terça-feira, 8 de abril de 2014

(Parte 20) Capítulo Cinco: Necrópole



A morte contornava cada pedaço daquele lugar. Parecia uma região onde as almas se contorciam e que traziam consigo o ar do medo. Os espíritos dos mortos cantavam a Canção dos Condenados como um enorme coro. Os com vínculos com o arcano, divino e natural conseguiam ouvir os gemidos dos falecidos. Isso mostrava quando o lugar possuía uma aura de morte, sendo que apesar de experiente não possuíam força o suficiente para escutar as vozes dos espíritos corretamente. Era uma visão aterradora, não fosse pelo detalhe de serem forçados a ficar no castelo.
Havia uma tempestade de neve lá fora, criando medo a todos. Não teriam como sair da construção tão cedo. E mesmo as casas na vila não seriam o bastante para agüentar a força daquele clima. A noite se arrastaria pesadamente.
O castelo havia sido construído para Kalidor Hein Hagen, o líder supremo dos Imortais Esquecidos. Como tal, deveria resistir às forças dos elementos. Lendas contam sobre uma cigana que concedeu ao poderoso guerreiro as construção, através de uma carta de tarot, em sua juventude. Não parecia tão distante da verdade agora, pois além da aura de morte ali presente, havia uma fração de poder arcano também.
Halphy e Thror, depois de curados das feridas de combate, agiram como batedores para verificar se Diogo não teria deixado surpresas desagradáveis. E no final, estranhamente verificaram que não havia nada. Nenhum corpo, armadilha ou magia foi encontrada pela dupla. E Lacktum já sabia o motivo disso, afinal, Van Sirian deveria ser uma espécie de troféu para Kalic Benton. Cada vez mais o arcano tinha certeza que foi ele quem matou todos naquela terra. Assim como Lirah, ainda desaparecida.
A ladina verificou que além dos quartos da família, havia um salão de reuniões, uma ampla cozinha e vários dormitórios para hospedes. Esse castelo era realmente vasto em tempos passados, e deveria ter sido lindo. Agora ela entendia, em parte, os sentimentos que fizeram o mago, começar sua jornada de ódio. Mas mesmo assim, acreditava que nunca entraria em uma espiral de vingança que a consumisse a esse ponto.
Todos estavam no quarto, que em uma vida passada, pertenceu a Lacktum. Era simples e um dos mais aquecidos, não só pela lenha queimada que conseguiram achar, mas pela distância dos quartos com janelas. Era bem isolado.
A fogueira improvisada crepitava e os olhos de Gustavo fitavam as chamas com um ar de saudades... E ódio de si mesmo.
Lacktum levantou depois de certo tempo e então pediu:
-Nos conte uma história? Quem o grupo enfrentará?

