois de falar isso, a pobre
criatura diminuta caiu apavorada de medo. Era de certa forma, hilário.
Foi quando os membros do grupo estavam para tentar despertar
o pequenino ser que viram uma nova forma surgindo de alguns arbustos. Mais
diminuta, porém, parecia ter mais atitude.
-Olhe, é bom não tocar no Furta-Trufas! Caso contrário, eu
lhe mordo o de cabelo preto!
-Hum? – soltou um Lacktum espantado com as atitudes do ser –
Mas o que é isso? Loki esta fazendo alguma brincadeira conosco?
-Não ouse pronunciar o nome de deuses profanos dos nórdicos
em Avalon homem – eriçava os pelos, enquanto falava isso o animal.
A criatura lembrava, de longe, um rato esguio e magro. O seu
pelo, era castanho como se viesse de um lugar onde o sol nunca dava descanso. O
que seria o peito era branco como a neve. E ele se mantinha de pé nas patas
traseiras para cruzar os aparentes braços com ar de raiva. Novamente a cena era
hilária.
-Perdão... Senhor? Qual vossa graça? Animal? Senhor? – falava
Lacktum enquanto se abaixava reverenciando o diminuto ser como se estivesse
diante de um nobre.
O animal bufou com ares de fúria. Então olhou para o mago
dizendo:
-Meu nome é Valente, sou um suricate. Este ser medroso se
chama Furta-Trufas. Espero que não o tenham machucado! Se não...
-Relaxe – disse Thror contendo os risos – Não foi feito nada
com ele. Ele não é um inimigo a altura... Quero disser, no tamanho entendeu?
-Sim, sim – disse Valente parecendo compreender o que ocorria
– Quem são vocês e o que fazem em Avalon? Não parecem ser daqui.
-Sou Lacktum. Este homem com cicatriz e espada longa é Thror
Tzorv. A jovem de cabelos castanhos é Halphy Brown. O feiticeiro e os druidas
se chamam Hugo Capeto, Seton e Richard Naara, respectivamente. Gustavo, Gor e
Arctus completam o grupo. Ah e é lógico temos Madelyne, encapuzada e quieta ao
fundo. Mas isso é natural dela.
Nesse instante, Madelyne olhava com mais calma para Valente.
Parecia que ela ficou alegre só de ver o tal suricate. E alguns como Halphy e
Lacktum, notavam que ela era a única não impressionada com aquele lugar. Como
se já o conhecesse.
Lacktum então continuou:
-Viemos aqui, - pronunciou isso com pesar – pois fomos
atacados na torre de um bom mago, conhecido nosso. Seu nome era... É Azerov.
-Azerov? – disse o suricate até então calmo que olhava para a
Encapuzada – O mago que vive em uma torre próximo das ruínas espartanas? Cernunnos
me carregue!
-Sim – soltou Arctus.
-Então devo chamar Altair para acompanhar vocês.
Nesse mesmo momento, Valente soltou um estranho som. Os
jovens achavam se tratar de um alerta contra sua chegada na ilha, mas logo
notaram do que se tratava.
-O que foi isso? – perguntou Gustavo.
-É o chamado da natureza – respondeu o animal.
Imensos passos eram ouvidos da mata densa e espessa da ilha.
Se não fosse pela forma que tinha na mata, poderiam até imaginar que se tratava
de um cavalo. Era bem mais rápido.
E foi então que por de trás das folhas surgia uma forma. A
criatura era um enorme lobo, branco e belo. Era grande sim, mas o que trazia
poder a ele era seu ar de superioridade. Sua pele ostentava uma gloriosa aura
prateada. Seus olhos lembravam mais os olhos de um homem com extrema força de
vontade.
O olhar de todos se fixou na criatura de forma lupina. Ele
então soltou palavras com uma voz bela, mas forte:
-Eu sou Altair, mestre dos animais de Avalon. E vocês
necessitam de minha ajuda para chegar até Arda. Venham até mim filhotes
humanos.
-Muito grato, mas – começou a formular uma pergunta Lacktum
pensativo – como sabia o que precisávamos? A pequena criatura gritou, mas não
havia como ele falar do que se tratava. Já que nem falamos de Arda.
-Ora mago... É necessário falar? Você subestima o poder do
chamado da natureza. Através dele sabemos tudo que ocorre em nossas almas e de
quem amamos. Mesmo por que assim é a magia. Você não pergunta qual o motivo de
uma peste se propagar, nem de uma tempestade se prolongar. Então, nunca
pergunte o que a magia pode ou não responder aos seus ouvidos. Como mago,
deveria entender isso.
...
Eles passavam da área dos pomares para uma localidade quase
urbana. Era possível notar pequenas regiões agrícolas. Avalon era uma terra
formada por uma imensidão de colinas verdejantes, em muitos pontos cobertos por
lindas florestas. O clima era temperado, mesmo sabendo que fora dela deveria
ser outono. Valente, que servia como um guia, disse que a ilha ainda possuía
lugares selvagens, mesmo com os animais podendo falar. É que na ilha havia também
monstros. Lobisomens, duendes malignos e toda a sorte de seres do mal. Mas que
temiam as tropas daquele lugar. Assim como alguns que temiam a luz do sol.
O suricate e o texugo ficavam em cima do lobo, como se o
imenso ser fosse sua montaria.
Todo o grupo observava isso, enquanto se aproximava da cidade
principal. As casas humanas pareciam com as humildes casas inglesas, com suas
pequenas chaminés, telhados simples e humildes. Já as casas élficas, eram
lindas, feitas de madeira forte e resistente. Altair falou para os aventureiros
que as casas surgiram das flores das brumas, sementes mágicas criadas por magos
e druidas que serviam a Avalon. Elas, literalmente brotavam do chão. Muitos não
acreditaram muito nisso, mas não iriam contrariar o mestre dos animais daquele
lugar.
Os habitantes de Avalon eram constituídos, principalmente de
elfos e humanos, porém havia ao redor deles também criaturas de contos como
fadas e gnomos. Ficavam curiosos com os estrangeiros guiados pelo lobo rei,
como alguns o chamavam. Alguns curiosos tinham medo, outros se admiravam com a
aparência dos estranhos desconhecidos.
Muitos não conheciam os povos da ilha próxima a Avalon. Mas
havia lendas sobre os humanos de lá. Alguns diziam que só os homens de fora
daquelas terras tinham a capacidade de iludir o coração de qualquer outro ser
vivo. Era engraçado pensar que as pessoas temiam os seres mortais, como muitos
lá fora temiam os elfos e outras fadas.
Até que Richard e Halphy se sentiram bem com o ar nostálgico
que o lugar exalava. Isso, pois já foram iniciados nos costumes daquele povo
desde que nasceram. Até mesmo Lacktum e Gor se sentiam bem ali com todos os
olhos que os fitavam, pois em alguns traços, lembrava sua terra natal. Já que
Avalon era parte do Reino da Inglaterra, mesmo não sendo vista por todos os
olhos ingleses.
Altair seguia em frente, com Valente e Furta Trufas em suas
costas. Lacktum e Halphy acompanhavam de perto o lobo mágico. Todos os outros
seguiam atrás com olhares cheios de curiosidade sobre si. Eram estrangeiros
para todos os aspectos.
Era notável a milícia local cedendo espaço para os
aventureiros devido a presença do nobre lobo. Homens bem armados com espadas
longas
Chegaram então, até uma construção que parecia ser a mais
imponente. Parecia haver raízes brotando de sua base até parte do teto. Era
quase uma mistura de casarão com árvore. Quase lembrava um castelo de tão belo
e magnífico que era o material dele. Na entrada havia um símbolo acima da porta
frontal com uma cruz celta. E escrito em galês, Lacktum conseguiu ler:
Aqui o rei lidera o reino como uma espada.
