Após Galtran ajudar o resto do grupo com seus dons druidicos,
apesar de possuir muitos talentos em combate, foi treinado como um druida
também. E seus poderes superaram em muitos os jovens sacerdotes dos Dragões da
Justiça. Mas como Vardemis disse isso não demonstrava nem metade dos dons dele.
Isso causou medo e admiração em todos.
Todos os membros do grupo se espantaram com a reação de
Lacktum voltar junto com o guerreiro druida até a vila. Acharam que ele se
fixaria no plano de chegar ao Portal de Ixxanon. Estavam certos disso. Como se
acharam tolos por terem se enganado. Dentro do coração daquele jovem ranzinza,
havia algo realmente bom. Tanto que contou o que havia conversado com Galtran
até ali. E ele apresentou o Imortal Esquecido completamente. Tudo isso na
cabana simples de Vardemis.
-Bem, o que ocorre é o seguinte: esse é Galtran Coração
Prateado. Ele é como Gor, um dos Imortais que serviu na luta no Portal
Infernal.
Todos com exceção de Vardemis se espantaram com a revelação.
Mais um dos membros do grupo que estava envolvido com a missão dos jovens. E
como os anteriores, o guerreiro druida não parecia tão velho quando deveria
ser. Aparências realmente enganavam.
-O que importa agora é que nos últimos meses ele tem viajado
pela fronteira da Inglaterra. Protegendo as terras de cá contra as tropas de
Kalic Benton II. Poderosos homens servem Galtran, mas eles não são como as
Alianças que servem aquele maldito. Eles morrem.
Halphy e Arctus olhavam com seriedade para o mago. Eles
estavam ouvindo informações, que até então já deduziam. O que Lacktum realmente
queria dizer?
-Fale logo Lacktum! O que soube nesse meio tempo? – exigiu o
padre.
A casa de Vardemis era muito simples. Sem mesa e com poucas
cadeiras. Haviam peles de animais esticadas pelo aposento. O que tornava o
lugar mais sinistro. E o que tornava a situação um pouco sufocante.
O mago então soltou uma frase que deixou os Dragões da
Justiça atônitos:
-Kalic Benton nos sitiou entre dois exércitos – disse ele
pesadamente e continuou – pois praticamente tomou toda a ilha.
-Como? – gritou Vardemis.
-Não pode ser! – soltou Thror inconformado.
-Mas Avalon teria sido informada com algo assim acontecendo por
aqui. E eles tomariam uma atitude! – disse Halphy com certeza em suas palavras.
Os que estavam sentados nas poucas cadeiras se levantaram e
começaram a discutir. Lacktum fez um sinal com a mão para se acalmarem. Ele
explicaria.
-Então nos faça entender – pediu Arctus.
-Sabemos sobre três dos principais aliados de Kalic Benton.
Isso sendo que encontramos com dois deles. Diogo e Mallmor. Mas nem sabemos
quem ou o que pode ser esse homem que usa tal alcunha que Galtran falou que era
falsa. E há coisa piores. Ele possui mais aliados.
-Exato – confirmou o guerreiro druida.
-Galtran me confidenciou sobe os aliados que não conhecemos.
O inimigo possui uma guilda de alquimistas que o servem fielmente. Além disso,
já notamos que possuem um controle das almas através da transmutação, como
chamam a Arte desse grupo. Também soube dos ogros. Isso se deve a um suposto
líder dessas criaturas. Ele se tornou poderoso ao matar ogros que comandavam as
tribos dessa raça. Autodenominou-se Matadouro, o Imperador Ogro. Pode ser
estranho isso para nós, mas é o que os ogros falam entre si.
Alguns riram e o próprio Thror caiu na gargalhada. Esses
seres são tão incompetentes que não poderiam ter um líder.
Mas foi quando Lacktum gritou, exigindo que fosse escutado
corretamente, que todos notaram a seriedade daquelas palavras.
Continuou:
-Existe algo pior que isso até agora mencionado. Refere-se a
uma das maiores fontes de magia do mundo antigo.
Foi então que começaram os palpites.
-Algum artefato? – falou Seton.
-Não – balançou o mago freneticamente – É um tipo de criatura
poderosa demais.
-Gênios? – começou o druida.
-Não – repeliu o paladino – Com certeza são anjos caídos.
-Quem disse? – questionou Halphy – Eu acharia que fossem
fadas ou demônios, mas temo a resposta.
Os olhos da jovem da meio elfa encontraram com o do mago
ruivo. Ele inspirou o ar e então falou:
-Nem um de vocês acertou. Apesar de não acreditar nessas
coisas de demônios e anjos... Dragões. Kalic Benton tem pelo menos um deles ao
seu lado.
Todos ficaram espantados. Um dragão significava uma das
forças primordiais dos universos. Lendas sobre dragões existem em tantas
culturas que poderia fazer muitos pensarem sobre o assunto. Muitos dizem, que
quando a magia surgiu, depositou uma pequena parcela da sua existência em
dragões de diferentes cores e personalidades. Os dragões de sangue, de ouro, de
esmeralda, de sombras, da sorte e até mesmo dragões de espírito. Lendas que
atravessam os mares falam sobre lordes dragões de imenso poder. Outras os citam
como deuses! Mas até onde sabiam o grupo só ouviu falar sobre um dragão forte o
bastante para ascender como deus. Ixxanon.
Lacktum, após muitos estudos junto de Halphy e Azerov,
descobriu que o deus dragão conheceu os Imortais. Na verdade, sua ascensão se
deveu especialmente aos heróis. Era algo que nenhum deles conseguiu conceber.
Até então, pelo menos. Gatran começou:
-Eu soube, por pessoas muito confiáveis, que o dragão Kalic
Benton possui ai seu lado é conhecido como Daehim. Um dragão de sombras. Seus
poderes possuem forças sombrias e malignas ligadas com a traição. Seus poderes
provêm das trevas. E o inimigo sabe como estamos.
-Como assim? – falou o pequeno surirate.
-Kalic Benton sabe que os Imortais estão se arrumando,
preparando e se reunindo. E para ele pode ser perigoso isso, mesmo sendo
poderoso. Talvez pelo fato que ele seja alguém superior mentalmente como uma
pessoa me disse. O que importa é que ele não quer nos enfrentar. Pois poderá
causar uma batalha desnecessária aos planos dele.
