segunda-feira, 30 de junho de 2014

(Parte 21) Capítulo Um: Coração sangrando


A terra dos Scots. Colonos que teriam vindo pelo mar. Se estabeleceram no norte da grande ilha há alguns anos. Os povos bretões acreditavam que eles eram piratas, invasores e ladrões. Mas mesmo os ingleses tinham que admitir os valores contidos nos guerreiros daquele povo. Suas espadas e machados se mostravam cada vez mais poderosos se tratava da liberdade de sua terra e de quem amavam.
Naquelas terras, muitos heróis surgiram. Entre eles o poderoso guerreiro Galtran Coração Prateado.
Galtran é o guerreiro que simbolizava os preceitos das Terras Altas. Um homem de passado extremamente honrado. Sua lenda remonta, principalmente, o Vale das Esmeralda: seu lar, terra natal e covil de uma fera ancestral. Quando o guerreiro de cabelos ruivos era jovem, os homens do Vale enfrentavam muitos problemas devido a uma raça de humanóides com face de lagarto. Alguns diziam que eles eram frutos de experiência de um ser ancestral que residia nas jazidas que ficavam nas proximidades. O pai de Galtran teria enfrentado sozinho esse ser, mas morreu.
O próprio Galtran enfrentou o monstro duas vezes. Uma dessas vezes teria sido nos Portões Infernais. O encontro inicial com a temida fera foi no Vale das Esmeraldas.
E existem lendas desse confronto. Uma delas trata sobre os cortes que nunca cicatrizam. A fera era muito poderosa, na época, para os Imortais Esquecidos. Os componente do grupo eram James Gawain, Meg Ryan, Agness Idisamir, Edgar Felkar, Demetrios D’London, Zoltan e o próprio Galtran. O bando enfrentou o monstro sem conseguir fazer muitos efeitos. Porém, a raiva de Galtran e a fé ensandecida de James, fizeram uma ferida perto do olho e outra na mandíbula, respectivamente. O confronto foi relatado pelos bardos como, a Canção dos Dois Cortes na Alma.
Coração Prateado era tratado como uma lenda. Mas poucos sabiam que não era só uma história de conto de fadas, mas sim um herói que vive até hoje. Ele é mais que um guerreiro lendário, era o protetor das Terras Altas.
E logo, todos os Dragões da Justiça saberiam o que um legado dessa magnitude significava. Não das vitórias, mas das batalhas que perderiam. Essas sim, nunca esqueceriam.

Em um castelo, ainda na Inglaterra, um homem mascarado olhava na arquibancada em direção ao horizonte. Um homem chegou até o sinistro Kalic Benton. Era um mensageiro.
-Mestre. Tenho informações do mestre Diogo.
-O que ele relata?
-A mensagem dizia que ele encontrou Van Kristen e Salles. Parece que os dois já cruzaram as fronteiras do reino com seu grupo. Halphy também os acompanhava.
-Muito bem... É certeza que vão até o Portal de Ixxanon. Pelas informações que meus espiões concederam, era essa a direção que tomariam. Só não sei qual o motivo... Para onde estará indo exatamente?
O mensageiro estava quase indo embora, até que o mago mascarado apontou para ele.
-Avisem Daehim – começou ele – Com o surgimento do grupo deles, conforme nosso plano em Van Sirian... Precisamos nos preparar. Os corpos foram levados até o Vale das Esmeraldas?
-Sim mestre! – disse o mensageiro prontamente – Foram protegidos e colocados naquele lugar conforme as especificações. Alias o filhote do dragão também foi levado como nosso mestre pediu. Os magos já fizeram as runas que foram pedidas.
-Excelente! Logo nosso mestre ressurgirá. Mande a mensagem para Daehim e se lembre que Lacktum e Halphy não devem ser tocados.
-Como quiser mestre Kalic Benton II.
O mensageiro começou a andar apressadamente. Enquanto isso, o mago fitava o horizonte. Então, uma voz no salão começou:
-Kalic... Não gosto de seus joguinhos com Lacktum. Isso compromete a minha ressurreição!
Saindo na arquibancada, era possível ver o interior do salão claramente. No fundo uma imensa fogueira verde. Era dela que a voz vinha. As chamas crepitavam mais, com a raiva e o rancor da voz. Que era oculta sua localização exata pelo fogo.
Foi quando o mago voltou ao salão, olhando direto naquele ponto.
-Mestre, sua ressurreição é certa. Não se preocupe. Lacktum irá morrer lhe asseguro. Só lhe peço mais tempo para concretizar meus planos.
-Só permito seus planos tolos, pois compreendo o que a vingança significa para alguém... Continue meu filho insolente! Destrua Lacktum em corpo e alma!
-Eu o farei – disse Kalic Benton II – Esteja certo que eu o farei mestre...
Falando isso, o mago mascarado se levantou e foi em direção do parapeito. E em sua alma corrompida, só existia um só pensamento. O nome do último Van Kristen que vivo.

A neve batia nos joelhos de boa parte dos Dragões da Justiça. O mesmo não se poderia falar sobre Rufgar e os animais. Eles engoliam gelo pelo rosto e focinhos. Mas Seton não se preocupava muito com o anão. E que motivo teria para isso? Ele era um inimigo.
Foi quando notaram que passaram as fronteiras, que Lacktum pediu que parassem. Estavam em uma planície amplamente aberta. Thror se aproximou do anão indefeso. Os outros só olhavam. Ares de reprovação deixavam Rufgar com medo. Que motivo eles teriam para fitar ele daquele jeito? A não ser...
-Thror, - ordenou Lacktum – agora!
Eles iriam o matar! Maldita plebe humana, pensou Rufgar! Isso era de se esperar dos humanos. Quando a sua serventia terminasse o... Soltariam?
-Mas como? – Rufgar ficou confuso – Qual motivo tem para fazer isso? Sou um soldado inimigo!
As cordas que o amarravam há dias caiam pelo golpe da espada curta de Thror. Em seguida, ele a depositou em sua respectiva bainha.
-Eu pensei o mesmo – soltou o grego – Mas se fosse por mim, você seria decapitado imediatamente. Sorte sua anão! Se eu fosse o líder...
-Nós não faríamos parte desse grupo – terminou Seton.
-Ora seu...
-Silêncio Thror! – falou Lacktum, apartando a discussão – Não temos tempo para isso. Devolva as coisas dele.
-Esta bem – falando isso, o homem da cicatriz pegou um machado e a armdura que pertencia ao próprio Rufgar.
Ele começou a colocar os itens, com olhar da desconfiança para os Dragões. Não entendia como a cabeça daqueles filhotes humanos funcionava. Um inimigo deve ser morto ou rendido, nunca liberto. Isso explicava a pouca idade avançada que os humanos atingiam. Não tinham corações feitos de terra como os anões.
-Bem, agora esta livre para partir – disse Arctus com os braços cruzados.
-Parta Rufgar – falou Lacktum sorridente.
O anão terminou de ajustar a armadura e colocar o machado em suas costas.
-Tem certeza disso? – disse Rufgar ainda não acreditando.
-O que foi? Quer voltar a ficar amarrado – disse Halphy se aproximando e colocando a mão na cintura – Vocês anões são tão esquisitos.
-Certo! Então partirei. Mas isso não ficará assim Van Kristen! Um dia, meu mestre o enfrentará!
-Conto com isso Rufgar – Lacktum falava isso segurando com força sua adaga. Aquilo parecia um instrumento de vingança, sempre pronto a destruir quem quer que fosse. E agora, não só Kalic, mas Mallmor se tornou seu alvo. Tudo por Azerov.
Foi quando Nico se aproximou do mago inglês. Estranhamente, o feiticeiro tinha um poderoso efeito apaziguador na alma de Lacktum. Ele já havia notado isso na Grécia. Mas pelo calor do momento, não concedeu a devida atenção. Além de já ter sentido aquela aura em outro lugar.
De repente, Lacktum disse:
-Mas prefiro que, que um dia encontrar Mallmor possa dialogar.
-Assim também espero Lacktum Van Kristen – nesse momento o anão correu na direção contrária do grupo. Obviamente, querendo cruzar a fronteira. Algo mudou em sua alma. Será que os humanos eram todos tão terríveis quando os boatos diziam?
Os Dragões caminhavam na direção de seu destino inicial, com exceção de Lacktum, Alexander e Nico. O mago fitava a estrada que o anão tomou. Ele simplesmente observava Rufgar sumir na neve, esperando que algo mudasse. Que o ódio também sumisse. Mas como faria isso, se nem ele conseguiu livrar da vontade de imensa de matar? O ódio sempre esta nos corações das raças, não importa como.

