Ela despertou em um lugar que conhecia bem. Cheio de sombras
e crueldade. Onde antes havia um espelho, sabia bem. Agora surgiam olhares de
desaprovação e maldade. Um inimaginável ninho de cobras perigosas. Se estivesse
bem, e não sendo tratada como uma traidora chamaria o lugar como lar. Mas
aquele era o castelo de Sinestro.
Halphy estava cercada por boa parte dos membros do Pacto de
Guerra. Ainda assim, faltavam Daehim, Matadouro e Mallmor. Nikolai, desacordado
e ferido também estava ali.
Queria que tudo fosse um simples sonho. Contudo, era
realidade e nada mais seria como antes.
Estava sem nenhuma de suas armas. Nem as facas, nem a bestas,
muito menos Vampira de Almas. Só lhe restava suas roupas rasgadas. Além de suas
algemas, pesadas e com símbolos arcanos. Era óbvio que elas tinham grande
poder. Notou que Nikolai também possuía um par ao redor de seus pulsos. Nenhum
deles poderia usar magia.
Em um trono de pedra estava sentado Sinestro, coberto por
manto só deixando só os olhos reptilianos a mostra. Uma espada estava acima das
pernas do ser. Era Fim- dos- Dragões. A pouca expressão visível trazia certa
raiva. Constatava-se que ele já soube da tentativa daquela jovem em tentar
abandonar o Pacto de Guerra. Era claro como a luz esse fato.
-Sinto por suas atitudes Halphy... – começou o dragão que
ainda estava sem sua forma original. Não deveria ter se passado muito tempo
desde que ficou desacordada pensou a jovem assassina. Ela o interrompeu de
forma pesada.
-Poupe-me Sinestro! Tem outros planos. Para mim e todo o seu
maldito Pacto não é?
O líder daquele grupo se levantou com demasiada raiva.
-Como ousa levantar a voz para mim! Não passa de um animal!
Um ser domesticado.
-Ouso isso e muito mais! Maldito é aquele que confiou em
Coração Gélido. E mais ainda, quem o fará. Chamou-me de domesticada? Até um cão
pode morder seu dono quando for maltratado!
Nesse momento, as garras dele levantaram o corpo de Halphy.
Em questão de instantes, ele saiu do trono. Igual a uma assombração alguns
diriam. Não que estivesse muito longe disso. Erguia a jovem pelo pescoço.
-Cale esse buraco cheio de fezes que acredite ser uma boca –
disse ele enquanto a asfixiava. Em seguida, lembrando que ela ainda teria um
propósito, lançou ela para longe.
Nenhuma reação vinha dos espectadores. Só os artistas daquela
peça profana.
-Sorte sua ainda termos você como uma peça chave. Nossos
planos necessitam de você.
Nikolai despertou com o golpe que jogou a jovem para longe.
Ele a viu usando a parede para se apoiar. Lentamente se levantou. Seu corpo
parecia moído, ainda assim tentava manter-se firme diante de tudo. Cada vez
mais difícil. Ainda assim, ela ria.
Sua risada veio de forma irônica. Meio triste, ainda assim
queria ferir seu antigo mentor. Já foi dito que as palavras trazem dor. E
algumas outras coisas surgiram na sua cabeça com um sorriso enlouquecido.
-Não sei o que é pior: saber que fui usada ou me lembrar quem
fez isso. Queria alcançar o poder, só que agora noto com tristeza, ele não
estava em você. Pois caso o tivesse não teria ardis necessitando de humanos como
capangas – e ao falar isso ela cuspiu no chão.
Ele ficou de costas tentando se controlar. Em seguida exigiu
que as duas criaturas fossem retiradas de sua presença.
-Eu vou lhe mostrar quem é inferior! – gritou Halphy enquanto
era levada por uma dupla de revenants. Essas criaturas ficavam nas sombras,
imperceptíveis. Com a forma de uma armadura ninguém imaginaria que eram
monstros.
-Halphy o que houve? – pediu o alquimista. Ele também era
levado.