As pessoas na sala olhavam um para o outro com medo. Tudo que
Galtran e Lacktum falaram tornava a situação perigosa.
-Mas então qual o motivo de estarmos indo em direção ao
Portal de Ixxanon? – perguntou aflito o padre – Acho que isso é uma tolice.
-Nem tanto – falou Galtran – Também necessitam de treino. O
lugar para onde estão indo servirá para aumentar suas capacidades.
Especialmente, com os fatos que ainda não citei ao seu amigo Lacktum.
Ouvindo isso, Lacktum olhou com temor para o guerreiro das
Terras Altas. Algo que ele não falou até agora deve ter sido colocado como
última parte da conversa para não alarmar demais os membros. Principalmente,
que não quis dividir isso com o líder do grupo.
-Uma coisa que esta ocorrendo no Vale das Esmeraldas, -
explicou o guerreiro druida – é o domínio de Daehim. Ele foi especialmente
mandado por Kalic Benton II para aquele lugar. Parece que é um modo de provocar
o seu grupo.
Todos olhavam sem entender. Que motivo Kalic Benton teria em
causar mais raiva aos Dragões de Justiça? Pareciam atitudes infantis para
alguém que Galtran citou como extremamente inteligente. Mas a pergunta agora
era como o mago pretendia atrapalhar a vida dos jovens.
-Mas me responda - perguntou a ladina curiosa – como ele
pretende nos provocar?
-A cerca de alguns dias atrás, um grupo de homens levou
consigo dois corpos até o Vale das Esmeraldas. As informações obtidas pelos
meus batedores é que esses corpos seriam usados para chantagear os Dragões da
Justiça.
-Hein? – soltou Thror confuso.
Todos ficavam confusos com as palavras de Galtran. O grupo já
tinha muitos problemas. E uma chantagem ali deveria ser parte de algo maior no
mínimo. Alguns ali na casa já tinham sua idéias do que se tratava aquela
história que o guerreiro druida relatava.
-Como eles iriam querer barganhar conosco? – perguntou
obstinado o mago, mas com temor na resposta.
Galtran respirou fundo e olhou para Lacktum.
-Eles trouxeram até o Vale das Esmeraldas os corpos de uma
jovem e de um paladino. Pelo que sei – e novamente ressalto que minhas
informações são confiáveis – se tratam de uma moça de nome Lirah e um antigo
companheiro de viagens de vocês, Federick de Salles – terminou o homem das
Terras Altas.
Halphy colocou a mão na boca pelo espanto. Muitos não conheciam
a história da jovem noiva de Lacktum. Mas todos sabiam sobre Federick, O
próprio Gustavo franziu a testa de raiva. O jovem arcano, porém, não expressou
sentimento algum. Alexander se aproximou do mago, que fez um carinho em sua
cabeça. Parecia até um garoto triste que brinca com um animal com a finalidade
de esquecer os problemas. E não deixava de ser.
Alguns saíram. Halphy ficou na casa, junto com os animais,
com exceção de Valente. Ele parecia ter se comovido com o mago ruivo e o
seguiu. A história da vingança de Lacktum, fez acreditar que, entre todos, ele
tinha o espírito mais combativo. Mas como Alexander diria a ele, fúria sem
controle não significava nada.
Quando saíram da casa, Thror fez uma pergunta sensata:
-Onde Nico esta? Não o vejo desde que saímos da caverna.
Alguém sabe dele?
Os homens de Galtran, denominados como Machados Prateados,
fizeram uma fogueira próxima da vila. O guerreiro druida foi até eles beber e
conversar como sempre fazia em campanha. Seton e Thror, sabendo disso, foram
atrás do vinho. Arctus e Gustavo riam dos dois amigos loucos por uma bebida.
Lacktum cruzava os braços pelo extremo frio que sentia.
Alguns homens cantavam, enquanto bebiam. Faziam músicas
improvisadas, e quase sempre, cheias de ofensas. Algo que para a maioria do
grupo era maravilhoso. Fazia tempo que não festejavam. Talvez fosse um momento
para isso.
Já Lacktum e Arctus olhavam para Galtran, como se fosse um
poço de respostas. Gustavo só fitava a chama da fogueira.
O mago e o padre se sentaram ao lado do guerreiro imortal.
-Vive desde quando? – perguntou sem pestanejar Lacktum.
-Pensei que iria me perguntar sobre Lirah. Mas se quer tanto
saber... Acredito que estou vivo desde o século V pelo que os cristãos falam.
Nunca fui muito bom com essa questão de datas. E você? Vai fazer algo com
relação a Lirah?
-O que poderei fazer? O que poderia fazer? Ela, como meu pai,
morreu pelas mãos de Kalic Benton. E de nada serviria conseguir o corpo dela.
Tenho consciência disso agora. O que eu quero... O que eu desejo é a vingança
contra o maldito.
-É, imagino como isso deve ser para você – falou pausadamente
Galtran – Mas se aprendi algo nesses anos em que estive entre os Imortais é que
a vingança não é plena. Ela devora nossa alma e a envenena completamente.
-Ouvi isso do cão – disse sorrindo o mago ruivo.
Galtran soprou no ar frio daquele lugar. Parecia trazer de
suas memórias algo doloroso.
-Tinha como aprendiz um garoto que era irmão de Wiegref, meu
amigo. Seu nome era Half. Eu gostava muito daquele rapaz, mas ele foi capturado
pelo inimigo. Ele foi morto, como o aprendiz de um dos meus colegas, James.
Mortos por Syrus.
-Syrus? Não é o demônio que esta em Avalon? – perguntou
Arctus – Não sei muito bem se é um demônio, pois não acredito muito nisso.
-Muitos não acreditam, mas nem sei como você não acredita
nisso... Mas exatamente esse sujeito. Nós o entregamos ao regente Arda, pois
não é possível o destruir definitivamente. Ele é um Cavaleiro Infernal. Seus
poderes transcendem as forças malignas de outras crenças, como a dos homens do
norte ou os dos que crêem na Deusa e no Deus. São criações de um período em que
mostrava digno como um deus. Em que sua espada nunca buscou vingança. Eu me
lembro disso.
