Dois dias se passaram desde que houve – pelo menos é assim
que os aldeões denominaram – o Martírio
das Três Feras. Enfim, na manhã do terceiro, o navio com os guerreiros
daquele lugar chegou à costa. Estavam tentando fazer acordos com outras vilas.
Foi o que alguns deles falavam aos Dragões e ao Homem Santo.
Estavam inconformados com o estado da vila. Devastada. E caso
não houvesse heróis ali, em pior estado estaria eliminada. Os deuses são um
tanto caprichosos. Quando acreditamos que nada de ruim nos acontecerá é quando
devemos redobrar a atenção. Podem nos tirar amor, fortuna, família, riquezas ou
bem materiais. Ainda assim a fé permanece. E não é necessário que seja
depositado tal atributo nas divindades. Basta que ela exista nos corações.
James os reconfortou com isso e muito mais. Apesar de
acreditar em uma divindade, nunca sequer citada no panteão deles, o antigo
Imortal Esquecido obteve atenção de todos. Propagar a palavra de Kanglor, no
entanto, nunca foi sua função ali. Iria os ajudar e auxiliar no que pudesse.
Pois essa era uma função dele como paladino.
Os Dragões da Justiça colaboraram também. Com os auxílios
arcanos e físicos, em dois dias a pequena vila estava bem. Brincavam muito até,
verdade seja dita, mas estavam bem entusiasmados com aquilo tudo.
Enquanto isso, Siegfried se apresentou ao líder daquela vila,
pai de Hilde. Nos dois dias que seguiram – visto que o jovem falou com aquele
homem, no mesmo dia que ele chegou – conseguiu passear com sua amada. Havia
recebido a permissão do progenitor para sair com a garota.
Nunca se viu um casal tão feliz. Pareciam que haviam
conhecido um ao outro, séculos atrás. Nem Lacktum queria admitir. Sentia
inveja, só que James compreendia esse sentimento. Perder alguém nunca é fácil.
Não importa a idade que se tenha quando isso ocorre.
Assim que os dois dias passavam os heróis se preparam para
partir. Cada um ao seu modo.
O elfo se encheu de flechas. Até mesmo na mochila. Parecia
uma aljava ambulante. Graças ao mago, ele obteve bom senso. Um pouco, bem
pouco.
Thror treinou a exaustão. Queria usar suas novas lâminas de
forma perfeita. Poderia treinar e conseguir manipular Trovoada e Relampejar ao
ponto de fazer uma delas seu escudo em combate. Difícil aquilo seria. Já em sua
cabeça estava mais que pronto como sempre.
Gustavo se isolou. Nem Arctus pode entrar em contato com o
cavaleiro. Parecia que aquele homem quis se fechar. Algo incomodava seu ser. E
o clérigo temia que estivesse próximo o dia que ele tombaria. Pois é destino de
um homem igual a ele morrer contra o mal.
Ulfgar perdia os dias discutindo com Tom. Sempre eram coisas
como brigas sobre martelo e raio mestre, filho e pai, Asgard e Olimpo. Ao menos
o clérigo gostou do termo Valhalla. Claro que queriam falar de seus deuses
patronos, e saber quais deles era o mais forte. Nunca alguém imaginou que duas
pessoas contrastantes seriam tão parecidas.
E então, o dia chegou. Os Dragões e James teriam que partir
em direção de Avalon. Houve uma grande série de despedidas tristes. Algumas até
meio fúnebres.
O primeiro foi James com Deenar.
-Não posso partir contigo mestre? – perguntou de modo
tristonho o anão.
James se agachou. Era até belo aquela cena: como se o humano
referencia-se o pequeno elemental da terra. Ao fazer isso, ele segurou firme no
ombro daquele que até então, era seu discípulo.
-Precisa ficar aqui. Um novo Homem Santo deve surgir. No meu
lugar. Esse povo necessita acreditar em algo ou alguém. O clero cristão esta
vindo. Tentando converter os homens. Alterando nossos modos antigos. E com
isso, todos os deuses sumirão. Só que enquanto houver lendas, uma parte de nós
ficará. Assim deve ser para sempre. Alguém que respeite as tradições. Este será
você.
-Compreendo meu mestre. Sua voz me lembra uma despedida.
Antes de um enterro ou cremação. Qual o motivo disso?
Eis que o mestre abraça seu pupilo, rapidamente. Como se o
quisesse calar. Ainda assim, em um gesto quase fraternal.
