Era Inverno. Todos colocaram peles grossas e espessas para
resistir ao tempo frio. Foram concedidas pelos irmãos Wadonski para enfrentar
aquele lugar, A embarcação sumia rapidamente sob a grossa força da neve que
tudo encobria. Talvez o menos acostumado com tudo aquilo, fosse Gustavo. A terra
de onde ele vem não era tão fria nessa época do ano. Isso explicaria o fato de
seu povo ser muito caloroso em todos os sentidos, como muitos diziam. Um povo
que agora só possuía um homem para assumir o trono. O paladino Salles.
E ele não queria saber sobre aquilo. Preocupava-se com Diogo,
seu mestre. Ele ensinou os irmãos Salles. Mostrou que mais que uma arma, uma
espada, deveria se tornar uma extensão de seu corpo. A arma deveria ser seu
ataque e defesa. Mas acima de tudo, uma filosofia que exigia de seu usuário, a
queda perante a arma de um inimigo que idolatre o mal. E lógico, a proteção dos
mais necessitados. Isso nunca deveria ser esquecido. Quem lhe ensinou isso,
agora não acreditava mais nisso. Havia um motivo para aquilo.
A terra em que Lacktum nasceu não era mais a mesma depois dos
ataques dos homens que servem Kalic Benton. Aqueles que viviam na grande ilha
eram muitas vezes pessoas de origem celta, agora viam que além de seus deuses,
agora eram suas esperanças que acabavam pouco a pouco.
Caminhavam pela neve notando a grande dificuldade. E era
mesmo. O lugar parecia que exigia uma dose dobrada de força para cada passo.
Arctus sentia o peso em seu peito, pois já notava que a guerra dominava o
território em que se encontravam. Thror notava chamas ao longe, que ele sabia,
era a queimada das casas das vilas. Halphy reclamava do frio, apesar de já
estar acostumada com isso. Seton nem ligava, fez uma magia em seu corpo para
suportar a temperatura. O próprio Gustavo preparava tudo para não passar pelas
enormes fogueiras que eles viam ao longe. Mas Lacktum se perdia muito mais em
pensamentos, pois ele olhava para o norte com um olhar de nostalgia.
-Lacktum? – perguntou Gustavo.
-O que foi? – falou em resposta o mago, como se fosse tirado
de um transe.
-Contornaremos as fogueiras, certo?
-Ah sim! Lógico...
Foi quando Halphy chegou próximo do ombro de Lacktum. Ele
estava cheio de neve. Tirou um pouco do que estava no mago. Então ela olhou com
ternura para o colega.
-Pensava nela?
-Em quem?
-Na mulher... Na sua amada?
-Lirah... Lirah Lugarao’Céu. Ela era linda. Assim como minha
irmã. E minha mãe. Éramos felizes. Mas, sei que isso pode parecer obvio, mas
como soube que eu pensava nisso.
Foi então que Halphy caminhou junto aos outros, e as pequenas
criaturas que os acompanhariam. O cão se aproximou de Lacktum, enquanto os
outros continuavam. Ele falou:
-Mago você falou que era inverno novamente... Com tanta
frieza que nos gelou mais a alma do que esse clima. Não deve nem ter notado.
O ruivo continuou andando como se seu rosto estivesse cheio
de gelo. Mas não era gelo. Ele se lembrou do que era feito um mago:
determinação e nenhuma piedade.
Nesse meio tempo, Thror sentiu uma sensação que parecia
conhecer a um bom tempo. Como se sentisse que alguém o vigiava. E isso não o
incomodava. Parecia conhecer mesmo aquilo.
Caminhavam sempre contornando os pontos onde notavam as
fogueiras inimigas. O que dificultava muito a chegada até o ponto que
procuravam alcançar. Esse era o Portal de Ixxanon, onde pretendiam chegar. Para
tanto teriam que cruzar todo o território inglês e por último chegar ao extremo
norte das Terras Altas. Passando até pelo Vale das Esmeraldas, um território
que era extremamente pouco conhecido, mas que possuía muitos mitos. Dizem que
lá nasceu Wiegref Hinagawa e Galtran Coração Prateado, dois dos Imortais
Esquecidos. Talvez até encontrassem o poderoso guerreiro e druida. Mas o que
importava era não entrar em confronto direto com nenhuma das três tropas que
serviam a Kalic Benton II.