Firmemente e benevolente para com os justos, afiado contra
os injustos.
Yma y brenin yn arwain y deyrnas
fel cleddyf.
Cyson a dyngarol i'r
cyfiawn, miniog yn
erbyn y anghyfiawn.
-Onde estamos Altair? – perguntou Halphy temerosa. Algo em
seu coração acreditava que estavam para acontecer fatos de grandes proporções e
conseqüências. E nem todas boas.
-Aqui poderão tratar com Arda e expor seus problemas. Esse é
o Salão Real de Avalon.
-Muito grato por nos trazer – disse Lacktum – Pode nos
acompanhar.
-É lógico. Foi por isso que eu vim.
E então cada um foi entrando no casarão com o devido respeito
e decoro que se necessitava naquele lugar solene. Eles nem imaginavam que
estavam para ver criaturas que só eram citadas nas lendas mais belas dos homens
ingleses. E que ecoavam por todo o mundo conhecido.
...
Halphy sentiu uma sensação. Parecia que o lugar queria falar
com ela. E realmente falou.
...
O salão era amplo e belo. Por dentro nem parecia ser feito de
madeira. Mais parecia uma linda paisagem florestal com um chão de pedra e
magia. Um pouco mais acima ficava um parapeito que era acessado através de
escadas ricamente ornamentadas por raízes quase prateadas. De um dos pontos se
via um palanque principal. Por último, no teto não se via madeira ou pedra e
sim estrelas! Era estranho ver aquilo, pois ainda não era noite e o alto
daquela casa nem sequer estava aberto. Mas era possível ver as constelações.
Pareciam até que se aproximavam da humanidade naquele local. Altair falou que
os antigos chamavam aquele salão de a Vista dos Deuses.
Soldados elfos surgiram das portas no andar inferior. Eles
vestiam um camisão de malha prateado que parecia ser feito do aço que só anões
tinham acesso. Alguns seguravam uma trombeta feita de um chifre tão grande que
o animal de onde o retiraram com certeza deveria ter sido enorme. Após tocarem
o instrumento – que tinha um som forte e poderoso – um deles começou a falar.
-Eles estão anunciando os membros que governam Avalon – falou
Altair.
-Adentrando esse salão, o Mestre Cavaleiro, Bors. Cavaleiro
em nome de vossa majestade, rei Arthur. Recebam ele com o devido respeito.
Quando isso ocorreu, uma figura careca com uma barbicha
assumiu seu lugar em uma cadeira próximo do parapeito. Ele portava uma loriga
bem trabalhada e usava um martelo de guerra arcano e poderoso. Várias
cicatrizes eram notadas por todo o seu rosto, como símbolos de honra.
Incrivelmente, Thor parecia envergonhado diante do austero e poderoso
guerreiro. Mas os motivos, nem ele conseguiam imaginar.
As trombetas tocaram mais uma vez.
-Adentrando esse salão, a Feiticeira-Mor, Morgana LeFay.
Feiticeira de Avalon, sobrinha de Viviane, a Senhora do Lago, discípula de
Merlin e irmã de vossa majestade, rei Arthur. Recebam ela com o devido
respeito.
Todos os que detinham um baixo conhecimento sobre magia já
ouviram falar sobre LeFay, Viviane ou Merlin. E se a famosa Morgana estava lá,
significava que uma das maiores detentoras da Arte se colocava na frente de
olhos mortais estrangeiros.
Os cabelos negros tinham o tom tão escuro, quanto a mais
terrível das almas humanas. E tão belos eles eram como uma promessa não
cumprida. Havia flores enroladas por toda a sua extensão. Sua pele parecia que
nunca tinha sido tocada por raios de um sol no verão. E seu vestido era tão
belo, que parecia exalar magia assim como da palma de suas mãos.
Não era difícil entender o motivo de seu meio-irmão ter se
apaixonado por ela. Qualquer um ali sentiria a mesma coisa.
Ela também tomou seu lugar no parapeito. Logo em seguida as
trombetas tocaram.
-Adentrando esse salão, o Conselheiro-Mor, Dagdarien. Mago
protetor de Arda, grande amigo de Taliesin e servo fiel de Avalon. Recebam ele
com o devido respeito.
Surgiu uma figura diminuta, que lembrava vagamente uma
criatura anã. Ele tinha dois tufos de cabelo que surgiam em sua cabeça, com uma
resplandecente careca no meio deles. Um manto vermelho cobria a diminuta forma,
enquanto se arrastava até o parapeito. Se não fosse pela aura poderosa, muitos
do grupo poderiam rir do pequeno homem. Mas muitos entendiam que se tratava de
um gnomo arcano de grande poder.
E novamente as trombetas tocaram.
-Bem que poderiam
parar com essas coisas – soltou sem pensar Thror.
Todos do grupo olharam com ares de reprovação para o grego.
Ele com o ar inocente que tinha, perguntou:
-O que foi?
Excluindo isso, o soldado continuou:
-Adentrando esse salão, o Conselho Arcano de Avalon.
Constituído de Gibraltan D’Asgard, mago das terras do extremo norte; Alfredo,
feiticeiro das terras próximas do Mediterrâneo; e Sakaubirontouski Subat, maga
das terras dos césares. Recebam eles com o devido respeito.
Eis que Gor solta um grito, como se a ponta de uma faca
tivesse perfurado suas costas. Lacktum perguntou o que ocorria ao inglês, e
então ele disse:
-Essa dor... Já a senti antes... Não há como ser outro. Eu
conheço Gibraltan... Ele participava dos Imortais Esquecidos. Ele é um
imortal...
...
Entrou primeiro Gibraltan, um homem de pele branca, com olhos
verdes cintilantes. Seus cabelos brancos curtos e pequena barbicha pontuda
concediam a ele certo ar cômico. Já o robe arcano trazia uma aura de poder, o
que era reforçado por uma grande pele de lobo que ficava ao redor de seu
pescoço. Possuía vários anéis ricamente adornados com ouro. Parecia um dos mais
velhos até então naquele salão, com exceção do gnomo.
O seguinte foi Alfredo, que surgiu mostrando a jovialidade em
um feiticeiro. Seu tom de pele acobreado mostrava que muitas viagens foram
feitas por aquele rapaz. E sua calça e seu colete não pareciam os típicos de um
arcano de qualquer lugar. Na verdade, mais parecia um aldeão.
Por ultimo surgiu uma anciã gnoma. Realmente muito velha. Ela
se apoiava em um cajado muito grande para seu tamanho. Soltava ganidos de dor a
cada passo, enquanto com a outra mão segurava sua pequena saia, apoiada por
varias meninas gnomas que de longe se pareciam muito com senhora. Como irmãs
gêmeas. Acontece que os olhos mais atentos dentro do grupo notavam que havia
algo de errado naquela cena. As tais garotas eram produto de magia. E até
então, eles contaram nove meninas.
Era possível notar também que Gibraltan soltava leves
espasmos de dor.
Lacktum, Halphy, Hugo e Arctus notavam que estavam diante de
poderosos arcanos.
-Tem certeza do que diz Gor? – com voz de temor fitando os
três arcanos.
-Lógico garoto! – esbravejou Gor com muita dor – Se passaram
séculos, mas reconheço cada um dos Imortais! E ele não mudou de nome! Era o
arcano que servia Kalidor!