Gustavo olhou fundo nos olhos do mago. Pediu que ele se sentasse novamente, pois a história seria longa. Todos se aquietaram ouvindo o paladino. Eles olharam para ele como se um conto de fadas fosse contado. Mas não seria isso.
-Vim de terras distantes, separado de meu querido irmão. Acho que talvez não soubessem – e mesmo que soubessem não faria diferença – que somo príncipes. Filho de um bom e gentil soberano que sempre prezou por seus rebentos. Quis a fortuna que ele tivesse três filhos. Eu atualmente possuo vinte verões de vida. Federick era o mais novo, que hoje deveria ter dezessete. Já Joseph era o do meio. Se ainda estivesse vivo, teria dezenove. Mas para a cabeça cheia de tramas dos nobres de nossa terra isso era um grave problema e terrível dilema. Nossa mãe morreu no mesmo dia em que deu a luz a Federick, o que fez com que nunca tivéssemos muito tempo para saber o que o abraço materno. De qualquer modo, crescemos e os costumes antigos de nosso povo diziam que um novo rei deve ser decidido antes de o antigo morrer, em um combate ritual, feito entre os herdeiros. Normalmente, ele nunca ocorria, pois sempre houve só um príncipe em cada descendência que se saiba. E esse combate ocorreria quando pelo menos um de nós tivesse completado vinte anos. Enquanto crescíamos, fomos treinados por um cavaleiro que seguia os costumes antigos da doutrina de James Gawain e seu discípulo Half, mestres nas espadas que treinaram diversos cavaleiros nobres, de diversas religiões. Seu nome era Diogo Fernandez, homem um tanto misterioso, mas sempre justo conosco. Fomos os três, treinados como seus filhos. Nesse meio tempo, os nobres pressionavam meu pai e Diogo sempre, mas nunca cediam. Mesmo assim, isso nos atingiu, pois treinávamos de forma, cada vez mais pesada... Isso criava raiva entre nós, ressentimentos... Certo dia, em um fatídico dia de treino, a batalha se estendia demais. Até que Joseph provocou a mim e a Federick. Sempre foi o melhor dos três. E nosso mestre observava a tudo... – nesse instante, o paladino fez uma pausa muito maior, tentando recobrar o controle sobre seus sentimentos – Quando em um golpe de azar, ambos acertamos o pobre Joseph. Ele deveria sobreviver a um combate como aquele. Sempre foi o melhor no combate. Mesmo assim, ele pereceu em nossas mãos. Diogo ficou irado. Ele nos amaldiçoou.
-Verdade? – soltou Lacktum.
-Ouvir disser que a maldição de um guerreiro sagrado é algo horrível – disse a ladina feiticeira se lembrando das frases de sua mãe – Um paladino abdica de seus tons e suas pragas se tornam poderosas o bastante para acabar com a vítima, ou tornar sua existência uma lastima. Se Diogo acreditava que fizeram isso por mal, com certeza as palavras teriam grande poder.
-É – falou Gustavo.
-É como se fosse uma troca? – perguntou Lacktum.
-É – respondeu Halphy.
-Qual era a maldição? – perguntou Arctus inflexível com os braços entrelaçados.
-Federick nunca morreria em um duelo justo, foi isso que ele disse. E pelo que me contaram de sua morte, isso se concretizou. Eu teria outro fim. Ele disse que eu morreria pelas mãos da pessoa que eu mais amo.