A Aliança dos Mortos Despertos era formada por criaturas
piores que os demônios que encontraram em Starten. Destruíam aldeias,
devastavam em plantações, quebravam sonhos e retiravam dos homens e mulheres o
que não tinham naquela existência: a vida.
Já os seres criados com a pesquisa de Paracelso, eram tropas
de assalto criadas com o fim de eliminar os oponentes mais resistentes.
Soldados eficientes que conseguiam impedir qualquer chance de vitória contra as
tais tropas da Aliança dos Imortais. Os revenants pareciam que eram mensageiros
da morte. O silêncio das armaduras quebradas por sons que pareciam choro, mas
sabiam que aquilo não era possível. Cotas de malha não poderiam chorar.
Dificilmente conseguiram encontrar as tropas da Aliança dos
Mestres do Martelo. Eles eram mais bem treinados do que todos os outros, e pelo
que Arda havia comentado com os Dragões da Justiça, uma força maior que as
outras duas alianças juntas. Os guerreiros do grupo que temiam o que fosse
aquilo.
Além disso, era possível notar tropas de criaturas maiores.
Eram ogros enormes e fedorentos, todos bem armados. Traziam pavor, equipados
então, muito mais. Com certeza estavam do lado de Kalic Benton II, foi o que
pode concluir Halphy como batedora do grupo.
Isso criava uma maior cautela nos Dragões da Justiça.
Poderiam ser jovens até que preparados, mas nunca houve garantia de vencer os
oponentes. Inclusive tropas bem armadas, A missão é alcançar o portal que
ficava nas Terras Altas. E isso impedia perda de tempo em batalhas
desnecessárias. O único que reclamava das lutas não travadas era Thror, falando
que seus antepassados teriam vergonha de suas forças.
No final de alguns dias, o grupo teria atravessado boa parte
do território inglês, sem nenhum problema. Mas iria demorar até alcançar as
fronteiras do reino. E em algum momento, uma luta seria necessária.
Em uma determinada manhã, os Dragões da Justiça se prepararam
para enfrentar um problema: estavam caminhando por uma planície, coberta de
neve, mas ao longe poderia haver inimigos. A águia Fiel notou que surgiam não
muito longe, membros dos Mestres do Martelo. Todos carregavam uma insígnia de
Mallmor, aquele que invadiu a torre de Azerov. O grupo se mantinha escondido.
-Vamos contornar – disse baixo Lacktum.
-É um luta desnecessária, realmente – assentiu Arctus.
-Qual motivo de não enfrentarmos eles diretamente? – falou
Thror, quase alterando o tom de voz.
-Calado Thror! Não nota o perigo que nos expõe? – advertiu
Halphy como uma ama-seca que adverte uma criança.
-Bem, então contornemos – confirmou o líder dos Dragões.
Os membros foram muito calmamente, atravessando a planície
cheia de neve. Os primeiros a fazer isso foram os animais, furtivos
naturalmente. Logo em seguida foram à ladina, o mago e o druida, que não usavam
nenhum tipo de proteção ou armadura pesada. Por último, o guerreiro grego, o
paladino e o clérigo católico, atravessaram aquele local. Ou quase.
Foi ouvido um estalo
de madeira se quebrando as grevas do Salles. Ele olhou para Thror a sua frente
e Arctus na sua retaguarda. Seria até engraçado, se não fosse à força daquele
barulho na planície. Completado com o rosto de Gustavo cheio de angustia por
delatar o grupo sem querer. Soltou só um contido:
-Perdão.
Os guerreiros anões começaram a cruzar o gelo. Eles notaram
especialmente a parte do grupo com armaduras. Todos os soldados possuíam
machados bem afiados e bem trabalhados. Estavam em número de cinco que
investiram na direção do grupo de jovens.