-Você não é mais meu discípulo. Agora isso é um adeus em
definitivo meu amigo. Espero que seja feliz Deenar.
Nesse meio tempo, Tom tinha problemas muito maiores com uma
mulher. Valquíria o queria acompanhar. Não do modo que ele queria, contudo.
Havia discussões entres os dois já que ele nunca imaginou o
que jovem realmente queria. Erro grande.
-Você quer ser clériga? De Zeus? – perguntava o jovem aos
gritos e com tom inconformado.
-E qual o problema nisso? Falou-me tanto dessa divindade...
Eu quero servir a ele por isso. Não posso?
-Pode! Lógico... Só que achei que iria querer outro deus. Ou
melhor, deusa. Como Athena, Demeter e até Hera... Quem sabe a deusa da sorte...
Por algum motivo não consigo me lembrar o nome desta.
Valquíria notou o jovem divagando. Tratou de cortá-lo desse
transe. Estalou os dedos na frente de sua face.
-Não quero saber disso. Por ser mulher devo venerar uma? Sem
sentido. Além do que, você só me falou de Zeus. Nenhum outro. Então a não ser
que sua virilidade fale tão alto que não permita treinar uma mulher nesses
caminhos.
-Não fale assim dos deuses. Mas há sentido no que diz minha
cara. Até que deve ser bom isso para mim. Uma clériga de Zeus me auxiliando.
Assim poderei combater de forma melhor...
-Por favor, de novo isso de se perder em pensamentos? É novo
demais para ficar assim meu caro.
-Certo! Você pode ser uma sacerdotisa. Só me faça um favor:
troque imediatamente essas roupas.
-Nunca que irei usar as mesmas vestimentas citadas por você
uma vez. Minha bota é grande mesmo, minha saia dividida para me facilitar
correr e uso peles do modo que os do meu povo sempre faziam e ainda o fazem. Se
não esta satisfeito com isso então eu volto para minha casa. Além do que, foi
você que criou a maldita aposta. Caso a memória lhe esteja falhando também.
-Raios. Esta bem mulher. Entre no navio.
Ela se abaixou. Pegou as coisas que trouxe de sua humilde
morada e foi até a embarcação. Antes beijou a face daquele que seria seu mentor
de agora em diante. Alguns dos homens ao redor riram do fato.
-Praga Tom. Fraco mesmo, hein? Consegue eliminar um terrível
ogro mago, ao qual unificou seres de diversas raças. Porém, não convence nem um
mulher – afirmou Lacktum com um sorriso.
Sem ter como negar Tom só confirmou com a cabeça. Os Dragões
tinham mais um membro em seu grupo agora. Valquíria das terras do norte. E com
coragem superior a muitos ali.
Valente ficou preso em um compartimento da embarcação. Longe
dos humanos, pois poderia assustar os humanos. Não era como Rec, ao qual
lacktum escondia através da magia. Fazendo o que lhe foi pedido ele se sentia
nervoso.
Ao menos ele estava sem nenhum rato ao seu redor. E estava
junto da comida. O problema continuava no fato de estar em um lugar
extremamente apertado.
Nada poderia fazer por enquanto.
-Espero que eu possa fazer algo logo. Estou farto de ficar no
pano de fundo.
Quem imaginaria Valente como peça chave de um dos principais
confrontos que estariam por vir.
Quase todos haviam se despedido dos habitantes da vila
naquele dia. Acolhedores e fortes sempre. O povo da região possuía muita garra
em seu modo de vida simples. Com tudo isso eles já passaram por muitas coisas.
Algo que nem os Dragões imaginariam. E estava enraizado em suas almas.
Estavam todos concedendo adeus as pessoas. E isso dificultava
ainda mais a vida de Siegfried. Não foi dito muita coisa pelo que os bardos
contam. Uma conversa simples, entre amantes.
-Quando irá voltar meu amado?
-Eu não sei. Juro, entretanto, que de alguma forma retornarei
para você. Prometo-lhe.
-Não jure algo que não irá cumprir. O faça simplesmente.
-Eu o farei. Acredite Hilde. De alguma forma farei isso nem
que para isso volte de uma forma nunca antes vista.
-Sabe que eu creio cegamente em você. Que o esperarei.
-E por isso, eu lhe peço... Caso o peso dessa espera seja
demais para sua tão pura alma... Permito-lhe que encontre alguém digno. Com o
qual terá uma família feliz como eu desejo a você. Pois a empreitada para
salvar meu pai, não sei quando terminará.
