Era
uma vez, um babaca. Seu nome era Elric. Ele era um cara bem comum e sem sal
nenhum. Ao menos era o que achava o próprio. Talvez por ser estranho, talvez
por não se enturmar, ou simplesmente, pois as pessoas acham que ele é esquisito.
De qualquer forma não era muito popular. Nem queria.
O
bom é não ser reconhecido segundo ele. Andar pela rua sem ter pessoas apontando
o dedo. Querendo ridicularizar você por ser magro, gordo, cabeçudo, mente
pequena, bobo ou CDF. Ter vinte e cinco anos era bom por isso. Finalmente
estava livre desses problemas. Idade mágica.
Na
verdade, depois dos dezoito se sentia... Bem. Ninguém o incomodava. Nada o
aborrecia. Nem sequer falava mais com ele. Sem conversas boas com amigos.
Aparentemente nem tudo estava perfeito não é mesmo?
Ele
voltava a se lembrar quando era garoto algumas vezes, quase que todo o momento
em que respirava. Talvez aquilo fosse um pouco chato, mas ainda assim era bom.
O garoto Elric iremos chamar de Elric Herói. E o mais velho será Elric Babaca.
E por qual motivo eu explico isso? Logo, logo saberá. Só saiba que isso é só
uma parte importante dessa leitura que está em suas mãos.
Pior
ainda é quando se sabe que o Elric Babaca era um cobrador de pedágio, algo
ironizado até pelos companheiros de serviço. Todos os dias recebendo dinheiro
dos motoristas apressados das cidades distantes. Vendo eles passarem zunindo
com os rápidos carros, motos, caminhões, caminhonetes, e toda a sorte de
veículos criados pelo homem. Esses eram os dias agitados. Tempos assim que ele
se forçava a gostar. Na verdade, ele sentia inveja dos motoristas: indo e
voltando de onde quisessem, seguindo para qualquer fronteira. Não pela condição
financeira, mas pela vontade. Seria o paraíso para Elric Babaca.
Só
que ele nunca fez.
Sempre
repetia a mesma velha rotina de atender motoristas de carros, motos, caminhões,
caminhonetes, e toda a sorte de veículos (sim era bem repetitivo mesmo!). Mas
com a mesma cara cheia de desânimo de costume dele. Parecia quase um vampiro,
ou melhor, tinha um rosto de zumbi podre. Desses que estão em moda ultimamente.
Ao invés de comer carne, devorava Ruffles, Doritos, pedaços de pizza de ontem,
cachorros quentes e toda sorte de besteira. Sorte não engordar com tanta
porcaria. Alguns falavam que tinha um estômago comparado ao de um avestruz
imenso. Outros que não tinha fim. Eu falaria que possuía um buraco negro ao
invés da barriga.
Mas
nem isso era mais.
Sem
contar as ex namoradas. Ah sim, as garotas. Cada uma diferente da outra. Sem
nada em comum. A cada ano.
Uma
tinha cabelos pretos, lisos como os de uma índia. Pele morena, quase cobre.
Olhos escuros como jabuticabas. Tocava violino, assim como ele tentava tocar
bateria. Era lindo. Pois gostava de quadrinhos, mitos, besteiras para comer,
filmes e toda sorte de coisa que dificilmente uma garota como ela gosta. Ele
não a amava só por isso, mas toda vez que ela fazia carinho nele parecia quando
um animal era afagado de uma forma maravilhosa, depois de uma farta refeição.
Os dois pareciam idênticos até nisso.
Só
que a vida é uma caixinha de surpresas. E certo dia ela disse que iria embora.
No ponto de ônibus estava ele, todo triste. Não entendia o motivo dela partir.
Mas se calou. Antes de subir no ônibus, ela o beijou três vezes e disse:
-Eu
te amo.
Frase
maldita, frase bendita. Quanto uma pessoa fala isso, parece que o mundo para.
Pelo menos para uma das pessoas. Pois se espera uma resposta quando é a
primeira vez que alguém diz isso a outro. Pode ser um sim ou não, pode ser gelo
ou uma bota de tamanho 51, mas se espera uma resposta.
Voltemos
a história do Elric Babaca, e como foi abandonado três vezes.