-Se agüentem, - disse Halphy rapidamente e apreensiva –
vejam, acho que deve ser a ultima entrada.
-Adentrando esse salão, o Príncipe dos Elfos, Arda. Regente de
Avalon, Mestre do Arco Místico, protetor do Antigo Código e vassalo de vossa
majestade, rei Arthur Pendragon. Recebam ele com a honra de seus títulos.
Eis então que surgiu um elfo com ar superior a qualquer outro
já tenham visto. Possuía uma cota de malha com tom dourado, cheia de runas com
significado de defesa. Ele carregava em cada mão, uma arma de aparência
poderosa. Na mão esquerda, portava uma espada longa com uma bainha cheia de
desenhos de folhas de carvalho. Na mão direita, segurava um arco longo, que
estranhamente, não possuía um fio. Essa arma era cheia de pedras preciosas. Na
verdade havia especialmente safiras, esmeraldas, rubis, ametistas e diamantes.
Ainda tinha com ele um manto claro que cobria a parte esquerda de sua armadura.
E no alto de sua cabeça adornada com ramos, havia ainda uma coroa de louro, que
enfeitava o cabelo loiro daquele que era chamado de Arda. Ele então assumiu seu
lugar no palanque que o colocava acima dos aventureiros.
Os soldados élficos saíram do salão, enquanto o grupo
permanecia ajoelhado em respeito aos que entraram. Só Gor tinha que conter
parte da dor naquele momento. Foi então que ele conseguiu fazer a muito custo.
-Altair – proclamou Arda – quem são esses estrangeiros que o
acompanham? Eu sou príncipe dos elfos e regente de Avalon, e como tal, sei que
eles não são dessas terras... Com exceção de alguns que tem um pouco do sangue
das fadas. Inclusive vejo que existe um sidhe e uma fealith neste grupo. Não
compreendo como guia estes seres de um grupo tão bizarro até o meu salão!
-Mestre Arda – disse Altair, como se suas palavras tivessem a
intenção de ferir – eles estão aqui por motivos que superam o conhecimento de
vossa pessoa. Há pouco tempo – continuou ele, olhando para os aventureiros –
esse grupo foi atacado na torre de um amigo de Avalon. O arcano Azerov. Eles
foram encurralados devido a um plano maligno de um estranho exercito. Era
formado por anões, e seu estandarte pertence a Mallmor, o Príncipe Negro dos
Anões, traidor entre os traidores, assassino de lorde e imperadores.
Lacktum se impressionou com o que Altair conhecia sobre eles
e o que aconteceu. Eles não haviam falado nada daquilo. Mas isso, ele pensou,
se devia a magias poderosas que envolviam o mestre dos animais.
-Muito bem, ouvi falar de Azerov – soltou Morgana – Ele era
amigo de Númenori. Ele por acaso se encontra entre vocês?
-Não. Ele deve que ficar com a finalidade de se certificar
que as forças arcanas não seriam usadas para nos encontrar ou seguir – disse
Lacktum com um pesar em sua voz. Parecia que ele se lembrou de algo que o havia
deixado triste. A imagem de Azerov se fez presente em sua alma.
-Bem... Sabendo disso só há uma decisão a tomar – interrompeu
o príncipe e regente – O grupo será preso até se averiguar as informações
contidas em suas palavras. Caso sejam falsos seus relatos, todos estarão
condenados a morte.
-Mas vossa majestade... – falou Dagdarien inconformado,
acompanhado de Bors.
-Tenho dito! – respondeu.
Todos ficaram agitados devido a decisão do rei. Os magos
ficaram contra tal decisão, enquanto Bors e Dagdarien, mesmo sendo contra
tiveram que acatar suas ordens. Mas alguns, de modo perverso, lembravam que
Arda não era rei de Avalon, e sim, príncipe dos elfos que ali viviam. Era um
momento difícil. Tornou-se tamanha a confusão, mas a qual, LeFay não participou
pois fitava Madelyne. O grupo, mesmo correto de suas palavras não poderia
perder mais tempo, pois se algo não fosse feito, traria desgraça para o mundo
inteiro. Nesse momento Halphy olhou para a jovem encapuzada, como se lembrasse
vagamente das palavras de Azerov. Ele disse que Madelyne poderia ajudar eles.
-Madelyne – disse baixo a meio elfa para a calada ninfa – Não
sei o motivo, mas o velho caduco disse que você poderia ajudar muito a nós.
Você deve muito a ele, como nós. Pague sua divida com ele nos ajudando. Por
favor.
A encapuzada olhava a confusão que se instaurou nos
parapeitos. Era necessário arrumar aquilo.
-Azerov... Você sempre me disse que eu um dia voltaria para
cá. Mas nunca quis acreditar. Certo foi o ruivo que o chamava de velho louco...
E o tratava como pai.
Nesse mesmo momento a encapuzada encarou a poderosa
feiticeira de Avalon e compreendeu que apesar do medo que se instaurou em
Halphy, ela estava certa. O mago ancião havia protegido todos, inclusive ela.
Fosse fisicamente ou emocionalmente. Era o momento de retribuir.
A jovem se colocou a frente gritando:
-Regente de Avalon e príncipe dos elfos que vivem nessas
mesmas terras, gostaria que escutasse o que digo nesse momento, pois é de seu
interesse isso! Posso lhe conceder essa ilha!
Foi então que Arda, com um gesto rápido da mão, pediu
silencio a todos.
-Então mulher encapuzada, fale o que poderia ter consigo que
refletiria na mudança de minhas ordens? Pois saiba, - disse isso, olhando para
os membros do Conselho Arcano – que mesmo sendo contrariado em minhas decisões,
sou eu que controlo tudo em Avalon. Até as vidas.
-Se eu lhe conceder a chave para o poder você jura poupar a
vida de Gor, Lacktum, Thror, Halphy e todos os outros? Concede sua palavra como
rei que irá deixar todos vivos e livres?
Morgana soltou um pequeno sorriso. Os membros do grupo não
entendiam como Madelyne poderia os ajudar, mas a poderosa feiticeira sim. Assim
como Halphy sabia parte dos motivos. Ela sabia que isso se devia a verdadeira
raça da encapuzada. Mas nem imaginava a verdadeira extensão de seu segredo.
Enquanto isso, a ambição falou mais alto no coração de Arda.
-Esta bem. Se o que diz for verdade, não só concedo proteção
aos seus aliados, como os auxiliarei no que for preciso. Além de não os
prender. Mas me diga donzela, o que lhe traz tanta certeza que enfrenta um
príncipe como seu igual? É algum artefato digno de um rei? É uma magia com
poderes dignos de Merlin? Na verdade, não acredito em suas palavras, mas me
sinto com uma grande curiosidade no meu espírito sobre suas ações. Então diga.
Ela então retirou o capuz com muita calma e graça. Foi quando
o grupo de aventureiros, e as pessoas no parapeito se espantaram com a ação da
moça. Que não era uma simples mulher. A beleza dela superava as meras palavras.
Ela inspirava emoções tão diversas que parecia que poderia criar qualquer
sensação nos corações dos homens. Seus cabelos eram acobreados, sua tez
perfeita e seus olhos amendoados como a forma da mais pura das frutas. Não era
que um ser daqueles, como os elfos, era chamado de povo belo. E seu parentesco
com eles era notado com as orelhas longas e pontiagudas.
No momento em que fosse visto seu sorriso, alguns acreditavam
que conseguiriam sentir o calor reconfortante do sol em suas almas. Era como se
suas almas pudessem encher de um calor único. Mas ela não sorriu.
