Estava consciente.
Como, ela não fazia a mínima idéia. Parecia estranho sendo que sua última visão
turva era a de Nikolai se aproximando de seu corpo. Acreditou ter morrido
durante o confronto na ponte. Algo bem estranho, pois na verdade tinha plena
certeza desse fato. Havia falecido devido a uma flecha em seu pescoço. E alguma
coisa estava realmente errada ali.
Nada daquilo fazia
sentido. Já que além de não estar morta, sem ela querer estava uma vez mais
diante do Portal da Verdade. Aquilo nem passava mais na cabeça da jovem. Seu
corpo estava perfeito, com a roupa que havia tombado e sem nenhum corte. Além
que nenhum sangue ou ferida surgia em seu corpo. Era como em toda a vez em que
esteve naquele lugar. Como se as forças externas nunca existissem ali. Nem
tempo, nem espaço. Algo estava diferente, no entanto. Seu instinto parecia
zunir com aquela sensação. Como se aquilo fosse errado. Extremamente.
Notou que o Portal
estava entre aberto. Um tentáculo se escondia atrás dele. E não parecia com
nada que já viu.
Mesmo achando que o
mago mascarado, muitas vezes agia de modo sombrio, aquilo parecia nenhum pouco
ser obra dele. Será que existiria mais um mestre que ascendeu recentemente, foi
o primeiro pensamento que lhe surgiu. Um que talvez não conhecesse ou que abriu
recentemente aquele caminho de revelações. Independente de quem fosse a sua
chegada ali trazia certo receio. Um grito na alma de Halphy parecia surgir como
um aviso de alerta. Nunca houve tão poucas opções, no entanto. Menos do que em
qualquer outra situação.
O perigo era claro e
óbvio. Nada poderia fazer. A não ser entrar por aquela porta sinistra, como já
fez antes. Se tentasse voltar ao mundo normal poderia morrer instantaneamente
foi o que concluiu. Ao menos é o que imaginou aquela jovem perdida. E não
queria comprovar tal teoria.
Enfim ela empurrou a
porta de pedra. Lá não havia luz de estrelas ou a escuridão de um céu noturno
convidativo. Existiam chamas de vela, em aparelhos de cobre preparados para tal
e o breu de algo sombrio.
Começou a enxergar
certas coisas. Antes não pudesse ver.
Inicialmente notou um
gato de pé com duas caudas. Seus olhos eram de um animal. Só que eles se moviam
quase que com malicia de um homem. Era estranho e bizarro. Nem tanto quanto
seus companheiros.
Outro ser parecia com
uma mulher. Usava um manto cobrindo seu corpo, com uma faixa vermelha em sua
barriga. O detalhe eram seus longos cabelos negros, que pareciam formar braços
e mão com seus fios finos. O pior era notar que da nuca dela uma bocarra grande
surgia.
Que coisas todas eram
aquelas? Estaria no Inferno? Mal sabia ela que estava próxima disso.
Uma das formas lembrava
mais um fantasma. Translúcido, sombrio, cruel e maligno em sua imagem. Sua
expressão lembrava mais os olhos de uma raposa. Como os de Yue Khan que servia
ao Bando do Tigre Demoníaco. Agora que pensou para analisar tais seres notou
alguns com expressões parecidas com o daquele homem.
Começou a compreender o
ocorria ali? Eram seres que provinham do extremo leste.
Todos bizarros: cabeças
em rodas, espadas flutuantes, mulheres com metade de seus corpos como os de uma
aranha, animais com aspectos humanos, criaturas que vagamente lembravam ogros,
raposas de várias caudas, hominídeos com cabeças de cavalos, criaturas que
lembravam mortos sem descanso, todos com formas únicas e que só uma mente
conseguiria conceber. Pois Halphy sabia que aquilo nunca seria um sonho. Ou sua
morte. Todos – quando possuíam olhos ou ao menos uma face – com uma expressão
sombria a encaravam, mas não se aproximavam.
Eles assim mesmo,
concedem espaço para a jovem caminhar. Criando uma trilha para ela. Era como um
animal para o abate ou um cordeiro. Agora entendia como os cristãos sempre
pensavam. Tudo fazia mais sentido. Pois sabia... O mal verdadeiro estava na sua
frente.