Já
a segunda não era nada parecida com a primeira. Ainda tinha o jeito meigo que
ele tanto gostava. Era bem mais baixa que ele e por isso a adorava. Tinha como
a carregar e isso a deixava brava. Pele bem clara, olhos castanhos. Os cabelos
também tinham luzes douradas por cima dos fios acobreados. E quantas vezes no
meio da rua a erguia como uma menininha. Isso a deixava parcialmente irritada,
mas no fundo gostava daquilo. Mulheres... Vai se entender. Não eram parecidos
em gênios, só que o rock era uma paixão em ambos. Ele curtia nu-metal, grunge e
metal melódico, ela já gostava de heavy metal, hard rock e rock industrial.
Gostavam de rock clássico e nisso concordavam muito. As danças ao som de Elvis
eram ótimas.
Foi
difícil quando decidiu terminar com Elric. Mas possuía motivo para isso. Ela
viajava muito e o Babaca ficava enciumado, pensando que poderia encontrar
alguém melhor quando se está junto de alguém que se ama, você deve confiar
nela, do mesmo modo de quando se está longe. E ele não acreditava.
Elric
Babaca recebeu uma ligação. Era ela, pedindo uma “conversa”. E quando se pede
uma “conversa”, todos sabemos que sempre um dos dois vai chorar muito. Se eles
se amam, pelo menos um vai fazer isso. Pois quando não se ama, não é derramada
uma lágrima. Antes, durante ou depois do término.
A
garota terminou com ele durante o serviço dela. Isso ocorreu pois ele insistiu
em falar com ela o mais rápido possível. Quando estava no ônibus de volta para
sua casa, sentou em um lugar que pudesse olhar para trás. Os olhos cheios de
água. Derramavam e molhavam a janela. Era algo horrível.
-Eu
não te amo mais.
Isso
dói, machuca. Quando se escuta essas palavras, parece que alguém enfiou o punho
no seu peito. E depois, colocou até o cotovelo. Atravessou, machucou, magoou.
As pessoas se sentem mal e tão tristes quando escutam isso. Parece até que o
mundo nubla – e muitas vezes é o que ocorre. Deus como dói!
A
terceira e última, lógico, era completamente diferente. Cheia de vontade e
vida. Trabalhava como educadora em uma creche. E como gostava disso. Ele a
amava por isso. Toda a espontaneidade dela deixava ele tão feliz. Era única
para seu coração como só os apaixonados veem as pessoas. Em vários pontos eles
não combinavam. Ela sabia dançar, ele não. Ela sabia escrever, ele sabia falar
muito. Ele gostava de cantar e aí ela se calava. Eram tão diferentes, mas isso
não atrapalhava muito nenhum dos dois. Ela o chamava de urso. Ele a chamava de
princesa.
Só
que novamente ele ficaria sozinho.
Sem
mais, nem menos, em um dia em que ele acreditava estar tudo certo o pior
ocorreu. Eles iriam sair, foi o que Elric Babaca pensou. Mas ela não estava com
um rosto muito convidativo. Falou pouco, como sempre fazia quando estava
nervosa. Terminou tudo na calçada da rua. Ele tentou várias a persuadir. Nada
funcionou.
-Estou
tentando mudar você! – foi uma das poucas frases que soltou. Mas ele não
enxergou sentido naquelas palavras. Nunca tentaria mudar outras pessoas, muito
menos alguém que amasse. Portanto não aceitaria que alguém o alterasse. Se isso
ocorre, é por livre e espontânea vontade. Nem sentia que era uma mudança, era
uma melhora, uma evolução. Ainda assim, como contrariar alguém que quase sempre
esteve certa na vida? Ou que tem uma cabeça muito dura?
Falemos
mais da vida do Elric Babaca agora. Não mais de suas tentativas falhas de
romances. Ele era filho de uma senhora muito humilde, que desde cedo trabalhou
para sustentar sua casa. Além é lógico, ajudar o filho com estudos. Defendeu
com todas as forças o único laço do antigo marido. Morreu em um acidente, na
oficina em que trabalhou em vida. Um bom homem, partiu dessa vida muito cedo.
Além
disso, tinha a avó. Abigail. Uma senhora bondosa e maravilhosa que lhe contava
os mais belos contos. Mas não só de fadas, mas de anões, monstros, aldeões,
dragões, ogros unicórnios, zumbis, lobisomens, dríades, ninfas, gigantes,
gênios, jovens ousados, fantasmas, minotauros, dinossauros, vampiros,
centauros, grifos, hipogrifos, povos pequenos, duendes, quimeras, mantícoras,
serpentes marinhas, duplos, ogros magos, pesadelos e toda a sorte de criaturas.