-Não importa o quanto eu espere. É você que vou sempre
esperar.
-Esta certa disso?
-Lógico!
-Minha Hilde. Amo-te tanto quanto existem estrelas no céu
noturno. Na noite mais decorada com essas luzes.
-E eu a vocês, tanto quanto grão de areia na praia. Da mais
longínqua terra e do mais extenso território.
-Tão pouco? – soltou Siegfried de modo irônico.
-Seu parvo.
-Eu sou. Por você eu sempre serei.
-É sim. O meu tolo.
-Agora irei partir.
As mãos dos amantes se desvencilharam. Pouco a pouco. Tão
lentamente conseguiam ou poderiam fazer aquilo. Quase na velocidade de uma
batida de coração. Quando os brancos de seus olhos não mais se cruzavam aqueles
dois puderam agir de modo adequado na atual situação. Ele caminhou na direção
do navio, de forma firme e decidida. Já a jovem correu para longe, o mais
rápido que pode. Um casal que tentaria manter a chama do amor em ambos, mesmo
com a distância.
Ao se encontrar com os Dragões, Lacktum perguntou se ele tinha
certeza de sua atual decisão.
-Sim. Além de cuidar desses dois pesos – apontando na direção
do anão e do elfo – necessito encontrar uma cura para meu pai. Compreende meu
amigo?
-Cuidar do elfo? Pois sim! Não necessito disso – disse
Bahamunt.
-Cuidar do elfo sim, pois EU não necessito disso! – gritou o
ranzinza anão.
-Não necessitam disso para mim. Sei me cuidar muito bem,
diga-se de passagem.
Enquanto falava isso, o elfo esfregava um anel em sua mão.
-Por qual motivo faz tanto isso? – perguntou Ulfgar na doca.
-Ora para encontrar minha mãe é claro – respondeu o elfo a
sua frente.
Alguns homens o olharam com estranheza. Ulfgar os acalmou
dizendo que eram coisas de elfos. Muito ali já tiveram convívio com os sidhes
de Midgard. Por isso não estranhavam tanto o arqueiro ali. Seus hábitos, porém
nunca passavam despercebidos...
-Eu lhes disse que talvez, se continuarem conosco, as pessoas
ao seu redor... Não lembrem mais nada sobre vocês. Eu ainda não sei como isso
funciona completamente. Mas é um efeito poderoso do que os mais antigos tratam
como Paradoxo.
Siegfried abaixa a cabeça. Em seguida diz:
-Não terá sido tempo perdido. Além disso, eu sinto, dentro de
mim, que uma pequena fração do meu ser esta aqui. Nessas terras, de onde nunca
nasci. E que sempre vivi.
Ao falar aquilo, Siegfried subiu enfim na embarcação. E
Lacktum questionou aquele fato. Caso estivesse naquela situação, o mago faria a
mesma coisa?
Enfim, o navio concedido para a viagem deixou aquelas terras
gélidas e ao mesmo tempo, tão calorosas. As forças e ânimos se inflaram com
toda aquela situação. Alguns, pelo fato de conhecerem uma terra totalmente
desconhecida e mística. Outros, por voltarem em uma ilha tão sombria, mas
magnífica e bela. Pois assim também era a Arte. Ao mesmo tempo bonita e mirabolante.
Intrínseca como uma chama escondida. Gentil como um ser celeste. Tolos são
aqueles que acreditam plenamente nesse poder. Pior ainda aqueles que não o
fazem.
Enquanto o navio passava em certo ponto, de um penhasco era
visível uma figura. Feminina com certeza. Era uma última despedida. Tanto da
amiga, que arriscaria a vida em aventura quanto dos heróis que partiam. Acima
de tudo, do homem amado.
Passaram-se os dias lentamente. A embarcação cruzava no mar
com velocidade única. O skeid[1] reformado pelos aldeões da vila e
reforçado com feitiços tornavam-no quase um peixe na água. Suas almas agora se
enchiam no peito com a vontade de encontrar mais respostas.
Para tanto, quando podiam os jovens treinavam. Pois sabiam
que as respostas não viriam sem conflitos. Verbais ou físicos.
Thror usava suas lâminas junto de Gustavo, agora mais
extrovertido. Tom guiava Valquíria nos caminhos e segredos de Zeus como podia.
Bahamunt usava suas flechas contra a impetuosa defesa de Ulfgar de modo único.