Todos se calaram o resto da noite. Cada um dias que passaram com o paladino parecera calmo até aquele momento. A vida deles sempre foi atribulada pela sucessão de combates e aventuras. A companhia do paladino sempre trouxe para todos eles confiança e bom senso. Sempre foi uma força de paz para os Dragões da Justiça. Como voltariam a ter o mesmo sentimento de antes por ele? Como lidar com um fato assim, tão sombrio? Será mesmo que os irmãos não fizeram aquilo por mal?
Tudo que foi falado fez sentido. Afinal, sempre haviam notado em ambos os irmãos certo ar de melancolia e nostalgia.
Já Arctus, não se deixaria se abater. Ele realmente se espantou com o passado sombrio de Gustavo. Mas o amor que sentia por Salles superava a precaução pedida naquela situação. Ele era o irmão que nunca possuiu.
Só sobraram acordados, o padre Arctus e o líder Lacktum. O mago olhava para a fogueira como se procurasse algo. Algo que não encontrou na vila, no castelo e muito menos durante o combate. Algo que alimentasse sua alma que ansiava a morte de certo homem de máscara. Esse algo, o cegava para os problemas do grupo.
Eis que de repente, Lacktum começou a recitar, sem notar o que saia de sua boca:
-Um dragão em espírito nós somos...
-Como? – olhou com espanto, Arctus para o arcano.
-Nada, me lembrei do Gor. Certa vez, ele disse que quando recitava uma frase diante a morte, ela temia nos levar. Muito tempo atrás em uma conversa de fogueira. Acho que era isso não é? Nem lembro mais...
-Você pensa muito no combate.
-Você acha?
-É você sempre se sente instigado a fazer o maior corte. O maior golpe possível. Nunca cicatrizando as feridas dos outros, nem as suas.
Lacktum olhou para o padre com raiva, mas também admiração por sua audácia.
-Você me considera um mau líder?
-Não... Sim, acho.
-Nem eu sei o motivo de ter sido escolhido para isso.
-Mas você foi escolhido. Não foi a mim, nem ao grego cabeça dura, nem a fealith. Foi você. E a liderança é um fardo que não se passa sem ter certeza que isso irá terminar de forma certa.
Mesmo não querendo admitir o padre estava certo. Ele não sabia que a liderança do grupo estava fazendo em suas mãos. Mas não poderia entregar seu cargo para outro tão cedo. Era necessário lutar para mostrar que sempre haverá alguém protegendo os menos afortunados. Contra qualquer coisa que o mundo jogasse de pior contra nós.
-Diga-me – falou o mago – nunca entendi essa idéia da magia divina. A Arte parte do princípio que o mana existe no corpo é todo focalizado através de nossa vontade. Assim, nós podemos criar magia.
-Já ouvi falar disso que chamam da Arte.
-Mas como vocês lidam com ela também? Vocês nem seguem os caminhos antigos da Arte. Nem você, nem Seton.
-Eu não sei quando ao druida – falou isso enquanto olhava para Seton – mas minha força vem de Deus.
O arcano riu como se alguém tivesse lhe contado uma ótima piada. Quase acordou os animais, que tinham a audição mais sensível. Quando terminou, secou os olhos.
-Me diga a verdade! – pediu o mago.
-Mas lhe disse ela. Você por acaso sente a magia?
-Mas o que...?
-Você sente?
-Logicamente!
-Eu também sinto Deus em meu coração. Através dele opero milagres. Que vocês chamam de orações.
-Mas eu não o vejo! – disse sarcasticamente Lacktum – Não vejo seus símbolos. Nem seus prodígios naturais. Como posso saber que existe.
Foi então que o padre se aproximou do mago. Então ele falou:
-Você vê a magia? Toca nela? Ou ela se parece mais com o vento que lhe cerca? Como posso saber que ela existe então?
O mago ruivo levantou em direção das próprias cobertas. Cobriu-se pronto para dormir.
-Padre ressentido. Que nervoso. Nem entendo como ele reage assim.

Todos dormiam alguns, em seus sonhos, sabiam que os ressentimentos e as duvidas surgiam em seus corações. Mas não era momento para isso. Os corações sonhavam ao invés disso. Lembravam de momentos bons e até tristes, mas todos oníricos, falsos. E mesmo nos sonhos, criavam coisas em suas mentes. Coisas belas, tristes, fortes, singelas e felizes. Mas o impossível não existia ali. Era uma palavra sem sentido.
Foi então que Lacktum despertou, olhando em direção da porta. Parecia ter ouvido uma voz na Canção dos Condenados. Uma voz conhecida. Que ele não ouvia a anos.
Ele começou a caminhar pelos corredores, sem nem notar o perigo que corria. Não avisou ninguém de seu time. Se fosse uma armadilha, ele estaria caindo direto para ela. Mas algo lhe dizia que não haveria nenhum mal naquele lugar. No salão que pertenceu a seu pai.
O lugar ainda era forrado por várias peles de ursos e outros animais caçados. Com exceção do teto, havia várias deles em todos os lados. No final do salão havia uma elevação, onde havia um trono. Todo feito de madeira nobre. Atrás dele, era possível ver uma janela circular. Passava uma pequena quantidade de neve por ela.
Lacktum olhava na direção do trono com muita saudade. Parecia até ver a forma de seu pai. Intransigente, áspero, forte e justo. Mas acima de tudo, se lembrava como ele o amava, mesmo não sendo um exemplo de pai. Ele foi seu problema e seu alivio. Seu herói e bandido. Parecia até que ele estava ali. E estava.
Sua forma espectral se formava junto com os flocos de neve que caiam da janela. Lembrava muito com sua forma em vida, mas em alguns pontos sua aparência se deformava como um borrão branco e translúcido. Parecia com um nobre cavaleiro, vestindo uma armadura pesada e colocava uma espada na cintura como um símbolo de austeridade. Toda a imagem ao redor criou um necroplasma com uma aura sobrenatural. Uma imagem majestosa, mas aterradora.
-Meu filho... Se ajoelhe. O nobre do castelo esta aqui.