Ela o fez ler
quadrinhos mais clássicos com bons roteiros. Coisas clássicas como as de Neil
Gaiman e Alan Moore, e tirava as coisas inapropriadas para idade de uma
criança. Além de ler as tiras de Bill Watterson e Gino. Ele gosta de Bone, uma
criação de Jeff Smith. Uma história mágica com ares de jornal. Lindos contos
com princesas e dragões,
magia... e uma boa dose de “kaboom”, “kablam” e “boing”. Maravilhoso mundo que
foi criado quase sempre com nanquim.
Como
gostava de ler, aprendeu a ler livros lindos como O Hobbit, O Senhor dos Anéis,
Sillmarilion, Crônicas de Nárnia, História Sem Fim, entre tantos outros.
Verdadeiras sagas escritas por humanos. Histórias em que o mais improvável
salva o mundo, em que a fantasia fala mais alto e a fé surge nos piores
momentos. Assim são as histórias.
Todas
muito belas, que não chegam aos pés de uma boa conversa com Abigail. Ela falava
do jovem Merlin, muito mais sábio que os grandes magos da época. E uma gama de
heróis e vilões únicos. Pena ter sumido todo esse mundo com a morte da senhora.
Ela
morreu, calmamente, no quarto de sua casa. Segurando a mão de Elric em uma e na
outra, seu exemplar de O Hobbit, em inglês. Ela tinha um sorriso quando se foi.
Isso
mudou a cabeça de Elric Babaca. A depressão se abateu sobre ele. Foi antes dos
três términos de namoro. Mesmo assim, foi complicado.
Eis
aqui um fato que torna Elric Babca legal, ou mais ou menos isso: ele tinha um
mundo mágico dentro de si. Sério!
Era
repleto dos seres que ouviu nas lendas, contos, livros e outros lugares. Ele
gostava de todos que conheceu por lá, mas alguns eram especiais. O jovem
Merlin, um mago que mais falava do que agia – mas muitas vezes suas palavras
valiam por mil lições de sabedoria – parecendo louco normalmente. Rufchip. O
valente esquilo que descendia de Kenevarius, o dentuço, um antigo herói dos
roedores. Tiny Coração de Galinha e Salsa, o mais covarde dos heróis. O cão dos
desenhos da Hanna-Barbera era um intrépido cavaleiro perto dele. E por último,
mas não menos importante, Losille... A corajosa Lo. Tão intrépida e perspicaz.
Além de bela. Tão linda. Percebeu muito tarde que havia se apaixonado pela
pequena elfa.
Em
um dia, os dois brigavam como cão e gato. E um dia sem notar, ele fazia
carinhos em seu cabelo. Se aquilo era magia, então aquele era o encantamento
mais poderoso que nenhum homem quebraria. A força mais poderosa que consumiria
o inferno e derreteria o gelo do inverno. Era lindo. Magia antiga. Um dia ela
acabou.
Losille
morreu... Um erro, um equívoco, um soluço, uma falha... Crítica. A rosa élfica.
Suas últimas palavras para Elric?
-Você
tem gosto de chocolate, leite e gota de pétala de rosa.
Definhou
segurando a mão de seu amado. Pobre Babaca. Babacas se apaixonam. E são tolos.
Acreditam no amor aquando ele não acredita neles. Choram por alguém que morreu,
que os deixou, que os traíram, abandonaram como animais. Sabe? Aqueles muito
novos ou muito velhos, como um produto qualquer. Os filhotes de cães por
exemplo, normalmente têm três meses, os anciões vários anos – entre dez a
quinze anos, mais ou menos – assim como os sentimentos. Algumas vezes, como um
cachorro, os tolos ficam perdidos sem aquele carinho de antigamente. Morrem e
definham. Homem e bicho. Complicado.
Mesmo
assim, voltemos ao mundo mágico de Elric, o Babaca. Quando tinha oito anos ele
se perdeu em uma floresta e caiu nesse mundo de alguma forma. Bateu de frente
com monstros, viajou por estranhos mundos conhece magos e princesas. Mas acima
de tudo, derrotou males antigos. Poderosos demais. Se tornou Elric, o Herói.
Que usava o Bracelete do Infinito.