Dias se passaram desde que  o anão foi abandonado na planície. Lacktum estava inquieto em sua mente. Precisavam chegar logo ao Portal de Ixxanon, para voltarem a se concentrar na busca dos artefatos. Nem sabiam se o ser ancestral que estava em Starten despertou. Havia muitos problemas a serem resolvidos para uma excursão inconseqüente. E no topo dos problemas estava Kalic Benton II. O assassino de sua vida passada.
Halphy se incomodava era com Seton. O maldito druida andava pela neve melhor que Furta Trufas. Enquanto todos se esforçavam para atravessar o mar de gelo, ele conseguia se movimentar livremente. Mesmo assim, ele não poderia ver o que estava próximo das árvores.
-Fiel! – ela gritou para a águia.
-O que foi? – enquanto abaixava até chegar próxima da ladina.
-Vá até aquelas árvores. Acho que notei algo ali.
-Certo!
O grupo parou no meio do caminho. Halphy, assim como os outros, achou que poderia ser um batedor do inimigo. O que poderia causar grandes problemas se caísse nos ouvidos do oponente, que um grupo cruzava aquele território. Mesmo que Kalic Benton estivesse os manipulando não se atreveu, até então, a comentar para as tropas onde os Dragões da Justiça estavam. Se soubessem, o grupo já teria sido destruído. Ou simplesmente queria o clima de paranóia instalado entre eles.
Foi então que Fiel voltou.
-É um homem! Extremamente ferido!

Ele despertou. E a sua volta havia vários rostos diferentes. Um deles possuía uma enorme cicatriz na testa. Outro tinha cabelos vermelhos. Havia ainda um rosto feminino e de animais. Alguns bem esquisitos. Mas o que mais notava, era o rosto do que parecia ser um padre. Afinal, o estava curando.
-Ele esta bem? – perguntou Furta Trufas.
-Já disse que sim – respondeu Arctus.
-O que o feriu? – perguntou mais sabiamente Halphy.
-Agora sim uma boa pergunta – soltou um padre – Há feridas por todo o corpo e de diversos tipos. Acredito ser produto de magia. Mas, estranho... Nunca vi feridas tão dispersas.
-Olhe! – se espantou Valente – Despertou!
O acomodaram próximo a uma árvore enquanto Arctus tratava das feridas.
-Meu caro, o que houve? – questionou o sacerdote preocupado.
-Fugi da minha vila. Fomos atacados por ogros e o seu líder arcano. Eles vieram atrás de nós e nossos itens. Com muita sorte, consegui escapar. Mas não sem antes ser ferido.
-Realmente. Olhem! – falando isso, todos, com exceção de Lacktum, fitaram o suposto ferimento da mão. Não era um golpe, e sim, uma petrificação do membro. Literalmente, petrificado. Seu braço esquerdo completamente em pedra.
-Meu Deus! O ogro fez isso com você? – perguntou o padre.
-Um ogro com tamanho poder arcano seria um grande problema – falou com temor Seton.
-Mas não se trata de um ogro – soltou o homem ferido – Era uma prole de Argos[1].
-Argos? – se questionou Lacktum que ouvia tudo quieto até então.
-Havia dois Argos nas lendas antigas – começou Thror em um de seus acessos de sabedoria, muito raros – Um deles era o navio usado por Jasão e os argonautas. O outro era um monstro extremamente poderoso com vários olhos.
-Onde esta o Thror que eu conheço? – falou Halphy rindo da explicação do grego. Este parecia estar em um transe.
-Uma prole pode ser perigosa. Muitos desses monstros possuem com habilidades nos olhos que os tornam em arcano naturais. Perigosos demais.
-Ele pareceu aproveitar que essas terras estão sendo atacadas por seres bizarros para tomar nossa vila – completou o ferido.
-O que tem de tão importante lá?
O homem engoliu seco. Gustavo notava que ele falava parecia verdade. Mas também, que as próximas palavras entregariam um grande segredo.
-Eu... Venho da Vila dos Meios-Sangue.
-Como? – falou curioso Valente.
-Essa é uma lenda das Terras Altas. Refere-se um território composto por pessoas que descendem de cruzamentos entre as raças – falou Lacktum, aproveitando para citar o que conhecia – Realmente, agora que pude notar que ele é um fealith.
-Como o chamou? – disse furiosa Halphy, enquanto preparava sua mão com uma magia.
-Ah nada – desconversou o jovem.
Ele continuou:
-As lendas contam sobre um antigo tratado entre as raças, em que suas progênies não seriam desrespeitadas, nem usadas como peões em guerras. Logicamente, nem todos concordaram com o plano, mas os poucos que o fizeram criaram uma vila. A lenda chama de Meios-Sangue. Já que os filhos ficaram naquele lugar para manter as tradições de paz, esse nome foi dado. As lendas contam que ela é composta por filhos de elfos, dragões, demônios, elementais e toda a sorte de criaturas antigas. Com certeza, existem itens poderosos naquela região também.
-Bem, vamos cuidar do problema desse pobre coitado, então vamos lá – soltou Arctus, enquanto levantava o pobre homem.
Lacktum olhou com reprovação para o padre.
-Nós não vamos para a vila.

Arctus não era como os padres comuns. Ele tinha iniciativa e força de vontade. E deixar aquelas pessoas em perigo era algo que ele não poderia admitir. O padre quase sacou sua maça, quando Halphy interferiu.
-Deixa que falarei com o mago – ela disse.
-Esta bem – ele concordou.
Halphy se afastou de todos, levando Lacktum com ele. Precisava falar com ele longe do padre e do paladino. Pois também notou a cara de poucos amigos de Gustavo. Quando estavam longe, falaram.
-Vamos lá – começou ela – Me explica.
-Você notou que isso pode ser uma armadilha de Diogo?
-E não acha que imaginei isso? Sou uma mestra das artes furtivas. Mas não acho que isso seja um golpe. Eu entendo sobre isso.
-Certo... Digamos que seja verdade. Necessitamos chegar até o Portal de Ixxanon. Sem tempo para auxiliar um bando de desconhecidos.
Halphy encheu a boca de fúria.
-Veja bem mago, eu escuto a anos que eu só penso em mim mesma, pois sou uma ladina. E eles estão certos. Minhas intenções não têm haver com dinheiro. É poder, por isso despertei meus dons de feiticeira. Mas mesmo alguém como eu sabe o que é certo ou errado nesses seus conceitos ultrapassados de humanos. Precisamos ir até a vila!
-Não! Não precisamos ir até lá! Quer ir até lá, pois se identifica com eles. Nunca comentei sobre seu legado fealith, mas isso não é desculpa para tal atitude.
Halphy não segurou mais a raiva que tinha do inglês. Sentiu-se ultrajada com as atitudes do mago. E falar em fealith, foi à pior das atitudes com ela. A jovem lhe virou um tapa tão forte que foi ouvido por toda extensão de gelo.
-Olha aqui cabeça de fogo, sempre lhe fui fiel e verdadeira! E sabe como você me recompensou? Tratando-me como uma fealith! Esse é o pior dos insultos entre os meio elfos. Isso é jargão daquele enjoados dos sidhe. E se for ver sobre questões pessoais nessa missão teríamos que ver especialmente as atitudes de nosso líder não acha?
O inglês andou para trás na neve.
-Não sei...
-Ah, faça um favor a si mesmo e não minta – disse a ladina feiticeira – nem haveria como. Seria patético isso na verdade. Agora a pouco comentou sobre uma armadilha de Diogo. Qual o motivo de não citar uma de Kalic Benton II? Para que eu não note que sua vingança, diferente do que você pensa se torna algo que compromete sua mente e nossa missão? O motivo de estar em Starten, em primazia, era encontrar o assassino de toda sua família. O verdadeiro fato de querer viajar conosco, era para conhecer o mundo, mas com isso obter as ferramentas necessárias para conseguir seus desejos. E isso foi mais claro em Delfos: quando o Oráculo tocou você, algo ocorreu. Algo que o fez querer ficar conosco. Sou boa para notar esse tipo de coisa. Se quiser continuar o caminho vá! – terminou ela enquanto apontava para o caminho do norte.
O mago hesitou. Queria permanecer com o grupo, mas o que a jovem falava fazia sentido. Mas seus passos ficavam cada vez mais fortes na direção que a meio elfa apontou. Não sem Lacktum disser:
-Estarei esperando você. Mas não se atrasem.
Com olhar triste, a jovem olhava o companheiro cruzar a neve. Temia que algo ruim acontecesse aquele teimoso. Mas nada poderia ser feito. Com uma única exceção.
-Alexander! – gritou ela.
Nesse momento, o cão que estava longe, correu rapidamente a neve em saltos. Quando se aproximou de Halphy, esta se abaixou tocando o pelo dele.
-Vá atrás daquele teimoso do Lacktum e cuide dele.
-Certo Halphy.
E enquanto o cão partia, ela se via em uma situação nova. Era ela quem lideraria o grupo como membro com mais tempo na equipe. Thror não poderia ser, pois era uma negação. Enfim, ela provaria para si mesma que poderia fazer a diferença naquele mundo. Mesmo sendo uma mulher.