Lacktum tremeu. Nunca, nesses últimos anos, se sentiu com tanto medo. Seu pai era duro e severo. A mera aparição dele – mesmo que em espírito – o deixava tão amedrontado, que fez ajoelhar pela fraqueza em suas pernas. Era como se uma mão invisível e gigante o forçasse a isso. Isso causou pavor no mago.
O mago falou para o pai com tom suplicante:
-Quer algo de mim meu pai?
O espectro olhou com ar de severidade para o rebento. Parecia nervoso mas ainda contido.
-Já nos vingou meu filho? Já nos trouxe a honra depois da morte? Diga-me.
Lacktum não conseguiu fitar mais o velho. O seu sermão ainda afetava Lacktum. Parecia que criava nele, o temor de um menino que cometeu um erro grave perante a família. Os lábios do mago inglês o traíram.
-Nã-não meu pai...
Foi nesse momento que o silêncio pairou. Mas depois de um tempo que a voz do espírito se fez ouvir como um relâmpago. Mesmo sendo transparente e translúcido, ele bateu na cadeira com força.
-Como um Van Kristen ousa não cumprir seu juramento de sangue?
-Mas como...
-Nós mortos, podemos escutar que homens pensam e falam. Os mortos sabem o que acontece na alma de seus amados. È seu dever desde que em nosso túmulo prometeu a morte de Kalic Benton.
-Então, ele é Kalic Benton? Seu assassino é ele? O mago que matou minha família inteira é Kalic Benton, que lidera o Pacto de Guerra? – Lacktum falou com um tom mais confiante.
A aparição levantou do trono, como se fosse soltar uma palavra que traria um alivio para a alma do arcano. O cavaleiro fantasmagórico andava calmamente, enquanto a neve e a luz da noite passavam pelo corpo espectral.
-Sim – falou ele sereno, mas ainda severo – Ele é nosso assassino.
-E o que quer de mim?
-Ora meu filho, o que acha?
-Quer que eu me vingue por vocês?
-Não quero só vingança. Quero que o elimine para todo sempre.
-Mas qual motivo disso? Como e qual o motivo dele queres matar vocês se vangloriar com minha dor? Não faz sentido.
-Calado!
O silêncio que surgiu depois parecia que precedia uma tempestade. O que fosse pronunciado, não seria algo bom.
-Não deve saber, mas o corpo de Sophia foi profanado.
-Minha irmã? O que houve? Onde esta seu corpo?
Foi quando o nobre espectral sacou sua espada, apontando para o mago.
-Essa será sua missão! Encontrar o corpo de sua irmã. Ela foi roubada pelo homem que estava residindo aqui. Diogo... Mas sua missão deve ser cumprida, com a finalidade de nos restituir a honra. Traga até esse castelo, com a adaga que lhe dei a cabeça de nosso assassino! Quero a cabeça de Kalic Benton II retirada com extrema crueldade!
-Sim meu pai... Eu o farei...
Falado isso, o nobre começou a sumir na luz noturna que passava pela janela. Sua forma não estava mais lá. A tempestade havia acabado lá fora. Mas não no coração do jovem Lacktum. Não. Ela ficava maior a cada momento. A vingança deveria ser concretizada. Paz aos mortos pensou o arcano.

Todos despertaram. Notaram que o mago estava com olhos vermelhos por falta de sono, ao que parecia. Halphy foi conversar com ele.
-O que houve ruivo?
-Nada – respondeu ele rapidamente.
-Como assim? Seu rosto esta...
-Nada aconteceu. Agora me deixe em paz! – falando isso, se levantou e saiu em disparada até seus pertences.
Halphy não entendeu a raiva do garoto com cabelo de fogo. Enquanto isso, Valente coçava a cabeça. Não entendia o motivo da raiva do jovem.
Alexander olhava a mesma cena no quarto, junto com Furta Trufas. O cão olhava com temor que poderia ocorrer. Sua raça, mesmo não falando era uma das mais sabia entre os caninos. Mas não era necessário muito para notar algo errado na alma do jovem Lacktum.
-Ele esta me-me-me dando medo – falou Furta Trufas tremendo.
-Não é só você, meu medroso amigo – continuou Alexander – Não é só você... O veneno nele é forte... Só gostaria de ter um emplastro para ele.