-Estamos sendo preso para mais tarde auxiliar os planos de
Sinestro.
Enquanto eram arrastados, o dragão sentiu que algo estava
errado. Não era para isso ocorrer. Pois o que ele queria estava perto de si e
de vários outros.
Foram presos os dois. Em uma das celas do castelo. Uma das
que passou poucas vezes quando participava do Pacto de Guerra. Por qual motivo
pensaria naquele lugar questionou muitas vezes.
-Por todas as forças do oculto! – Nikolai falava isso
enquanto batia sua algema contra a grade – Quem concedeu essas algemas para os
servos de Sinestro? Eles não teriam capacidade para isso.
Halphy encostada na parede ficou pensativa. Lembrou-se da
morte de Jean. Da mão de Raquel o atravessando com um golpe arcano. Era sua
culpa isso acontecer com ele. Tão grande era sua sina. Será que alguém teria
piedade dela, depois de suas atitudes covardes? Nunca ela pensou.
-Ei! Donzela? Poderia me ajudar a reclamar aqui?
A moça parecia ter saído de um transe. Lembrou onde estava
quando notou Nikolai na sua frente, pedindo atenção.
-Desculpe... Estava em outro lugar.
Ele se agachou e se aproximou da moça. Parecia bem mais
calmo, do que quando reclama de suas mãos presas.
-Não foi sua culpa minha cara.
-Do que esta falando Nikolai.
-Foi Raquel quem matou Jean. Não você.
Ela o olhou carinhosamente. Finalmente se levantou. Tentou
arrumar a si como podia.
-Obrigado Laskov.
Foi até a direção da porta da cela onde estavam. Ficou de
costas para ele.
-Eu sei que você sabe meus segredos – ele falou com tom
sombrio.
A jovem virou seu pescoço na direção de Nikolai.
-Como sabe... Ah! Zacharias, não é?
O pobre alquimista afirmou com sua cabeça. Era constrangedor.
Nunca pensou naquela situação a jovem.
-Eu não quis... Eu só... Perdoe-me – só agora notou o quão
invasivo poderia ser aquele artefato.
-Você não pensou que o seu feito foi mais que uma carta? O
que soube?
-Você trabalha para a Santa Sé.
-Parece pouco. Não parece algo que arrancaria de mim donzela.
Suspirou fundo a jovem antes de relatar:
-E da mulher que um dia amou.
-Ah!
Era a vez dele se sentar.
-Nunca pensei que voltaria a me lembrar de minha amada. Não
desse modo. Se me recordo bem, eu era um alquimista em começo de treinamento.
Só que tinha talento. Muito. E me apaixonei quase que por acaso. Eu pegava
ervas para uma solução alquímica. Ela procurava algumas para um corte que sua
mãe sofrerá. Não sei o motivo para isso acontecer àquela senhora. Algumas
coisas ainda ficam nubladas em minha mente. O que é certeza... Éramos felizes.
Sendo tolos ou não. Só que o destino é cheio de artimanhas. Ela era do legado
de Andrômeda.
-Legado?
-Sim. Ao que tudo indica algumas mulheres que descendem de
Andrômeda eram sacrificadas. Para um tipo de fera antiga. Deve saber da lenda.
-Andrômeda, oferecida a uma fera. Para aplacar o ódio de um
deus. Não é isso? Nunca fui especializada com mitos gregos.
-Exato. Eu morava próximo a essa vila que mantinha os
costumes. E cheguei tarde demais. Por isso sou assim. Cheio de vontades para
tentar esquecer a dor.
-Compreendo.
A garota queria lhe conceder pêsames, ainda assim não o fez.
Do que adiantaria? E de qualquer modo não havia necessidade para aquilo no
momento. Nem tempo suficiente.
-Como podemos fugir – ela questionou.
-Eu estou pensando. Mas tem pelo menos dois revenants na
passagem que nos concederia a liberdade.
-O problema nem é esse. Eu me refiro a essas coisas –
apontando para as algemas.