O jovem Lacktum então cruzou todo aquele terreno com Alexander ao seu lado.  Um dia se passou depois da discussão com a meio elfa. E ele refletia sobre o que a garota havia lhe falado até então. Ela não estava errada, mas não era necessário agir daquele modo. As pessoas não compreendiam o que um acontecimento como aquele que passou significava. A dor e a angustia que surgiu em seu coração eram imensas.
-Você sabe que ela gosta de você, não sabe? – falou Alexander.
-Ah, mas ela tem um jeito interessante de mostra – respondeu o arcano.
-É verdade isso! Lembra o que falei sobre venenos?
-Que o veneno inserido nos corações é parte das trevas que eles mesmos criaram? Eu acho que era algo parecido com isso, não é?
-É mais ou menos isso. Os nossos sentimentos nos tornam fortes, mas também criam males enormes. Dependendo do que eles falam, afetam nossa alma de modo único. Os homens têm a teimosia de agarrarem um sentimento como se fosse seu ultimo dia de vida.
-Mas é o que normalmente fazemos. E não acho ruim.
O cão, que atravessava a neve junto com Lacktum, o olhou com sarcasmo. Era engraçado ver a feição de um animal com expressões quase humanas.
-Você esta vivo?
-Sim, mas...
-Não terminei! Você acha que nesse mundo antigo e fora do eixo é o único que quer se vingar de alguém?
-Lógico que não! Mas tenho mais coragem que a grande maioria. E a magia é minha arma e aliada.
Foi quando o cão parou e mostrou o quanto era sábio.
-Exato. Você tem magia. Tem algo que poucos possuem. E a usa como? Como uma arma. Uma mera ferramenta de sua vontade mesquinha. Ela é muito mais que isso. É uma chave que abre portas. Portas da realidade. E mesmo havendo dezenas... Talvez, centenas de outros que tem como meta se vingar de alguém, nem todos a usam assim.
-E o que isso tem de relação comigo?
-Quantos são guiados por um só sentimento? Alguém forte não é controlado por emoções, mas sim as domina. Como a magia que domina tão bem. Se fizesse o mesmo com suas vontades, seria um dos homens mais fortes do mundo.
-Exagerado, não acha Alexander?
-Como um mago que evoca a Arte.
O mago então riu da comparação. Ele então notou que poderia ser patético às vezes. Quantas vezes ele agira, mais por motivos pessoais do que pelo bom senso? A meio elfa estava certa.
-Bem, - decidiu o mago – vamos prosseguir. Mas vamos esperar por eles em Ixxanon...
Quando ele iria terminar a frase, foi interrompido por sons de cavalos pela neve. Eles se aproximavam do mago e do cão. Eram tantos, que os dois mal sabiam de onde eles estavam surgindo.
As patas jogavam neve para todos os lados. Era claro que mesmo na floresta tão grande e vasta, notaram o estranho mago e cão. Ainda por cima, os cavalos pareciam criar o barulho de trovões, assustando a ambos. Alexander se colocava em uma posse agressiva, rara de se ver.
Era possível ver cerca de vinte e dois cavalos montados, no mínimo. Todos possuíam homens bem armados e com trajes típicos das Terras Altas. Os machados, espadas, clavas e maça batiam no ar, enquanto o ritmo frenético das montarias continuava quase que acompanhando as armas.
Quando os cavaleiros se aproximavam de Lacktum, ele se preparou para soltar uma magia, sua mão foi acertada por uma machadinha. Um pouco mais preciso e o golpe cortaria sua mão ao meio. Mas só houve uma pequena ferida na palma, pelo menos.
O líder dos cavaleiros desceu de montaria. Ele era imponente. Não como os outros, que só aterrorizavam. Seu carisma parecia vir de seu andar. A confiança em sua face lembrava as lendas sobre bárbaros tão poderosos que faziam tremer impérios e reinos. Não havia barba em seu rosto, mas ele parecia marcado como se muitas batalhas tivessem se passado diante dele. Seu traje, apesar de típico das Terras Altas, mostrava as peculiaridades de um druida: uma foice curta na cintura, um pequeno saco que parecia conter erva e outras coisas. Os cabelos vermelhos possuíam uma trança que mostrava seu cuidado com a aparência, mesmo tão judiados. E era claro, pelo seu físico exposto, que facilmente venceria Thror em uma queda de braços.
Ele se aproximou do mago, pegando pelo braço da mão machucada. Esboçando um sorriso, ele começou a falar para o mago.
-Pelo jeito, você além de um mago de segunda é um maldito inglês!
Alexander pensou em atacar, mas antes de esboçar uma reação o druida, com a mão vazia, soltou uma magia em galês:
-Stop!
Quando isso ocorreu o cão ficou paralisado. Lacktum mal tentou reagir quando levou um golpe que fez cair bem afastado do agressor. O sangue jorrou fazendo uma linha enorme.
O agressor chegou próximo de Lacktum.
-Quem é você? Qual o motivo de querer me matar? Eu não fiz nada! Praga! Minha mão...
-A mão da criança esta doendo?
Todos os cavaleiros riram do jovem. Com exceção do líder dos mesmos. Este levantou a mão pausando as risadas. Ele agachou até o arcano falando:
-Eu, se quisesse, te mataria no momento que joguei a machadinha. Ou no momento em que torci seu braço, enquanto paralisava o cão. Talvez, quando atingi seu rosto. Não importa inglês, pois até agora ninguém cruzou a fronteira sem estar extremamente ferido ou morto. Não sei como fugiu daqueles malditos mortos e armaduras que servem ao falso Kalic Benton, mas quero lhe fazer umas perguntas – enquanto falava isso, segurava pelo cabelo de Lacktum agora – Ah, mais uma coisa... Sou o protetor das Terras Altas desde o século V. Chamo-me Galtran Coração Prateado, para responder sua pergunta.
Feito isso, o druida jogou o rosto de Lacktum contra a neve com toda a força possível. Aproveitou, pegou Alexander e o colocou nas costas do cavalo de um dos homens ali presente. Já o mago, ele jogou em sua própria montaria. Cavalgaram para a direção de onde vieram.

