Lacktum acordou. Estava muito mal pelo soco que recebeu
daquele homem. Era extremamente forte, apesar da pouca idade que aparentava.
Mas se o que disse foi verdade, ele era bem mais velho que a maioria das
pessoas no mundo.
Pelo que soube de seus estudos com Azerov e do período em
Avalon, o grupo era formado por vinte e um membros em algumas lendas. Entre
eles haviam homens e mulheres de diversas profissões e ofícios, entre magos,
guerreiros, sacerdotes, menestréis, necromantes e rastreadores. Os membros
eram, em sua grande maioria, humanos. Porém, havia também elfos, meio elfos,
anões, elfos negros, filhos de anjos e demônios. Entre eles, não havia uma
única liderança, mas um trio de homens que tomavam a frente das decisões. Seus
nomes eram Kalidor Hein Hagen, James Gawain e Galtran Coração Prateado.
Galtran, quando o grupo surgiu, era o mais novo dos três. Era
o mais poderoso deles também. Sua fúria era implacável. Um animal em batalha,
alguns contavam. Ele derrotava seus oponentes, como uma fera que devora sua
presa. Sua marca registrada era o uso de dois machados em combate, além lógico,
do uso de machadinhas. As armas serviam como proteção do mesmo modo que se
tornavam destruidoras em um combate. Mas seu maior dom surgia da transformação
dele como um dos membros dos druidas, os sacerdotes celtas. Pois a junção de
seus dons divinos com a perícia nos machados o tornava um monstro. Havia uma
frase sobre Galtran, recitada pelos bardos como alerta: nunca enfrente um homem
que luta que parece com um urso com cabelos vermelhos. Ele é pior que um animal
ou qualquer outro ser na face da terra.
O arcano estava em uma grande, mas improvisada tenda. Tiraram
o máximo de neve para fazer um acampamento, era notável. Havia muitas vozes lá
fora, como se preparassem para algo. Suas mãos estavam amarradas a um dos
alicerces da tenda. Em outro, estava o cão conselheiro, Alexander. Preso como
Lacktum.
Sem pestanejar, ele tentou levantar. Conseguiu com muita
dificuldade. Após isso, com muita calma chamou Alexander.
-Acorda Alex!
-O que... Como? – levantou o focinho rapidamente com muita
dificuldade. Ele estava amarrado, e bem, pelo pescoço.
-Onde estamos? Você sabe?
-Estamos no acampamento do Coração Prateado.
-Quer disser que aquele era realmente um Imortal Esquecido?
Pelas traquinagens de Loki e pela arma de Thor!
-Bem, até onde sei já conheceu Gor e Gibraltan. Qual é o
espanto?
-Talvez esteja possuindo consciência do quão importante esse
grupo é para a história do mundo. Suas ações afetaram povos afastados, mesmo
atuando especialmente na Inglaterra. Com Gor parecia que sentia que estava
junto a um colega, nada mais. Gibraltan, não conhecia direito. Só pedi a ele
algumas magias para auxiliar no combate. Tirando logicamente, quando
encontramos Kalidor Hein Hagen.
-Vocês conheceram Kalidor Hein Hagen? O mestre do baronato do
lobo negro? Ao qual passou suas terras aos Van Kristen?
-Sim... Mas não sabia que isso ocorreu. Van Sirian era dos
Hein Hagen? Na verdade, ouvi lendas. Mas como sempre nunca acreditei. Como não
deveria ter acreditado que seria um bom líder...
Alexander ouviu essa última frase com estranhamento.
-Depois lhe contarei como se sucedeu de seu ancestral obter
suas terras. Mas acredita que não é digno de liderar os Dragões da Justiça? Ora
Van Kristen, você é o mais correto para liderar.
-Como posso fazer isso? – um enfurecido Lacktum bravejou –
Halphy é sagaz como uma águia e uma cobra juntas. Thror pode ser tolo, mas não
confiaria minha vida a nenhuma outra espada com um coração tão bom. Até Arctus
se mostra um sensato líder. E olhe que sempre odiei os sacerdotes do Deus
Cristo, como meu pai falava. Não entendo o motivo dessa escolha.
-Não foi Arda que o escolheu.
O silêncio se instaurou entre os dois. Uma pergunta surgiu na
mente de Lacktum.
-Como assim? Não foi o regente quem me nomeou como líder do
grupo?
-Não. Você já deve saber. Foi Aluniel.
Era tão estranho ouvir aquilo. Como se deu aquela situação?
Ele continuava não se sentindo como merecedor daquele posto.
-Mas ela sempre foi mais amiga de Halphy. Já vi isso. Quer
dizer, ela sempre conversou mais com ela.
Alexander latiu com raiva.
-Você não entendeu. Halphy é ágil e inteligente, Thror é
perito no combate e Arctus é sábio. Você esta certo. Mas eles não possuem uma
coisa. Solidão.
-Solidão?
-Sim, solidão. Entenda, você é alguém com um passado sombrio
e triste. Você mesmo se gaba disso. Alguém que sofreu com a morte dos entes
queridos e precisou superar isso. Esse alguém forte seria a escolha para lidar com
decisões perigosas. Alguém que pensaria na dor alcançada por aqueles que ele
ama. A solidão nos fortalece, mesmo quando nos consome. É só não se deixar
vencer por ela. Pois é fácil não acreditar. Ou a magia que você tanto estudou
foi simples de controlar? Aluniel confia em você, assim como Azerov confiava.
Calaram-se mais uma vez. Quando Lacktum digeria as palavras
do cão, notou que realmente as palavras faziam sentido. Era algo que deveria
ter sido falado antes. Um homem entrou na tenda interrompendo a conversa e
qualquer tentativa de fuga que pensassem.
-O mestre pediu sua presença diante dele.
O guerreiro desamarrou somente Lacktum, que pensou em reagir,
mas então notou mais três homens fora da tenda. Além disso, seu físico fraco e
o golpe que levou do suposto Galtran, impedia qualquer chance de fuga. Sem
contar com a musculatura de seus captores. Era como se fossem feito de puro
aço.
Eles passaram pelos ogros sem dificuldades. Afinal, ogros não
eram conhecidos por seu intelecto. Muito menos pela sua percepção. E mesmo que
não pudesse ver, o som era um possível delator de Halphy e Nico.
O cheiro daqueles ogros era diferente dos que encontrou na
ilha da bruxa. O odor de maresia foi trocado por um de carniça. Criava certo
enjôo na ladina, mas ela como líder, estava preparada para aturar qualquer
coisa. Mesmo o fedor de um horrível ogro pestilento. Humanos já eram terríveis
com isso, mas os monstros pareciam abusar desse problema. Pelo menos os homens
eram bonitos.
Os ogros apesar de sua leve semelhança humana tinham uma
aparência brutal e bestial. A pele estava coberta por verrugas grandes e
nojentas. Possuíam mais que o dobro de um homem. Esses tinham o tom de pele
marrom escuro. Suas vestes consistiam em peles sobrepostas uma em cima da
outra.
A caverna que adentravam não tinha nada de incomum, só o fato
de ter sido construída recentemente. Com certeza, o construtor usou poderes
arcanos na fabricação daquele local. Talvez tenha sido a tal prole de Argos.
Quanto poder surgia de um verme mágico como as tais criaturas das lendas
gregas? Não era momento para isso.
Passavam por vários corredores. Um mais escuro e sinistro que
o anterior. O mal residia naquele lugar. Era possível notar as trevas daquele
lugar devido ao inerente em cada pedra. A magia do lugar criava esse ar de
escuridão. Talvez realmente o inimigo fosse poderoso.