-Meu nome é Aluniel, princesa dos faunos e das fadas, filha
de Uriel, rei sob o carvalho sagrado. Ofereço-me para sua esposa, ó grande
Arda. A chave para obter mais poder na ilha sou eu.
...
Todos estavam a salvo em outro lugar. Era aberto cheio de uma
grama verde e concedia um ar de conforto a todos ali. Mesmo Arctus e Gustavo
que notavam símbolos referentes a druidas, deixaram sua intolerância de lado
para contemplar o lugar magnífico que chegaram. Lacktum e Hugo deram graças de
não precisar fugir ou enfrentar a guarda de Avalon. Já era tarde e haviam
acabado com as magias daquele dia. Por último, os guardas estavam muito bem
armados a ponto de impedir qualquer tentativa de revolta por parte dos jovens.
Especialmente de um grupo novo e quase sem forças para combater.
No lugar havia colunas de pedra bruta fazendo um circulo
envolta de um pequeno pátio de cascalho. No centro, um obelisco do tamanho de
um homem adulto. Era feito de um minério resplandecente e brilhante. Nele havia
um símbolo.
Os que conheciam de magia sabiam que aquilo representava
fidelidade.
A guarda de Avalon, Arda, Morgana e Aluniel acompanharam os
membros do grupo até aquele lugar, pois lá se encontrava a Pedra do Juramento. Teria
sido um lugar, segundo alguns, que foi criado por Viviane para testar a honra
daqueles que serviriam o rei. Ela também era usada para impedir estrangeiros
que tivessem más intenções contra a ilha. Era um procedimento conhecido por
todos que chegavam naquele lugar, mas nada havia sido dito até então para o
grupo. E a princesa dos faunos acreditou que com sua intervenção esse teste não
seria necessário. Um tolo engano.
Afastada de todos, Morgana falou aos ouvidos de Arda:
-Sua promessa não era de poupar os amigos da princesa
Aluniel? Não é necessário fazer o teste então. O que você quer com isso?
-Bruxa, não interfira! Eu digo o que é necessário ou não.
Quando for necessário. Mesmo por que não posso só confiar nas palavras da
donzela Aluniel. Então jovens – disse Arda, desviando a conversa para o grupo –
pousem suas mãos no símbolo do obelisco. E ouçam o que irei disser e me
respondam prontamente.
Então todos os jovens se aproximaram mais ainda da pedra.
Cada um fez o juramento apropriado. Inclusive Halphy que
todos, estranharam, não sentiu nada de errado. No final ela deveria ser uma boa
pessoa, pensaram alguns.
É que a Pedra do Juramento punia aqueles que mentissem para
ela. Os habitantes da ilha comentavam sobre a poderosa magia que teria fundado
Avalon e tudo ao seu redor no começo dos tempos. Lendas contam sobre a força
que ergueu pedras para proteger os homens e a natureza. Ela teria sido
depositada, uma parte, no obelisco.
No final, só sobrou Lacktum para fazer seu juramento. Ele
colocou sua mão sobre o signo.
-Me diga Lacktum Van Kristen, suas intenções nessa ilha são
boas? Trazem consigo só motivos verdadeiros, sem querer prejudicar essa ilha?
Jura em nome do Deus e da Deusa, do sangue real e das pessoas em Avalon e na
Inglaterra que seus atos serão bons?
-Minhas intenções são boas. Meus motivos também o são. E eles
sempre serão vossa majestade.
E como com todos os outros um brilho surgiu do obelisco e
cobriu o mago ruivo. Este por sua vez conseguiu, começou a sentir uma energia
que o revitalizava, misturada com uma energia boa cobrindo todo o seu corpo. A
magia criou uma sensação nova em cada um, um poder único que se assemelhava com
o abraço materno.
O que era engraçado é que Lacktum realmente disse aquelas
palavras com toda a vontade em seu coração. Sua vontade era proteger aquele
lugar, trazendo só a luz de seu coração. Mas como ele traria iluminação aos
outros se dentro dele só havia trevas?
...
Após isso, o grupo permaneceu um mês na ilha. Thror
aproveitou e forjou algumas armas para o grupo com o metal dos anões que Azerov
havia lhe dado de presente. Algumas delas continham em um de seus cantos a
palavra Azerov. Seria uma forma de representar tudo que ele fez para o grupo,
sendo que para Lacktum ele ainda estava vivo. O grego forjou uma espada longa
para si, dardos para a ladina e um cajado para o mago inglês. Além disso, o
cajado possuía uma pequena safira na ponta. Isso tudo graças a Gor, que servia
de mentor para o grego, tanto na forja como nos treinos de combate.
No período em que tudo isso ocorria, houve o casamento do
regente Arda com Aluniel. Muitos no grupo se espantaram com a revelação sobre a
encapuzada, mas adoraram ver o rito de enlace dos dois. A princesa das fadas
estava magnífica com cabelos acobreados presos num lindo laço ricamente adornado
com flores de cores diversas. Seu vestido era branco com detalhes verdes, cheio
de letras de origem druídica.
Aluniel falou o seguinte para Halphy antes de se casar:
-Como posso ser feliz? Não é por ser um casamento de
conveniências. Não é por achar que ele não vá ser um bom rei. Mas sinto que se
o fizer... Se nos juntarmos perante o Deus e a Deusa... Cometerei o maior dos
erros. Será que a rainha Gwynhywyfar se sentiu assim?
Halphy que dificilmente usava roupas cerimoniais o fez
naquele dia. Ela estava do lado da ninfa e a abraçou afetuosamente por trás
dizendo:
-Não temo que você seja como ela, pois você não é como eu...
Parte humana.
Aluniel então chorou, consolada por Halphy.
O casamento em si foi lindo, com a jovem meio elfa fazendo o
papel de madrinha para a princesa. Mas só a ladina feiticeira sabia que dentro
do coração de sua amiga havia tristeza. Para si, o casamento é um modo de
prisão para ela, afinal, não havia amor nenhum naquele ato. Mas o amor
verdadeiro vinha do sacrifício. Sem isso, não há pelo que viver se não estiver
disposto a pagar o preço equivalente.
Nesse tempo todo, Lacktum começou a treinar um conjunto de
magia conhecidas como a Arte do Destino. Elas mexiam com conceitos que poucos
conheciam. Havia nelas teorias de controle pleno sobre o tempo e o espaço. Com
ela se poderia se alterar o que estava para acontecer em um instante, graças
aos dois conceitos. O mago queria ser um dos homens conhecidos como mestre do
destino. Ele deve auxilio do antigo colega de Gor, Gibraltan.
Aliás, aprendeu algumas das magias mais apropriadas para sua
nova jornada com um dos lideres do Conselho Arcano. Resumiam-se em algumas
magias de abjuração, linha que normalmente não seguia. Mas notou que poderia
fazer bem mais do que a usar para matar, mas também para proteger e auxiliar.
Os dias em Avalon eram agradáveis, não fosse pelos olhos
severos dos soldados de Arda que sempre causavam grande medo a todos. Parecia
que ele sabia cada passo dado pelos membros do grupo. Ele consentiu com a
presença dos heróis devido a Aluniel, isso era claro. Não tolerava a presença
dos estrangeiros que manchavam o solo sagrado da Ilha Sagrada. Halphy conseguiu
uma maior liberdade, devido a amizade que possuía com a agora rainha dos elfos
de Avalon, assim como das fadas. Já o resto do grupo era restringido a treinos
e descansos.