-Deixe-me pensar...
-Vejo que estão em dificuldades – disse uma voz no canto da
cela.
Os dois pularam de susto. Aquela cela pequena tinha outra
pessoa? Impossível. Ainda mais sem nenhum item no local.
No lugar de onde ouviram aquela voz, uma forma estranha
surgia. Começando por sua pele. Tinha escamas, como um marduk, só que essas
eram mais brilhantes e coloridas. Além de lembrar mesmo, partes de uma
serpente. Até os cabelos pareciam mais com uma cobra. Seus olhos totalmente e
com um parentesco mais claro ainda com um ofídio. Garras de um poderoso dragão
no lugar das mãos e pés – estes descalços. Possuía uma roupa que Halphy tinha
certeza ser de pura seda muito cara. Nela, além de haver um estilo diferente de
qualquer vestimenta que já viu seu contorno era recheado de desenhos. Estranho
para a assassina e o alquimista.
-Quem é você? Ou melhor, o que é você? – perguntou Laskov.
-Parece um marduk.
Aquele ser cuspiu de lado. Estava enojado com a comparação.
-Perdoe-me, mas não me rebaixo a um nível de meio-dragão.
-Não vou tomar isso como pessoal, ainda. Então é o que? Ou
melhor, veio de onde? – perguntou mais uma vez a jovem.
-Vim de uma terra muito longínqua. Na desconhecida, por
vocês, Yamato[1].
Só que essas terras possuíram outros nomes. Até pelos homens do continente. É
como uma ilha para vocês. Águas poderosas por todos os lados. Pelo que eu vi,
ela não esta nos mapas de vocês das terras do Oeste.
-Não existem terras assim – soltou Halphy.
-Conhece pouco do mundo com seus olhos jovens, Brown.
-Sei...
-Também aquelas terras são chamadas de Hinomoto[2].
-Eu não quero saber disso! Por qual motivo esta aqui?
-Vocês são apressados. Meu mestre chama-se Yo-Long. Ele é o
que vocês chamariam de um dragão. Para mim é como um deus. Pois foi ele que me
ensinou a obter essa forma. Devo tudo a ele. Ele disse que você pode
auxiliá-lo. E que lhe concederia o que quisesse. Se o libertasse.
Ela riu.
-Tem muita gente que quer muito de mim.
-Pode até ser. Mas ao menos não pode ficar do que já esta
Brown.
Ao falar isso, em um piscar da dupla presa, o estranho homem
saiu daquela cela. Ele se virou para os jovens antes de partir.
-Sou Long, um pupilo do dragão. Adeus Brown.
Eis que o homem caminhava para longe das grades. Uma nova
alternativa surgiu para a jovem. O que não era muito bom de qualquer forma. Eis
que uma idéia lhe veio à cabeça.
-O Portal da Verdade.
Estava uma vez mais no
lugar que foi mandado após encontrar a Chama Gélida. Dessa vez estava tudo
branco. Mas o imenso portão continuava onipotente e flutuante. Igual as forças
mais antigas, perigosas e poderosas do universo. Era como se um medo enorme lhe
surgisse na mente, só de encarar a construção. O motivo lhe era um mistério,
mesmo já sabendo seu conteúdo. Que os mais loucos deuses parariam e se
perderiam contemplando aquilo. Não era momento para aquilo.
-Kalic Benton! Onde
esta?
Momentos depois, como
por encanto, o mago mascarado apareceu. Ele a encarou.
-Você sabe que esta
encrencada? Em um nível que nunca poderei lhe auxiliar, se é isso que pensou.
-Não me diga! Qual foi
a primeira pista? Acho que o seu silêncio, enquanto Sinestro quase me enforcava
já demonstrou bem isso.
-Interferir só seria um
desperdício. Acha mesmo que eu o deteria? Qualquer um de nós não conseguiria
nem sequer lhe causar dano. Mesmo naquela forma decrépita dele.
-Eu imagino mesmo.