Enquanto cruzavam alguns dos inúmeros corredores, encontraram
cerca de dez ogros desde a entrada. Quando pensavam em voltar para pedir
auxilio ao grupo, um ogro moveu a cabeça em direção aos dois. Foi quando Halphy
se lembrou de algo.
-Essas bestas têm o faro apurado não é? – cochichou ela para
o feiticeiro.
-Acredito que sim.
-Praga! Se soubesse disso, ou melhor, se me lembrasse...
Teria reparado na direção do vento dentro da caverna.
-E o que faremos? Estamos em desvantagem.
Notou que estavam no lugar mais desfavorável da caverna. O
ser enorme que com certeza mostrava que tinha sentido o cheiro dos dois no ar,
logo encurralaria a dupla de batedores invisíveis. E mesmo que fosse burro como
uma porta, aquele ser não seria enganado por algo tão aparente para seu
sentido.
Halphy colocou as mãos para trás, na altura da cintura. Ela
engoliu em seco, como se estivesse prestes a cometer um grave e terrível erro,
assim como em Starten. Mas aquilo já não significava mais nada. Toda essa
jornada foi o maior de todos os erros. Um a mais não faria diferença. A ladina
iria agir. Então, ela quebrou o efeito mágico da invisibilidade.
Quando o ogro iria esboçar um ataque com as poderosas mãos em
combate, a ladina correu na direção dele feito uma ave de rapina.
Ela pegou pela juba do monstro e subiu no pescoço alongado,
como uma cobra que se entrelaça em uma árvore. Em instantes, a jovem ladina já
estava acima do monstro. E em muito menos tempo ainda, uma faca estava
perfurando o crânio do ser. Isso fez com que ele caísse. Foi quando ela saltou
para longe do corpo inerte, fazendo um grande eco.
Sem poder ser enxergado, Nico falou:
-Impressionante! Pareceu com um dos homens do Oriente!
Do corredor, começou a surgir um enorme ogro. Ele segurava,
com as duas mãos, uma clava do tamanho de uma árvore pequena. Corria como se
ele fosse destruir quem surgisse na sua frente. Batia a arma no chão como a
fera brutal que era, enquanto gritava algo na língua profana daquela raça. Com
certeza, ouviu o barulho da queda do companheiro.
Halphy não se abalou com o surgimento do novo desafiante. Ela
retirou a arma que estava enfiada na cabeça do monstro como um relâmpago. Com
igual velocidade, ele arremessou a faca na direção da garganta do ogro. Isso
fez com que um espirro de sangue surgisse. Ao que parece, a jovem acertou um
ponto vital preciso dele. Um novo oponente caiu, gritando.
A meio elfa falou para Nico:
-Eu não estou fazendo como os homens do Oriente. Estou
fazendo melhor do que eles. Homens não fariam metade do que faço.
O resto do grupo esperava, olhando os dois ogros que ficavam
se com suas armas. Era nojento. Às vezes coçavam as costas e um estranho inseto
– do tamanho de uma bota – caia de lá. Outras coçavam com as mãos as partes
baixas com as mãos. Nesses momentos, Thror e Valente sentiam uma imensa vontade
de vomitar.
Ficavam esperando um sinal de Halphy. O que demorava demais a
acontecer. A garota era a mais inteligente de todos, mais também a mais ousada.
Era até engraçado imaginar que eles tinham certo receio de entrar em lugares
que não temia. Parecia tão frágil fisicamente falando. Mas sua alma era
preenchida com uma poderosa chama e força. Isso fazia deles um grupo
extremamente diferente, afinal, os lideres eram muito impulsivos.
O padre Arctus achava que os membros do grupo seguiam muito
mais os instintos do que a razão. O que causava medo na mente dele. Então, ele
se tornaria a razão dos Dragões da Justiça. Junto com Gustavo, poderia lidar
com problemas que a Igreja tinha. Eles eram bons, só mal guiados. Uma mão de
aço com a força de Deus seria o suficiente.
Mas não era mais o momento para isso.
Os dois ogros que ficavam na entrada, olharam na direção da
caverna. Um grito ecoou até a saída. Se houvesse um sinal para Halphy, deveria
ser esse. Turin iria ficar escondido enquanto entrassem.
Nesse momento, o guerreiro grego saltou. O escudo na frente
como um estandarte. A espada curta afiada como a língua de uma serpente, ficava
abaixada, enquanto percorria o campo nevado. Os ogros olharam aquela cena com
certo medo. Não por conta do homem armado, indo na direção deles. E sim, por
conta do grande número de pessoas surgindo como um bando de lobos famintos.
Seton, Arctus, Gustavo, Valente e Fiel, saltaram na mesma
direção do guerreiro. Eles pretendiam não chamar a atenção antes. Coisa que
Thror impediu com seus ataques inconseqüentes. Companheiros não abandonam os
outros, alguns pensaram, mesmo nos piores momentos.
-Maldito grego da cicatriz! – gritou o padre com raiva.
-E vocês falaram que eu traria problemas! – falou de forma
ferina o pequeno Valente.
Os dois ogros se posicionaram se preparando para o golpe dos
inimigos. Mas o guerreiro Thror se adiantou com a arma acertando o flanco
esquerdo de um dos monstros. Então acertou o lado em que o guerreiro segurava o
escudo. Um golpe como aquele deveria ter inutilizado o braço dele. Ele só não
ficou bem, como zombou do inimigo.
-Isso é máximo que os ogros conseguem em combate? Ha!
Com os olhos cheios de fúria ele tentou golpear Thror. Só que
Seton chegou virando a enorme foice, acertando a mão da criatura. E por alguns
instantes, o monstro estava desarmado.
Enquanto isso, Arctus, Gustavo, Valente e Fiel flanqueavam o
ogro. Os animais atrapalhavam a visão do monstro, enquanto os outros atacavam.
Porém, sem tanto sucesso. Arctus então entoou:
-Che mano di Dio in quest'uomo diventi un protettore delle
anime attraverso il potere di Miguel.
O corpo de Gustavo se encheu de uma poderosa luz. Parecia
como um anjo vingativo. E com isso, ergueu a espada como um Davi que enfrentava
seu Golias. Assim, sua espada se encheu de grande poder, enquanto atingia seu
oponente. Era como uma chama divina preenchida no mesmo momento em que recitava
sua oração.
O monstro cruel se feriu com sua própria maldade. Corações
cheios de raiva se tornam fracos em um combate. E isso fere demais quando a luz
toca essas pessoas ou criaturas.
Então o ogro estava quase acabado. Mas usava ainda a clava
como apoio para impedir sua queda. De repente, surge a maça de Arctus. E com
ela, a destruição da clava do monstro e de seu maxilar.
O outro se mantinha firme. Sabia se posicionar. Girou o corpo
com intenção se acertar Thror e Seton. Porém, só conseguiu atingir o grego.
-Pelos deuses! Você esta bem Thror? – falou um Seton
espantado.
-Estou! – soltou um ferido guerreiro – Acabe com ele Seton.
Ele então levantou a foice rapidamente, de uma maneira que
atingisse a cabeça do oponente. O bloqueio da clava foi preciso naquele
momento.
Um fitava o outro. O druida da foice encarava pacientemente o
ogro e sua clava. Era uma luta, tanto física quanto espiritual. Um celta fosse
um sacerdote, guerreiro ou seu descendente sempre tinha em seus corações a
força para derrotar qualquer ser. Pelo menos é o que sentiam no coração, todos
aqueles de sangue poderoso. Houve então uma reação, e ela foi de Seton.
Novamente, ele levantou a foice tentando acertar o ogro.