-Até parece que o conheceu, mestre Galtran – disse o padre
Arctus – Fala como se nós, meros mortais pudéssemos enfrentar um mal tão
grande.
-Não só o conheci e o enfrentei além de tê-lo derrotado. Eu e
os Imortais Esquecidos matamos Hades, o Senhor do Submundo.
Os homens de Galtran festejavam continuamente. Enquanto isso,
os membros dos Dragões da Justiça que permaneciam perto de fogueira se
mantinham calados. Eles se entreolhavam devido a última frase do guerreiro
ruivo. Afinal, derrotar uma divindade não era possível. Pelo menos, era isso
que todos acreditavam sobre os Imortais Esquecidos, já viu citações do suposto
combate contra o Senhor do Submundo. O que na verdade, sempre acreditou se
tratar de uma licença poética. Galtran, no entanto, mostrava orgulho demais,
como se tudo aquilo tivesse ocorrido – não de forma tão simples, logicamente –
como em um combate comum. E isso, de certo modo, começava a fazer sentido.
Todos em Avalon, da nobreza pelo menos, que conheciam a história daqueles
heróis os citavam como lendas ou no máximo campeões que caíram pelo mais cruel
dos inimigos: o tempo. O que era mentira, afinal, o tempo não atingiu aquele
Coração Prateado.
-O que fez os membros dos Imortais se tornarem...? – começou
Lacktum.
-Imortais? – completou Galtran.
-Sim.
Galtran olhou para o céu noturno, como alguém que caça
estrelas. Mas não eram elas que ele queria. Ele caçava em sua alma as memórias
de um período e local que poucos se lembravam. De repente, o arcano trouxe a
memória imagem de Gor.
-Certa vez... No combate que ocorreu nos Portões Infernais
para ser exato... Nosso grupo foi derrotado por um poderoso dragão. Com exceção
de Wiegref e Kayla. Nossa queda fez com que Hades usasse sua última peça para
seus planos. Séculos se passariam e seriamos ressuscitados por um poder antigo.
Ele havia colocado em cada um de nós uma parte de seu próprio ser. Uma esfera
negra, que se alimentaria de nossos espíritos de acordo com nossas experiências
e crescimento em combate. Depois de grandes combates, houve a tentativa de
Gibraltan de aplacar a força das trevas que crescia em nós. Mas com a
intervenção de um avatar[1] de
Hades, houve uma quebra no ritual. Com isso descobrimos suas verdadeiras
intenções. Ele queria o poder sobre a própria forma em terra, obter um corpo
poderoso entre os homens. Caminhar entre nós era seu objetivo. E após uma
terrível batalha contra o deus ctoniano[2] em
pessoa, nós o derrotamos. Mas não sem nos deixar sua marca profana – nesse
instante, o homem ruivo se abaixou com tristeza nos olhos.
Todos sentiram pena do guerreiro druida. Nunca pensaram que a
figura de uma lenda teria um destino tão triste e sombrio. Que moral poderia
ser retirado daquele fato? Era claro que quando isso ocorreu, deixou nos
Imortais Esquecidos uma benção e maldição. Alguns se regozijariam. Outros
blasfemariam contra isso. Eles obtiveram o que poucos homens conseguiram em
séculos. Eles obtiveram imortalidade. Ironia do destino.
-Acreditam que foi uma punição de Halphy – questionou o
padre.
-Não – respondeu Galtran – Gibraltan e a clériga Meg, acreditam que isso se deve
ao poder execessivo de Hades. Como um efeito reverso. Mas um bardo, de nome
Demetrios, nos confidenciou algo que descobriu em suas expedições pelo mundo: o
paradoxo.
-Paradoxo? – se sentou confuso o jovem mago.
-O paradoxo é a linha tênue entre a magia e a realidade. Uma
força mantenedora das leis da natureza e dos elementos. Ele é como uma força
que equilibra o bem e o mal, a luz e as trevas, a natureza e o homem, o místico
e o físico. E ao que parece nem os deuses estão livres desse poder.
-Como assim? – questionou Gustavo entrando na conversa.
O paladino se colocou na frente de Galtran. Este por sua vez
o observou com o canto do olho e prosseguiu.
-Quando Hades foi destruído, sua essência continuou
existindo. O paradoxo não poderia eliminar o Senhor do Submundo sem quebrar
parte da ordem de Gaya. Um deus é a conexão de energias relacionadas aos seus
domínios em um respectivo panteão. E isso causaria um caos nas energias desse
mundo. Então, em vez de ser uma última praga jogada pelo nosso maior inimigo ou
o efeito de um ritual ancestral quebrado, nossa imortalidade provem do poder
que mantém a ordem nesse universo. O paradoxo.
-Então, - surgiu uma idéia na cabeça de Lacktum – vocês
possuem o poder de um deus também.
Galtran riu.
-Gibraltan pensou a mesma coisa. Vocês magos pensam sempre da
mesma forma. Mas nenhum de nós nunca obteve força a suficiente força para
tanto. Pelo menos, é o que acreditamos. Nenhum de nós demonstrou mais poder que
o comum. Mesmo sendo os seres, talvez, mais poderosos desse mundo. Acredito.
Por alguns momentos, eles acharam que fosse exagero dele.
Depois de um silêncio constrangedor, todos notaram que a palavras proferidas
eram verdadeiras. E que se aquilo não fosse um fato que glorificou para se
gabar, estariam do lado de um dos maiores e mais poderosos homens nas terras
conhecidas.
-Uma pergunta – pensou o curioso mago – existe alguma forma
de reverter esse estado? Já que dizem que não se sentem bem com isso...
-Lacktum, nós sabemos como, mas para que isso ocorresse
deveríamos ir contra tudo que fizemos antes. No século V, abrimos os portões e
com isso, criamos um laço de conexão com Hades. Na virada do milênio, o
paradoxo nos usou como âncora para manter a ordem sobre os domínios. Uma amiga
nos disse que se os dados obtidos por ela forem verdade, quando os Portais
Infernais se abrirem novamente a nossa imortalidade seria sugada para o Hades.