Enfim, ela encontrou o
ser que controlava o lugar. Lembrava tanto o corpo de uma imensa serpente, como
a pele do estranho Long que a havia encontrado antes. Ainda assim, era possível
sentir todo o odor de um forte enxofre naquele recinto diferente. A face do ser
lhe surgiu como um demônio, ou quase isso. Era um dragão com muitos traços de
uma cobra medonha e apavorante. Esse ser único, com certeza era o poderoso
Yo-Long, um novo mistério para Halphy.
-Acredito que não
preciso me apresentar...
-Mas os bons costumes
ditam que você deve se apresentar.
Uma parte da garra
surgiu na sua frente. Só aquele pedaço do imenso ser era o triplo do tamanho da
antiga ladina. Havia provocado alguém extremamente perigoso. Sabia disso.
-Não me provoque
mulher.
-Que falta o Lacktum
faz aqui. Podendo levar um golpe por mim – soltou inconscientemente à jovem –
Eu sei que é o Yo-Long. Afinal, você é um dragão ou um deus? Ele não deixou
isso bem claro para mim.
-Meu pupilo, Long é um
tanto quanto protetor demais. Eu sou sim um ser onisciente e onipotente. Ao
mesmo tempo sou um dragão. Compreenda: antes do grande êxodo de minha raça, eu
obtive poder suficiente para alterar meu status. De um mero ser com poder
arcano entre os de minha raça, e um daymio[1]
junto aos mortais humanos... Eu cresci como um deus. Nada, na verdade, ninguém,
poderia impedir-me. Especialmente em minhas terras. Só uma princesa feiticeira
de uma lenda antiga teria força para me impedir. A última dessa linhagem sumiu.
Acho que você não compreenderia mesmo que eu lhe explicasse com toda cautela do
mundo. No entanto, um perigoso e famigerado dragão de sangue me aprisionou na Prisão
dos Espíritos.
-Por quanto tempo ficou
preso.
Dessa vez não era raiva
o que Yo-Long soltava. Eram risadas. Ela estava começando a odiar risadas
histéricas. Fossem lá quem as fazia.
-Quem disse que me
libertei? Isso aqui é uma interpretação de minha alma. Graças a um aliado que
me veio em sonhos. Maelstrom.
Esse nome mais uma vez.
Era como uma maldição. Ele sempre surgia nas sombras de seu mundo. Através de
forças perigosas como as de Sinestro, Hades e agora Yo-Long. A assassina sabia
como aquilo parecia. Interligava as tramas de um plano superior. Um mistério
era feito através de um mero nome.
De qualquer modo, ela
perguntou com receio para aquele ser:
-E o que quer de mim?
Estou morta, não é isso?
A cauda da serpente
dracônica se enrolou no corpo de Halphy. Sua ponta era cheia de detalhes
coloridos. Cobriu tanto a sua pessoa, que só a cabeça era visível agora. Uma
atitude, literalmente, sufocante. Os dentes do monstro deus estavam próximos de
sua face. Gotejava uma saliva nojenta, enquanto o cheiro de enxofre subia.
Nauseante alguém diria. A jovem ainda continuava forte e firme, apesar de tudo.
-Você vai voltar a
viver. Eu quero assim. Através do meu poder. Para que posa me libertar. Vá até
onde Sinestro irá abrir o Portal Infernal e espere instruções de Long. Caso não
faça o exigido a levarei até uma terra de onde provêm essas criaturas. Além do
que, preciso que parte do plano do dragão esmeralda funcione.
E sem que ela quisesse,
Halphy Brown despertou. De todo aquele pandemônio. Ou melhor, daquele Inferno.
Alguns diriam insanidade.
Tossia muito. Acordou fazendo isso com muita força. O que
sentiu dentro do Portal da Verdade a afetou fora dele. Isso ocorreu, pois, com
certeza era poderoso aquele escamoso. Mesmo com a ajuda do sorrateiro
Maelstrom. Sua cabeça girava muito depois de tudo. Literal e figurativamente.
Só quando despertou notava que estava em uma cabana. Bem
simples e sem comodidades. Além de parecer ser das Terras Altas. E lembrou que
o castelo de Sinestro se localizava no extremo norte daquele território único.
Como havia saído do castelo nem fazia idéia mesmo.
Através de uma porta improvisada com pano surgia Nikolai. E
os seus olhos do jovem ficaram cheios de água e alegria, nunca antes
demonstrada. O alquimista pulou cima de Halphy. Ele a abraçou afetuosamente.