Quando notou um novo golpe, o ogro gargalhou. O bloqueou com a clava.
-Não saber lutar humano! – disse o inimigo enorme – Você tem
que acertar.
-Eu acertei – falou isso enquanto aproximava a face do enorme
ser que enfrentava – Nos chamamos isso de distração na minha terra.
O ogro notou que Thror se adiantou em sua direção com a
espada em punho. Um golpe seria preciso, se no mesmo momento o adversário
monstruoso não conseguisse se defender com um sonoro golpe com a mão livre. Ele
acertou o punho do grego antes que fosse acertado pela espada do mesmo.
Outra espada surgiu. Ela atravessou a criatura. O sangue
escorreu dele. Tanto pela boca, como pelo peito dele. O monstro se ajoelhou
pela dor. Mas não sem antes golpear o atacante Gustavo.
Como golpe de misericórdia, a maça de Arctus acertou a cabeça
do ogro. Nesse instante, era como se uma fruta atingisse o chão. E vários
pedaços dela voassem nas roupas das pessoas próximas.
-Eca! – falou o enojado Seton.
-Bem – falou o sacerdote Arctus – melhor que nada.
Gustavo andou em direção ao guerreiro grego caído no chão.
Estendeu sua mão ao amigo ferido. Mesmo com o orgulho despedaçado, Thror
segurou o braço do colega paladino. Este o levantou de uma vez.
Enquanto tirava a neve de sua armadura, Thror viu Arctus se
aproximando com olhos de raiva para ele. Uma bronca logo viria.
-Você tem algum problema com autoridades? – disse um irado
Arctus – Não era para contornar os dois ogros pelo menos? Sem chamar a atenção
lembra?
Quando Thror iria falar, o paladino interrompeu:
-Ele esqueceu.
-Ora essa. Com vocês dois para me ajudar... Não sei como
estamos vivos.
Os dois continuavam o riso, quase gargalhando. Arctus olhou
para eles com ar de reprovação. Já o druida tirava a foice da clava do ogro.
Era cômico reparar que alguns do grupo sentiam que aquilo parecia uma diversão
para eles. Foi quando uma tocha se acendeu. Iriam entrar na caverna como um
resgate para a jovem ladina imprudente.
Ele estava sozinho naquele instante. O mago estava no meio
acampamento cheio de homens bem armados e fortes o bastante, para com o punho,
atravessasse o peito do mago. Nesse momento, Lacktum decidiu que não iria
lançar magias. Quando tentasse, pensou ele, alguém quebraria seu braço
Tinha um pouco de lama que sujou a face do arcano. Ele teria
gritado de raiva, se não tivesse medo de levar os golpes dos outros membros do
acampamento. Os homens ali riam do fato. Ele segurava o temor dentro de si.
-Ora vejam! – soltou Galtran – Nosso mago despertou.
-Você é o Coração Prateado? – perguntou irredutível Lacktum.
-Sim. Sou Galtran.
-Antigo membro dos Imortais Esquecidos?
O guerreiro se espantou com a última pergunta do jovem.
Poucos tinham noção da vida de Galtran. Pelo menos, quando participava de seu
antigo grupo. Não eram muitos os membros de sua antiga companhia que nasceram
nas Terras Altas. E mesmo que ele fosse um fanfarrão e gozador, nunca revelava
certos fatos de seu passado. Mesmo quando ficava extremamente bêbado. Onde o
garoto ficou sabendo sobre isso? Era um enigma. Mas não para agora.
-Não sei onde você soube sobre os Imortais, mas eu juro que
você vai falar disso depois.
-Depois? – pensou alto o mago – Depois do que?
-Bem, nosso povo tem um modo bem peculiar de resolver
problemas. Como você é um invasor...
-Eu? Invasor? – falou Lacktum indignado.
-É, você! Não é inglês?
-Sim, mas...
-Então é um invasor.
-Isso não faz sentido! Pensei que você fosse um líder.
Alguém...
-Alto lá! – retrucou o guerreiro ruivo – Sou um líder, mas
como um maldito inglês que é com certeza deveria ter chegado aqui ferido ou
morto! Tanto faz. Como não sei se você é um dos espiões das tropas invasoras?
Foi então que Lacktum procurou a adaga que lhe foi concedida
por seu pai. Não achou.
Galtran então retirou de seu manto um pequeno item. Lacktum
notou que o item que ele segurava era o presente de seu pai.
-Devolva-me! – exigiu ele.
-Devolver? Por acaso é parente dos Van Kristen? Essa arma tem
o brasão dos Van Kristen.
-Sou um Van Kristen criatura sem mente! Devolva-me!
O druida guerreiro começou a andar em volta do mago. Não
parecia com ninguém da família que conhecia. Era fraco e nem sabia lutar pelo
pouco que viu. Soube que a família de seu antigo companheiro era voltada para a
batalha, pelos boatos. O que aquele saco de carne mal feita poderia fazer em um
combate verdadeiro?
-Você não pode ser um Van Kristen.
-Eu sou!
-Então prove.
-Você esta com a minha prova! – falava isso enquanto apontava
para a adaga na mão de Galtran.
-Não com isso! Você poderia ser um ladrão que roubou um
deles, ou até um assassino que colocou veneno em sua comida e vinho. Você irá
provar do nosso modo.
-Eu um ladrão? Você esta ficando louco homem? Veja se tinha
algum item de ladino comigo! Nenhum! Qual o motivo para tanto então? Isso não
vai servir de nada! Por acaso – pensou o mago enquanto começava a compreender
parte da intenção de tudo aquilo – quer que eu lute? Mas isso não provaria
nada! É patético! É ridículo!
-Era de se esperar isso de um inglês. Mas saiba... Nosso
país, nossas regras.
Todos que estavam ao redor da arena riram. Era uma cena
engraçada, ver um inglês mostrando o quando era patético para eles.
O mago olhou ao redor. Então gritou com raiva, enquanto
envergava o corpo para trás. Todos olhavam com receio para ele. Não parecia
mais um mero inglês.
-Tudo bem bando de bárbaros idiotas! Eu entro no seu desafio
sem sentido! Se essa é a única maneira de se fazer entender! E verão como age
um Van Kristen em combate! Venha logo Galtran! E termine com essa besteira!
Todos se calaram, enquanto Galtran esboçou um sorriso.
-O que foi que eu disse de errado? Hein?
-Nada. Mas não serei eu que vou lutar com você.
-Como assim?
-Adoraria fazer isso com um inglês pulguento. Mas fico meio
irado e fora de controle em combate. E é muito ruim. Não queira ver. Mas meu
amigo Eric será um desafio melhor.
Surgiu então um homem, aparentemente mais forte que Galtran.
Era loiro, com uma barba e não usava camisa. Portava um escudo e uma espada de
madeira. Parecia estar cheio de cicatrizes. Um guerreiro experiente era claro.
O que já causou temor em Lacktum.
-É com Eric que você lutará suposto Van Kristen.
-Ah, esta certo, suposto Coração Prateado. Que maldito dia
para despertar...
Entregaram-lhe uma espada de madeira improvisada. Lacktum não
quis um escudo.
Sorte que havia decorado magias suficientes para aquele dia.
A magia não funcionaria direito em um combate direto. De repente, sentiu muita
falta do velho Thror. Mas achava que mesmo que o grego da cicatriz teria
dificuldades com aquele homem enorme. Pelo menos ele teria uma maior chance de
vitória.
Os dois se uniram no meio da arena. Enquanto Eric batia a
espada na madeira do escudo. Era algo que até onde Lacktum sabia, vinha dos
costumes dos homens do norte. Com certeza ele também deveria se um homem da
religião asgardiana. Costumes de bárbaros, alguns diziam. Lacktum começava a
concordar.