Como Lacktum, o grupo atravessou a noite até chegar a Vila dos Meios Sangue. O lugar era afastado, e não parecia ser de fácil acesso. Isso alterou drasticamente o caminho feito até então. Havia muitas árvores colocadas de modo estratégico. Isso era óbvio.
A maioria do grupo se sentia mal em deixar o arcano partir sozinho. Não havia como alterar os pensamentos de Lacktum quando colocava algo em sua mente. Mas já diziam as lendas que alguns magos enlouqueciam com o poder que ganhavam. Então ele deveria estar seguro, pois loucura era com Van Kristen.
No começo ele vinha aparecendo com todo aquele jeito sombrio, não se importando com nada e ninguém. Aos poucos, especialmente depois que conseguiu tirar aquela maldita máscara, ele começou a reagir como alguém melhor. Uma pessoa diferente.
A ladina e o padre concordaram na mudança do membro arcano do grupo. Ele estava bem mais receptivo do que quando o conheceram. Mas ainda não retirava a impulsividade e inconseqüência inerentes no jovem de nobre de cabelos vermelhos. Na verdade, o fato de ser o antigo filho de um barão talvez afetasse seus julgamentos, eles pensavam.
Pessoas que eram tão dispares quando Halphy e Arctus concordavam sobre muitas coisas.
O mesmo se dizia sobre as opiniões sobre os outros membros do grupo. Um exemplo era a questão de Thror liderar. Era um bom homem, mas muito passional para comandar os Dragões da Justiça. Além disso, estava o óbvio questionamento ao intelecto do grego e sobre sua memória. Poderia ser um grande problema.
Chegando até a vila, notaram que estava vazia. O meio elfo – que eles souberam depois, se chamava Turin – disse que deveriam estar todos presos em uma caverna próxima. Era o refúgio da prole de Argos.
Turin dizia que depois dos acontecimentos relacionados com a nova Cruzada instaurada pelo papa, os monstros começaram a ficar mais perigosos e se mostravam mais aos olhos humanos. O pior surgiu, quando as Alianças que servem Kalic Benton II dominaram aquelas terras. Deve ter forçado alguns monstros e criaturas das trevas a fugirem de seus esconderijos. Isso foi um fato comentado por Azerov e reforçado por Aluniel. E agora, isso foi reforçado com o ataque da vila.
Quase sempre, quando os habitantes se revoltaram, eram presos nas cavernas. E Turin dizia que isso ocorria constantemente.
Chegaram de frente a caverna, mas se mantinham escondidos. Encontraram um tronco, onde não eram vistos e ficavam protegidos. Halphy criava um plano:
-Bem eu entrarei lá como uma batedora. Assim sabemos como estão armados e onde estão as pessoas da vila.
-Me deixe ir até lá com você – falou Thror como uma criança que pede algo.
Halphy o fitou com raiva.
-Olha, não reparou que possui uma armadura pesada demais? Irá fazer barulho e preciso ser silenciosa.
Arctus tocou o ombro de Thror, falando passivamente:
-Não se preocupe grego. Nem eu, nem Gustavo podemos entrar com ela. E Seton não quer entrar. Minha armadura também pode se tornar um grande problema.
-Isso não é justo! – disse o grego como uma criança cheia de manha.
Seton então começou a questionar o motivo para ele também não ir.
-Disseram que eu não queria ir, mas foi mais por insistência da ladina.
-Sua foice é grande – ela respondeu – O túnel é pequeno pelo que Turin comentou. Largo o bastante para os ogros se locomoverem bem. Mas sua arma ficaria batendo no teto,
-Não tenho culpa disso...
-Ah – disse Halphy levantando o dedo em desaprovação – e você não vem comigo Valente. Então saia da minha mochila.
Foi quando todos notaram, com espanto, a cabeça saindo das costas da meio elfa. Ele saia da mochila com certo receio. Ninguém, com exceção da moça havia notado que ele havia entrado ali.
-Como me viu aqui? Falando sobre isso – disse com ar de sarcasmo Valente – su mochila parece maior por dentro do que por fora. Bem maior!
-Primeiro, sou uma ladina e uma feiticeira de primeira grandeza. Não acha que enganaria alguém como eu? Além disso... É essa mochila é grande por dentro sim.
-Me deixa ir! – pediu humildemente o suricate.
-Olhe aqui, eu até deixaria... – comentou a jovem – mas ainda estou nervosa com você por quase atacar aquele bando de mortos famintos.
-Foi um acidente!
Nesse momento, Gustavo interferiu na conversa, falando sobre o fato que ocorreu na noite antes de chegarem de frente a caverna:
-Você gritou contra ele, dizendo que cortaria os seus pescoços!
-Foi um momento de fraqueza.
-Não importa agora – terminou a ladina – Tenho que ir até lá. E sei como ficar invisível para eles – falava enquanto jogava uma espécie de pó sobre seu corpo. E a visão de seu belo corpo começou a sumir diante dos Dragões da Justiça, literalmente.
O grupo se espantou com a habilidade de Halphy. Isso se devia ao item conhecido como Lágrimas de Odin, uma substância que tornava invisível seu usuário. Ela disse ter ganhado de Aluniel, mas Arctus desconfiava. O pouco que sabia sobre o item dizia que item era fabricado no norte, por duendes que imitavam uma magia e um item raros.
Foi então que Nico fez o mesmo, mas através de uma magia própria. Magia de invisibilidade. Halphy notava que o feiticeiro era bem poderoso para a idade. Se é que aquela era realmente sua idade, pensava ela.
Ainda lembrava-se do fato que ouviu na torre de Azerov. Tratou Lacktum como um jovem, quase uma criança. Qual era o motivo? Ela não acreditava que era uma falha na conversa. Não era o momento para isso, e ele estava bem concentrado nisso.
-Vamos? – disse o ar com a voz de Halphy.
-Vamos! – disse o ar, na direção contrária, com a voz de Nico.
Os dois então começaram a andar na direção da caverna. Era possível notar ver seus passos na neve, mas ambos eram precavidos o bastante para não serem pegos pelos monstros daquele lugar.
Mesmo com os dois ogros enormes e vigilantes na frente da caverna, o feiticeiro e a ladina que começava a trilhar aquele mesmo caminho arcano, entraram na escuridão.
Enquanto isso, o grupo esperava por um sinal dos dois. Assim como esperavam que Lacktum estivesse bem.

Gustavo seguiria a jovem Halphy. Isso se devia ao fato de que ele acreditava que ela tinha razão. Mas afinal, será que o mago estava tão errado? Sua mente começava a criar tantas duvidas quanto inimigos que surgiam a sua frente. Mas não era momento para questionar isso. Era o de esperar. Mas cada instante parecia um século.




[1] Uma prole de Argos só possui um olho, mas sua massa física esta sempre em constante mudança.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

(EXTRA) 5 perguntas de James Gawain para: Lacktum Van Kristen, o mago inglês ruivo de Contos do Tempo Perdido!


Bem agora como alter ego do escritor, coloco agora uma entrevista com o personagem mais SANGUE NOS OLHOS de Contos. Não, não estou falando do Thror... Lacktum Van Kristen, antigo nobre inglês, atualmente um mago e que pretende se tornar um mestre do destino. Ele busca vingança pelo que um arcano mascarado fez ao baronato de seu pai. Além de perder pai, mãe e irmã no ataque (além de toda a sua vila), perdeu também sua amada Lirah. Agora com vocês, o abridor que Halphy chama de cabeça de fogo...

1-O que esta achando da história de Contos do Tempo Perdido?
Ah esta uma praga... Só me ferrei até agora. Pense dessa forma: meu pai e minha mãe foram mortos, minha vila incendiada. Nem sei o que fizeram com minha noiva e minha irmã. Essa última, nem é muito citada! Coitada. A única coisa boa ultimamente tem sido meu grupo. E olhe lá. A Halphy tem uma mente parecida comigo. O Thror pode ser um tonto mas sabe bater como ninguém em monstros, pessoas ou coisas em geral que podem atacar ou machucar você. Seton pode cobrir o grupo na falta de Arctus. Não tão bem, mas... Gustavo é nossa peça chave para alguns problemas divinos, assim como Arctus. E o padre... Bem, precisa mesmo falar algo sobre ele? O problema maior é que estamos devassados em relação a combate pois nem sempre o paladino pode fazer as vezes de combatente. Já o Thror pode ser forte mas nem pode aguentar tudo. Eu acho.

2-Qual foi o seu pior inimigo até agora?
Não tive problema nenhum em matar inimigo, mas se quiser que eu diga quem eu tive problema para eliminar... Temos dois: o corpo do esqueleto gigante coberto de gelo e Mallmor.
O gigante, controlado pelo antigo mestre de Gustavo, Diogo, através de uma cópia da Lanterna dos Condenados. Ao que parece tem grandes propriedades esse item em relação as forças necromânticas. E se quisesse, poderia colocar mais mortos famintos contra nós. E ai sim seria impossível vencer! Conquistamos a vitória contra o gigante. Admito que quase enlouqueci vendo um monstro de tal estatura - literal e figuradamente - só que conquistamos nossa vitória apesar de tudo.
Já Mallmor... Não o enfrentamos pessoalmente. Acredito que isso um dia talvez ocorra, agora porém, seria uma loucura. O combate contra seus servos foi complicado. Sei que eramos poderosos, e uma tática precisa nos fez vencer esse inimigo formidável. Além de minhas magias, que digamos, estão cada vez mais poderosas. É óbvio que eu sou o principal motivo de estarmos vencendo até agora nesses combates e...
Ei por qual motivo esta indo embora! Volte aqui. Não terminei!