O mago olhou impaciente
para a moça. Sabia que ela queria algo dele mesmo assim. Ela sempre faz de tudo
para se livrar.
-O que quer?
-Um método de fugir.
Ele riu. Nunca ouviu
tamanha besteira. E Halphy nunca o ouviu rir tanto de algo ou alguém.
-Não há como.
-Mas você pode me
ajudar.
-Disse bem. Eu posso.
Tenho poder para tanto. Só que não o farei. Há uma grande diferença.
-Sinestro é um morto
sem descanso. Não pode utilizar o dom da Lei em você. Mesmo que pudesse você
nem seria afetado. Esse tipo de criatura, como vocês, é impossível ser afetada.
Eu sei. Já tentei.
-Compreendo. De
qualquer forma enfrentar Sinestro não se encaixa nos meus planos. De forma
alguma.
-Você realmente é um
homem difícil às vezes.
-Deuses! Você acha que
seria fácil? – disse inconformado Kalic benton II.
-Não. Mas bem que
poderia trazer uma solução.
-Entenda que não sou
seu amigo. Nem tão pouco, seu aliado. E atualmente nunca serei mais nada seu
devido as suas atitudes. Trair Sinestro é trair o Pacto de Guerra.
-Só me diga uma coisa:
você crê em Sinestro?
Foi quando ele se
calou, virou de costas e se afastou da assassina que parecia já desesperada.
-Adeus Halphy Brown.
-Espere! Tenho uma
coisa a lhe falar.
Ele então parou sua
caminhada.
-Eu eliminei sua mãe.
O mago colocou sua mão
direita na máscara. Parecia refletir sobre algo.
-Você a queimou?
-Do que esta falando?
-Não ouviu? Perguntei
se você a queimou.
-Acredito que não. Não.
Não o fiz.
-Tudo bem. Então ela
continua viva... Ou melhor, não esta morta. Adeus Halphy Brown.
Mesmo de costas aquele
mago deveria imaginar qual era o rosto da assassina. Ela cortou sua cabeça, e a
desgraçada ainda estava viva. O que lhe fez crer nisso foi à visão da destruição
do Kalic Benton original. Realmente aquilo fazia sentido. Infelizmente.
Teria que voltar até
Nikolai e se preparar. Samara ainda estava viva.
Despertou com Nikolai desenhando algo. Parecia ter uma cor
vermelha, onde estava aquela forma. Então notou o ombro e o rosto do rapaz.
Além, lógico, das suas mãos. Era vermelho sangue. Pois era sangue. O que ele
fez, pensou ela. Foi quando uma idéia macabra lhe surgiu.
-Você se mordeu até sangrar? Enlouqueceu Nikolai!
Suas mãos formaram um círculo de transmutação. Grande e
poderoso. Estava muito claro aquilo.
-Enquanto você caçava algo no plano astral[3],
eu tentava outro modo de fuga minha donzela querida. E então? Obteve sucesso?
Balançou a cabeça em negativa. Um rosto de tristeza e
frustração lhe veio rapidamente.
-Imaginei isso quando despertou minha pequena. Não se
martirize. Convencer seria impossível. Eu acredito.
-O que pretende com isso – perguntou a aflita assassina –
Esta sangrando muito e nem pode fazer magia!
Ele sorriu. Mesmo com a boca suja se sangue. Parecia sabre
mais que ela. Ao menos estava feliz.
-Você aprendeu sobre a Arte e a Lei. Nunca sobre suas
variantes. Nesse caso, a alquimia. Ela não é como magia. Dizem que um feiticeiro
ou arcano de qualquer tipo age como um abridor. Por isso usam esse termo. O que
realmente eles se parecem são chaves. Pois armazenam o mana em si. Seus corpos
são um meio para os fins específicos. Já os que transmutam – alquimistas – não
a armazenam. Usam a energia em tudo que existe para façanhas.
Em seguida tocou com ambas as mãos o símbolo. Nesse instante,
as algemas se partiram ao meio com a força de um brilho arcano.