Gritos pediram por uma luta. Eis que Galtran saiu da arena.
Então, gritou com certa satisfação:
-Que comecem o duelo!
-Praga! – gritou Lacktum quando notou o homem loiro correndo
na direção de si em uma investida, com a espada erguida.
O mago se esquivava dos golpes, enquanto tentava conjurar uma
magia, mas o guerreiro não permitiria. Sempre o acertando em todos os pontos
possíveis. Fazia Lacktum perder a concentração.
Ele corria para alcançar um dos cantos da arena. Pensava que
poderia conjurar uma magia ali. Mas não conseguia.
-Praga! – um novo acerto em sua mão a fez arder. Tanto pela
dor do golpe, quanto pelo choque da magia partida.
Magias partidas, normalmente causavam efeitos ruins. Poderiam
ser pequenos ou enormes. Desde dor física a efeitos colaterais arcanos
bizarros. E era isso que Lacktum mais temia.
Esquivou-se de um novo golpe de guerreiro. Aproveitou a deixa
para correr para o outro canto. Quando o fez, tentou conjurar uma magia, mas
sua mão tremia muito. Novamente, perdeu a concentração devido aos golpes que
sofreu.
E uma nova investida apareceu devido ao guerreiro Eric.
Muitos juraram, que mesmo feito de madeira, se acertasse perfuraria o peito
dele. Especialmente o mago que serviu de alvo. Lacktum esquiva.
Em certo momento, o arcano ruivo se esquivou de um dos vários
golpes e pensou em lançar uma magia que destruiria todos ao redor. Contraiu sua
mão. Mesmo não gostando disso não poderia machucar todos no acampamento.
Uma investida iria surgir.
O meio do campo. Lá seria seguro conjurar algo. Então a magia
não afetaria nenhum inocente. Mas será que ela não falharia, era o que pensava.
Um erro ali poderia colocar tudo a perder.
-Magia é acreditar em si mesmo – ele falava enquanto começava
a correr com as mãos cheias de mana. Lembrou-se de palavras de muito tempo
atrás de alguém que lhe serviu de mestre.
O inimigo não se intimidava com o esquálido mago. Mas deveria.
Parecia que o mana não saia só de sua mão, mas de todo seu corpo. Era como uma
fonte de água cristalina com cores distintas, mas que se concentravam
especialmente em um tom vermelho. A magia começou a tomar forma de uma esfera
de energia pura em fogo. Pulsando como um coração, Lacktum colocou a magia na
frente do corpo na mão esquerda.
O adversário estava próximo demais, para sair de frente do
golpe arcano. De repente, o mago soltou a esfera.
-Magia é acreditar em si mesmo! In my hands the flame dragon emerges. The
ancestral force of destruction.
Então o coração de fogo tomou toda a arena em um movimento de
pensamento. Era uma bela e imensa bola de fogo. Tão grande, que até mesmo um
observador distante veria ela claramente. O vermelho se confundia com outros
tons de destruição. A magia se consumiu tão rapidamente quando surgiu.
Todos os observadores olhavam atônitos para a arena cheia de
chamas. O fogo estava se dissipando. Se acertasse uma das tendas, com certeza
iria colocar fogo em todo o acampamento. Aquele inglês era louco alguns diziam.
Galtran observava arena, severo. Especialmente para o centro
da fumaça.
Foi quando a figura cheia de queimaduras e feridas, de
Lacktum surgiu no campo de batalha triunfante. Parecia um rei que retomava seu
domínio após anos. Ele olhou na direção do líder daquele acampamento com muita
raiva.
-Eu acho que venci Galtran! Se quiser saber, achei tudo isso
sem sentido! Não havia motivo para matar um homem seu! Não teria como saber se
eu sou um Van Kristen através de uma luta!
Galtran riu.
-Sinceramente, eu não quero saber o que acha ou o que deixa
de achar. Nós temos certos costumes. A luta demonstra sua verdadeira natureza,
não suas palavras. A prova disso, é que fui enganado varias vezes em minha
vida. Por palavras. Eu te amo é fácil de pronunciar, mas difícil de provar.
Disser que tem saudades qualquer um poder falar. Mas demonstrar, normalmente é
impossível às vezes. Pois somos fracos como meros homens sempre são. Mas algo
entre os que nascem do sangue dos Imortais Esquecidos mostra que seus corações
estão em suas ações – e soltando novo riso – Ah! E Lacktum... Eric não morreu.
Lacktum notou que Galtran apontava para trás. Quando observou
a fumaça se dissipando, notou que surgia a forma do guerreiro descamisado e
loiro. Com o punho cerrado, ele golpeou o arcano que logo caiu no chão. O
guerreiro sentou ao lado do corpo do desmaiado mago ruivo.
Galtran falou com seus homens, pedindo que levassem os dois
para sua tenda onde os curaria.
Eles entraram na caverna temendo o que pudesse acontecer com
Halphy. Mas então notaram, que deveriam se preocupar com os pobres ogros.
Havia vários corpos de ogros por toda a extensão da caverna.
Quase todos com golpes precisos em áreas específicas do corpo. Era como se
tivessem enfrentado um furacão.
Seis ogros foram mortos pelo que contaram. Passaram pelos
corpos com ar de espanto. Será que teriam sido Halphy e Nico? Mas eles não
seriam tão perigosos.
O grupo nunca esteve tão enganado.
No último corpo, encontraram a ladina Halphy Brown, limpando
sua arma, enquanto o feiticeiro misterioso ajustava o pulso que crepitava mana.
Não pareciam nem um pouco cansados ou exaustos. A jovem tinha uma feição de
satisfação, quase sádica. O rapaz parecia meio irritado com a atitude dela.
Todos estavam espantados com a cena, mas não poderiam se abalar ali.
-Halphy! – gritou Arctus desesperado – Sabe onde é que estão
os prisioneiros? E a prole de Argos?
A jovem guardou a adaga e então respondeu:
-Acho que estão no caminho da esquerda – falava enquanto
apontava para um dos túneis – Mas o do meio... Acredito ter visto dois ogros
fugindo. Não sei... Meus instintos dizem que a prole esta lá. Vamos, me sigam!
-Certo! Você esta no comando de novo.
Halphy se sentiu bem. O comando do grupo não era sua meta,
mas agradava a idéia de liderar. Sempre se achou mais competente que Lacktum ou
Thror juntos. E Arctus, apesar de sua suposta sabedoria estava há pouco tempo
no grupo. Além de que ela compartilhava as idéias de Lacktum sobre os
sacerdotes católicos.
Mesmo assim, o grupo se movimentava na direção do túnel. Como
uma tropa que adentrava território inimigo, todos se preparavam para um ataque
surpresa.
Seton então olhou para Nico e perguntou:
-Foram mesmo vocês que fizeram aquela chacina? Com certeza
foi através de sua magia que conseguiram.
Nico balançou a cabeça em negativa. Seu rosto diante da luz
da tocha que Seton havia acendido e segurava, parecia espantado. Mas não
assustado.
-Conheci muitas pessoas e monstros. Posso lidar com diversos
seres, pois sei que sou poderoso. Tenho certeza! Mas essa garota não teme nada!
Parece possuir a persistência humana e o orgulho da raça dos mais perigosos
elfos. Ela poder ser só uma meio elfa, mas poucas vezes viu um sidhe tão
corajoso, quanto ela. Tenho pena de quem se intrometer em seu caminho.
Quando Seton perguntou, sabia que ouviria uma boa resposta.