3-Quem é seu melhor amigo no grupo?
Halphy Brown... Se posso chamar amizade isso. É mais uma espécie de... Companheirismo? É, companheirismo! Somo aliados. E seus pensamentos muitas vezes batem com os meus. O que torna nossa amizade algo bem mais, verdadeiro. Disse amizade? Ah bem que seja. De qualquer forma minhas batalhas com ela mostram que precisamos nos ajudar mais. E eu sempre pago minhas dividas. Além do que, ninguém é louco de dever um favor a uma ladina...

4-O que prefere: espada, magia ou especialização?
Boa pergunta! Não parece tão fácil assim:
Espada parece atraente em um começo de carreira. E lembrando que estamos na época das cruzadas, resolver as coisas com golpes rapidos e eficazes é o que manda. A espada é a lei! Só que quando observamos mais atentadamente, notamos que não é tão seguro. E quase sempre partimos para o caminho da violência. Um caminho tolo, maligno, podre e ignorante. Vejam o Thror para se ter uma ideia (risos). Falando sério. Lutar não é um caminho de pessoas sábias.
Especialização usa bastante a mente, mas de outro modo. Lábia, manha, intimidação, extorsão e usar venenos... Não é comigo! Prefiro usar uma bola de fogo. Maneiras rapidas e certeiras de eliminar oponentes em que o inimigo. Especialmente se ele é perigoso... Vai se entender.
Por isso o uso de mana me fascina.

5-Por último: quem você quer morto?
Kalic... Benton... Kalic Benton. Kalic Benton! Kalic Benton!!! KALIC BENTON!!!!!


sexta-feira, 20 de junho de 2014

(Parte 2 de Diário de Caça) 19:00 até 19:59 – Queen – Under pressure.

Pressure, pushing down on me
Pressing down on you, no man ask for
Under pressure! That burns a building down
Splits a family in two
Puts people on streets


Arrumei-me da melhor maneira possível naquela noite que iria começar a ser barulhenta mais uma vez. Já que estava voltando para casa, lembrando que estava em uma das maiores cidades do mundo. Ou a maior cidade. Ou com a maior população do mundo. Nunca soube direito. Fazer o que. Nunca fui muito boa com essas coisas de escola. Ao menos era boa o bastante para escrever. Isso vem das minhas aulas de inglês. Nisso eu era boa o bastante para lidar. Nada, além disso. Mas sabia enganar como toda a boa mulher fazia... E nenhum homem faz direito.
De qualquer modo eu precisava voltar para casa. Esquentar a comida para o meu irmão.
Iria pegar o metrô, mas fazer isso quando a noite chegava era como pedir pra ser morta, assaltada, atacada sexualmente ou algo pior. E pode ter certeza, com a quantidade de loucos que surgem nos dias de hoje, você teria medo de entrar em algum lugar como o metrô. Recomendações que até o meu patrão fazia a mim para sobreviver naquela selva de concreto.
Então, aproveitei uma brecha entre os carros estacionados. Passei por eles e comecei a pedir por um táxi.  Depois de alguns segundos, pela sorte – ou azar – consegui pegar um dos amarelinhos. Fiquei com medo, pois até os motoristas eram dos tipos mais diversos. Certa vez, tinha entrado em um ônibus, e o motorista não tirava os olhos das minhas pernas. Filha da puta. E nem sou exibida mostrando minhas pernas como uma garota oferecida qualquer. Era uma saia bem abaixo do joelho, mesmo estando no verão. Cafajestes, que não conseguem sair com mulheres e ficam fantasiando na cabeça cenas sexuais com elas.
Minha sorte é que era um indiano pelo que me lembro. Esses não têm a libido muito aflorada.
Pegando o táxi, entrei prontamente no carro com meu piloto indiano de libido baixa. Notei que logo chegaria a minha casa onde teria que preparar a comida para meu irmão mala. Comprei algumas coisas e já sabia o que iria preparar para o besta. O idiota do Sidney que mandava várias mensagens para estar em casa com a comida pronta quando chegasse. Estivesse lá onde Deus permitisse. Aliás, eu nasci e fui criada como uma protestante. Comentário rápido. Nada de mais.
Só para entender que sempre fui religiosa, mais por obrigação do que por vontade. E isso me fez uma cética por natureza. Menos mal, já que isso me tornou uma pessoa forte por natureza.
De qualquer modo, estava voltando para minha casa. Demorava meia hora com algum táxi ou ônibus para alcançar meu lar. Mais de uma hora a pé. Tirando o risco de andar a pé. Literalmente, o custo benefício de voltar sem um veículo até onde morava era extremamente perigoso. Perder minha escassa grana é algo horrível. O problema maior é quando nem dinheiro possuía. A vida nas cidades grandes se tornava perigosa. O que me faz querer morar em uma pequena cidade que um amigo me falou. Heber Village. Não é tão pequena quando uma cidade do interior, só que tem o estilo de uma em certos pontos.
Olhava pela janela do carro todas aquelas pessoas calmas e tristes muitas vezes. Vez ou outra surgia uma cena bonita. Como quando vi a mãe brincando com seu filho, com roupinha amarela contra chuva. Eu falava assim, mas era uma mera capa. Com tudo isso sendo tão simples e tão bonito, trazia a mim memórias tão dolorosas de minha mãe. Sendo assim mesmo, algo que me trazia dor, fiquei ali observando bem a dupla pulando poças de água com botas bem coloridas. Vi também amigos brigando e brincando uns com os outros, como só quem volta da escola pode fazer. Não tinha tantos amigos no meu período de colégio, então nem foi algo que me comoveu. Nem tanto se comparado ao cachorrinho que surgia todo sujo de um Opala velho e antiquado, que esqueceram em uma rua. Fazia meses que ele estava ali. Já o vi antes, quando caminhava para chegar ao serviço. Eram tão bonitos, carro e cão. E estavam ali, abandonados como se fizessem companhia um ao outro.
Só que aquela área não era formada só por bons fluidos. Passando por uma rua mais escura, que já estava bem longe do consultório, vi alguns rapazes sendo presos por porte ilegal de drogas. Malditos traficantes. Acabando com a vida de bons rapazes e moças. Se permitissem, pegaria uma arma e estouraria os miolos de qualquer um que me surgisse tentando fazer algo de errado – em especial ao meu irmão que lidava com essas coisas horríveis – e conseguisse ver. Do que adiantava isso, de qualquer jeito? Na esquina seguinte, conseguia ver um garoto de blusa pesada cinza e tênis bem claros fumando o que com certeza era um baseado. Detalhe: ele não deveria ter mais do que quinze anos, aposto. Essa juventude não nota que são eles que sustentam a criminalidade e os marginais que matam bons e honestos policiais. Isso na cidade de Nova Iorque existia e até demais.
Tínhamos como um de nossos vizinhos, um policial de maravilhosa índole. Seu nome Robert Snyder. Quando Sidney havia sido preso por alguns crimes cometidos, como furto para pagar apostas, quem nos salvou? O Tio Bob como o chamava. Lógico, tudo dentro dos limites da lei. Prender um tonto como meu irmão era algo comum entre os policiais de onde morávamos. De qualquer modo era maravilhoso ter alguém com quem poderíamos contar. Não ficar falando e tagarelando como eu sempre fazia antigamente.
De qualquer forma cheguei à minha casa. Fui descendo do veículo amarelado, porém, tirei de um bolinho de notas sujas e surradas o que deveria ser o pagamento da viagem. Ele deve ter agradecido muito por isso, já que começou a falar algumas coisas que não pareciam ser grosseria. Entretanto, qualquer coisa que um estrangeiro fale ainda me parece alguma grosseria e xingamento. Vai se entender... Talvez tenha sido o convívio com os porto riquenhos que surgem pela cidade.
Finalmente, casa! Lugar maravilhoso, pelo menos para mim. Nos últimos dias, meu irmãozinho havia se tornado um tanto chato com relação a nossa casa. Engraçado, visto que foi ele quem encontrou o lugar para nós. Graças é lógico, a uma ajudinha do doutor Fitzgerald, meu anjo da guarda pessoal. O meu irmão falava que ele na verdade tinha alguma tara por mim. Só que nunca vi nada de mais. Ele não ficava me fitando como um daqueles tarados das ruas. Muito menos comprava coisas para mim. Ajudar sim, mas nunca ultrapassava essa linha. Por isso considerava ele como um segundo irmão mais velho. Quase um pai. Nunca iria falar isso a ele, pois... Bem, ele era muito novo para ser pai. Pelo menos fisicamente.
Ele era bonito, mas mais por natureza do que por se cuidar. Não fazia bem a barba e tirando o consultório, dificilmente se vestia bem. Era alguém bem simples em tudo. Sim, eu olhava para ele, oras. Esqueçam o que acabei de escrever, ok?
De qualquer forma estava ali na minha casa. Coisa simples no Queens, com estilo de madeira antiga. Bem conservada por mim. Já que eu passava sempre produtos e vernizes no final de semana para manter a casa inteira. Acabava com meu tempo livre, mas fazia a casa brilhar e ficar inteira. Mais uma das coisas da lista de coisas que eu tinha que fazer para nos manter em pé. Literalmente.
Entrei como um furacão pela varanda, abri a porta de casa, girei em direção a sala e deitei no meu sofá menor. Pode ser pequeno entre os dois que tínhamos, mas era mais confortável. Nessas poucas vezes, me lembrava de que meu irmão deveria estar ali em casa, com fome. Sempre quando chegava das apostas, voltava com fome. Perdendo, chutava as latas de lixo por toda a cidade, até em casa. Ganhando, gastava todo o dinheiro que recebeu da premiação em bebidas e mulheres. Sentia falta de quando meu irmão pulava em cima de mima para brincar, não por estar mal depois das porcarias de apostas.
Na verdade ele fazia esses jogos no Hipódromo Aqueduct, e conhecia os homens que lidavam com dinheiro nessas apostas muito bem. Em especial, alguém que ele conseguiu conhecer antes de ficar nessa onda autodestrutiva. Japoneses, e seu líder era o empresário Hiro Mishima. Eu sempre tive medo que eu encontrasse meu irmão em um saco de lixo, ou até mesmo, que afundasse bem no fundo do rio East. Histórias contavam que ele era um yakuza de grande poder dentro de sua família. Outras histórias diziam que ele na verdade nem mais pertencia a alguma das famílias, participava de algo maior. A pior falava que na verdade ele era um dragão na forma de um homem. Dessa eu ria muito. Bando de medrosos. Como diria o Batman, enquanto houver medo e superstição no coração dos ladrões haverá uma esperança. Babaquice não é? Mas prefiro assim. Hoje eu sei que era pior. Desgraçado.
Deitei por alguns minutos. Como disse antes, demora cerca de meia hora para chegarmos de carro em casa. E o táxi conseguiu pegar uma rota bem livre até. Lembrando que falávamos de uma das maiores cidades do mundo. Peguei com o pé um dos CDs que estavam sobre a mesa. Tirei-o da capa e comecei a escutar. E me fez saltar e cantar. Mesmo exausta.