-Ainda bem que como você, mesmo os membros do Pacto que usam
um pouco de alquimia, não entendem disso. Pois se soubessem me cegariam. Ou
quebrariam minhas mãos. Talvez os dois... Bem, de qualquer forma logo estaremos
livres, donzela.
Um grande barulho surgiu da cela. Poderiam tentar usar magia
para fazer tudo de forma silenciosa e furtiva. Só que então se lembraram que
seus vigias eram construtos. Imunes a ilusões.
Ainda assim magia era uma boa arma agora. Ela soltou uma
faísca na direção do guardião. Isso o deixou extremamente lento. Ao menos uma
vantagem contra estes seres.
Enquanto o outro, Nikolai atingiu com uma lança de pedra, ao
qual usou parte da parede da prisão para criar. Atravessou a couraça atingindo
o pentáculo. A armadura caiu e o jovem gritou de dor.
-Nikolai!
-Não foi nada. Usei o braço com meu ombro ferido. Vamos caçar
nossos equipamentos. Adiante.
E os dois fizeram isso. O mais rápido que puderam, já que
sabiam que logo seriam atacados.
Chegaram à câmara de espólios. Ali, naquele lugar, os servos
de Sinestro depositavam seu butim. Ou seja, todo o ouro ou itens mágicos dos
adversários caídos. Até de povoados indefesos.
Conseguiam enxergar onde estavam seus itens, inclusive
Vampira de Almas e a besta. O alquimista pensou em legar parte do ouro – uma
pequena fração – mas foi dissimulado pela jovem. Seria já muito perigoso sem o
peso extra. Caso isso ocorresse o corpo ficaria lento como uma lesma. Realmente
fazia sentido.
-Se for como diz... – falou um inconformado jovem.
Um detalhe é que ela encarou outra arma. Talvez seu maior
símbolo de traição. Pois não feriu Daehim com ela, quando possuiu uma chance
para tal. Tratava-se de um item que os Dragões obtiveram com justiça. Os mais
antigos e sábios a chamavam de Silthar-Mor. Fim-de-Dragões.
Segurou-a com ambas as mãos observando bem seu brilho. E
quantas lembranças ela conseguia trazer. Lembrou que foi um presente e de
quando a pediu no Vale das Esmeraldas. Memórias de antes e depois dela. Por
último, em como traiu os antigos colegas. Ela iria levar a espada, como oferta
de paz.
-Será que me perdoariam? Eu...
-Donzela Halphy! Esta ouvindo? – disse o rapaz pedindo
atenção. Um som de sino era claramente ouvido – Devem saber que estamos
fugindo.
-Não é nada disso. O sino para fugas é outro. Fui instruída
sobre isso por Kalic Benton. A construção esta sob ataque.
Eles corriam. O faziam por suas vidas. Para tal necessitavam
cruzar a ponte. E mesmo estando longe do ataque ouviam vários sons. Alguns
conhecidos, outros nem tanto. Grunhidos, barulhos de armaduras e poucos gritos
que pareciam humanos. Jurariam até que ouviram o som de um urso.
E então uma idéia surgiu para Halphy: poderia ser que Brigid
estivesse atacando a fortaleza de Sinestro. Ela com enxergaria aquele lugar. Em
especial devido aos seus grandes poderes. Além disso, usando uma forma animal
apropriada, era fácil rastrear qualquer um.
-Algo possível. Mas não é momento para nos preocuparmos com
isso – soltou a moça, enquanto corriam. Precisavam sai vivos daquele lugar
primeiro.
Passando por corredores iluminados só pelas chamas de tochas.
E quando mais chegavam perto do lugar. Uma luz fraca surgia. Tratava-se da
abertura para a ponte.
Enfim chegaram até o arco que concedia acesso ao lugar que
queriam tanto chegar. O único problema é que havia sentinelas já ali. Alguns
com espadas e outros com arcos.
-Revenants – disse Nikolai.
-São sei. Eu lido com eles.