Mas não imaginaria que escutaria alguma coisa que deixaria suas pernas tremendo
tanto. O grupo não tinha só uma ladina feiticeira e meio elfa. Possuía uma
especialista na arte de matar, uma assassina.
Argos.
Esse tipo de monstro se esconde em cavernas enormes e
perigosas, pois as lendas contam que a luz do sol feria seus olhos arcanos,
como punição de Apolo, como um favor a Zeus. Por isso era uma criatura
subterrânea, alguns diziam.
Isso foi mais notado, quando todo o grupo viu que onde a
prole de Argos se escondia, era cheio de pedras mais pontudas. Pareciam até as
presas de um dragão, de tão afiadas que estavam. O que não conseguia amedrontar
os companheiros.
Algo que poderia trazer temor para os Dragões era a cena que
eles presenciavam. No lugar havia os dois últimos ogros daquele bando. Estavam
usando armaduras leves, que para eles, mais pareciam pequenas tiras de metal.
Suas clavas eram feitas de um enorme e resistente carvalho. Havia uma sombra
entre as duas criaturas, que parecia ser protegida pelos seres enormes.
Aquilo era uma prole de Argos.
Uma esfera de carne aparentemente distorcida. Vários olhos
estavam incrustados na pele do monstro. Algumas vezes, era possível notar que
os olhos formavam quase um rosto, mas só ocorria para criar um senso bizarro de
estética. Só possuía uma única bocarra que parecia estar sempre sorrindo. Era
como se surgisse do seu pesadelo mais horrível. O ser repulsivo flutuava no ar
como uma mancha negra que surgia nas mentes dos mais fracos.
Os dois seres truculentos se posicionaram de forma que
protegessem a prole. Mas era possível notar que o lugar forçava os inimigos a
passarem por ele para chegar até o monstro.
Com isso, a criatura começou a falar:
-Ora então são esses os tolos aventureiros que adentraram meu
covil. Por qual motivo invadem o lar de Ortro?
Seton segurou o riso, enquanto Halphy falou:
-Pois nós viemos destruir você criatura. Solte os habitantes
da vila e pouparemos você e seus servos. Que tal isso?
-Acreditam mesmo que poderá me enfrentar? Noto que fizeram um
bom serviço até agora. Mas os dois ogros que sobraram são meus melhores
soldados. Além do que, não conseguiram me enfrentar em um combate arcano.
-É isso – grunhiu o ogro.
-Mestre certo – soltou o outro.
Foi quando a ladina pegou a besta que não usava a um bom
tempo, apontou para a criatura líder. Ela mirava com extrema cautela.
-É isso que você diz – ela respondeu – Nico ataque com tudo!
A mão de Nico se encheu com um raio de energia pura. Era como
se uma lança fosse jogada. Halphy percebeu que o golpe arcano era tão poderoso,
que tinha quase certeza que seu efeito tinha surgido com sua força máxima. Ela
ouviu sobre arcanos que conseguiam trazer a potência máxima da Arte, mas eram
raros. Como poucos dominavam esse poder, ela pensou que ele talvez fosse do
Oriente na verdade.
A prole de Argos se protegeu flutuando para longe da linha de
visão do golpe. Parecia que ele mesmo, sentia medo daquela magia. Nico poderia
ser calmo, perigoso e tremendamente assustador, é o que os mais inteligentes se
perguntavam.
Mas logo em seguida, literalmente, em um piscar de olhos, a
bizarra criatura disparou uma grande carga de energia. Foi em direção de Thror.
Quando o raio atingiu, fez o guerreiro grego se sentir
cansado e exausto. Ele já se sentia fraco pelo dia difícil que passou, mas não
tão rápido e de forma terrível quanto aquela magia o fazia sentir. Era algo
pavoroso.
Os ogros partiram para o combate, acreditando que Thror
estava fraco demais para combater.
-Venha aqui careca da cicatriz. Irei enfiar meu punho no seu
peito e arrancar seu coração como se fosse uma galinha.
Foi um ledo engano do ogro.
Nesse mesmo instante, o guerreiro que ainda parecia abatido, olhou
com raiva para o inimigo.
-Você me chamou de careca da cicatriz?
Quando o ogro levantou a clava, foi possível notar que Thror
se agachava com a finalidade de acertar suas pernas. O que conseguiu tão rápido
como um relâmpago.
Isso não desestabilizou o monstro, mas concedeu tempo
suficiente para que Thror pudesse passar por debaixo dele. Foi quando o grego
bradou:
-Não... Fale... Mal... Da cicatriz!
Um dos ogros mantinha-se firme. Enquanto o outro parecia
firme, sem levar nenhum golpe. Enfrentando ele, estavam Seton e Arctus. O
druida tentava, inutilmente, acertar o monstro. Era como tentar afetar uma
parede de tijolos.
Mas um sacerdote como Arctus sabia exatamente o que fazer
nesses momentos.
-Metatron's
words, let the weak by putting yourself in the way of the righteous.
De repente, a muralha viva parecia não conseguir conter os
golpes do jovem druida. Enfraqueceu rapidamente, devido às palavras místicas.
Mesmo em uma língua que não conhecia, elas afetavam o ouvinte. O enorme ogro se
sentia desestabilizado.
-Ah! Homenzinho maldito!
-O que acha disso agora? – falou Seton.
Então a foice acertou a mão do enorme adversário. Esse, nem
sequer demonstrava dor. Aproveitou para golpear os sacerdotes.
Enquanto isso, os animais ficavam escondidos. Não pelo fato
de temerem algo, afinal, Valente e Fiel não temiam coisa alguma. O problema é
que Furta Trufas desmaiou ao ver a prole.
-Acorda Furta Trufas! – dizia Valente, enquanto batia no
focinho do colega.
A prole de Argos, autodenominada Ortro, soltou raios na
direção de quatro alvos. Um raio azul atingiu Gustavo, enquanto um raio
vermelho acertou Seton. Para Halphy, surgiu uma enorme nuvem de fumaça. Por
último, uma mancha negra tocou Thror.
O ombro do paladino foi machucado por uma grande parcela de
gelo. Aquilo impedia o movimento do braço, além de gerar uma dor tremenda. Era
como partir gravetos de madeira.
Já o raio de cor avermelhada, jogou o druida contra a parede.
Foi possível ouvir os ossos partindo como um boneco quebrado. A parede ficou
cheia de fissuras.
A fumaça que afetava Halphy parecia querer sufocar. Mas o ar
estava cheio de um veneno estranho. Ele entendia disso. O efeito daquela magia
era criar uma névoa venenosa, mas que na afetava mais a jovem, pois ela tinha
trabalhado seu corpo contra forças nocivas – naturais ou não.
Com a mancha negra afetando Thror, parecia que nem sentiu a
perigosa força arcana.
Halphy, após tossir o veneno, voltou a preparar a besta.
-Gustavo, esta bem? – gritou enquanto mirava para o oponente
sua arma – Pode me ajudar atacando o monstro?
-Tudo bem – ele respondeu. Pegou a lâmina com a mão inábil,
já que a outra estava parcialmente paralisada, e golpeou o humanóide
monstruoso. O golpe foi eficiente, mas não o suficiente. Ele se mantinha de pé.
A ladina se mantinha na posição. A arma estava na posição
precisa. Não havia erro. E não houve.
O virote zuniu no ar, atravessando o combate entre os heróis
e os ogros, para conseguir acertar o líder dos monstros. Mesmo com os olhos se
revirando no ar, o projétil dela acertou o alvo. A criatura flutuante gritou de
dor finalmente.