-Isso é estranho... Sugada? E qual o motivo disso? Por qual
razão seria o plano superior que sugaria a imortalidade de todos? O Portal
Infernal deveria abri para qualquer um dos submundos espirituais existentes.
Arctus olhou na direção de Lacktum. Adorava quando sabia mais
que o mago.
-Disso eu posso falar. Algo que esta no aspecto divino. A
verdade é que nos ditos, Infernos, o poder surge com o mal de seu lorde
supremo. Hel é uma extraordinária arcana, Osíris é poderoso, mas Hades sempre
foi habilidoso demais. Seu poder criou os Cavaleiros Infernais. Ele dominou os
poderes da guerra e da magia. Seu ódio superou os limites de muitos outros
deuses. Na verdade, alguns acreditam que superou o próprio Zeus, mestre dos três,
Lorde dos Céus e controlador do Trovão Dourado. Com isso o seu submundo também
cresceu em poder. Sendo que se o portal realmente se abrir os membros mais
poderosos sairão dele. Ou seja...
-Os Cavaleiros Infernais! – falou Lacktum concluindo.
-Exato! – falou Galtran com as mãos entrelaçadas – Os
Cavaleiros Infernais são derivados da Cabala ou Kabalah, que significa
recebimento e aceitação. Mas em uma versão profana. Os poderes relacionados com
cada Cavaleiro se derivam desse tratado filóscofico e religioso dos hebreus.
Lembrando qe Syrus é um dos mais poderosos. Alguns dizem que ela possui um
sentido secreto ao qual Hades decifrou. Um sentido que ele reverteria para
aumentar seu poder mais ainda.
-Espere... – falou Arctus alto – Ele estava quase obtendo o poder
para decifrar a Cabala? Um deus estava com dificuldades de decifrá-la?
-Por acaso é somente a maior verdade existente no mundo
hebreu, caso não saiba. A tradição oculta desse povo. A poderosa magia que visa
decifrar o nome de Deus através de um sentido secreto na Bíblia.
-Isso é loucura! – gritou Gustavo.
-Por qual motivo? – falou sarcasticamente Galtran.
-Deus, o Senhor, não possui um nome. Assim como não tem uma
face como os homens. Com isso, podemos e devemos nos lembrar que não é certo
adorar falsos deuses e ídolos.
-Então que disser que minha divindade é falsa, paladino?
-Gustavo! Pare com isso! Se ele... – quando Arctus iria
continuar falando, Galtran levantou a mão em repreensão.
-O deixe padre. Diga-me... Gustavo não é? O que me diz das
Cruzadas? Da famosa Guerra Santa?
-Uma batalha contra os sarracenos malditos. Os converter se
possível. Mas a espada será uma alternativa. Assim, abriremos caminhos para
Jerusalém.
-Os Templários, os Pobres Cavaleiros de Cristo ou até mesmo
conhecidos como os Cavaleiros da Ordem de Salomão, são os únicos que acreditam
nessa falsa história de conversão. Mesmo eles, acumularam imensa fortuna,
dispondo de milhares de castelos e conventos por todas as terras onde o latim é
comum. É certo que eles se propõem a proteger os peregrinos. Mas isso é algo
que ainda não faz sentido. Não existe um bom motivo para matar alguém. O que os
templários e os cruzados mostram com isso é que sua função se tornou sua função
matar. Tudo em nome do Papa, o homem que distribui as palavras de Deus! O homem
do trono de Pedro! Tolice é o que digo sobre isso! O motivo máximo que se tem para
matar é sobreviver. Só isso e a segurança daquele que lhe são caros. Mas até
isso já foi esquecido. Se acha que estou errado – então, Galtran pegou seu machado
e o atirou no fogo – me diga o motivo de seu Deus nos punir? Nós! Protegemos os
mais humildes. Salvamos tantas vidas que nem em séculos vocês conseguiriam
salvar. E o que ganhamos do Deus Único? A imortalidade que nunca quisemos! Se
cale paladino e respeite minha fé!
Gustavo iria reagir as palavras, mas foi detido por Arctus. O
padre apontou para os homens de Galtran, que já haviam dominado Seton e Thror.
Lacktum continuava sentado fitando a fogueira.
Então o guerreiro ruivo se levantou e foi na direção de seu
machado na fogueira. Ele não esboçou nenhum sinal de dor, enquanto retirava a
arma do meio das chamas. Quando todos notaram, as marcas de queimadura sumiam
da palma de sua mão, com a mesma facilidade que as fez aparecer. Ele então se
voltou para Lacktum, enquanto fitava um de seus subordinados.
-Arranje para o grupo bebida e comida para chegarem até o
Vale das Esmeraldas. Amanhã cedo partiremos.
A animação continuou. Porém, Seton que ficou mais atento,
acompanhou Thror até a casa do líder da vila para dormir. Deixando só os homens
de Galtran e alguns dos Dragões por ali.
Passado um bom tempo, o mago então falou:
-Ele tem lá sua razão.
Arctus e Gustavo olharam com raiva para o arcano, mas só o
segundo se pronunciou a respeito.
-Ele não tem razão.
-Pode até pensar assim – falava Lacktum enquanto se levantava
– mas pense bem: se não fosse por causa das cruzadas, boa parte dos exércitos
estaria em suas respectivas terras. Protegendo os povos dos monstros e de
invasões bárbaras. Se bem que quase nenhum nobre acredite que essas criaturas
sejam de verdade. Tornando mais vulneráveis alguns povos.
Falado isso, foi em direção da casa de Vardemis.
Quando Lacktum estava para entrar na casa, ouviu passo.
Estavam bem atrás dele. O mago então se virou, carregando as mãos de mana. Mas
não era um inimigo. Gustavo estava lá.
-Preciso falar com você arcano.
-Você quase me mata de susto Gustavo! – falou apavorado o
mago – Não se esgueire mais!
-Me perdoe. Mas o que eu tenho a dizer vale a pena esse
susto.
-Certo, então fale.
-Quando enfrentamos a prole de Argos, tivemos um combate
ferrenho. E no final, Arctus dominou o monstro. Ele, o monstro falou que havia
um traidor entre nós.
-Com certeza, fez isso para tentar sobreviver, imagino eu.
-É o que qualquer um pensaria. Mas ele disse que não
precisava da nossa piedade.
-Típico.