Quando
acidentalmente chegou ao mundo estranho e bizarro de onde obteve o artefato,
pensou sobre como fazer aquilo, voltar a sua casa. Os seres estranhos levaram
ele para lugares terríveis inicialmente. Mas começou a notar que ele mesmo
transformava as coisas em algo ruim por sua culpa mesmo. Já que elas na verdade
eram tão fantásticas. Poderiam viajar por terras únicas, onde haviam sátiros
que comiam livros, criaturas peludas que tocavam guitarras, ciborgues com
defeitos de fabricação, personagens que pareciam extraídos de animações
japonesas, e tantas coisas que nem nos contos de sua avó teria visto igual.
Magnificas noites, manhãs e tardes eles passaram ali.
Tanto
que ele até achou que tinha acordado de um sonho quando saiu de lá. Porém, ele
notou, estupefato, que seu dedo indicador tinha uma réplica do bracelete
encantado. Uma chance de voltar para aquele universo.
Finalmente,
chegamos ao momento tão esperado. Quando Elric Babaca, mesmo não sabendo
voltará o mundo que um dia considerou ele um herói. Ou achou que iriamos só
ficar nessa rotina.
Era
uma tarde qualquer. Mas era um dia da semana. Talvez uma quarta, sexta ou quem
sabe uma terça... Não importa! O importante se refere ao que aconteceu depois
do serviço por sua roupa usual: camisa azul social com botões bonitos, calça
jeans velha e surrada, tênis com a sola do sapato esquerdo gasto e duas blusas
que usava para deter o frio do inverno. Um cabelo curto, mas bem arrumado, com
uma testa protuberante e olhos verdes. Seria até mais bonito, se arrumasse
melhor sua roupa, assim, poderia ficar mais apresentável. Entretanto, não era
assim que um babaca pensava. O pior vestuário para os momentos mais
importantes. E aquele não seria diferente.
Arrumava
as blusas por cima da camisa de manga curta. Eis que um dos colegas de trabalho
o chamou:
-Tudo
bem, Elric? Está livre hoje à noite?
-Ah...
– e antes que terminasse a frase foi interrompida.
-Putz!
Eu me esqueci que combinamos um número de amigos especifico. Acho que com você
vai ser gente demais.
Quando
falou isso, o colega (um homem gordo e de óculos, com o tipo comum de tiozão)
deu de costas e pediu a Elric que entendesse. O Babaca aceitou. Quis falar algo
contra, mas a timidez e o medo impediram ele. Até ficou com vontade de quebrar
o suposto amigo. Literalmente.
Tudo
bem, pois logo voltaria para sua casa. Entraria no computador, leria um livro,
ou quem sabe, uma história em quadrinhos. Talvez olhasse novamente as estrelas.
Pensar no que era bom.
E
foi o que fez então.
Subiu
no telhado da casa em que passou a morar nos últimos anos. Saiu da sombra de
sua família para viver sozinho. As contas atrasadas, mas ainda era um bom
lugar. O lugar ideal em uma cidade cheia de fumaça que cobria o céu. Bela, mas
mesmo assim sombria. Como ela poderia conter tantos nomes e corações? Mesmo
assim, sua alma estava cheia de vontade em encontrar alguém para si, por mais
difícil que fosse.
Pegou
a escada de madeira do lado do pequeno casebre. Subiu em cima das telhas de cor
marrom, pegou um pano e o colocou por cima delas. Deitou-se lentamente pois as
costas ficavam tão doloridas, depois do serviço. Os olhos cansados,
visualizando os dias seguintes. O que faria exatamente neles, era sua
preocupação. Sem ideias, sem planos, sem muitas armas para enfrentar os
problemas do mundo. Dias tristes se seguiriam como de costume.
Não
se abateria naquela hora. Era o seu momento com a lua e as estrelas. Olhando
para elas, como quando fitamos as coisas mais lindas do mundo. Coisas simples.
Como quando se senta na areia da praia e se olha o oceano. Ou quando se termina
de subir a montanha olhamos o horizonte. Tão belo e sinistro as vezes. Sempre
natural como os dentes de um dragão. Brincando com a imaginação das crianças e
dos adultos, surgindo ideias e imagens. Monstros e fadas. Criaturas únicas em
suas mentes repletas de coisas chatas. Tiradas de uma história de Peter Pan ou
Harry Potter. Quando pessoas comuns encontram o fantástico é através disso.
Pena tudo não terminar como nas histórias que sua avó contava. Lindas, cheias
de duendes, ogros e elfos. Ali e aqui, lá e mais uma vez. Alguns monstruosos e
destrutivos, loucos e belos. Um diferente do outro de qualquer forma. Cada qual
com a sua própria magia.