There was a friend of mine on murder
And the judge's gavel fell
Jury found him guilty
Gave him sixteen years in Hell
He said, I ain't spending my life here
I ain't living alone
Ain't breaking no rocks on the chain gang
I'm breakin' out and headin' home

     E eu já cantava os refrões “Gonna make a jailbreak” enquanto pulava e dançava. Não como aquelas vedetes ridículas de show de rock. Era mais gostosa. Ridículo eu sei. Mas era como eu aproveitava minhas noites de descanso. O final de semana estava chegando. E veria o meu lindo namorado. Qual não foi minha surpresa quando o telefone de casa e escuto a voz dele. Estava ainda no serviço pelo jeito. Algo em que tinha trabalhado mesmo a noite, pois era um bom dinheiro e era para prefeitura. Mesmo assim sentia sua voz cansada. Como queria estar com ele.
     -Olá quem fala? – perguntei cheia de sarcasmo.
     -Você sabe que sou eu Sel – falou se referindo ao apelido carinhoso que me deu.
     -Sel? Não conheço nenhuma moça que tenha esse nome aqui – continuei.
     -Esta bem. Então Vou desligar...
     -Fala seu bobo!
     Ele riu por ter visto que a chantagem deu certo. Como gostava dessas pequenas conversas. Se você possui alguém com quem possa fazer isso, aproveite. Você nunca saberá quando isso poderá ser retirado de você. Não falo isso por me achar dona da verdade. Só conhecimento de causa.
     -Tudo bem amor?
     -Tudo meu anjo. Esta no serviço?
     -Sim, mas fugi um pouco do canteiro de obras.
     -Coisa feia. Matando trabalho para falar com as suas namoradas.
     -Plural? Eu era bom de cama e não sabia? Tenho dupla personalidade? Sel você tem que me falar essas…
     -Ah cala boca seu tonto! Você é um doce...
     -Desde que derreta em sua boca.
     Mordi os lábios. Nem preciso falar o motive. Apesar de não o querer só em minha boca, confesso que era... Digamos, nem grande, nem curto, mas fazia bem o trabalho quando exigido. Mas se fosse para fazer aquele homem gemer de prazer como eu com ele, fazíamos sexo oral facilmente. Homens pensam mais no próprio prazer e Lankford não era diferente. Nem ligava. Homem como aquele era raro. E com um pau daqueles também.
     Deve estar pensando, como ela é tarada. Grande merda. Estou escrevendo minhas memórias. Lembro de cada detalhe como se fosse hoje. Talvez para manter uma faísca de vida nesses olhos já cansados. Eu agora sei como um professor se sente, exausto depois de uma vida trabalhando – mesmo quando se mexe com isso alguns anos – pois faço isso há vinte anos. Gosta de lembrar-se dos tempos melhores e mais calmos. Quando poderia até mesmo pensar no seu prazer como se fosse eterno.
     Nada é eterno. Nem mesmo isso.
     -Eu iria falar que vou levar as cervejas depois do trabalho e dormimos juntos. Levo um filme. Que tal
     -Tudo bem por mim. Que não seja um de terror, esta bem?
     -Ainda esta com medo desde que viu aquele filme?
     -Lógico! Era horrível!
     -Esta bem. Tentarei levar um de comédia. Só que tem que ser bom. E que não será com Adam Sandler. Já me cansei daquele cara.
     -Esta bem. Pois saiba que um dia ele vai ser um grande ator.
     -Se for quando ele deixar de fazer filmes de segunda. Acho que ele só vai fazer pontinhas em produções.
     -Esta bem. Vai trabalhar ou o seu patrão vai te despedir.
     -Tudo bem, antes... Tenho que te falar...
     Ele parou um pouco antes de continuar. Eu sabia que tinha algo para me falar. Era uma mania que só eu entendia. Ainda tinha algo a me falar.
     -Fale – soltei como um inquisidor espanhol.
     -Eu vi seu irmão... No território do Hiro. Estava com dinheiro.
     Nesse mesmo instante saltei do sofá. Ele foi lá. Mesmo eu falando tantas vezes. Repetidas vezes disse, não vá mais atrás daqueles caras. E o que ele me faz? Vai assim mesmo. Havia vezes que eu pensava que não era a mais nova dos dois. Algumas vezes até achava que era a mãe. Nunca entendi como a cabeça daquele idiota funcionava. Nem me interessava. Desde que ele voltasse vivo depois. Para eu acabar com ele.
     -Estou indo John.
     -Amor...
     -A gente se vê mais tarde. Eu prometo.
     Peguei um casaco o mais rápido que pude. Nem lembro como era, mas depois notei que era cinza. Um antigo que não conseguia me livrar e sempre gostei. Acho que era da minha mãe. Parecia que me dava forças. Precisaria delas agora. Quando meu irmão se metia em enrascadas, era federal.
     Antes de sair, peguei o telefone do tio Bob. Rezei para que estivesse em serviço. Já que da última vez em que Sidney esteve no território de Hiro, foi jurado de morte. Idiota, idiota, idiota! Deus! Como acabamos sendo irmãos? Irmã do cara mais idiota do mundo? Juro que não sei como. Posso não ser um Einstein, mas juro que teria mais inteligência do que aquele pedaço de carne mal gerado.
     Pedi desculpas ao meu pai e minha mãe mentalmente.
     Tio Bob não estava. Pelo menos não na delegacia. Liguei então para a casa. Atenderam. Era sua mulher. Ela nunca foi com a minha cara.
     -O que foi? – disse a voz de Elisabeth, a mulher de tio Bob. Cheia de raiva.
     -Estou procurando o policial Snyder. Meu irmão Sidney Queen...
     -Ah! Você é a Queen? A filha da puta que retira meu marido da cama pra arrumar as merdas que seu irmão faz? Aquele vagabundo...
     -Ele não esta pelo jeito – falei rápido.
     -Como sabe?
     -Se não ele teria tirado o telefone da sua mão piranha mal comida!
     Em seguida desliguei rapidamente na cara dela. Bob entenderia. Certa vez me disse que tinha uma amante e só não se separava da mulher por conta dos filhos. Só nunca entendi como ele fez cinco filhos naquele ser do outro mundo. Bem, vai se entender.
     Peguei minhas chaves, minha bolsa e uma faca de cozinha. Aquela que fosse mais afiada. Sabe como é ainda não entendia muitas coisas. Um dos meus primeiros ensinamentos de caça foi: não é a arma que faz o estrago. É até onde você a enfia no corpo do desgraçado que você esta tentando matar.
     Coloquei-a no casaco e fui correndo fechando minha casa as pressas. Eu nunca imaginei que ao girar aquela chave na maçaneta nunca mais a veria. Na verdade, não como antes. Hoje em dia a vejo sendo de um casal que deve dois filhos. Essa não é uma história em que no final estarei morta camarada. É onde mostrarei que o mundo esta indo pro buraco e nos dois estaremos nele. Sim, eu e você.
     Peguei e comecei a correr para onde era o território do Hiro. Dessa vez, peguei um táxi. Era um dos tarados... Droga.
     Antes de entrar estava com a nítida impressão que um desgraçado lá de fora ficava me olhando com um casaco pesado e grande. Que cobria muito bem o rosto. Se fosse o tipo que imaginava seria pior que um tarado. Ignorei, pois já tinha muita coisa na cabeça. E já tinha que me preocupar com os olhos do veado que dirigia o táxi. Pensei em usar minha faca.
     Antes de ir, parecia que do casaco do estranho eu vi a ponta de uma faca. Nem sabia eu que era um facão. Ele entrou em um carro. Ele me seguiria, mas eu não sabia.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