Lacktum iria entrar na casa quando o paladino segurou seu
braço.
-E mais uma coisa. Eu como paladino consigo sentir a verdade
nas palavras dos homens e das criaturas. Seja como for eu sei... Alguém pode
realmente trair o grupo. Pois é através de um dos olhos daquela criatura, pelo
que sei, que consegue enxergar o futuro e os sentimentos dos homens.
-Espere um pouco homem! Se realmente ele tinha esses dons,
qual o motivo dele ter morrido? Ele não deveria ter fugido ao menos?
-É assim que agem os demônios meu amigo. Contam-nos verdades
com gosto de mentiras. Outras vezes, fazem o contrário. Mas acima de tudo, pode
ser que ele tenha visto algo fora do comum. Algo extremamente perigoso.
-Sei... Mais alguma coisa paladino?
-Bem... Desconfio de duas pessoas. Uma delas seria Halphy.
Muito furtiva e perigosa na minha concepção. E o próprio Thror parece um
perigo. Pelo que me contam e pelo que vi, ele mostra conhecer algumas coisas
sobre fatos que... Ele diz não se lembrar de nada. Mas isso deve ser mentira.
Ele às vezes entende sobre fatos que só arcanos deveriam conhecer. Não acredita
que isso seja suspeito?
-O que você fala faz sentido. Se bem que Thror não
conseguiria fingir toda aquela estupidez. E Brown já me salvou diversas vezes.
Preocuparia-me mais com Arctus.
Gustavo se indignou, fato ao qual Lacktum respondeu com olhos
frios:
-Sei que são amigos desde antes dos Dragões da Justiça, mas
ele não de ser um suspeito, se o que diz for verdade.
-Eu o conheço Lacktum!
-E eu conheço Halphy e Thror!
-É diferente!
-Ele salvou sua vida não foi?
O paladino se calou. O mago começava a compreender os fatores
que ligavam o grupo. Na primeira vez que conheceu a ladina, esta o salvou de
ser morto. Mesmo Lacktum tento quitado essa dívida, a sensação de querer
proteger a jovem persistia. Era o mesmo com Thror. Era uma forte amizade.
-Sei que vocês são amigos. Mas isso deve ser colocado nesse
caso. Olhe, eu também não descartei Nico, Seton e até mesmo os animais nesse
caso. E sei que isso o aterroriza. Temos preocupações maiores. O inimigo sabe
onde estamos, mas não nos atacou ainda. Há motivos para isso. Pessoais e de
importância para os conflitos futuros. Se isso for verdade, e não digo que
estou certo sobre o que fala, há problemas maiores para contornarmos. Prepare
sua lâmina para o que vamos enfrentar, mesmo que seja um de nós.
Lacktum entrou enfim na casa, enquanto o paladino refletia
sobre tudo o que foi dito. A neve caia fina sobre ele, como se Deus quisesse cobrir
ele com um manto branco para acalmar seus pensamentos confusos.
Ele voltou para perto da fogueira. Gustavo espirrava e tossia
pelo forte frio que surgia.
Enquanto Lacktum entrava na casa, Halphy fechava os olhos.
Ela escutou boa parte da conversa entre o mago e o paladino. E temia o que
poderia acontecer.
O que estava para acontecer poderia causar grande destruição
no mundo. Ela realmente não queria se envolver com o que iria ocorrer. Mas já
que havia surgido nessa história de loucos, iria até o final dela.
No dia seguinte, todos se preparavam para partir. Os Dragões
da Justiça em direção ao Vale das Esmeraldas e depois para o Portal de Ixxanon.
Os Machados Prateados iriam para as fronteiras. Era necessário as defender
contra as Alianças.
Todos se despediam. Alguns começaram a criar amizades com os
homens de Galtran. Até mesmo Lacktum que enfrentou o guerreiro Eric estava
feliz conversando com seu antigo adversário. Turin e Vardemis se entristeceram,
pois não teriam mais a companhia dos seus heróis. Mas os armaram e os muniram
de alimentação, mesmo que Galtran tenha mandado seus homens fazerem o mesmo na
noite anterior. De qualquer modo, iriam conseguir alimentos bem.
Por fim, Galtran subiu em seu cavalo colocando suas mãos na
crina do animal. Ele virou a montaria na direção do grupo. Todos, com exceção
de Nico estavam lá. Seton espirrava demais, enquanto Thror reclamava da
ressaca. Todos riam da cena, enquanto Halphy começava com suas broncas de
sempre.
-Acho que é aqui que nos separamos líder dos Dragões – falou
Galtran na direção de Lacktum.
-É mesmo Coração Prateado.
-Espero que cruzem o vale em segurança. Acredito que
enfrentarão as forças de Kalic Benton II e uma grande parte de homens repteis.
Por isso, realmente espero que não tentem enfrentar Daehim e suas tropas
diretamente. Caso seja necessário, que o Deus e a Deusa os protejam.
-E Ares também! – ressaltou Thror, com uma enorme ressaca.
-É – falou o padre – Certo grego. Ares também.
Galtran girou como a montaria na direção contrária, quando
Lacktum gritou. Ele ainda tinha dúvidas.
-O que foi meu jovem?
Era engraçado ouvir aquilo de um homem, que aparentemente,
não era assim tão mais velho que ele, pensou Lacktum.
-Duas perguntas. Já que são tão poderosos, não obtiveram os
artefatos por qual motivo?
-Ele tem razão! – falou Halphy.
-Atchim! – soltou um resfriado Seton.
Galtran então respondeu:
-O paradoxo age de formas inusitadas. Ele nos impede de
alcançar os itens do Desalmado e do Cavaleiro de Platina, fisicamente, nos
lugares onde estão escondidos. Porém, ele não impede que aqueles ligados a nós,
busquem os artefatos. Falo de laços familiares distantes. Vocês, para ser mais
exato. Mas o paradoxo também vai agir em vocês. Estejam preparados.
-Era sobre isso minha pergunta seguinte. Como o paradoxo age
sobre nós? Eu sinto que algo diferente sobre os Dragões.