E
em um dado momento, Elric enxergou uma estrela cadente. Dizem que se você
desejar algo quando ela passa no céu noturno, ele torna-se realidade. Parecia
uma besteira, mas já que estava no vaso da privada, era isso ou o esgoto mesmo.
Fechando os olhos e respirando fundo, soltou:
-Desejo
voltar ao mundo mágico do... Reino.
De
repente, não mais que de repente, notou que uma nova estrela cadente surgiu.
Mas essa cruzava o céu em zig zag, dava ré, piruetas, toda a sorte de
acrobacias na noite. Aquilo era mesmo um corpo celeste? E foi então que quando notou
o mais alarmante, se apavorou ainda mais: a “coisa” vinha em sua direção!
Como
aquilo poderia estar acontecendo? Esfregou os olhos para constatar que não
dormiu no momento em que os fechou. Qual não foi sua surpresa ao perceber que o
objeto se aproximava mais. Pegou um binóculo, que havia deixado ali para ver as
estrelas, assim poderia saber do que se tratava. Sua surpresa se tornou pânico
quando descobriu que de forma veloz e assustadora, Merlin, o mago, voava em
rota de colisão com o seu telhado.
-MERLIN!
NÃO! – gritou Elric.
-ELRIC!
SIM! – gritou Merlin.
Elric
agitava os braços no ar em negativa querendo que Merlin parasse. Inútil. O ser
mágico caiu sobre Elric. Foi um golpe tão grande que quebrou parte do telhado.
O estrondo também.
Os
dois levantaram, como se fizessem isso de um sono pesado. O Babaca arrumava sua
camisa azul cheia de botões, com manga curta. Já Merlin só se levantou com um
salto olímpico. Era comum para ele, afinal, tratava-se de um mago.
-Mas
que...! – gritou Elric interrompido por Merlin.
-Oba!
Oba! Oba! Isso é um livro infanto-juvenil! Esqueceu?
Elric
olhou para Merlin bem contrariado. E estranhando as frases do mago.
-Tudo
bem. O que traz o maior dos magos até mim? – falou o rapaz em tom sarcásticos e
depois mudou – Acha que acreditarei que é o mesmo Merlin que encontrei certa
vez naquele lugar? Maravilha! Estou pedindo respostas de uma alucinação...
-Não
sei quem é essa madame, mas eu acho que quebrei parte do telhado da sua casa.
Elric
bateu a mão no rosto, em evidente desaprovação e sinal de raiva.
-Mas,
do que é você está falando?
-Ora
dessa tal Alucinação. Devo crer que se trata de uma madame? Senhora? Senhorita?
Donzela? Moça? Querida? Moçoila? Broto? Tchutchuca?
O
jovem ficava nova palavra do mago. Parecia cheio de fúria contra o garoto
mágico. Notou, de qualquer forma, que Merlin não mudou. Continuava o mesmo de
quando ainda tinha oito anos. Cheio de truques, nas palavras e nas mãos.
-Não
importa. Seja o que for vá embora.
-Não
posso nobre Elric. Não sem antes o levar comigo.
-Ora
bolas! Não necessita de mim. Você é uma loucura minha! Só isso.
-Se
sou só uma loucura sua – falou isso e de repente movimentou sua mão na direção
da face do Elric – Como posso ter pego seu nariz?
-Está
ficando louco? Olha o que digo... Estou falando que minha loucura esta ficando
louca! Ei, estranho estou sentindo um formigamento no...
E
antes que terminasse te falar, olhou para a mão de Merlin. Não havia um polegar
entre os dedos. Havia, o que chamariam de narina.
-Meu
nariz!
-Não.
Meu nariz.
Elric
Babaca tateou o rosto em busca do nariz, já que esse sentido não lhe era
privado agora. Sem sucesso.
-Devolve!
-Quais
as palavras mágicas?
-Por
favor – falou rangendo os dentes aquele Babaca.
-Eu
disse mágicas. Não de súplica.
-Abracadabra?
-Essa
foi da semana passada. E eu disse palavras no plural.
-Como?
– disse incrédulo Elric.
-Você
me entendeu...
Elric
começou a pensar e quebrar o crânio. Então, pensou na melhor e única resposta
que consegui imaginar:
-Abre-te
Sesámo?
-Palavras
mais que corretas.
O
nariz saltou e pulou três vezes no chão, antes de grudar no rosto de Elric. O
rapaz arrumou aquele fugitivo no próprio rosto. Com cuidado.