Gustavo e Arctus treinavam dia após dia, tanto na arte bélica
quanto na religiosa. Parecia que aquele lugar, apesar de ser um foco de pagãos,
ainda aumentava sua concentração e poderes. Era como estar na presença do
próprio papa, pensava Arctus. Ele, porém, nunca se desviava da religião cristã.
Só Seton se enchia de comidas e bebidas o dia inteiro. Até
mesmo engordou um pouco durante sua estadia na Ilha Sagrada. Parecia que as
comidas do local eram mágicas, dizia ele, o que não estava muito longe da
verdade.
As frutas e legumes eram tratados com sais raros e
extremamente cheirosos. Era como se fosse possível melhorar o perfeito. Os
antes abatidos jovens pareciam melhorar suas aparências.
O que era possível notar foi à maioria da guarda militar ser
constituída de elfos. Quase não havia humanos, apesar de eles fazerem parte dos
cavaleiros daquelas terras. Alguns dos elfos serviam uma das ordens do lugar:
Ordem do Arco Místico, ao quais os membros colocavam magias nas setas de suas
flechas; Ordem da Espada Mística, ao quais os membros aumentavam seu talento
com espada através da magia; Ordem dos Cavaleiros Místicos, que serviam aos
preceitos da cavalaria ao mesmo tempo em que evoluíam seus dons arcanos.
E então chegou o dia
em que teriam que partir de Avalon. Arda convocou todos para uma reunião que
talvez decidisse os rumos dos jovens daquele momento em diante.
...
O dia não estava muito quente, mas melhor do que deveria
estar fora da ilha, pensou Lacktum. Ele se lembrou que já deveria ser inverno
fora daquelas terras. Logicamente isso se devia novamente a magia inerente na
ilha de Avalon. Depois de certo tempo se notava que a magia era auxiliada pelas
brumas. Mas Gibraltan alertou ao mago e a jovem ladina – que começava a mostrar
grande talento com feitiços – que as brumas também traziam problemas.
Chegaram ao pé de um morro. Acima era possível ver uma
construção circular. Havia uma pequena estrada de pedras bem colocadas que
subia até a tal construção.
Ao redor de Arda se colocavam membros da Ordem Mística e da
Espada Mística. Eles mais pareciam uma guarda de proteção ao rei do que um
grupo de soldados que estariam ali para enfrentar os perigos contra a ilha. Mas
o grupo não iria questionar os métodos de um povo que era tão diferente, e ao
mesmo tempo, tão parecido com eles.
O então rei Arda começou a falar:
-Então vejo que estão sendo bem tratados não é?
-Sim vossa majestade – disseram os membros do grupo.
-Bem preciso falar com três de vocês. Lacktum Van Kristen, Halphy Brown e Thror
Tzorv. Quero que venham até mim.
Os três caminharam até o rei, esperando o que ele tinha a
pronunciar.
-Vocês estão juntos a mais de cinco ciclos zodiacais[1]. E
percebo que três dos membros desse grupo não participarão mais dessa
empreitada. Gor terá que reportar tudo que ocorreu para a coroa inglesa. Já
Hugo e Richard vão acumular conhecimento nessa ilha para mais tarde auxiliar
todos vocês.
Nesse momento Lacktum olhou para os três querendo que
mudassem de opinião. Até então, quanto mais pessoas melhor seria. Mas Gor era
extremamente ligado a nobreza inglesa, o que significava que devia muito a
corte. Enquanto isso, o feiticeiro e o druida acreditavam não estar auxiliando
mais nas missões. Deviam isso ao fato de não participar nas incursões do grupo
já fazia um tempo. E não aceitariam a opinião do mago que queria a companhia
deles. O mago respeitou a opinião deles.
Ao se despedirem, cada um abraçou o outro como se o visse
pela ultima vez. De repente Gor, que foi o que teria causado toda essa
empreitada, tocou a face de Lacktum, como um pai que toca a face de um filho.
-Meu querido Lacktum cuide deles. Os guie. E não desvie desse
caminho de justiça.
-Vou tentar Gor. Vou tentar.
Os três antigos companheiros de grupo partiram dali.
Avalon era protegida, abrigada pela magia até mesmo contra as
forças poderosas do clima e da natureza. A magia envolvia a ilha como se fosse
uma colossal fortaleza amurada, debelando ventos mais fracos, raios de sol
fortes demais e as tempestades de inverno. E no meio de tudo isso havia uma
jóia forte em forma de cidade.
A famosa ilha criara no grupo uma nova sensação, como se
precisassem se unir cada vez mais. E por esse motivo Arda pronunciou algo que
já fora adiado demais:
-Seu grupo necessita de um nome.
-Mas eu já tenho um e gosto dele – soltou um ingênuo Thror.
-Ah me dê paciência! – grunhiu Halphy de raiva, enquanto
pegava o guerreiro pela cabeça – Ele estava se referindo ao fato de nosso grupo
não possuir um nome.
-Isso mesma minha jovem. Uma companhia como a de vocês
necessita de um nome. Algo que os defina como foram como são e como serão. E
que mostre um propósito. E então...
-Dragões da Justiça – Lacktum esbravejou.
-Como? – todos soltaram.
-Dragões da Justiça será a alcunha de nosso grupo.
-Eu gostei – disse Thror animado – Desde que não seja nenhum
dragão das histórias gregas.
-Eu também – falou Halphy abraçando o colega grego e careca,
que há pouco queria matar.
-Não gostei – contrariou Arctus se intrometendo na conversa -
Dragões são símbolos demoníacos do mal.
-Pois eu gostei – falou o druida Seton, sabendo que nem todos
os dragões eram maus.
-Então que esteja decidido diante de vossa majestade Arda:
nós de hoje em diante somos os Dragões da Justiça.
...
Mas não era só por conta da separação de alguns membros ou
por conta da decisão de um nome que eles foram reunidos ali. Arda queria que os
jovens estivessem preparados para o que iriam encara em sua jornada. Ele sabia
de coisas que ninguém deveria saber. O mundo lá fora parecia um pouco mais do
que os jovens estavam acostumados. E aquelas notícias se faziam necessárias.
-Descobri com base no que me disseram e dos documentos
entregues por Azerov a vocês, que os mapas que encontraram na França se
relacionam com certo homem. Kalic Benton II é o seu nome. Ele esta reunindo
exércitos pra tentar despertar o ser que repousa em Starten. Sim meus caros eu
sei sobre tal mal.
Quando notam, nas mãos de Arda havia um pergaminho ao qual
tinha sido entregue para Lacktum meses atrás. Agora que o mago conseguiu pensar
claramente, aquele pergaminho deveria conter dados sobre o que ocorreu até
então. Ele agora pensava que deveria ter lido aquela mensagem.
-Mas quem é esse homem, vossa majestade? – perguntou Halphy.
-Não sabemos – falou Arda em resposta – na verdade nem
imaginamos. Ele surgiu um pouco mais de um ano atrás nas terras inglesas. E ele
montou um grupo poderoso de criaturas conhecido entre eles como Pacto de
Guerra. O Pacto seria formado por três frentes. Uma delas vocês já conheceram.
Mallmor a lidera.
-Compreendo – soltou Arctus – um grupo de soldados formados
só por anões poderosos e bem treinados.
-Eu não achei – falou cheio de orgulho o guerreiro Thror.
-Cale a boca, grego! Não nota que entre nós, aqueles que
curavam foram imprescindíveis para rechaçar o avanço deles? – soltou paladino
nervoso.
Ele pensou em soltar toda a raiva que continha contra o
paladino de boca aberta, mas então se lembrou de outro homem com nome Salles. O
grupo ficou espantado com o braço levantado de Thror. Queria gritar, mas algo o
conteve.