Ninguém saiu do lugar. As armas se colocavam entre eles como
se impedissem os aventureiros de atingir Ortro. Um dos ogros cuidava de Thror e
Gustavo, enquanto o outro lidava com Seton e Arctus. Não era uma situação comum
dois combatentes e dois sacerdotes partirem para cima de seus alvos de forma
direta, mas Halphy tinha um plano: se eliminassem um dos ogros rapidamente,
seria mais fácil o grupo alcançar a prole de Argos.
Depois de certo tempo, a criatura preparou outras magias
pelos olhos. Uma enorme carga de energia – do mesmo tipo que afetou Thror
inicialmente – atingiu Gustavo. Sem resultado. Outro raio, de luz acertou
Halphy, mas sem uma conseqüência verdadeira. Seton e Arctus foram atingidos
pelo mesmo raio espiralado, mas só o druida foi realmente atingido sentindo
muita dor. Ele caiu no chão. Um último, rápido, explodiu na pele do guerreiro
grego. Nada que ele não lidasse sozinho.
Foi quando a ladina feiticeira notou algo. Os olhos não
disparavam as magias em uma ordem correta. Eram aleatórios. E até os números de
ataques aumentavam.
-Gustavo, passe logo por esse monstro! – gritou ela
comandando o grupo – Se não o matarmos logo, ele poderá lançar magias mais
perigosas!
-Esta bem! Vou tentar! – foi quando o paladino levantou sua
espada na direção do oponente. O golpe de sua lâmina foi perfeito na parte
esquerda do ogro. Tanto que com seu último corte, fez a criatura cair, enfim.
Terminando o golpe, Gustavo se abaixou, enquanto colocava a
espada para trás se posicionava na direção do monstro. Fazia isso enquanto
corria. Um novo golpe acertou a criatura flutuante.
O ogro continuava seus ataques. Agora com uma freqüência
louca. Se ele não se defendesse seria morto com certeza. O padre mais esperto
conseguiu prejudicar sua mira. Era o momento de se mostrar como alguém forte.
Foi quando o ogro cometeu um deslize. Sua clava bateu no teto
da caverna. Isso fez com que pedras caíssem. Algumas o acertaram. Nem sequer o machucou
o bastante, mas foi tempo suficiente para um golpe certeiro de Arctus.
-Era minha vez! – gritou Seton como uma criança insatisfeita,
enquanto estava no chão.
O ogro caiu, enquanto os ossos da face se partiam devido a
arma do padre.
-Desculpe... Eu acho...
Só obrou Ortro no combate. Halphy com a besta começou a
querer negociar:
-Olhe aqui Ortro, – disse ela enquanto preparava outro
projétil – acredito que seria melhor se entregar ou será destruído. O que acha?
Podemos ser clementes.
-Clemência? De uma fealith e um bando de humanos fedorentos?
Nunca! Não irei entregar meu corpo e alma corrompidos para criaturas tão
insignificantes e gananciosas. O mal permeia o meu ser, mas meus olhos enxergam
não só o que é aparente. E essa mancha negra que eu possuo vocês também tem.
Não serei tolo para me entregar.
-Então, - disse Gustavo agitando a espada longa – não diga
que não avisamos.
-Dragões, ataquem! – gritou Halphy liderando.
-Por Ares e Zeus! – disse Thror saltando na direção do
monstro coberto de olhos. O golpe acertou um dos olhos do monstro.
Os olhos piscaram novamente. Uma grande quantidade de magia
se espalhou por todos os lados como uma terrível e poderosa tempestade. Com
força o suficiente para danificar a caverna. Mas não o suficiente para destruir.
Novamente os raios foram atingindo o grupo. Vários deles
estavam extremamente feridos. Gustavo parecia não se conter de dor. Vários
espinhos de madeira surgiam no corpo de Arctus . Seton sofria com uma mancha
profana no seu corpo. Thror parecia confuso, sem saber quem atacar. Só Halphy
se matinha de pé mesmo com pedras afiadas cortando sua pele. Apontava a besta
na direção da prole.
-Ora essa fealith! Esta com tanto medo que não consegue me
atacar? – gritou o monstro se achando superior.
Ela riu daquilo.
-Qual foi a graça?
-Primeiro não sou uma fealith. Sou uma meio elfa e me chamo
Halphy. E eu não estou atacando, pois estava preparando uma magia. Soyez doux comme un oiseau survolant la
mer. Et aussi dévastateur que le loup sur la proie!
A seta atravessou a boca do monstro como se fosse água. Ele
caiu no chão sangrando um líquido verde fedorento.
Seton foi ajudar o resto do grupo, incluindo Halphy, que
conteve a dor até agora. Os golpes das pedras feriram suas pernas, barriga e o
rosto. Mas se manteve firme até então. Alguns efeitos arcanos estavam sendo
dissipados.
-Dói muito? – disse o druida para a garota.
-Só quando eu fico olhando para esse seu rosto de... Ai! –
ela soltou enquanto o druida curava a ladina feiticeira. Ela ficava muito
irritada com perguntas tolas.
Arctus se aproximava do corpo da prole. Ela tentava manter-se
viva. E era algo que o sacerdote logo resolveria.
Ele ergueu sua arma quando a massa de carne e olhos fitou o
sacerdote de Deus. Quando ele iria golpear o monstro, a criatura disse:
-Espere homem do deus Cristo!
O padre hesitou. Por algum motivo sabia que ouviria não seria
plena verdade, mas não estaria tão longe dela também.
-O que quer demônio? Não queria clemência antes. Qual o
motivo de querer falar agora?
-Nunca pedirei clemência a um humano! Mas sei de algo que
poderá lhe ser útil... Meus olhos arcanos conseguem não só lançar magias, mas
podem ver o que as almas sentem e desejam... Um de vocês esta para trair o
grupo... Posso lhe falar quem é. Uma barganha.
As palavras faziam sentido para Arctus.
-Isso deve ser uma gestão mágica! Morra cria infernal! – após
isso, golpeou o temível ser.
-Argh! – soltou em agonia ser – Isso não foi magia e você
sabe que eu falo a verdade.
Todos olharam e ouviram a conversa entre Arctus e Ortro.
Todos se entreolhavam, enquanto o padre fitava todo o grupo. Era verdade. Ortro
não lançou magia alguma. Esse é o maior poder de um demônio: semear o mal e a
mentira usando uma verdade cruel.
Laccktum despertou na garupa de um cavalo. Ele estava junto
de Galtran, enquanto cruzava a neve. Havia vários cavaleiros ao redor deles. E
em um deles, o mais próximo, estava o cão Alexander.
-Mas que loucura é essa? Para onde vamos? Ei? – perguntou o
mago nervoso e afobado.
-Vila dos Meio Sangue. Seu amigo Alexander nos avisou sobre o
seu grupo. Então, vamos ajudar eles.
-Ele falou com vocês? – se espantou o mago, enquanto olhou
novamente para o canino colega.
-Ele falou comigo. E ele é de Avalon. Não era para falar?
Para ele, o guerreiro ruivo, fazia todo sentido.
-É faz sentido – disse o mago conformado.
-Vocês ingleses são muito tristes. Não tem calor nem paixão.
Precisam de mais força. E mais poder. Desistem facilmente.
-Você se refere aos ingleses ou só a mim?
Galtran sorriu e completou.
-Você tem o sangue dos Van Kristen. Uma família nobre e forte
pelo sangue. Sua vontade é mais poderosa que qualquer outro ser nessas terras.
Mostre um orgulho maior! Mas não humilhe quem esta abaixo de você. É como um
código de cavalaria. Parece muito fácil, mas não é tão simples quanto pensa.