Gustavo se aproximou de Arctus. Mesmo de costas para o paladino, ele que arrumava seus pertences, falou:
-O que quer meu irmão?
-Mesmo depois de tudo que ocorreu me chama de irmão?
-Vamos ver... Você mentiu. Ou melhor, omitiu. Traiu nossa confiança. Matou um de seus entes mais queridos e nunca falou sobre isso. Seus companheiros tiveram que saber disso através de outro. Graças a isso, alguém que amava pereceu.
-Sim.
Arctus levantou com ar de sério que logo esboçou um sorriso. Gustavo ficava constrangido.
-Que sorriso é esse? – perguntou o paladino.
-Não importa o que aconteceu. Esta no passado. Somos dois amigos em uma mesma missão: reportar o que os Dragões fazem, para a Santa Sé. Nós começamos pontos antes disso e vamos terminar depois também. E meus planos precisam de você como meu protetor e irmão. Preciso de um homem forte ao meu lado, me protegendo do que vier pela frente.
-Mas eu posso ser um perigo para você! Seus planos de evoluir no clero!
-Fale baixo soltou Arctus, enquanto olhava ao redor para constatar se alguém o ouviu – Ainda bem que o seu serviço será me proteger, pois como espião você não serviria. Preciso de você ao meu lado. Quando subir, quero você ao meu lado. E saber seu segredo só nos une mais. Nós somos irmãos! E irmãos compartilham isso.
Gustavo tocou a mão de Arctus de um jeito afetuoso. Como os irmãos que eram.
-Deus esta contigo Zanien.
-Ele esta com todos nós Salles.
Foi quando Seton gritou:
-Vamos parar com essa frescura cristãos!
Os dois riram. Seton olhou para eles, que arrumavam seus pertences.
-Pelas fadas! Nós não deveríamos nos chamar de Dragões da Justiça e sim Dragões Loucos...