O rei então continuou:
-O grupo foi reunido com seguidores de Mallmor. É chamada de
Aliança dos Mestres do Martelo. Também é a única formada por criaturas
humanóides ainda vivas. Já que os outros não possuem sequer pessoas com
consciência.
-Como assim? – perguntou um aflito Seton. Todos notavam que o
druida contrastava da coragem extrema ao pânico profundo quando lhe convinha.
-Não é claro? – Lacktum falou com seu ar de superioridade tão
comum, mas que pareceu sumir nesses meses – Jean concedia mortos ao ser que
repousa abaixo de Starten. Obviamente uma dessas facções é formada por mortos
famintos. Isso explica o grande fluxo da Canção dos Condenados que sentimos
naquele lugar. Não é isso majestade?
O rei confirmou isso com um rápido e delicado movimento de
cabeça.
-Essa aliança é formada por mortos que caminham. É chamada
como Aliança dos Mortos Despertos e controlada por Lyon Coração Solar. Ele é um
antigo mercenário que hoje segue os preceitos de Loki. E além deles, existe mais
um nessa tríade Sombria. Composta através de um experimento alquímico roubado
de Theoprastus Philippues Aureolus Bombastus Von Hohenheim. Os mais íntimos o
chamavam de Paracelso. Ele é um grande e poderoso mestre nessa Arte, apesar de
continuar afirmando que não é magia o que faz. Enfim... Ele descobriu como
selar almas em armaduras.
-E isso forneceria um exército para enfrentar quem seu mestre
decidisse. Um exército imortal mesmo! – soltou Arctus.
-Praticamente – falou com pesar o rei Arda – E o seu nome
demonstra essa habilidade poderosa. São tratados como a Aliança dos Imortais.
Seu mestre é o antigo cavaleiro que serviu um reino extremamente afastado
daqui. Diogo Fernandez é o nome dele.
-Não pode ser! – exclamou Gustavo de Salles.
E todos olharam na direção do paladino. Os olhos estavam
cheios de uma tristeza tão grande que dilacerava sua alma. Como seria, para
ele, que eles estavam para enfrentar um verdadeiro demônio com a lâmina? E que
ele o treinou?
...
Isso teria que esperar, pois as informações obtidas davam
conta de que o ataque que o inimigo planejava partiria da Inglaterra em direção
a Roma. Graças aos exercito formados por essas alianças comandadas pelo tal
Pacto de Guerra e também por se aliarem a um grupo poderoso de mercenários
denominado Bando do Tigre Demoníaco. Os doppelgangers que encontraram na cidade
próxima do templo de Ixxanon deveriam servir ao Bando como espiões, para os
intentos de Kalic Benton II.
O que Arda mais temia era que realmente aqueles exércitos
profanos tinham como meta Roma. Tudo fazia sentido, especialmente depois de
serem citados aqueles mapas. Como sempre, o rei dos elfos de Avalon já tinha
conhecimento sobre o motivo. Deveria ser por conta da Rosa Negra. Poucas
informações foram cedidas pelo próprio rei, mas se referiam à batalha que os
Imortais Perdidos tiveram na frente dos Portais Infernais. Os itens do
Desalmado e do Cavaleiro da Pele de Platina serviriam como tranca, já a Rosa
Negra poderia ser a chave para os intentos do líder do Pacto e de seu sinistro mestre.
A magia desse item poderia causar uma catástrofe em todo o
universo conhecido. Era perigoso.
Foi então que Lacktum começou a focar em sua mente em como o
rei obteve todas aquelas respostas sobre um inimigo até então desconhecido para
o grupo. Ele fez então a pergunta para o rei.
-Por isso meus jovens, que os trouxe aqui – disse ficando de
costas para os Dragões da Justiça o rei dos elfos. Interessante como mesmo
casando com Aluniel, poucos os tratavam como rei dos faunos também pensava um
ou outro no grupo. Mas isso não o incomodava, aparentemente. Ele começou a
subir a colina, junto com seu grupo de arqueiros e cavaleiros arcanos. O grupo
de aventureiros então acompanhou o líder élfico.
A colina era pequena, mas não se podia notar o que havia da
parte mais baixa dela. Quando notaram as pedras que viam, parecia uma casa semicircular
ao redor de algo ou alguém. O chão no centro era de cascalho fino e estava
cheio de runas arcanas. Os mais atentos e conhecedores de poderes já notavam
qual era a intenção daquela magia: era um circulo de prisão. Era um círculo
contra demônios.
No meio da construção havia uma forma quase humanóide. Porém
era visível logo que se observava que possuía escamas, um par de chifres
partidos e uma mandíbula destroçada.
Todos pararam em frente ao ser. Ao lado da construção já
estavam vários soldados e a poderosa Morgana, com Gibraltan ao seu lado.
Ninguém entrava no circulo da construção, isso era claro. Extremamente visível
para todos.
-Meus caros, este é o nosso informante – falou Arda apontando
com uma das mãos para o estranho ser.
-Vocês aprisionam um demônio e retiram informações dele? Como
confiam em suas palavras? – um Lacktum preocupado.
-O mago tem toda a razão! Não há como confiar em uma dessas
crias do Inferno! Vossa majestade deveria o destruir! – soltou com ferocidade
Arctus.
-Antes que falem qualquer coisa, saibam que este demônio foi
torturado para conceder as respostas – se explicou o rei e regente – Os
responsáveis por obter essa informação foram Morgana e Gibraltan.
-Nós temos poder o bastante para extrair as informações –
falou com convicção Gibraltan.
-Não se preocupem as informações são confiáveis – assentiu
Morgana com relação ao que falou o mago.
Todos estranhavam a situação, mas estavam prontos para o
próximo passo. Saber o nome da criatura maligna.
-Ora essa... Se não é o fedor podre do louco Gibraltan
D’Asgard. Além é lógico de cheiros novos... Mas com a mesma fragrância podre
que vocês Imortais possuem. E o que sinto aqui? Novos cheiros... Que se parecem
tanto com o passado podre daqueles malditos... Imortais
E então que notaram, que o olho de forma humanóide daquele
ser se fixou nos aventureiros. Como se conseguissem ler as almas daqueles que
estavam ao seu redor. E o pior é que eles estavam em perigo sabendo disso. O
medo, porém, tomava tanto suas almas que eles não se moviam. Nenhum deles.
...
O nome era Syrus. Era um demônio e um lorde infernal que
fazia parte dos Cavaleiros Infernais, um conjunto de criaturas poderosas que
viviam no Hades – mais precisamente o Tártaro – controlando os orbes de poder
daquele plano. Os seus poderes eram grandes, majestosos o bastante, pois se
eles fossem mandados por seu mestre, teriam chances de derrotar o Olimpo.
Alguns temiam que eles não conseguissem matar nenhum dos Três Grandes Lordes do
Olimpo, mas seus poderes eram o bastante para cortar ao meio o Monte dos Deuses
e rasgar ao meio as nuvens em que as divindades pairavam. Como dito seus
poderes eram tamanhos, mas devido à força de seu lorde, Hades, Senhor dos
Mortos, Mestre dos deuses ctonianos. Mesmo assim ele nunca foi uma entidade
bélica, assim como seus Cavaleiros tinham mais uma função de guarda.
As tropas que comandavam eram tão poderosas que eram temidos
por todos os outros mundos inferiores. Mundos para onde eram mandadas as almas
depois de perderem sua casca humana.