-Você é bem sábio, sendo tão jovem! Bem, além da
imortalidade, o paradoxo afeta nosso grupo e todos os que acumulam experiência
de nossas famílias de um modo único. Chamamos de véu. Logo, logo verá isso com
seus próprios olhos. As pessoas com baixo poder espiritual irão se esquecer de
seus rostos. Não se lembrarão do que fizeram por eles. E isso, mesmo que se
torne um fardo, vai só aumentar. Se preparem, pois assim são as lendas. Elas
nascem, quando a realidade se torna um véu para proteger os homens de si mesmo.
Se preparem, Dragões da Justiça!
E com isso, Galtran colocou sua montaria para correr contra o
vento. O garanhão relinchou com força.
Os Dragões já haviam se despedido. Todos começavam a andar. O
único problema, dizia Halphy, era o resfriado de Seton. Ela falava que mostrava
a posição do grupo aos inimigos. O druida soltava pragas contra a feiticeira
ladina, enquanto o guerreiro grego reclamava da ressaca.
Após um bom tempo de viagem era possível ver o objetivo do
grupo. Após alguns dias, já se via o Vale das Esmeraldas. Era uma depressão
alongada, entre montes, com um pequeno curso de água. Havia uma pequena
planície fértil e cultivada. Mas que agora, estava toda cercada de estacas para
se proteger de ataques.
Isso se devia, logicamente, aos novos habitantes do lugar:
homens repteis e alguns poucos ogros. Foi como Galtran havia comentado para os
aventureiros.
Havia lendas, que no Vale das Esmeraldas, surgiu um mal tão
antigo e poderoso que trouxe desgraças para a região. Mas graças à intervenção
de Galtran, venceram a criatura ancestral. Depois de muito custo e sangue eles
derrotaram um poderoso dragão de esmeraldas.
Este ser, mantinha o controle sobre monstros que todos
acreditavam ter sumido da face da ilha. Com toda a certeza deveria haver alguns
ninhos deles na ilha vizinha, provavelmente.
Os homens lagarto eram criaturas escamosas, bárbaras e
primitivas, que poderiam ser muito perigosos quando provocados. Ou mesmo quando
isso não ocorria. Parecia ser o cruzamento entre um homem e um imenso lagarto
com dentes do tamanho de um lobo. Suas mãos terminam em garras. Malignos quanto
o pior dos demônios. Extremamente agressivos e adoravam a carne de seus
inimigos – em especial de humanos. Não são muito inteligentes, mas sua
ferocidade e instintos primitivos compensavam esse problema.
Eles viviam em tribos, chamadas de ninhos. Eram comandadas
pelo maior e mais feroz entre eles, sendo que os mais capazes de acompanhar o
líder se tornavam seus homens de confiança. Era um rascunho de uma sociedade
bélica antiquada que funcionava.
Possuíam o dom de serem grandes nadadores e visão no escuro.
Camuflavam-se com extrema habilidade. O que os tornavam exímios caçadores. Além
disso, tinham caudas bem afiadas, assim como suas bocas.
Havia várias árvores cortadas, colocadas como barreira para
impedir a entrada dos oponentes. Apesar das pontas serem mal cortadas, como
azagaias.
Os homens lagarto eram um povo extremamente primitivo que não
sabia produzir suas armas. Possuíam um apreço pelo calor do sol e do fogo, mas
não compreendiam como forjar, e temiam essa arte. As armas eram feitas de
madeira ou presas e ossos de feras mortas por eles. Quase sempre, javali ou
lobos. Os mais valorosos, enfrentavam ursos. Os mais audaciosos enfrentavam os
perigos marítimos para conseguir enfrentar e obter apetrechos dos horrores
submersos. Era realmente um milagres eles não saberem forjar.
Todo o grupo observava isso de longe, através de um item que
Lacktum usava. Chamava-se luneta. Ele fazia com que as coisas ficassem duas
vezes maiores na visão deles. Alguns achavam que se tratava de magia. Mas
pessoas como Lacktum, Halphy e Seton compreendiam como aquilo realmente
funcionava.
Outro meio de saber como estava tudo por lá era o corvo de
Lacktum, o animal espiritual do mago. Esse tipo de ser era invocado quando um
arcano se julgava preparado para trilhar os caminhos mais complexos da magia.
Não eram animais de verdade, mas sim, espíritos da Arte. Criados para
auxiliá-los na trilha que tomam. Eram os companheiros verdadeiros dos magos e
feiticeiros.
Tanto a luneta como os meios de evocar o corvo, tinham sido
entregues por Azerov, meses antes.
Lacktum estendeu o braço, ao qual, o corvo pousou nele. Ele
havia mandado a ave espiritual reconhecer o território do Vale das Esmeraldas.
O mago fitava os olhos da pequena criatura, como se estivesse em transe.
-E então Lacktum? – perguntou Halphy encostada na árvore.
O mago estava em um dos galhos da mesma árvore. Assim teria
uma visão mais ampla do vale.
-Ainda não consigo me comunicar tão bem com Rec, mas ao que
parece, o lugar esta recheada de homens lagarto e ogros. Não há entrada segura.
E estando no meio do vale...
-O que esta no meio do vale? – perguntou Thror.
-O Covil do Dragão Adormecido. O lugar onde Galtran teria
enfrentado um terrível dragão. Passando por ele chegaremos, enfim, ao Portal de
Ixxanon – falou tranquilamente Gustavo – Deveria prestar mais atenção no que
Lacktum e Halphy normalmente falam grego.
-Certo! – emburrado falou Thror.
-O que faremos então? – questionou Arctus.
-Ah... Amigos? – falou Furta Trufas.
-Espere um pouco texugo – pediu Lacktum – Então, acredito que
uma entrada direta é o mais recomendável. Mesmo que seja difícil. Gostaria de
possuir algo para distrair os homens lagarto. Mas somos um grupo pequeno.
-Ah... Lacktum? – falou novamente Furta Trufas.
-O que foi Furta? – gritou nervoso Valente.
Alexander latiu forte, quando notou o que Furta Trufas havia
percebido.
-Lacktum é realmente importante que note algo – disse a
pequena criatura medrosa enquanto se afastava.
O mago que continuava na árvore não entendia nada do que
estavam falando. O grupo em si já o tinha feito pelo menos. E por isso sacaram
suas armas. Lacktum entendeu menos ainda.