-E
então não irá comigo? Ou terei que lhe transformar?
O
rapaz olhou com um canto de olho para o jovem mago. E deu as costas.
Nesse
mesmo instante Merlin soltou um encantamento. Primeiro, o transformou em um
camelo enquanto andava por sobre o telhado. Elric nem havia reparado.
Em seguida, o
metamorfoseou em um s esqueci que combinamos um número de amigos
especifico. Acho que com você vai ser gente demais.
Quando
falou isso, o colega (um homem gordo e de óculos, com o tipo comum de tiozão)
deu de costas e pediu a Elric que entendesse. O Babaca aceitou. Quis falar algo
contra, mas a timidez e o medo impediram ele. Até ficou com vontade de quebrar
o suposto amigo. Literalmente.
Tudo
bem, pois logo voltaria para sua casa. Entraria no computador, leria um livro,
ou quem sabe, uma história em quadrinhos. Talvez olhasse novamente as estrelas.
Pensar no que era bom.
E
foi o que fez então.
Subiu
no telhado da casa em que passou a morar nos últimos anos. Saiu da sombra de
sua família para viver sozinho. As contas atrasadas, mas ainda era um bom
lugar. O lugar ideal em uma cidade cheia de fumaça que cobria o céu. Bela, mas
mesmo assim sombria. Como ela poderia conter tantos nomes e corações? Mesmo
assim, sua alma estava cheia de vontade em encontrar alguém para si, por mais
difícil que fosse.
Pegou
a escada de madeira do lado do pequeno casebre. Subiu em cima das telhas de cor
marrom, pegou um pano e o colocou por cima delas. Deitou-se lentamente pois as
costas ficavam tão doloridas, depois do serviço. Os olhos cansados,
visualizando os dias seguintes. O que faria exatamente neles, era sua
preocupação. Sem ideias, sem planos, sem muitas armas para enfrentar os
problemas do mundo. Dias tristes se seguiriam como de costume.
Não
se abateria naquela hora. Era o seu momento com a lua e as estrelas. Olhando
para elas, como quando fitamos as coisas mais lindas do mundo. Coisas simples.
Como quando se senta na areia da praia e se olha o oceano. Ou quando se termina
de subir a montanha olhamos o horizonte. Tão belo e sinistro as vezes. Sempre
natural como os dentes de um dragão. Brincando com a imaginação das crianças e
dos adultos, surgindo ideias e imagens. Monstros e fadas. Criaturas únicas em
suas mentes repletas de coisas chatas. Tiradas de uma história de Peter Pan ou
Harry Potter. Quando pessoas comuns encontram o fantástico é através disso.
Pena tudo não terminar como nas histórias que sua avó contava. Lindas, cheias
de duendes, ogros e elfos. Ali e aqui, lá e mais uma vez. Alguns monstruosos e
destrutivos, loucos e belos. Um diferente do outro de qualquer forma. Cada qual
com a sua própria magia.
E
em um dado momento, Elric enxergou uma estrela cadente. Dizem que se você
desejar algo quando ela passa no céu noturno, ele torna-se realidade. Parecia
uma besteira, mas já que estava no vaso da privada, era isso ou o esgoto mesmo.
Fechando os olhos e respirando fundo, soltou:
-Desejo
voltar ao mundo mágico do... Reino.
De
repente, não mais que de repente, notou que uma nova estrela cadente surgiu.
Mas essa cruzava o céu em zig zag, dava ré, piruetas, toda a sorte de
acrobacias na noite. Aquilo era mesmo um corpo celeste? E foi então que quando notou
o mais alarmante, se apavorou ainda mais: a “coisa” vinha em sua direção!
Como
aquilo poderia estar acontecendo? Esfregou os olhos para constatar que não
dormiu no momento em que os fechou. Qual não foi sua surpresa ao perceber que o
objeto se aproximava mais. Pegou um binóculo, que havia deixado ali para ver as
estrelas, assim poderia saber do que se tratava. Sua surpresa se tornou pânico
quando descobriu que de forma veloz e assustadora, Merlin, o mago, voava em
rota de colisão com o seu telhado.
-MERLIN!
NÃO! – gritou Elric.
-ELRIC!
SIM! – gritou Merlin.
Elric
agitava os braços no ar em negativa querendo que Merlin parasse. Inútil. O ser
mágico caiu sobre Elric. Foi um golpe tão grande que quebrou parte do telhado.
O estrondo também.