Atacaram, principalmente, o paladino. Dois contra Thror, dois
contra Gustavo e um contra Arctus.
O que não era esperado foi o golpe certeiro do guerreiro sem
memória, pouco abaixo do braço que segurava um machado contra o anão. Esse
perdeu a força com a arma, mas não desistiu do combate. Golpeou o grego no
ombro e esse também não se desestabilizou.
Anões que golpeavam Gustavo tentavam o fazer cair, mas este
se protegia com seu escudo e espada. Ele se mantinha defendendo os dois
machados, até que retirou a espada da posição defensiva que manteve até então,
para atingir a cabeça do anão, enquanto com o outro braço empurrava o segundo
adversário. Numa seqüência rápida, Gustavo golpeou o peito do anão.
Arctus não possuía tanta sorte quanto os outros, sua maça não
conseguiu atingir o seu oponente. E esse se aproveitou para golpear o sacerdote
no rosto. Com mais precisão poderia perder o pescoço.
Foi quando o druida e o mago começaram a agir escondidos pela
neve. O jovem Seton sacou um arco e sua respectiva flecha. Disparou o projétil
como se quisesse atravessar o peito do não. E seu desejo se concretizou. Pois o
anão que combatia Arctus sentiu uma forte dor nas costas. Mas permanecia rígido
e de pé. Isso até Halphy lançar a adaga no seu corpo que já se contorcia.
Lacktum erguia suas mãos preparando uma magia. Porém, parecia
que ele envergava um arco. De
repente ele entoou:
-What this
arrow fill the breast of my enemy. Like Art makes me.
De repente, o inimigo adjacente a Gustavo tombou por uma seta
de energia fumegante. Em alguns instantes ela sumiu das costas do anão
deprevenido.
Um dos anões que combatia Thror, então grita:
-Dalik! Há conjuradores entre eles!
-Esta bem Rufgar!
Mas era tarde. Seton lançou setas de madeira contra o peito
do anão que tentou agüentar bravamente. Não obteve sucesso.
-Dalik! Não!
O anão foi em direção do aliado caído. Thror então viu uma
chance de definir aquele combate gélido.
-Thror não mate! – gritou Lacktum.
Nesse momento, o diminuto guerreiro se lembrou que estava em
combate. Mas quando se virou, só pode ver o cabo da poderosa espada de Thror
acertando sua face, antes de tombar.
Lacktum colocou as mãos na cintura como sinal de
desaprovação, enquanto saia de seu esconderijo na neve. Thror estranhou a
reação do mago.
-O que foi? – o guerreiro falou – Eu o deixei vivo.
Foi então que o mago pegou o inconsciente guerreiro e puxou
para perto de uma árvore seca devido ao inverno.
-Bem... Ao menos podemos obter informações preciosas para
enfrentar o nosso inimigo... Como ele pesa...
Depois de um bom tempo, o anão despertou como se fosse um
bêbado que despertava de uma ressaca terrível. Mas com certeza, uma cerveja não
traria tanta dor quanto aquilo, para o guerreiro vencido. Tanto no corpo quanto
no orgulho.
Lá estava ele, amarrado a uma árvore seca, desprovido de arma
e armadura. Seus pés também não podiam se mexer. E ao seu redor havia cinco
homens e uma mulher, além das figuras animais. A barba cheia de tranças
mostrava que muitos verões ele havia visto e temia que perdesse a vida por
meros filhotes humanos. E seria uma desonra maior do que a de ser capturado.
Thror conversava com Lacktum, quando notaram que o anão
despertou.
-Ora vejam – com tom de sarcasmo o mago – ele despertou para
nos contar algo. Não é?
-Do que falam? – perguntou o anão com ar de raiva.
-Você é membro das tropas que servem a Mallmor – falou Arctus
como um ferrenho interrogador – Das três tropas que servem Kalic Benton II, os
anões são membros da única que podemos extrair informações. E ao que parece
você era o líder daquele esquadrão. O que significa que pode nos informar sobre
algumas coisas...