-Lacktum salte! – gritavam.
-Que motivo tem de quererem que eu salte? Eu não vou pular do
galho!
-Você não esta em um galho! – gritou Halphy – Você esta em um
nariz!
Enfim Lacktum entendeu. Uma enorme sobrancelha surgiu de onde
deveria ser o tronco. Duas para ser mais exato. Debaixo delas havia um par de
olhos gigantes. E Lacktum estava entre eles. Literalmente o arcano estava no
meio dos olhos da criatura. Uma árvore tão grande como aquela começava a ganhar
vida na frente de todos. E não era só uma face que surgia ali, mas do suposto
tronco também brotava um corpo. Alguns galhos de diferentes posições criavam
mãos, braços e dedos. As raízes formavam um grande par de pés.
O arcano engoliu em seco.
-É nesse momento que eu grito... AAAAAAAAAH!
-AAAAAAAAAH! – gritou
em resposta o ser.
Após uma enorme confusão entre o grupo e a criatura, foram
cedidas as devidas explicações. Ele era um dos poderosos espíritos da natureza
que protegia tudo que surgia na flora. Não possuíam uma sociedade formada, mas
eram tão sábios como os mais antigos hierofantes[3].
Era impossível os definir com um nome, pois os deuses assim o quiseram. Não
eram árvores, nem homens. Mas muitos os chamavam de mestres das flores e das
sementes.
Normalmente, não era possível distinguir umas dessas
criaturas de quaisquer árvores. Pareciam carvalhos ou qualquer tipo de vida
vegetal conhecida. Sua pele era extremamente grossa. Seus braços eram
retorcidos como galhos comuns. Suas folhas ficavam amarelas nos invernos, mas
dificilmente caem. Quando andam, parece até que a floresta começou a viver.
A criatura que possuía o nome de Olho de Carvalho, disse que
vinha de terras inglesas. Estava vigiando o lugar para um nobre inglês e o
contatou falando de um grande mal para a mãe natureza. Seu nome era Kalidor
Hein Hagen. Novamente, um Imortal Esquecido estava interferindo. Não era tão
estranho, visto que Galtran e Wiegref nasceram no vale.
Até onde a criatura sabia, os monstros temiam ele. Isso
ocorria, pois todos aqueles seres reptilianos temiam os poderes da natureza.
Era bizarro notar como as mentes daqueles monstros funcionavam: nada mais do
que uma imitação mal sucedida de seres vivos. Algumas lendas contam sobre magia
negra tentando criar vida. Usando animais e homens, como instrumentos para um
ritual que superaria o poder das forças naturais. Algo que a Arte não respeita.
Muito menos tolera.
Então um plano ousado surgiu entre os mais sábios do grupo.
Ousado e louco alguns diriam. Os Dragões entrariam naquele lugar.
Havia quatro homens lagarto na frente do portão improvisado.
Como já dominaram boa parte da ilha, os membros das Alianças não ligavam se os
humanos notassem suas presenças. Primeiro obtinham informações, em seguida
arrasavam o território, por fim, dominavam tudo e todos. Era esse o método
daqueles que serviam o mago Kalic Benton II.
Os dois da frente ficavam brigando e se ofendendo. Nem
prestavam muita atenção no espaço a sua volta. Também, era necessário. O lugar
diante deles era completamente aberto. Muito na frente deles, havia uma
floresta. Qualquer exército que saísse da floresta seria facilmente visto. Era
uma boa defesa contra ataques em larga escala.
E isso foi um erro.
Facilitar as coisas era assim que alguns falariam sobre a
situação. Os Dragões da Justiça não pretendiam vencer os homens lagarto que
estavam na vila. Eles queriam simplesmente invadir para alcançar a caverna
conhecida como Covil do Dragão Adormecido. Então, não necessitariam de um
exército enorme. Só de uma árvore bem grande.
De repente, uma das criaturas que vigiava o portão – e não
estava brigando – notou o movimento da mata. Na verdade não havia só o
movimento. Quando os outros pararam de brigar, também conseguira notar um
movimento na terra, um tremor que causava calafrios nos seres de sangue frio.
Era como se fosse um trovão, pouco antes da tempestade. Não deixava de ser algo
parecido.
A enorme criatura andava com força. Ele sabia que os homens
lagarto temiam o poder da floresta e todos os seres silvestres e elementais. E
por isso os membros do grupo se seguravam em seus galhos éramos. Aquilo era uma
invasão.
Lacktum, Halphy, Seton, Gustavo, Arctus, Valente e Furta
Trufas estavam neles. Fiel e Rec seguiam pelo ar, enquanto Alexander corria ao
lado do enorme ser. Era realmente difícil se manter firme no meio do que seria
o corpo dele. Mas com o trote que fazia se poderia entender. A força da
natureza superava qualquer coisa conhecida. Como aquilo.
Não era como um exército, pois homens armado demorariam a
alcançar aquele lugar. Nem houve tempo para os homens lagarto entrarem pelo
portão. Um deles foi chutado para bem longe, enquanto pulava as estacas
causando um tremor ainda maior.
-Se segurem firme! – disse Olho de Carvalho.
-Agora que você diz isso? – falou inconformado Thror.
-Não seja uma criancinha! Isso é ótimo! – gritou empolgado
Seton.
-Calado Seton! – advertiu alto, Lacktum – Não se esqueça
quais os motivos de estarmos aqui! Pode abrir caminho Olho de Carvalho?
-Logicamente! – prontamente respondido pelo ser arvoresco.
Os golpes de Olho abriam um buraco nas defesas dos homens
lagarto. Era como uma tempestade feita de galhos e folhas poderosas e fortes.
Muitos dos soldados tentavam se pendurar no corpo da criatura. Estes, logo eram
chutados pelos membros dos Dragões. Poderia parecer até cômico, mas não era
situação para isso.
As criaturas no Vale das Esmeraldas tentavam a todo custo se
proteger do ataque da imensa criatura. Guinchos de medo eram escutados por todo
o lugar, enquanto alguns colocavam as lanças em posição defensiva. Eles eram
fracos, mas já estavam se preparando para o ataque repentino.