Com grandes poderes surgem responsabilidades de igual tamanho. Compreende? Não,
acho que não. É um inglês! – gritou sorrindo o guerreiro druida – Nunca
entendem o que significa ser forte.
-Olha, - disse um irritado Lacktum – não sei qual o motivo de
agir feito um garoto comigo. Mas se você acha que isso vai causar algum efeito
positivo... Detesto lhe contar, mas não irá.
Galtran se calou. Mas logo continuou com menos empolgação.
-Seus pais foram mortos por Kalic Benton II? Não foi isso?
Foi mais de um ano atrás pelo que soube. Ficamos sempre sabendo sobre nossos
entes queridos. Mesmo que esses parentes, de muitas gerações ou não, nem saibam
sobre nós. Meu filho esta em outro plano
de existência[1],
por isso não sei muito dele. Nem sei se ele esta vivo. Mas sempre me lembro
dele com carinho... Não nos envolvemos com eles, pois podemos ferir quem
amamos.
Com tudo isso Lacktum abaixou a cabeça. Só que o guerreiro
ruivo continuou:
-Nunca abaixe a cabeça honre a memória deles. Mas se lembre:
não será com sangue que vai fazer isso.
-Então será como?
-Isso você terá que descobrir. E sozinho.
O cavalo cruzava a neve com força. O homem de cabelos ruivos
e trajes tipicamente dos homens das Terras Altas liderava com um ar de orgulho
um grupo enorme de homens armados e, aparentemente, prontos para qualquer problema
que surgisse. Eles balançavam as armas que zuniam no ar.
Gritavam frases de ofensas uns aos outros, como brincadeiras
tolas de crianças. Hinos de guerra eram entoados, sempre que possível, junto a
hinos de morte, com tom de deboche. Lacktum tentava entender como funcionava a
mente daqueles homens das Terras Altas. Pareciam moleques armados com espadas e
machados. A felicidade deles e suas risadas não acabavam mais. Era como se
estivessem se dirigindo a uma enorme festa, ao qual, estavam empolgados demais.
Mas se aquele grupo de homens guerreiros se sentia em uma comemoração, o
inimigo seria sua refeição como prato principal.
Após descobrir uma boa quantidade do tesouro de Ortro, o
grupo foi procurar pelos membros da vila. Era o caminho que não haviam seguido
antes.
Não havia mais nenhum ogro. Tochas fortes mostravam onde
estavam presos os habitantes da vila. Era uma cela de ferro, com certeza
moldada com magia pura. Atrás das grades, os rostos desolados dos moradores,
fitavam para o grupo como anjos que vieram lhes tirar do Inferno em vida. Todos
lá dentro, mostravam rostos desolados de dor, cansaço e fome.
Halphy foi à frente, preparando os equipamentos para abrir a
jaula.
-Esperem um pouco, - falou ela rapidamente enquanto mexia na
tranca com os aparelhos – já te soltaremos.
-Graças aos deuses esquecidos! – soltou um deles.
-Quem são vocês? – outro perguntou.
Foi quando Thror soltou, com as mãos na cintura falando:
-Nós somos os Dragões da Justiça!
-Thror... – falou Gustavo com ar de vergonha – Qual o motivo
de falar dessa forma para eles? Nem devem nos conhecer.
-Bem, agora nos conhecem.
-Ainda tento compreender sua mente grego louco.
As pessoas da vila saíram da prisão de ferro amedrontadas
e bem lentamente. Devia-se isso ao fato
de não confiar plenamente no grupo. Afinal, foram aterrorizados até então pela
prole de Argos. Estavam fragilizados, mesmo que ver rostos humanos os
tranqüilizasse.
Era possível ver o motivo do ataque a vila. Além de possui
meio elfos ali, tinham entre eles filhos de elementais, de gênios, de demônios
e dragões. Cada um com suas próprias características. Eram um diferente do
outro, em vários aspectos. Chifres, asas, patas, olhos faiscantes, peles de
pedra e até um terceiro olho que Thror jura ter visto em uma moça com tom de
pele diferente. O que era meio difícil de notar com tantas pessoas impares.
Um homem, um ancião entre os de meio sangue, surgiu como
líder daqueles pobres seres. Parecia ser uma mistura de um elfo com dragão. As
orelhas eram mais longas que o normal, quase transparentes também. A pele,
especialmente próximo do rosto, era cheia de escamas. Os traços élficos
superavam os dracônicos, mas ainda assim, mostravam a elegância e o poder de
ambas às raças em sua fisionomia. Estranhamente, uma barba longa surgia daquela
criatura. Halphy estranhou que tanto o pai e a mãe dele eram criaturas que são
conhecidas por sua longevidade e físico excelente. Ele ainda vestia uma roupa verde cheia
detalhes arcanos. Parecia que antigamente foi mago ou algo parecido. Mas agora
suas vestes estavam tão mal cuidadas que mais parecia um mendigo.
-Muito grato meus queridos jovens – começou ele – Meu nome é
Vardemis Kanon, sou o líder dessa vila. Então possuem o nome de Dragões da
Justiça? Muito apropriado.
-Obrigado – disse Halphy calmamente.
-Muito grato – falou Thror.
-Como podemos retribuir ao salvamento de vocês?
-Não precisa! Espoliamos o lugar onde estava a prole – disse
Seton segurando um enorme saco de moedas.
Todos os membros do grupo e alguns moradores da vila olhavam
para Seton com raiva e espanto. Aqueles que o conheciam duvidavam que fosse um
druida. Os que não, achavam que era um louco. Mas nada que fosse para se
preocupar. Agora pelo menos.
-Mesmo assim, - continuou o líder da vila – posso os
presentear com itens únicos.
Quando ele falou isso, apontou para um meio elfo que começou
a correr em sua direção, do fundo da multidão de aldeões. Os membros do grupo
não entenderam, mas foi pedido que esperassem. Eles o fizeram, e logo em
seguida, e logo em seguida foram surpreendidos com aquele rapaz ao seu lado.
Com ele estava: duas espadas longas distintas, uma esfera coberta por um pano e
um item pequeno que lembrava o que viram em Delfos.
-Meus amigos – disse Vardemis, enquanto pegava os itens e os
distribuía – esses são itens que nos foram concedidos por nossos pais,
ancestrais ou entes queridos. E eles agora passarão a ser de vocês, pois os
merecem depois do que fizeram por nós. Tomem, e não aceitarei suas recusas de
forma alguma. Deixe que explique o que cada uma possui de propriedades arcanas
e divinas. A espada negra, com a caveira no cabo, é chamada de Vampira de
Almas. Ela drena o adversário até não restar mais nada. É o que dizem as lendas
sobre ela. Esta, mais clara e com runas na lâmina, é uma de três irmãs.
Fim-dos-Dragões tem um dom sagrado contra os dragões malignos. Seu poder é
único contra eles. Já essa esfera – falava isso enquanto retirava o pano que
estava sobre ela – é conhecida como bola de cristal. Era muito usada pelos
antigos atlantes, pois através de sua magia ela vislumbra longas distâncias.
Ótima para estudar inimigos. Desde que saiba onde ele esta. Por ultimo, um
espelho com dons parecidos com a bola. Mas com uma habilidade incrível
inerente. Ele também lê os corações de quem se vê através dele. Tanto que pode
se comunicar com a pessoa escolhida. Esses itens agora são seus. Pois os
merecem.
Todos agradeceram e os itens foram distribuídos o melhor
possível.