Os
dois levantaram, como se fizessem isso de um sono pesado. O Babaca arrumava sua
camisa azul cheia de botões, com manga curta. Já Merlin só se levantou com um
salto olímpico. Era comum para ele, afinal, tratava-se de um mago.
-Mas
que...! – gritou Elric interrompido por Merlin.
-Oba!
Oba! Oba! Isso é um livro infanto-juvenil! Esqueceu?
Elric
olhou para Merlin bem contrariado. E estranhando as frases do mago.
-Tudo
bem. O que traz o maior dos magos até mim? – falou o rapaz em tom sarcásticos e
depois mudou – Acha que acreditarei que é o mesmo Merlin que encontrei certa
vez naquele lugar? Maravilha! Estou pedindo respostas de uma alucinação...
-Não
sei quem é essa madame, mas eu acho que quebrei parte do telhado da sua casa.
Elric
bateu a mão no rosto, em evidente desaprovação e sinal de raiva.
-Mas,
do que é você está falando?
-Ora
dessa tal Alucinação. Devo crer que se trata de uma madame? Senhora? Senhorita?
Donzela? Moça? Querida? Moçoila? Broto? Tchutchuca?
O
jovem ficava nova palavra do mago. Parecia cheio de fúria contra o garoto
mágico. Notou, de qualquer forma, que Merlin não mudou. Continuava o mesmo de
quando ainda tinha oito anos. Cheio de truques, nas palavras e nas mãos.
-Não
importa. Seja o que for vá embora.
-Não
posso nobre Elric. Não sem antes o levar comigo.
-Ora
bolas! Não necessita de mim. Você é uma loucura minha! Só isso.
-Se
sou só uma loucura sua – falou isso e de repente movimentou sua mão na direção
da face do Elric – Como posso ter pego seu nariz?
-Está
ficando louco? Olha o que digo... Estou falando que minha loucura esta ficando
louca! Ei, estranho estou sentindo um formigamento no...
E
antes que terminasse te falar, olhou para a mão de Merlin. Não havia um polegar
entre os dedos. Havia, o que chamariam de narina.
-Meu
nariz!
-Não.
Meu nariz.
Elric
Babaca tateou o rosto em busca do nariz, já que esse sentido não lhe era
privado agora. Sem sucesso.
-Devolve!
-Quais
as palavras mágicas?
-Por
favor – falou rangendo os dentes aquele Babaca.
-Eu
disse mágicas. Não de súplica.
-Abracadabra?
-Essa
foi da semana passada. E eu disse palavras no plural.
-Como?
– disse incrédulo Elric.
-Você
me entendeu...
Elric
começou a pensar e quebrar o crânio. Então, pensou na melhor e única resposta
que consegui imaginar:
-Abre-te
Sesámo?
-Palavras
mais que corretas.
O
nariz saltou e pulou três vezes no chão, antes de grudar no rosto de Elric. O
rapaz arrumou aquele fugitivo no próprio rosto. Com cuidado.
-E
então não irá comigo? Ou terei que lhe transformar?
O
rapaz olhou com um canto de olho para o jovem mago. E deu as costas.
Nesse
mesmo instante Merlin soltou um encantamento. Primeiro, o transformou em um
camelo enquanto andava por sobre o telhado. Elric nem havia reparado.
Em
seguida, o metamorfoseou em um sapo. Gordo e papão. Comeu até uma mosca
varejeira que por ali passava.
Porco
e gato foram o seguinte. Por último o transformou em um ornitorrinco.
Elric
que nada notou até então, só enraiveceu. Nada pior que ser transformado em uma
mistura de pato com castor.
-Agora
chega! Isso foi demais! Me transforme em um elefante ou até um cachalote. Ou
até mesmo um joão de barro. Mas justo um cruzamento de mamífero com ave
aquática? Eu quero voltar ao normal!
-Qual
a palavra mágica?
O
ornitorrinco Elric pulou no colarinho de Merlin. Encostou seu focinho com o
nariz dele e gritou:
-Me
torne humano de novo, ou juro que faço essas patas fazerem um estrago em você!
– falando isso, mostrou sua arma natural do lado esquerdo.
-Olha
só! E não é que você disse a palavra certa Elric?
No
mesmo instante, Merlin estalou os dedos. E com isso o Babaca possuiu sua forma
humana, caindo no chão, visto que estavam no colarinho do mago.
Levantou-se
e mais uma vez deu de costas para o mago, quando Merlin soltou as palavras que
comoveram o coração de pedra.