Eles saiam do castelo fúnebre. A ossada que enfrentaram na noite anterior, continuava lá. Mas não era isso que afetava suas mentes. Era o passado que começou a afetar algumas das mentes jovens e perigosas naquele grupo.
O paladino tinha vergonha do seu passado, mas não temia o que aconteceria. Isso graças a Arctus, que demonstrava ser mais forte do que ele, espiritualmente falando. Sua espada ficaria sempre como a defesa do sacerdote. Ele o faria sempre para proteger, assim como não conseguiu fazer com seu irmão. Jamais perderia alguém por motivo tão tolo. Mesmo que Diogo não acreditasse em suas palavras, ele provaria que estava errado. As palavras se tornavam cada vez mais fortes em sua mente. Até provar o que pensou.
O sacerdote se mostrava cada vez compenetrado em sua missão. Ele sempre viu o clero se abster dos conflitos no mundo leigo. Os camponeses eram tratados com desdém, sem o devido respeito. Arctus foi treinado por monges que acreditavam no auxilio dos mais necessitados. Mas em sua alma, crescia a idéia de que os homens não ambicionarem algo maior, o estado atual das coisas não mudaria. As crianças, os velhos e os doentes sofreriam nas mãos de nobres cruéis ou de invasores terríveis. A prova disso era aqueles nobres que deveriam servir Gustavo, que se preocupavam mais com quem herdaria o trono, do que com seu povo. O padre lutaria contra isso.
Halphy se mostrava cada vez mais certa de que Lacktum não servia como líder. Ele se mostrou, tantas vezes, como um jovem e promissor arcano, mas sua liderança não se mostrava sua maior qualidade. A torre de Azerov e os acontecimentos que se seguiram não foram o suficiente para alterar as idéias da meio elfa. Ele os liderou bravamente, mas ela também se mostrou como uma poderosa mulher no comando. Ela sabia que boa parte do grupo mostrava pouco respeito para com ela, devido ao fato de ser uma mulher. Isso ocorria especialmente no caso dos cristãos. Mas um dia, conseguiria o artefato que tanto buscava e mostraria para o ruivo quem realmente conseguiria liderar o grupo com punhos de ferro. Um dia, os Dragões da Justiça alçariam alturas colossais. Em suas mãos.
Por fim, Lacktum era um amontoado de novas e diversas emoções. Por um lado, havia as emoções que ele tinha em relação ao grupo, os Dragões. Jovens companheiros que até então, se mostravam tão inconseqüentes, mas verdadeiros. Os sentimentos deles o tocavam, alterando a ordem dos fatos tristes que afetaram a alma do arcano. Mas pelo outro lado, surgiam as memórias de alguns anos atrás, quando perdeu tudo que amava. Van Sirian, seu pai, sua mãe, sua irmã, sua noiva... Tudo em uma noite. Por conta de um demônio. Foi então que se lembrou de Delfos. Ele o encontraria, E nada poderia ser feito em relação a isso.
-O destino é um só.
Como se soltasse de um transe, Lacktum olhou para debaixo de uma árvore, onde estava o dono daquela voz.
Das sombras daquele lugar, surgia uma figura cheia de mantos brancos com aspecto arcano. Seu cabelo loiro, e todo arrepiado, mudaram um pouco, mas mostrava ainda a mesma jovialidade que tinha quando encontrou com eles na Grécia da ultima vez.
-Nico! – gritaram todos juntos.
Lacktum, Halphy e Thror, correram na direção do feiticeiro. Os outros, só olhavam com emoção para a cena, mesmo que Thror tenha tornado ela cômica esmagando a todos com aquele braço forte. Os animais olhavam para o afeto entre os quatro com um misto de felicidade e curiosidade. Logo foi explicado a eles por Arctus, que o jovem loiro foi um antigo amigo.
-O que foi? – perguntou Fiel, notando a alteração no jeito de Alexander. Os dois animais se conheciam a muito tempo e sabiam que cada um sentia quando algo os incomodava.
-Não sei... O cheiro do tal Nico... Lembra-me de um tipo de criatura... Que só senti uma vez.
Todos faziam a festa, quando Lacktum perguntou:
-Onde esta Azerov? Onde esta o velho caduco?
Mesmo com a tremenda força de Thror, Nico se desvencilhou do abraço. Todos então notaram que quando o jovem falasse, não haveria tanta felicidade. Isso era claro, pelo rosto cheio de tristeza e a cabeça baixa de Nico. Foi quando ele falou.
-Eu não sei. Ele conjurou uma magia sobre mim, que me mandou direto para as Terras Altas. Faz meses que estou aqui. Só não os encontrei antes, pois a tempestade de neve ficou cada vez pior nos últimos tempos. Só parou hoje. Através de magia cheguei aqui. Não sei mais nada sobre o mago a alguns meses. Nem ninguém que conheço da área arcana. Perdoem-me amigos.
Todos estavam tristes pela notícia. Mas Thror, logo perguntou algo que quebrou o clima triste:
-Poderia ter nos ajudado contra o enorme osso que enfrentamos.
-Ossada Thror! – corrigiu Alexander – É uma ossada!
Alguns riram, mas Nico continuou falando festivo:

-Não poderia entrar naquela cidade dos mortos. Eu estou vivo assim como vocês. Vamos meus amigos. A vida resplandece ao nosso redor e essa neve incomoda minhas pernas. A magia esta por todos os lugares por onde passamos e deixamos nossas marcas. E qual não é a maior magia da vida, senão ela própria. Por isso eu digo: a maior prova de felicidade é a vida. Vamos! Vamos embora viver!




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