A Vampira de Almas foi entregue para a ladina, com quem
muitos acharam estar adequada a arma. Além de ser uma ótima proteção. Já
Fim-de-Dragões ficou com o padre, afinal, era ele o mais preparado para tal
dom. Outro item caiu nas mãos de Halphy. A bola de cristal foi entregue para
ela. Já o espelho se tornava um problema: Arctus e Seton queriam o entregar
para Lacktum, enquanto Halphy queria mais um dos presentes. No final, foi
guardado.
A meio elfa ficou furiosa com a decisão do grupo, mas
precisou aceitar aquilo. Pelo menos por enquanto.
Todos os habitantes da
vila agradeciam aos heróis. Mas nenhum deles se sentia como um. Afinal, eles
não sabiam como lidar com pessoas que precisavam de auxilio. Na Grécia e no
Reino da França, quase não puderam notar como os agradecimentos eram sinceros.
Com as poucas peles que tinham, Halphy mandava cobrir os
pobres seres que moravam na Vila dos Meio Sangue. Eles na eram preparados – em
boa parte – para o tempo frio que estava lá fora. Esses que aturavam climas
pesados de inverno ficavam sem peles.
Feito a entrega dos itens, assim como as das peles para o
bando de refugiados, todos abandonaram a caverna. Um por um, guiados pela
ladina, saíram do lugar que foram mantidos como cativos.
Mesmo que a cena fosse deprimente para um espectador
desavisado, para os Dragões da Justiça era algo maravilhoso. Pois o que faziam,
significava algo maior. Algo de valor.
Arctus abraçava Gustavo e Seton enganchando pelas cabeças de
ambos. Era como se por alguns segundos fossem irmãos de sangue. Enquanto os
três andavam, Halphy fitou a lâmina com o nome Fim-dos-Dragões. Ela fazia isso
enquanto andava. Mas sua espada negra era mais poderosa pensava ela.
Valente arrastava o companheiro furão. Ele ainda estava
desmaiado. Como sempre, Furta-Trufas só atrapalhava. Pelo menos era o que o
suricate pensava.
O ferido Turin que via tudo de fora da caverna, notava que a
frente estava seus familiares. Eram uns dos primeiros a sair daquela escuridão.
Os abraçou como se tivessem nascido novamente.
De repente, a águia pousou no braço da jovem dizendo:
-Você foi muito bem Halphy. Uma excelente líder.
-É, mas não vejo o momento em que entregarei esse posto ao
Lacktum. Isso cansa a alma!
Thror que ouvia tudo riu por alguns instantes. De qualquer
modo, era verdade o que a ave disse. A garota era uma ótima líder. Sempre foi
perspicaz e muito capaz, mas naquele dia ela se mostrou apta a liderar um grupo
de combatentes.
O dia estava acabando, mas parecia que alguém tinha feito uma
linda imagem no horizonte. Como salvadores, os Dragões da Justiça fitavam
aqueles com salvaram com orgulho.
-Minha alma parece triste mesmo assim – disse Thror –
Gostaria de compartilhar isso com meu pai Orfeu.
-Relaxe. Não é o único – falou Gustavo.
Quando chegavam à vila, as pessoas olhavam com desconfiança
para um estranho grupo armado que chegou, pouco depois deles.
Os Dragões partiram na frente dos habitantes da vila. Tinham
medo, pois estavam sem boa parte das magias de cura do padre e do druida.
Tirando que não houve tempo para curar os aldeões e os membros do grupo de
várias das feridas em combate.
Thror sacava sua espada curta, com o escudo de lado. Halphy
retirou com as duas mãos, sua espada recém adquirida da bainha, colocando ela
na sua frente de modo ameaçador. Gustavo colocou a espada na sua frente, como
se fosse um sinal de sorte contra os inimigos estranhos que surgiam. Arctus e
Seton foram colocados atrás para quaisquer eventualidades. Valente mostrava os
dentes em uma cena bizarra e engraçada. Furta Trufas, que finalmente despertou,
desmaiou novamente. Só fiel não era visto. Para o grego isso era até bom.
-Qual é o plano Halphy? – perguntou Gustavo, já se preparando
para o combate.
-Não sei. Nem se haverá um combate. Não sei... Mas acho que
esses homens não vieram atacar.
-Por Zeus, Poseidon e Hades! Garota dominada pela lua! Acha
que vieram então fazer o que, afinal? – soltou Thror com raiva – Brincar?
-Calado Thror! – gritou Arctus.
-Me deixe fazer algo – sugeriu o druida pronto para o
combate.
Nesse mesmo instante, o líder atravessou de modo atrapalhado
entre os habitantes da vila. Parecia aflito. Logo se intrepôs entre os heróis e
os forasteiros. Queria impedir o conflito.
-Se acalmem meus jovens! Eles não são invasores! – disse
Vardemis, temendo o pior.
-Então quem são eles? – perguntou a já preocupada Halphy.
Eis que um homem de cabelos longos e ruivos surgiu na frente
deles. Era forte. Possuía uma pele de urso cobrindo parte de seu corpo. Dois
machados estavam em sua cintura. Havia um pequeno símbolo neles.
Ele desceu de sua montaria conde havia um rapaz encapuzado.
Chegou até Vardemis o abraçando. E então olhando para seu rosto, enquanto
segurava seu ombro disse:
-Olá velho amigo!
-Galtran! O que faz aqui? Não era sua função proteger as
fronteiras?
-Fiquei sabendo que vocês estavam com problemas e então vim
auxiliar... Mas parece que era mentira! – disse o ruivo sarcasticamente.
Os habitantes do vilarejo começaram a falar, enquanto os
Dragões da Justiça se perguntavam como o guerreiro ficou sabendo dsso. Afinal,
eles disso através de Turin que até onde sabiam, tinha sido o único que
conseguiu fugir julgo da prole de Argos. E só.
-Me perdoe à indiscrição, mas quem contou a condição dessa
vila? – perguntou Halphy diretamente ao tal Galtran.
-Alguém muito arrependido e que quer rever vocês – falou o
homem com peles de urso. Nesse momento apontou para sua própria montaria. Havia
nela, um homem usando capuz até então que não notaram. Ele o retirou. Era
Lacktum. Comum rosto todo inchado, mas era ele.
Todos do grupo aventureiros soltaram sons de alegria.
-Lacktum! – disse Thror completando – Você esta mais feio que
o monstro minotauro! Hehe!
-Muito grato – falava isso enquanto saltava do cavalo com
certa dificuldade. Parecia bem ferido. Arctus foi ajudar o companheiro.
-Meu Deus! Onde conseguiu tantas marcas? Tem até queimaduras!
Onde esteve? Em um combate contra um exército de magos?
Foi quando Lacktum olhou para Galtran com ar de satisfação.
Como se tivesse conquistado algo. Agora entendia como aqueles bárbaros
pensavam.
-Brinquei com uma bola de fogo.
Os Dragões olhavam com estranhamento, enquanto Lacktum e
Galtran riam com um fato desconhecido para o grupo. Novamente, olhos de
estranhamento.
Arctus foi levando o amigo até uma cabana, enquanto Valente
arrasta Furta Trufas.
-Maldito gordo! – esbravejava o suricate.
Muitos não estranhavam aquela cena da vila, já que conheciam
uma grande quantidade de seres bem mais estranhos. Mas os soldados de Galtran
olhavam com espanto para os pequenos animais.
Foi quando a ladina feiticeira olhou para Seton. Ela sorriu.
-Que bom! Pelo menos a liderança não esta mais em minhas
mãos.
-É – disse Seton – Deveria ser um fardo.
-Era mesmo.
[1]
Plano de existência se refere a mundos primários, ou seja, mundos que em resumo
tem várias características de Gaya. Mas cada qual, com sua peculiaridade. Mais
detalhes durante os outros volumes dos Contos.
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