-Donzela Halphy! – e antes que pudesse fazer ou falar qualquer
coisa, ela partiu em investida. Não havia notado que tinha os ferimentos do
ataque de Zacharias. Mesmo sendo entorpecida com as ervas raras, seu corpo não
cicatrizou devido a um efeito colateral. Ainda que fisicamente continuasse
forte, seu corpo tombaria diante alguns golpes. Ele só poderia ajudar naquele
instante. O quanto pudesse e conseguisse.
Atacou um dos primeiros na frente. Não era uma combatente boa
o suficiente para eliminar todos de uma só vez. Ao acabar com um pularia para o
outro com Vampira ao seu lado.
Como uma boa ladina encontrou uma brecha na armadura.
Conseguindo isso, com a lâmina rasgando o símbolo que mantinha aquele ser em
pé. De certo modo foi até fácil. O problema eram os dois ao seu lado. Alguns
ataques deles fizeram-na cambalear. Se Thror ainda estivesse com ela em
combate. Poderia até ver a silhueta dele lidando com o outro oponente.
-Detesto admitir, mas eu sinto falta de uma retaguarda
protegida – admitiu a si mesma.
-Não seja por isso donzela.
Eis que os inimigos são atingidos por energia bruta. Ainda
assim, não de forma fatal. Pedaços de metal danificado caem das armaduras
vivas. Um grande auxílio. Facilitando o ataque contras os símbolos de
transmutação.
O que nenhum daqueles dois fugitivos notou foi que os
revenants de trás levantaram finalmente seus arcos. Nunca haviam visto aquelas
criaturas usando armas de longa distância. Cada um com três flechas preparadas.
Foram então disparadas sem cerimônia.
Aqueles golpes não foram esperados. De modo algum. A primeira
saraivada atingiu a área do estômago, o seio e o seu ombro do lado esquerdo.
Isso a deixou atenta. Só que era tarde. A segunda leva atingiu o braço que
segurava sua espada. Um grito pior que de um animal abatido surgia naquele
lugar. E estranhamente, ele ecoava. O sangue escorria, jorrava. A quantidade do
liquido escarlate era imensa. Tinha que se manter em pé. Trocou sua arma da mão
hábil, assim usando-a como bengala. Abriu os olhos só para notar aquele que
seria o último e fatídico golpe. Das três flechas, a única que atingiu foi
mortal. No pescoço.
Seu corpo tremeu demais. Estática por enquanto e sem força,
ela tombou finalmente. Ainda no chão se sentia leve. De repente estremeceu como
um cão faminto. Gemeu como uma assombração. Era uma poça tão grande daquele líquido
saindo do seu corpo que engolia facilmente sua saliva. O dia sumia em sua
vista. E a vida também.
Nikolai chegou ao corpo desfalecido, daquela que sempre ele
tratava por donzela.
-Halphy! Minha linda! Fala comigo! Vamos! Reage! Ofenda-me!
Desistir agora não! Halphy! Não me abandone!
Enquanto ele falava, a jovem encarava aquele céu. Na verdade
não sabia em que lugar sua visão deveria ver. Os sentidos sumiram e como dito,
enxergava só a escuridão. Suas palavras, nem sentido faziam mais. Nada além de
letras separadas e jogadas a esmo, sem conseguir obter uma forma. E tantas
coisas, assim mesmo elas significavam. Em especial perdão. Pelo menos ao jovem
Nikolai, ao qual nem imaginou causar tamanho mal. Seus atos canalhas ainda
tinham motivos mais dignos em comparação e ela. Era um sujeito cheio de falhas,
mas ainda assim, mais nobre.
Ela queria poder. Única, exclusivamente e simplesmente. Envergonhava-se
disso agora. Pelo menos era sincera em sua mente. Nunca achou que aquilo era
tão tolo.
Em seus instantes finais, lentamente se lembrou dos Dragões.
E queria os contemplar uma última vez. Assim como Jean.
E Yo-Long a ouviu na sua própria mente. Atentamente.
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