-O
pai de Losille deixou nossas terras.
O
Babaca parou. O pai de Losille era rei dos elfos, poderoso e cheio de força de
seu povo. A Folha das Quatro Estações, como era chamado. Honesto e correto,
justo e forte. Quando sua única filha morreu, com certeza perdeu seu chão, pois
ela era seu céu estrelado. A sua única certeza depois da morte, pois essa
também chega as fadas. E ela se foi por culpa de Elric.
Quando
Elric, o Herói, estava no Reino, ele tinha uma grande amizade com Isildor, o
nome verdadeiro do rei dos elfos. Conhecido também como o Corvo Branco, foi ele
que permitiu sua filha viajar com a sua antiga comitiva.
-Ele
tomou um dos pássaros? Foi em direção das nuvens? – falou o Babaca.
-Sim.
-Talvez
eu vá.
-Não
me faça favores. Não é por mim. É pelo Reino. Por favor! – e ao falar isso,
Merlin mostrou os olhos cheios de afeto e charme dignos de um bebê –
Necessitamos do Herói.
Elric
ergueu os braços em sinal de derrota. E ainda existia uma vontade louca de
visitar aquele mundo.
-Como
posso falar não quando você falou as palavras mágicas.
O
pequeno mago sorriu e bateu palmas. Em seguida, ele fez surgir um objeto único.
-Um
taco de baseball? Você não usa uma
vassoura?
Aquele
mago fez uma face com fúria digna de um grande vilão. Nesse instante falou:
-Vassouras
são para meninas. Eu sou um rapaz. E bem boa pinta por sinal.
Isso
só fez Elric revirar os olhos pela tolice dita.
-J.K. Rowling deve discordar de você. E
ainda o chamaria de machista.
-Não
sei quem é esse senhor, muito menos me interessa conhece-lo...
-É
“conhece-la”. J.K. é mulher.
-É
mesmo? – soltou Merlin com cara de esponja.
-Sim?
-E
como ficam John Fitzgerald Kennedy ou
Juscelino Kusbitchek?
-Mas
o que tem... Bem, não vou contra sua lógica. E então... Onde eu subo?
Risadas
contínuas brotaram de Merlin.
-Você
não vai subir.
Em
seguida, ele subiu no veículo esportivo, literalmente falando.
Elric
ficou confuso. Coçou a cabeça, cheio de questões sobre a viagem. E viu que
aquele taco começava seu voo.
-Ei!
O que você quer... – e antes que notasse uma corda enrolou-se no corpo de
Elric.
Rapidamente,
o taco de baseball cruzou os céus. Com um rapaz sendo levado em uma corda prendendo-o.
Passando pelo ar. Gritos loucos de dor e raiva seguiram-se.
-Me
solta! Socorro! Merlin, seu nojento!
-Nada
de elogios! Vamos partindo. Apertem o cinto. Próxima parada: o Reino!
E
ainda que continuasse zangado Elric Babaca soltou seu torto sorriso de
saudades. Estava retornando ao lar.
Naqueles
momentos no ar, graças a Merlin eram literalmente mágicos. Parecia que estava
em um daqueles brinquedos gigantes dos parques de diversão. Só que em vez de
medo, era nostalgia que sentia. Era ótimo. Como viagens que nunca fez. O vento
batia em seu rosto enquanto viajavam pelas nuvens.
Sempre
quis aquilo. A quebra com seu mundo tedioso e comum. Voltar como um herói que
já foi um dia.
Enquanto
flutuavam, todos os sentimentos voltaram ao cruzar aquele infinito mundo. Uma
lenda que bate no seu coração, talvez sua fantasia final. Qual fosse aquele
mal, ele enfrentaria para ajudar o reino. Doutor louco maltratando animais ou
um réptil inútil raptando princesas seria derrotado.
E
após cruzarem os espectros do arco-íris eles podiam ver. Finalmente, eles
enxergavam. Nem contaram as horas.
A
selva tropical de Banana Kong. As antigas terras devastadas do dragão Almiel.
Batalhas terríveis pelo Trono de Bacon, eram clara lá embaixo. A Pirâmide
Redonda de Dart continuava inteira, mesmo não sendo uma pirâmide. Tudo isso
fazendo fronteira com as Terras Inesquecíveis e Cair Longe.
Estavam
finalmente sobre o Reino. A terra mágica de Elric. Que Murphy esteja com ele.
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