Mas tudo isso mudou com a morte de Perséfone, a rainha das
trevas, filha de Deméter, a guardiã dos segredos dos mortos e esposa de Hades.
O Senhor dos Mortos começou a valer sua alcunha depois
daquilo. Seus planos seguiram por éons, medida cronológica que supera as
proporções humanas. Até que em determinado período, no mundo humano, um dos
planos do deus ferido no coração começou a se concretizar. Para tal, ele
precisava de um território com grande extensão de poderes arcanos e onde os
humanos não conheciam sua índole. O tal território seria chamado mais tarde de
Inglaterra.
Para que suas intenções surtissem efeito, era necessário
colocar alguém de confianças no plano terrestre. Hades pensou em seu Cavaleiro
Infernal mais confiável, Syrus, mas esse era poderoso demais para conseguir
passar pelas fendas dimensionais do seu plano até Gaya. E isso fez com que o líder do servos de Hades optasse por um ser sem tanto poder, mas
extremamente habilidoso para agir por seu mestre. O nome era Kayla Sabá.
O demônio com forma feminina poderia corromper um grupo de
heróis, destinados a se intrometer em alguns dos planos de Hades. Tudo corria
bem, até que ocorreu algo estranho. Ou pelo menos inesperado. Os aventureiros
eram dos Imortais. Seu líder máximo Kalidor Hein Hagen, ao qual Kayla começou a
sentir amor por esse mortal. E Syrus era o antigo amante de Sabá.
...
Então o demônio começou a soltar todo seu veneno.
Especialmente quando reparou que havia um grupo formado diante dele. Criaturas
demoníacas têm o dom de ler o que se passa nos corações temerosos. Mas ele
precisou notar que havia muito mais do que imaginava.
-Há quanto tempo não vejo tantas flores arrancadas de suas
terras natais – soltou a forma disforme atrás das runas arcana – Me parece que
vocês sofrem muito... Há tempos...
-Não prestem atenção nele! – disseram o rei e a poderosa
feiticeira.
-É melhor partirem – começou a falar o mago imortal – Sinto
que as runas estão enfraquecendo.
Os soldados começaram a afastar lentamente os membros do
grupo. Quando estavam prestes a partir o demônio começou a pronunciar palavras
que afetaram Lacktum.
-Mago inglês – ele começou – É possível notar com vocês, um
homem que se diz grego. Não sabe de onde vem, nem quem é. Pois bem, lhe cedo
esse aviso... Não! Uma premonição! Você sofrerá mais uma vez, todos sofrerão...
E tudo se deverá a Thror! Preste atenção, arcano ele será a ruína de tudo que
ama. Como de tudo que existe.
As palavras de um demônio podem ser horríveis e falsas, mas
podem conter uma verdade escondida em cada parte de sua maliciosa elaboração.
Lacktum queria saber se as palavras de Syrus possuíam algum sentido.
Mesmo assim, o grupo inteiro foi embora, deixando só os magos
e o demônio naquele lugar. Todos os jovens corações estavam aflitos.
Chegaram então ao litoral. A ilha era grande, mas havia
momentos em que parecia que a magia de Avalon falava mais alto nos sentidos.
Parecia que os movimentos se tornavam tão rápidos quanto o vento. E o vento,
quase sempre, trazia coisas boas e más.
Lacktum questionou quem era o tal Paracelso ao rei. Arda
confessou não saber muito sobre o homem, afinal, ele usava um tipo de magia
única. Era um gênero de transmutação conhecida pelos mais sábios como alquimia.
Era como se misturasse a Arte com diversos cálculos. E as criaturas que ele
criou acabaram sendo usadas para servirem Kalic Benton II. Eram denominadas
como revenants por conta de uma lenda antiga. Apesar desses seres não possuírem
um vinculo direto com o Além. Lembravam mais construtos poderosos.
Enquanto conversavam, surgia uma estranha embarcação nas
águas daquele lugar. Parecia possuir uma pequena cabine de madeira tosca.
Barulhos de estalos eram escutados o tempo todo. Talvez, eles se devessem a
estranha fumaça que surgia de um cone de ferro da parte principal do navio, mas
ainda era impossível saber. A construção marítima em si, era grande, podendo
caber todos os membros dos Dragões da Justiça. E esse era o medo de boa parte
do grupo. Afinal, por algum motivo, parecia que aquele monstro em forma de
estrutura marinha iria explodir a qualquer momento.
-Essa embarcação irá os levar até o reino humano – disse
Arda.
-Diz até a Inglaterra, Vossa Majestade? – perguntou Lacktum,
descrente.
-Nessa coisa? – soltou Halphy.
-Exato disse o rei e regente – E se me permitem, devo me
retirar para tratar de assuntos urgentes de Avalon. Que Aquele Que É, É lhes
traga boa sorte no caminho. Os anfitriões do barco irão ajudar vocês com itens
e informações de para onde devem partir.
Foi então que Halphy perguntou:
-E Aluniel? Não irá se despedir de nós?
Arda estalou os dedos, e como efeito de pura magia, surgiu
então uma montaria grande com pelos castanhos e com crina quase prateada.
Lacktum tinha certeza que aquilo se devia ao poder latente da Arte por todo o
território. O elfo de grande porte montou no cavalo.
-Ela também mandou desejos de sorte a todos vocês – ele
proferiu.
Então, o cavalo trotou em direção a grande cidade no centro
de Avalon.
Todos subiram na embarcação, e reparam que uma pequena porta
na cabine. O jovem mago Lacktum abriu de uma vez ela. Quando observou o que
havia lá dentro, se espantou e riu.
Havia sete figuras lá dentro. Duas delas já eram conhecidas
do grupo quando chegaram à ilha. Furta-Trufas estava dentro de um barril de
frutas, escondido, tremendo e comendo. Era possível notar melhor aquilo com o
rabo do texugo.
Já o pequeno, mas corajoso, Valente, brigava com três das
figuras que ali estavam.
As três figuras eram um gnomo, um kobold[2], e
um goblin. Os pequeninos seres apesar de suas formas eram extremamente
parecidos. Inclusive em suas roupas cheias de fuligem, que pareci ser de
arcanos atrapalhados.
Por último, observando a tudo, estavam uma águia e um cão. A
ave de asas majestosas se mantinha séria e impassível. Já o cachorro, ficava
deitado, com o focinho fechado com ar de reprovação. Isso se devia ao fato de
todos olharem a discussão dos três contra Valente.
Foi então que o recente líder dos dragões perguntou:
-Mas que tipo de loucura se apossou desse lugar?!
-Ah! Inimigos invadiram o barco! – gritou o kobold.
-Ei! Esperem...
Os três seres pequeninos partiram para cima do ruivo, que
caiu ao chão como uma fruta madura.
-Mas que demônios são esses? – soltou Gustavo, com um rosto
mais cheio de ironia do que raiva.
-Nós somos os Wadonski! – falaram em coro os três.
-Wachowski? – perguntou o grego.
-Wadonski – corrigiu o goblin.
-Nós somos fabricantes de armas – falou o kobold.
-Mais ou menos – disse o gnomo.
-Eram vocês os tais a que Arda disse que iriam trazer os
itens? – disse Halphy.
-Sim – novamente falaram os três em coro – Devem ser os
jovens ao qual o rei pediu que guiássemos ao mundo humano.
-Bem, e nos levarão até a Inglaterra – perguntou Arctus.
-Com toda a certeza – soltou o goblin.
E no meio da cabine, continuavam em cima do pobre Lacktum, os
três diminutos seres. Foi quando o mago pigarreou, pedindo ajuda.