(Parte 1 de Diário de Caça) Começo do Arquivo



Bem isso deveria ser um simples diário, mas não é. Escrevo aqui sobre minha vida. Mas minha vida não é como de muitos por ai. Acreditem. Até tentei sair desse rumo, mas não consegui. Se é que posso chamar isso de rumo, sendo que me vi sendo empurrada para ele. Não funcionou. Sabe quando você diz que é mentira, o ocorrido é falso? Pois isso é o que sempre faço quando acordo.
Mas não é para poder me vangloriar do que aconteceu... Não nunca iria fazer isso. Quem o faz só pode ser um amador que nunca olha direito. Não enxergam o estrago causado por si, as pessoas que nem conhece. Assim como para seus entes queridos e amigos próximos. Lembrou-me de um caso em Washington. Você não imagina como aquela cidade é suja no que chamamos de periferia. Isso sem falar no meu tipo de sujeira. Pensando bem, às vezes acho que muitos dos tipos que encontro no meu “trabalho”, tem um jeito simpático. Se compararmos aos miseráveis que abusam dos inocentes nas grandes cidades, parece nada.
Então, por onde começar? Parece mais fácil falar do que fazer. Juro. Muitos só juntariam um monte de papéis e anotações, talvez recordes de jornais. Eu não. Prefiro algo mais verdadeiro. Simples mas eficaz. É o que aprendemos desde cedo. Nada de uma bagunça na casa alheia. Ou onde nossa busca nos leve.
Escrevi muito, mas não imaginam o que faço. Certo? Bem, devo primeiro me apresentar. Meu nome é Selina Queen. Sou uma mulher que atualmente tem 38 anos. Não tenho residência física. Na verdade viajo por boa parte dos Estados Unidos. Atualmente sozinha. Antigamente com alguns homens e mulheres com os mesmos ideais que os meus. Se isso pode ser chamado como uma ideologia. Conheci muitos como eu. Estranhos e até louco. Todos corajosos pelo menos. Já li certa vez (até mesmo nos quadrinhos do Homem-Aranha se me lembro bem), que a linha que divide o sábio do louco é tênue. E eu a atravessei.
Antes de tudo saibam que não vivi minha vida inteira assim.
Antes eu era Selina Queen, secretária de um dentista. Uma vida comum, um trabalho comum, um namorado comum e um irmão nada comum. Mas a gente não pode ter tudo na vida também. Mesmo assim, eu trocaria tudo que eu tenho agora por aquilo. Muitos pensam que possa ser exagero, que estou mentindo. Não meu amigo, estou sendo o máximo possível verdadeira. E nenhuma linha aqui será exagerada. Já será difícil você acreditar em mim sem ser assim. Imagine se eu viajasse no que escreverei a seguir.
Mas voltemos ao assunto...
Nasci em Seatle. Mas minha família se mudou, logo após eu nascer, para Nova Iorque. Deveria ser por conta de oportunidades de emprego. Bobagem não é? Cidade suja essa em que vivi até os meus vinte e cinco. Só que eu pensava “ei, é agora minha cidade suja!”. Coisa rara de uma pessoa pensar fazer, gostar da cidade.
Após os meus oito anos tive a primeira grande fatalidade da minha vida: meus pais morreram em um acidente de carro. Um caminhão surgiu do nada na contramão e os fez bater em uma árvore na rodovia I-78, quando voltavam de Nova Jersey. Meu pai dirigia. E ele que adorava beber, não tomou uma gota naquele dia. Pelo menos é isso que o exame toxicológico mostrou. Já o caminhoneiro não poderia dizer o mesmo. Estava tão alcoolizado que mal conseguiu levantar para ofender os policiais que o encontraram a meia-noite de um dia de abril. Comemorariam o aniversário de casamento.
Desde então vivemos com minha tia, Elizabeth. Uma velha chata que batia em mim e no meu irmão mais velho Sidney. Só que as coisas eram diferentes com o Sid. Sim, brigas épicas. Ah se eram...
Meu irmão era um herói. Mas não com capa e espada, como o que aparece naqueles filmes antigos que apareciam nos filmes em preto e branco. Muito menos como aquele escoteiro do Super Homem. Não, nem um pouco. Parecia mais com algo entre o Justiceiro e o Batman. E sim, sou uma ex-viciada em quadrinhos. Não tenho mais tempo para acompanhar as histórias. Adorava os escritos de Alan Moore e Neil Gaiman. Se bem que eu adorava os desenhos de Jim Lee. Homens musculosos e lindos como aqueles eram raros. Continuam. Sidney usava os quadrinhos e um walkman antigo de marca ??? para me fazer viajar com histórias da Vertigo e da Image. Enquanto ele se atracava com nossa tia em mais umas das famosas brigas dos Queen. ´
Tirando nossa tia, éramos felizes. E quando atingimos certa idade pudemos viver por conta própria. Saímos do bairro Bronx e fomos para Manhanttan. Evolução rápida e astronômica. Lindo, parecia quase um conto de fadas. O maninho era um gênio quando se tratava de negócios.
Só que muitas vezes nossa vida se torna uma pequena caixa de surpresas. E entre elas estava que meu irmão que havia conseguido um magnífico emprego na bolsa de valores perdeu tudo com a única coisa que nunca conseguiu vencer: seu vício por apostas. Gastava tudo em corridas de cavalo. Nunca odiei tanto esses animais. Na verdade, sempre odiei animais de qualquer espécie. Porém desde então eu tenho um ódio mortal por cavalos em especial. Se ao menos eu soubesse...
Bem, graças ao meu sábio irmão, tivemos que parar no lugar mais pobre em todo o Queens. Estávamos na nossa segunda crise após a morte de nossos pais e deixarmos a casa de nossa tia. Pouca grana, comida pouca. Não iríamos voltar a morar com ela, mas eu tinha que fazer algo. Comecei a mudar isso trabalhando como secretária. Como, nem eu me lembro, mas me lembro que menti minha idade. Afinal, não iriam querer contratar uma adolescente. Quantas vezes fugi do azar de ter alguém revelando minha idade no consultório. Amigos do colégio, ou quem sabe um parente. Namorados? Demorei a ter. Até um tempo antes do desastre.
Fui passando de emprego para emprego, mas sempre bem recomendada por todos os meus patrões. Nunca fiz nada do que uma moça possa se arrepender. E algo que sempre fiz foi para lutar contra os problemas. Às vezes causados pelo meu irmão, às vezes pela vida. Complicado.
O que escrevo se refere a um período em minha vida ao qual tudo estava bem. Trabalhava como secretária para um dentista chamado David Fitzgerald Jr., até que bem renomado. Os problemas com relação a meu irmão estavam, digamos, controlados. Eu mesma estava namorando.