Estavam prontos. E agora estavam mais instruídos por Lacktum o quanto
conseguia. Ainda que ficassem cansados fisicamente.
Em uma manhã, o paladino James chegou próximo do jovem mago.
Ele estava do lado esquerdo, na frente do navio, onde ficava a cabeça de dragão
esculpida. Parecia contemplar um futuro misterioso.
-Ouvi que você era meio fraco para viagens marítimas –
comentou o membro dos Imortais Esquecidos.
-Criei um pequeno truque para acabar com enjôo. Uma simples
mágica.
-Ora! Você parece sábio. Conseguiu criar até uma magia.
Parabéns jovem talento.
O jovem riu desconcertado.
-Que isso. Foi apenas um simples truque. Se fosse uma magia
mais poderosa eu poderia falar algo. Gabar-me talvez.
-Do jeito que vai nem tenho certeza se precisará do meu
treino. É um prodígio meu caro.
Com isso dito o mago duvidou das palavras daquele homem.
-Desculpe. Como pode um homem de arma ensinar um mago? Não
quero duvidar do senhor.
James sorriu e se apoiou na cabeça do dragão no barco. Então
questionou o mago:
-O que é a magia Lacktum?
Lacktum convencido, quase debochou daquilo.
-É o meio pelo qual alteramos a realidade ao nosso favor.
Todo mago e feiticeiro sabe disso.
-Parabéns! Mas o que disse são fezes, próximo do que
realmente ela é. Entenda que ela é bem mais que isso. Ela provém dos nossos
sentimentos. Não importa se eu sou bom ou mau, a magia esta em nós. Em tudo ao
seu, e ao meu, redor. No arquimago poderoso, no guerreiro audaz ou no aldeão
trabalhador. A arma de um homem que combate não é uma espada, machado ou lança.
É o conhecimento que obteve para manejar aquele item. Assim como você lida com
a Arte deve saber que isso também é feito através do seu coração. E ai você
extrai o mana para seus feitiços e encantos. Isso difere as focas arcanas da
famosa Lei. Até um morto sem descanso tem esse poder, como pode ver por Kalic
Benton II.
O jovem mago sabia que mesmo sendo um abridor, aquelas
palavras faziam sentido. E ao perguntar ao paladino como obteve tal
conhecimento, ele obteve uma resposta bem simples: eu vivi.
Em outro lugar, em uma espécie de santuário arcano, dois
encapuzados caminhavam até um circulo mágico. Os dois conversavam seriamente. O
primeiro usava um capuz muito maior.
-Mestre, você acredita que estou pronto? Crê que eu posso
estar apto para trilhar esse caminho?
O segundo notou aquela pergunta com um tom de fraqueza. A
falta de confiança naquelas palavras. Isso era comum, visto o tamanho de sua
missão. Não poderiam deixar que aquilo enfraquecesse suas determinações.
-Não tema. Wolfgard seu nome estará em lendas. Recitaram
poemas e histórias. Lendas e feitos surgiram sobre sua graça. Estamos partindo
para Avalon onde poderão alcançar uma grande proeza. Lá, o destino lhe
possibilitará encontra e finalmente libertar o seu pai.
A dupla alcançou o lugar com alta magia, o ponto mais forte
dali. O segundo homem mexia suas mãos decrépitas lentamente. Fazia círculos no
ar, além de criar movimentos únicos e circulares. Estava clara sua concentração
em cada elemento daquele rito. Quando isso ocorreu àqueles gestos ficaram
rápidos, quase frenéticos. Enfim, brilhos arcanos e forças realmente poderosas
preenchiam o lugar rompendo o tempo e o espaço. Depois de que cada uma das
marcas obteve sua posição, os dois sumiram com a vontade daquele mago.
Um detalhe que vale mencionar é que o primeiro homem era
filho de um dragão. E um Dragão da Justiça ele estava destinado a ser.
Em determinado momento daquela viagem, enquanto Tom tentava
ensinar certos costumes dos gregos para Valquíria e o resto do grupo mexia nos
remos, Valente começou a cantar. Era a mesma canção cantada por Thror tantas
vezes. E o guerreiro careca com cicatriz acompanhava o suricate com sua voz.
Até que bonita. Ainda assim já era repetida muitas e muitas vezes no mar.
-Parem de cantar a mesma coisa sempre praga – exigiu Ulfgar
irritado. Anões gostam de canções, mas nunca de repetições.