-Em nome de Vossa Majestade Mallmor, não irão obter nada de
mim!
Lacktum olhou para Thror. Esse entendeu rapidamente – coisa
rara para o grego. Ele pegou pela barba do anão com uma mão, enquanto com a
outra pressionava próxima do olho dele ferido. O anão agüentou bastante, mas
até um homem resistente cede. Ele gritou de dor, muita dor.
Foi então que o mago gritou para o guerreiro:
-Chega Thror!
O grego cessou a tortura. Era engraçado que o mesmo Thror tão
gentil poderia ser tão terrível. Ele fez sangrar o anão com sua poderosa mão.
Mais um pouco, poderia perfurar permanentemente o olho do inimigo. Foi quando
Arctus chegou até o anão.
-Qual o seu nome, anão?
-Rufgar... Meu nome é Rufgar – falou o guerreiro torturado.
Sua ferida de repente sumiu, graças a ajuda do clérigo. Esse
por sua vez disse:
-Anão Rufgar... Diga a eles o que desejam e talvez sejam
clementes contigo.
-Clementes? Um bando de humanos clementes? Isso é uma piada?
-Você esta vivo, não é? – soltou de forma acida Gustavo.
Surgiu um silêncio, cortado pelas palavras de Thror.
-Eu queria matar. Não me permitiram.
Rufgar olhou a todos e depois de muito pensar, falou que iria
responder as perguntas. Mas somente por conta da piedade que o padre cedeu a
ele.
Lactum perguntou como os outros exércitos eram controlados.
Afinal, os mortos famintos e os revenants teriam que ser manipulados de uma
forma arcana única.
-Os dois exércitos estão sendo controlados através de itens
conhecidos como Lamterna dos Condenados.
-Lanterna? – soltou um curioso Seton.
-As Lanternas são itens copiados por alquimistas, de um
artefato único de mesmo nome. Cada uma delas esta na mão dos lideres das
alianças. Pois foi através delas que as almas são colocadas em receptáculos de
carne ou em armaduras. Com esses itens, eles controlam as tropas.
-Certo – disse Lacktum – Já que é assim, como eles obtiveram
o artefato original?
-Não sei – soltou Rufgar – Alguns falam que o item original
era do mentor de Kalic Benton II. Mas não há certeza de onde ele surgiu.
-Espere – falou Arctus compreendendo algo – quer disser que
os revenants são preenchidos com almas ou magia?
-Com almas – respondeu Rufgar – A Lanterna dos Condenados
original controla forças necromânticas. Eu nunca entendi disso, mas compreendi
que isso tinha haver com os mortos famintos.
Isso começou a fazer sentido nas cabeças de Halphy e Lacktum.
Quando estiveram em Starten, um número muito grande de mortos famintos estava
atacando a vila. Inicialmente, pensavam que isso tinha haver com os poderes
arcanos do mestre secreto do Pacto de Guerra, mas agora isso poderia ter alguma
relação com o artefato. Mas não importava naquele momento.
-Como sabe tanto disso? – perguntou desconfiado Gustavo.
Todos começaram realmente a estranhar as informações
detalhadas de Rufgar. Mas Lacktum não se deixava enganar. Ele notava a verdade
nas palavras proferidas.
-Nosso mestre – continuou o anão – nos permite saber tudo que
ocorre em seu exército. Ele chama suas tropas e concede informações da batalha
esporadicamente. Assim como entrava em lutas antes, podemos confiar nele para
nos mostrar um futuro glorioso e sem mentiras.
-Até parece... – soltou Thror.
-Não ofenda Vossa Majestade!
Novamente, a devoção do anão ao seu líder o tornava uma peça
única. Ele estava longe de qualquer um de seus compatriotas, e mesmo assim, se
sentia motivado a proteger a honra de sua raça. Especialmente, ao que se
referia ao Príncipe Negro dos Anões.
-Muito interessante – falou o sacerdote católico com a mão no
queixo.
-Sabe o nome do mestre de Kalic Benton? – perguntou incisivo
Lacktum. Ele queria obter mais coisas sobre o homem que começava a acreditar
que era seu nêmesis.