E como ele era bom pra mim. John Lankford. Rapaz trabalhador. Não pensava muito, nem era tão inteligente, mas se importava comigo. Idiotas são essas garotas que procuram satisfação com o corpo de um homem sem nenhum conteúdo. Ridículo e patético. Tive uma amiga que terminou com um bom rapaz do nada. Sem motivo algum, simplesmente disse que não o amava mais e que estava tentando mudar o coitado. Estranho mesmo. O que é uma coisa idiota. Mas eu sempre valorizei o meu namorado. Trabalhava como um dos inúmeros pedreiros da cidade. E mesmo sendo um rapaz cheio de palavrões e xingamentos no seu dia-a-dia, ele sempre tinha o seu bom humor no final, falando como eu era linda. Que queria ver meu sorriso sempre. Por isso me presenteava com aquilo que as mulheres normalmente gostam: livros. Algumas, sem personalidade, só se fixavam nas compras de sapatos e roupas. Nunca gostei, prefiro estar completamente nua, mas cercada das grandes obras que ele me trouxe. Era um pequeno paraíso.
Essa vida com Lankford e o babaca do meu irmão Sidney era boa e se foi... Com tanta rapidez que nem sei em que dia, semana, mês ou ano ela se foi. Mais forte que qualquer tornado ou ciclone. Ou um maremoto. Quando as pessoas se pegam olhando as fotos dos desastres naturais ninguém imagina o que ocorre nesses lugares. Assim como quem presenciou tudo aquilo de dentro do olho do furacão. Que lindo era aquilo comparado com hoje em dia. Era um paraíso o frio que sentia na pele depois do serviço. Os tons cinza da cidade se confundiam com as roupas baratas que conseguia comprar. Valia à pena tudo aquilo mesmo com as dificuldades que passávamos.
Só me lembro que naquele dia era inverno. Sei disso, pois estava pensando no que comprar para os enfeites de natal. Eu sempre fui muito sistemática com isso. Era engraçado como tínhamos, eu e o Sidney, esse costume bobo ainda. Carregava-me nas costas e me fazia colocar a estrela na ponta da árvore de Natal. Era um rito, uma prática que tínhamos. Nunca poderíamos deixar de fazer isso no final do ano. Uma vez voltei muito tarde para casa e não avisei a ele. Quase brigamos fisicamente, mas ele tropeçou na varanda de casa. Ri muito. Parecia tão patético. Ele também riu e se levantou, ofendendo Deus e o mundo. Só que aquela época festiva também se tornou complicada para mim.
Estávamos com muitas consultas. O doutor Fitzgerald, que sempre insistiu que o chamasse pelo primeiro nome, estava cheio de consultas no meio do dia. Isso sem lembrar que eu já cheguei atrasada.
Abríamos o consultório às nove da manhã. E eu acordei mais tarde... Quase uma hora mais tarde. Bem, depois me entenderia com meu patrão. Ele sempre tão prestativo e me doava altas broncas. Eu até me sentia mal por ser tão relaxada por isso. No geral, mesmo assim, trabalhar lá era bom. Salário médio para uma mulher nos Estados Unidos.  Melhor que nada era o que sempre dizia. Sempre piorava, mas usava esse refrão para não perder a força. Nem a vontade de viver. O que era difícil.
Almocei como um foguete. Não queria me atrasar mais uma vez. Batatas fritas, com um pouco de arroz, uma panqueca, salada de alface e tomate, além de um refrigerante para que tudo isso entrasse de uma só vez. Parecia até um hipopótamo comendo ali. Refeição barata em um dos lugares mais sujos da cidade. Um verdadeiro cinzeiro em forma de restaurante. Porém, como disse antes, comida com preço acessível e era melhor que muitos outros lugares.
E lá fui eu trabalhar novamente. Era cada tipo de pessoa com bocas cheias de dentes podres, cáries, crianças mal educadas, barulhentas ou fedendo. Admito, não tenho paciência com pestes assim. Só que sabia lidar com eles melhor que as mães algumas vezes. Elas não tinham que lidar com caras como Bradley, o valentão da escola. Sempre tem um deles nos colégios. Aprendemos a fugir deles, ou como se livrar deles na base da pancada. Se fosse tão fácil lidar com eles não aprenderíamos nada nessa vida. Descobri que na nossa vida temos sempre uma terceira opção. No caso do brigão era arrumar alguém mais forte pra bater nas bolas dele. No caso das crianças, é simplesmente fazer uma ameaça velada longe das mães. O dentista garante que tenham dentes limpos e saudáveis, já eu garanto que não os percam antes da consulta.
O doutor até sabia do meu “truquezinho” para manter calmos os pacientes mais novos. Porém, fazia vista grossa. Entendia que fazia algo assim, pois não era fácil lidar com isso todo o dia.  Nem pra mim, nem para ele. Que amor ele era.
De qualquer forma estou divagando. Enrolando, para não escrever o que realmente preciso. Colocar nessas páginas um dos piores fatos que constatei nesses últimos anos, devido ao que aconteceu naquela noite. Algo que veio antes dessas noites sem dormir. Antes de ter que escolher um novo caminho. Onde pessoas não são pessoas. Sangue é bem mais comum do que se imagina. Matar se tornou fácil nesse mundo.
Um mundo de sombras, trevas e escuridão. E ele esta aqui. Ou melhor, ali, depois da próxima esquina.
Para começo de conversa, saiba que foi assim que perdi meu irmão e meu namorado. Não de um modo convencional. Ah não senhor, meu amigo. Mas foi assim que conheci Vanessa Garcia, uma bruxa na melhor das hipóteses. E em especial o homem que nunca me treinou, mas que me fez seguir o meu caminho. Ao qual ninguém jamais gostaria de seguir por livre e espontânea vontade. Essa foi minha terceira opção. Eu caço e mato monstros. Isto é sério.

Nova história! Diário de Caça! terror ao estilo Storyteller!

Sou e sempre fui um grande fã do estilo Storyteller que usa um cenário de terror punk-gótico. Que atualmente esta muito perdido... Por isso comecei a saga de Selina Queen. Espero que gostem.
Selina é uma excelente caçadora, conhecida demais no submundo dos caçadores de monstros em geral. Toda a saga tem um começo.... Leiam e aproveitem!
Índice

Começo do arquivo.
19:00 até 19:59 – Queen – Under pressure.
20:00 até 20:59 – Aerosmith – Livin on the edge.
21:00 até 21:59 – Misfits – Die, die my darling.
22:00 até 22:59 – Charly Garcia – Simpathy for the devil.
23:00 até 23:59 – Megadeth – Never dead.
00:00 até 00:59 – The Animals – House of rising sun.
01:00 até 01:59 – AC/DC – Safe in New York City.
05:00 até 05:59 – AC/DC – Highway to Hell.
Final do arquivo.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Voltando com Contos do Tempo Perdido!

Não passei na primeira fase do concurso do LeYa. Mas voltarei a postar logo, logo as aventuras dos Dragões da Justiça. Calma que eles voltarão. Lacktum, Halphy e Thror estarão de volta quando terminar Junho. Preparem-se!