-Então querem que eu cante o que? – perguntou Thror enquanto
remava. Ele estava até que bem distraído.
-Eu não sei. Só mudem de música! Oras!
Sem que pudessem pedir algo, os membros dos Dragões da
Justiça ouviram uma voz até que graciosa. Meio tremula e fraca. Era James
Gawain na borda do navio cantando. Uma perna estava na parte lateral da
embarcação e a outra na parte superior.
Terra de urso, terra de águia
Que nos deu o berço e a benção
Os jovens pararam seus afazeres para ouvir aquilo. Não
parecia ser forte a canção. Porém, o coração dentro do paladino tinha certeza
do motivo de cantar. Muitas pessoas pensam que uma música só deve ser proferida
por um bardo. Só que em seu coração se houver uma chama antiga que o faz querer
cantar – seja perda, amor, ódio, raiva, lamentação, inveja, serenidade,
bondade, caridade, confiança, orgulho, luxuria, temperança ou até crença – deve
o fazer com as letras que encontrar.
Bahamunt interrompeu falando que aquilo era comum das
mulheres cantarem.
Nova surpresa, pois Lacktum o seguiu, de pé, cantando:
Terra de urso, terra de águia
Que nos deu o berço e a benção
Terra que nos dá esperança
Vamos voltar por entre os montes
Então, mesmo aqueles que não sabiam cantar aquele som
tentavam repetir seu refrão. Criando um som único por todo aquele mar. Até
mesmo a pequena criatura animal que sempre os acompanhava.
Vamos voltar, vamos voltar
Vamos voltar por entre os montes
Enquanto faziam isso, ninguém notava que na mão de Lacktum,
além de seu grimório havia outra coisa. Um tomo. O mesmo que foi entregue por
Azerov. O livro da loucura de Lacktum
As águas não eram mais do mar. Pareciam mais com as de um
lago ou rio caudaloso provavelmente. Além disso, brumas surgiam. Não era como
uma simples neblina matutina. Havia algo ali que era vibrante, atraente, belo e
único. Muito raro. Quase mítico. Ninguém ali sabia descrever perfeitamente o
que era aquilo, mas alguns sabiam o que significava. Haviam enfim, chegado às
fronteiras de Avalon.
James e os membros mais antigos do grupo pareciam caçar algo
com seus olhos. Era uma pessoa. Qualquer figura que os auxiliasse chegar até a
real Ilha das Brumas.
Tom, Ulfgar, Bahamunt, Siegfried e Valquíria estranhavam
aquela reação tão sem sentido dos colegas. Achavam até que estivessem mais
loucos que o elfo. Esse não se ofendeu naquele momento.
Foi Thror que apontou em uma direção dizendo com muito
orgulho sobre sua descoberta:
-Ali! Mestre James! Nas pedras! Há um elfo! Como quando
chegamos à primeira vez em Avalon. Não é o mesmo, mas sei que se trata de um.
O mesmo que deve a atenção chamada mirou na direção apontada.
Ele colocou a mão no ombro do guerreiro grego.
-É isso mesmo amigo. Muito bem.
Era notável que o sidhe usava vestimentas arcanas de tom azul
berrante. Cabelos longos presos em formas trançadas o faziam ter um mais nobre
ainda. O que parecia estranho para um lugar tão isolado na água. Seus olhos
demonstravam um poder tremendo e cheio de segredos que alcançavam facilmente
almas tolas que o fitassem. E ele pairava em cima das pedras. Não havia dúvidas
que descenda no mínimo, de uma casa nobre dos elfos.
-Ora essa. Eu entro nas terras dos elfos. Para qual motivo?
Ver mais deles malucos como esse aqui – e ao falar isso, Ulfgar apontou para
Bahamunt. De um modo irônico.
-Não faz sentido! – soltou Tom – Até chegarmos aqui nada
havia. Olhei na mesma direção do guerreiro. Em um fechar e abrir de olhos, após
ele falar isso, ai estava o sidhe. Nessa pedra. Em um lago! Como?
Ao ouvir isso, Lacktum logo tirou a duvida do clérigo.
-Aquele é como poderíamos chamar... De um porteiro. É ele
quem protege as fronteiras entre as terras de Avalon e a nossa. Assim como
ocorre em outros reinos élfico, eu presumo. Seus poderes são demasiados
grandes. Podemos comparar seus dons ao infinito dos céus, ou a extensão das
águas no mar. Nem sei se isso seria suficiente, acredito.
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