Enquanto alguns colocavam lanças abaixo do ser, - quase
sempre, esmagados no processo – outros pegavam arcos curtos e azagaias contra a
enorme árvore. Eles lançavam as armas no ar, como se fosse um enxame de
insetos. E o feriam quase da mesma forma.
Lacktum notava que mesmo Olho de Carvalho sendo grandes
demais, golpes consecutivos poderiam o fazer cair. E até mesmo alguns membros
do seu grupo estavam sendo machucados. Projeteis. em algum momento, poderiam
acertar seus alvos. Sendo que os homens lagarto não eram conhecidos por
combater tão bem a distância. Sua verdadeira vantagem estava no fato de usarem
sua vantagem numérica quando não combatiam no corpo a corpo. Mesmo assim, havia
uma chance única de chegarem até a caverna.
-Salte mais uma vez! – ordenou Lacktum para a criatura.
E então ele o fez. Um salto digno de sua imensa estrutura.
Com esse novo pulo, a criatura atravessou boa parte da vila, para não disser,
do vale. Quem estava abaixo, mesmo correndo o risco de ser esmagado no
processo, tinha a visão única de um ser ancestral e silvestre, fazendo uma
façanha digna de seu porte e tamanho. Pena que boa parte dos espectadores se
constituírem de monstros lagartos e alguns ogros. Enquanto isso, os que estavam acima de Olho
de Carvalho, ou temiam pelas próprias vidas ou se divertiam com o impulso dos
saltos e solavancos.
-Isso é ótimo, muito bom - gritou Valente.
-Pare com isso! Lacktum falou que devemos nos preparar para o
combate eminente! – Arctus soltava essas palavras, enquanto temia cair do
galho, que jurava estar podre.
-Isso mesmo! – consentiu o mago ruivo – Agora ao meu comando
saltem... Agora!
Todos saltaram da criatura ao mesmo tempo. Mas o druida se
machucou quebrando a perna. O grupo deve que ficar na frente do sacerdote da
natureza para protegê-lo de ataques. Federick e Thror colocavam os escudos para
a defesa, contra ataques de flechas, se bem que Olho de Carvalho já concedia
uma defesa natural considerável. Lacktum e Halphy auxiliavam eventuais ataques
de magia ou virote. O padre tentava fazer a perna direita de Seton voltar ao
normal.
Com muito custo da magia de Arctus, eles conseguiram curar as
feridas na perna.
-Ele esta bem! Agora corram! – falou o padre já puxando o
colega pelo braço, para correrem.
Os guerreiros ficavam atrás com os escudos. Os outros
corriam. Lacktum gritou para o ser arvoresco:
-Você ficará bem Olho?
-Continuem Dragões! Eu manterei as tropas de longe até que
seja seguro! Então partirei! Não se preocupem! Agora não!
Com um simples golpe, Olho de Carvalho devastava uma dezena
daquelas criaturas. As mãos unidas pulverizavam os inimigos sem piedade. Mesmo
com os golpes desses seres consecutivos, entre mordidas, garras, lanças,
machados e martelos... Nada detinha o poder daquela criatura. E eram poucos o
que se mantinham firmes, sem medo daquela brutal força da natureza.
As flechas atravessavam os galhos e ramos quase atingindo os
jovens. Mas esse não era o único problema. Alguns homens lagarto, vendo o
movimento dos aventureiros, correram na direção deles. Era necessário correr ao
mais rápido possível.
Mesmo usando armaduras pesadas, o guerreiro e o paladino se
mantinham na frente. Seton estava mais atrás, pois ainda se recuperava do
machucado na perna.
As criaturas lagarto corriam de diferentes formas até os grupos.
Alguns saltavam, outros corriam em duas pernas. Havia até aqueles que corriam
em quatro patas. Colocavam as armas em suas mandíbulas e seguiam na direção do
grupo de humanos.
Eles se aproximavam, perigosamente, do druida.
-Lacktum... O Seton... – gritou Halphy apontando para o
druida, extremamente cansado.
-Eu sei! Pode deixar! – falou Lacktum enquanto carregava
energia em sua mão esquerda com uma grande quantidade de energia pura ao que
parecia – The storm will bring me one of their spears. And destroy my enemy.
A magia então foi jogada como uma lança. Tão certeira que
acertou o peito de um homem lagarto, que foi jogado para bem longe. O druida
agradeceu prontamente. Quando o jovem correu, Lacktum também o fez. Os animais
já estavam na frente da caverna. Enquanto isso, os Dragões corriam por suas
vidas.
Eles precisavam correr, pois o plano de Lacktum necessitava
que todos entrassem no Covil do Dragão Adormecido. Era perigoso, mas era o
único jeito. A cada passo, se aproximavam do objetivo principal. Mas o inimigo
também estava próximo deles. Era possível sentir o hálito podre daqueles
monstros, como mensageiros da morte. O medo que a situação causava era maior
que a coragem naquele momento. Isso acontecia já que o plano não dependia de
extrema perícia, muito menos de excelentes combatentes, ou até mesmo de magia.
Dependia de Olho de Carvalho se manter firme e que o grupo alcançasse o lugar
mais rápido possível. O tempo era o inimigo deles.
Todos chegaram à frente da caverna. Foi então que Lacktum
gritou para Olho, enquanto entrava:
-Agora!
Nesse momento, Olho de Carvalho pegou com as mãos com formas
de galhos, o pedaço de uma das casas. Com sua tremenda força e tamanho, ele
girou como um pequeno redemoinho, até lançar os pedaços de madeira sobre a entrada.
Só havia um jeito de impedir reforços para dentro da caverna.
Seria tampando o acesso da vila. O outro meio de chegar até lá, era muito
distante e só foi revelado ao dragão Daehim e seus subordinados de confiança.
Naquela situação, eles teriam que libertar as pessoas ainda vivas, derrotar o
máximo de inimigos e alcançar o outro acesso. Pois para eles, o outro caminho
era uma saída até o Portal de Ixxanon.
[1]
Forma assumida por divindades para lidar com assuntos mortais. Seus poderes são
metade da força que o(a) deus(a) possui, pois se usassem sua forma verdadeira
poderia ocorrer uma catástrofe.
[2]
Nesse caso, se refere a divindades do submundo, como Hades ou Hécate.
[3]
Seriam os mais graduados da sociedade druídica.
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