-Nunca ouvi falar nem boatos ou rumores sobre tal ser –
respondeu prontamente Rufgar.
-Agora surge uma pergunta que começa a não fazer sentido na
minha cabeça: ao que parece, algum lugar no Reino da França, ou até além, é o
verdadeiro objetivo desses batalhões. Então qual o motivo de mandarem suas
tropas para cá? Não faz sentido!
Rufgar quis se calar. Essa informação parecia extremamente
vital para a missão que cumpriam. Até então, não se acreditava que haveria a
captura de algum dos soldados anões. Um erro tolo demais, alguns pensariam.
Foi quando Lacktum falou para Thror ser mais rude com o anão.
Ele realmente foi. O pequeno Furta-Trufas e Halphy ficaram horrorizados com os
golpes do grego no diminuto ser. Ninguém, nem mesmo Lacktum, se divertia com
aquelas cenas grotescas. Mas elas eram necessárias. Aquilo poderia impedir uma
guerra sem sentido. Será que era assim que os jovens deixam sua inocência de
lado e se tornam algo parecido com soldados?
Após um longo período, ao quais os mais precavidos temiam ser
encontrados pelas outras tropas, o pobre Rufgar ensangüentado começou a soltar
o que conteve até agora.
-Esta bem! Malditos sejam! Espero que O Nada[1]
devore as almas de cada presente aqui! – nesse momento, Furta-Trufas desmaiou
de medo – Se querem saber o verdadeiro motivo de combater nessas terras, devem
saber que esse reino esta sendo limpo para que haja uma exército poderoso. A
maioria de nossas tropas se concentrava aqui desde o começo. Limpando o caminho
com tropas invencíveis estaremos livres para o verdadeiro objetivo desde o
começo. Roma.
-Isso explica os mapas que encontramos tempos atrás – fala
Lacktum, como se solucionasse um fato estranho – Vocês pretendem usar a
Inglaterra como ponta de lança para um ataque contra Roma!
-E já sei até parte até parte do plano. Eliminando uma grande
quantidade de pessoas, teriam material corporal e espiritual. Corpos para seu
exército de mortos famintos e almas para preencher as aberrações, conhecidas
como revenants – falou o clérigo católico, completando os pensamentos do mago.
-As Lanternas devem facilitar o processo – pensou Seton.
-Eles contam com mais alguém? – soltou Gustavo.
-Como assim? – desconversou o anão.
-Não me engana com sua fala guerreiro – começou o paladino –
O que você ainda não respondeu é quem obtêm informações para Kalic Benton II.
Afinal, as três Alianças que servem a ele, não são formadas por nenhum grupo de
espiões. Os mortos famintos e revenants com certeza não devem ter consciência
para conseguir planejar nada. Os anões são combatentes em suas fileiras,
dificilmente haveria arcanos entre eles... Quando mais espiões! E nem necessito
argumentar sobre os ogros.
-Esta bem – falou Rufgar, concordando com o paladino de
cabelos negros.
-E então.
-Foi o Bando do Tigre Demoníaco.
O Bando do Tigre Demoníaco era formado por mercenários que
trabalhavam sempre pelo melhor preço. Conhecidos por terem obtido êxito, aonde
outros jamais se arriscariam. O grupo era uma espécie de guilda que aceitava os
mais diversos serviços, desde a proteção de reis e nobres, até os assassinatos
de pessoas com a mesma importância. Isso sem contar, a obtenção de artefatos
sombrios e a destruição de monstros presentes só em lendas. Eram mais
conhecidos como uma lenda para assustar piratas no Mediterrâneo.
Seu líder e criador seria Hazik, conhecido por manejar duas
espadas como uma só. Ele foi um homem que nasceu nas terras do Mediterrâneo,
mas que aprendeu os ofícios da Arte e suas utilidades. E se interessou,
principalmente pelas evocações demoníacas. Assim obteve um favor do demônio,
que um dia libertou: viveria o dobro de qualquer homem, se concedesse sua alma
ao Inferno.