-Aham! Vocês poderiam sair... De cima... De mim?
-O que foi? – falaram novamente em coro os três, enquanto
olhavam para o mago.
Foi então que Valente bateu com sua patinha dianteira nas
costas do goblin.
-Acho que ele quer se levantar – falou o suricate.
-Ah sim! – soltou o gnomo.
-Desculpe! – soltou o kobold.
-Mil perdões! – soltou o goblin.
-Tudo bem, tudo bem... – falou o mago ajeitando suas vestes.
Foi então, que o mesmo se questionou:
-Por qual motivo brigavam?
Os três se olharam como se estivessem extremamente
pensativos, dizendo em seguida:
-Não nos lembramos.
Aqui cabe uma nota. Os Wadonski são filhos adotivos de um
anão. Durante a Guerra do Arco e do Machado, eles teriam sido encontrados por
acaso. Então foram cuidados como os seus três filhos, apesar de muitos falarem
contra essas adoções. Como um anão seria capaz de cuidar e tratar de seres tão
diferentes, e que eram inimigos de sua raça? Mas foi assim mesmo que surgiu a
família Wadonski.
Esse não era o nome do anão. Ele concedeu esse nome aos
filhos adotivos, pois esse era um antigo jargão dos anões. Significava bagunça
ou perigoso, cheio de barulho e era o que trazia os pequenos seres. Além de
servir como um tratamento de ofensa.
Enquanto cresciam forjavam itens para o pai quando atingiram
uma boa idade. Após a morte do pai, que já era velho quando teria os encontrados,
os três irmãos ficaram com a forja, criando itens para todos que pudessem
pagar.
Ninguém soube onde eles foram encontrados, muito menos quem
seriam seus pais, mas isso pouco importou para eles. Assim como para os homens
de combate de Avalon. Suas armas sempre foram muito visadas pelos guerreiros da
ilha, devido a boa qualidade e a rápida criação delas. E os pequeninos que eram
vistos com preconceito, ganharam glória notoriedade. Merecida.
Os membros do grupo ficaram sabendo disso pelo pequeno
Valente. As devidas apresentações foram feitas para cada um dos irmãos. E então
foram apresentados os animais guias.
-Como assim? – falou o druida Seton.
-Animais espirituais que irão guiar vocês até o Portal de
Ixxanon – começou a falar o cão. Muitos até iriam se impressionar se não fosse
pelo fato de terem visto tantos outros animais que falavam.
-Portal de Ixxanon? – perguntou o paladino.
-Sim – continuou o enorme e belo cão de pelos dourados – O
Portal é usado para levar a uma determinada direção em nosso mundo, ou até mais
além dele. Foram criados pelo próprio Ixxanon antes de ascender como divindade.
Mesmo assim, muitos foram destruídos com o avanço da religião cristã.
Logicamente, muitos acreditavam que se tratava de templos pagãos. Mas poucos
sabem onde se localizava os verdadeiros templos dessa fé.
-Acha que o paladino que o paladino quer saber, - falou um
Lacktum mais direto – Para onde vamos? Alias... Qual é o seu nome... Cão?
-Alexander. E o lugar para onde vamos é um segredo até
chegarmos ao Portal. Ordens do próprio rei.
-Certo – falou Thror, parecendo que entendeu tudo
logicamente, mas não havia compreendido nada.
-E seu amigo se chama? – disse Halphy, apontando para a
águia.
-Fiel. Ele nos ajudará a chegar até lá – explicou Alexander –
nos cedendo informações que quem só domina o ar pode fornecer.
-Eu não gostei do nome dessa águia, nem dela em si – disse o
grego.
-De quem não gostou? – olhou com estranheza a ladina meio
elfa para seu amigo – Do cão?
-Não! Da águia! Oras!
Os irmãos trouxeram cada um, fardos com alguns itens. Eles
foram cedidos aos Dragões de acordo com seus poderes e habilidades.
Para Thror, o gnomo trouxe um peitoral de aço cheio de
detalhes arcanos. Parecia não ser uma mera armadura. Além disso, trouxeram
também até ele uma lâmina tão afiada quanto curta. Seu fio parecia ter sido
trabalhado durante horas. O grego chamou aquela arma de Corte Bom. Um nome
bobo, segundo Arctus, Halphy e Lacktum, mas o guerreiro já havia colocado a
arma na bainha. Parecia que faria grandes feitos com ela.
Já Halphy, recebeu das mãos do goblin também dois itens: uma
adaga e uma esfera de cristal. O Wadonski disse que a lamina da arma sempre
retornava ao seu portador, quando lançada em certa direção. E a esfera de
cristal ela sabia como funcionava, já que sua mãe se utilizava desse item.
Podendo ver através dela, conseguia enxergar longas distâncias. E dependendo da
esfera, se comunicar através dela.
E então Gustavo recebeu uma espada longa cheia de runas que
provinham de Avalon, era claro isso. Ela era preenchida com pura energia
divina. Força que parecia surgir da fé de um paladino. Fé que surge quando se
quer proteger algo ou alguém.
-Muito bem armados – disse Thror colocando arma em sua
cintura.
-É, mas – Lacktum começou a falar depois que notou algo – o
que os dois estão fazendo aqui?
Foi então que todos se deram conta do motivo da briga que
pararam. Valente e Furta-Trufas. Estavam ali como clandestinos para entrar na
aventura. Mais por Valente, do que por Furta-Trufas.
Lacktum ficava na parte de fora, olhando o cajado forjado por
Thror para ele. Eles começaram a forja desse item na torre de Azerov. Era feito
do famoso metal de anões. Quando terminou, na ponta do cajado havia um rubi,
tão lindo que quando fosse preenchido com magia, seria poderoso. Mas por
enquanto era só belo.
O goblin Wadonski chegou até Lacktum para conversar com seu
novo passageiro, que estava perdido em pensamentos. Enquanto a embarcação
cruzava a água, o duende verde falou:
-O que te aborrece humano?
-É Lacktum! Bem... -
procurou as palavras certas para começar – me tornei líder do grupo dos
Dragões da Justiça, por ordem de Arda...
-Foi por ordem da grande rainha Aluniel – corrigiu o goblin –
Ela gostou de vocês.
-É... Eu também. Mas eu não sei se triunfarei como líder
desse grupo. Temo pelo que pode acontecer. O destino de muitos, esta ligado ao
nosso. E eu quero muito terminar algumas pendências pessoais.
-Se não consegue fazer isso, desista.
O mago inglês colocou a mão na testa.
-Mas eles contam comigo!
-Então não desista.
Lacktum fitou com ar de raiva e reprovação.
-Muito grato por nada!
Existem muitos dragões de diversos tipos e tamanhos, tons de
pele diferentes e poderes sobrenaturais. Tudo isso é algo raro, praticamente
único. Vocês são únicos pois trazem consigo algo.
-Justiça?
-Não! – soltou sarcástico o goblin – Eu estava me referindo
ao careca idiota que acompanha vocês! Lógico que é a justiça! Um nome deve
representar o que você é por dentro e por fora. Não importa como isso ocorra.
Já ouvi nomes de princesas que ficavam próximos de plantações. E de diversos
lugares diferentes. Sempre simbolizando algo. O que os Dragões simbolizam?
Enquanto a embarcação se aproximava do litoral, Lacktum
segurava o cajado com força. Os Dragões representariam algo. Acima de qualquer
conceito mundano. Afinal um dragão continha poderes para muitas coisas boas ou
más. Independente de sua cor, ou tamanho, ou tipo dos corações dele.
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