Com tanto tempo – e poder que obteve em decorrência de sua
vida estendida – o guerreiro criou o Bando do Tigre Demoníaco. O nome vinha da
alcunha de Hazik, o Tigre Demoníaco de Um Olho Só. Ele havia perdido um dos
olhos em um combate contra um homem de extrema habilidade. Nunca souberam se
Hazik havia vencido esse combate.
Ele tinha o auxilio de alguns homens poderosos. Entre eles os
nomes de Daubar, Yue Khan e Augustus. Daubar era o braço direito de Hazik, mais
conhecido como o Outro Olho. Espadachim tão talentoso quanto seu mestre. Yue
Khan era um monge, mas não era como os ocidentais, guiados por um deus e sim
por uma doutrina que conseguia simular os poderes arcanos de um arcano, mas não
perfeitamente. Já Augustus era uma sombra, um homem especializado em mortes, um
assassino que aprendeu essa arte com homens do oriente.
Muitos admiravam esses homens, mas os sábios temiam a todos.
Os demônios cobram caro demais.
Após o interrogatório, os dragões se entreolharam. O que
fariam com Rufgar? Foi então que a resposta dessa dúvida recaiu sobre os ombros
de Lacktum.
-Ele vai conosco. Pelo menos até cruzarmos toda a Inglaterra.
-Certo – disse Arctus muito satisfeito com a decisão do
líder.
-Eu o mataria – disse Thror, sacando a espada curta.
-Me solte careca e então veremos quem mata quem! – gritou
revoltado Rufgar.
-Parem os dois! – falou rapidamente o líder arcano do grupo,
enquanto se abaixava para tratar com o anão – Nós não faremos mal a você.
Então, por favor, entenda que não podemos lhe soltar no momento.
O anão consentiu dizendo:
-Que o Imperador dos Reinos Além das Nuvens lhe seja grato
arcano
-Me chamo Lacktum, Rufgar.
Dias se passaram, e pelo que Lacktum se lembrava não faltava
muito para chegar até as fronteiras. Estranhamente, Halphy sentia um tom triste
na voz do arcano. Ela obviamente começou a ter certeza que o baronato de Van
Sirian estava próximo. E as lembranças do líder começavam a ferir seu coração
novamente. Era como o golpe exposto de um corte, que dói mesmo com o mais forte
dos bálsamos.
Arctus em determinada noite, também notou isso no rapaz. O
monge ouviu Thror, como Lacktum teria se unido ao grupo, e se compadeceu dele.
Como um sacerdote, desde que se lembra, ele nunca sentiu dor por ser órfão. O
fato de ser cuidado pelos padres de um
monastério, fez querer que as pessoas que ele conhecesse, fossem protegidas por
ele. Ele não se iludia com chances de encontrar seus pais, só de fazer o bem no
nome daqueles que lhe concederam a vida. O que fez temer também por seu colega
de grupo. Mas sempre o mago se fechava em seus livros.
Naquela noite, Lacktum se fechou novamente nas folhas.
Um livro que Arda entregou a Lacktum. Era uma compilação do
livro que foi entregue por Azerov. O próprio regente teria usado meios arcanos
para compilar os escritos e não enlouquecer no processo. O pouco que leu, falava
de enorme mal surgindo das estrelas. Mas nada trazia mais medo que outro
problema para a ilha, pensava o regente. Então, preferiu entregar o livro a
Lacktum, que sempre se interessou nos assuntos relativos ao velho caduco da
torre, como ele mesmo o chamava. Talvez, até mesmo conseguiria compreender que
forças estariam agindo naquele livro.
O acampamento improvisado foi montado como tantas outras
vezes antes, enquanto Lacktum se afundava no livro. Todos conversavam, tomando
cuidado para que ninguém notasse isso, nem a fogueira. Era um território
inimigo ainda. Mas o problema eram as broncas de Halphy sobre Thror. Era
engraçado ver a jovem meio elfa tentando fazer o guerreiro grego parar de
beber. Hilário alguém diria.
Depois de certo tempo, o barulho então cessou e muitos foram
dormi. Com exceção do homem que liderava o grupo. Este continuava lendo o
livro, com muito cuidado. Enquanto lia, ouviu o seguinte:
Ele quer a
máscara para si...
-Como? – falou Lacktum antes de olhar ao redor, vendo que
todos dormiam, incluindo o anão que haviam capturado. A voz parecia muito certa
do que falava e extremamente familiar. O arcano sentia a verdade nas palavras
que ouviu. Mesmo elas vindo do vazio.
Novamente surgiu na escuridão:
Ele quer obter ela para entregar a Mallmor... Ou pior
E então, o arcano se sentiu confuso mas sugestionado a
acreditar naquelas palavras.
-Quem?
A voz sumiu por alguns instantes. E quando ele achava que não
havia acontecido nada, a voz lhe trouxe um nome:
Rufgar
Foi então que o arcano notou o anão amarrado e amordaçado,
próximo a uma árvore novamente. Ele dormia de forma desajeitada, mas na mente e
no espírito de Lacktum, ele acreditava que era tudo fingimento de Rufgar, se é
que esse era seu nome realmente. Algo o fazia desconfiar das atitudes do
diminuto guerreiro agora. Era um homem que servia a Mallmor, o mesmo miserável
que um pouco mais de um mês invadiu a torre de Azerov. Quem não poderia
garantir que ele, de alguma forma, estaria entregando informações ao líder dos
pequenos elementais da terra?
Estranhamente, de súbito, Lacktum levantou como um fantasma
que surge de um terrível pesadelo. Havia fúria em seus olhos, afinal, ele sabia
que um inimigo terrível poderia estar ali, com eles.
A mão crepitava com mana, a energia mística inerente em todos
os seres e coisas existentes no universo conhecido. Ela estava preenchida com
um pouco de energia negra e profana da necromância. Estava pronto para lançar o
feitiço, quando Halphy o interrompeu, segurando pelo pulso do arcano.
Os dois se fitaram como se estivessem enfrentando um ao outro
de modo pessoal. Era estranho, mas Halphy começava a sentir a magia inerente em
si crescendo, e sabia que se fosse necessário enfrentaria o mago inglês.
-O que foi ruivo? – perguntou ela – Qual o motivo de preparar
a magia contra esse anão?
-Como sabe que era contra Rufgar? – retrucou o inglês.
-Não tente me enganar Lacktum! Sou experiente o bastante para
saber suas intenções!
-Eu... Eu não sei o que deu em mim... Desculpe Halphy...
-Você não tem usado aquela máscara dos diabos, não é?
-Não... Qual o motivo de me perguntar isso?
-Nada. Só pensei que pudesse estar a usando e por isso agia
assim.
-Tudo bem... – mas logo que terminou de falar isso, golpeou o
rosto da jovem ladina feiticeira. O som que o golpe proporcionou finalmente
acordou alguns dos homens que dormiam. Arctus e Seton foram acudir a jovem
ladina. Valente pulou para a perna de Lacktum de forma a o deter com mordidas,
assim como Alexander. Ambos inúteis.
Gustavo já iria sacar sua arma, quando o poderoso grego quase
quebrou o queixo do mago, fazendo este cair no chão com um barulho seco na
neve. O paladino ergueu o corpo de Lacktum da neve então. Quando notou, viu um
estranho volume na mão direita do companheiro ensandecido. Era o livro
traduzido de Azerov.
-Mas o que diabos, ocorreu aqui? Que demônio se apoderou
dele? – soltou Arctus.
Parecia que naquele lugar, um furacão teria passado. Rufgar
olhava tudo, sem poder se expressar sobre o ocorrido. E foi então que Seton se
lembrou de uma cena que o apavorou demais no passado. Estava se repetindo o que
ocorreu na Grécia com Azerov, só que agora era com Lacktum!
[1] O
Nada: como em culturas celtas e germânicas não existem demônios (como os da
visão católica), O Nada seria uma personificação do mal nos mitos dos seres
elementais.
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