-Eu já o entendi meu amigo. Esta feliz em me ver... Viva.
-Mais que isso! Grato! A todos os deuses que conheço! E pelos
quais orei por você! Pois nem imagino qual lhe salvou!
-Acredito que não foi Hades. Tenho quase certeza disso. Mas
também não sei se iria orar para qual fez essa façanha.
-Como assim Halphy?
-Nada... Esqueça... Então só me diga... Vejo que não me
enterrou. Por qual motivo não o fez? Ou até queimar meu corpo seria uma opção.
Então o jovem se levantou. Com isso a assassina notou estar
deitada no chão de terra. Havia palha ali, mas para fazer uma cama improvisada.
Ali havia ela e seus itens todos. Com exceção de Slithar-Mor.
-Mesmo estando aparentemente morta, seu corpo ainda pulsava.
Nem me pergunte como. Achei estranho, mas com a ajuda de Brigid eu fugi com
vocês nos...
-Brigid ainda vive?
-Eu não sei minha querida. Só coloquei você entre meus braços
como ela ordenou. Afinal devia ter lhe avisado dos golpes em seu corpo ainda
não recuperado. Perdão. Juro que não voltarei a cometer tal erro.
A garota colocou sua mão direita no ombro de seu, atualmente,
único amigo. E talvez para sempre.
-Eu que fui irresponsável. Nunca deveria ter me aliado ao
Pacto de Guerra. Muito menos atacar como uma louca aqueles seres em forma de armadura.
Por Deus como testemunha, eu admito minha culpa meu amigo.
-Deus? – espantou-se o alquimista – Como assim? Nunca lhe
ouvi suplicar pelas bênçãos de uma força superior. Muito menos a dos cristãos.
Sinceramente você deve estar passando mal. Melhor deitar mais um pouco.
Trarei-lhe um chá para lhe acalmar os ânimos.
Halphy esboçou um sorriso curto e tímido. Parecia um pouco
mudada em diversos aspectos.
Ela levantou rapidamente tentando tomar fôlego. Notou que já
não havia neve naquelas terras por uma janela. O inverno deveria ter partido, a
jovem comentou quando olhou pela janela e apontou.
-É... Já faz uns dias.
Saiu da casa com cada equipamento e item que Nikolai guardou.
Estava mais que decidida a lidar com Sinestro. Com o dragão do leste se viraria
depois. Ao menos achava que conseguiria isso.
-Onde esta Silthar-Mor?
-A Lâmina que Perfura Dragões? Foi capturada durante o
combate por um revenant.
Parecia um tanto transtornada. Ela queria levar aquela arma
para longe dos olhares de seu antigo mestre. Porém, sabia que onde estivesse
nunca se livraria da influência cruel e maligna dele. Pois parte dele, agora
fazia um pedaço de seu ser.
Sim. O artefato. Foi para isso que ele a queria. Seus planos
macabros estão cheios de crueldade. Uma grande malícia também. Mas qual seu
intuito? Com que finalidade um dragão constituiu família? Não haveria motivos
de conceder um objeto de tamanho poder para alguém sem motivo. Só agora pensou
sobre isso. Como foi tola. Tudo nesse mundo podre e sórdido tinha um preço alto
demais para ser pago. E o dela era claro sua própria alma.
Ela colocou sua mão sobre o medalhão da dominação. E começou
a apertá-lo com força. O suficiente para fazer com que toda pele ao redor
começasse a sangrar. As garras estavam mais projetadas que o normal. A Chama
Gélida tinha que sair daquele corpo. Já tinha sido maculada demais pela herança
cruel do antepassado.
Nikolai ali, tudo assistia sem nada a fazer. O que poderia
fazer? Ele, como tantos estudiosos, ouviu as lendas sobre o que ocorre a quem
tenta acabar com um artefato.
Os gritos que a jovem marduk soltava eram agonizantes.
Parecia que queria morrer e que logo estaria perto disso. Só que isso nunca
chegava. O suicídio seria uma opção caso seus pecados fossem finalmente
perdoados. Ela tinha muitos pecados. Precisava os expurgar eles o mais rápido
possível.
Ao que pareciam, os planos de Sinestro e Yo-Long para ela,
continuavam firmes. Visto que aquele profano ornamento fixado em seu corpo
nunca sairia. Maldito sejam os dragões. Como gostaria só de ser uma meio-elfa
agora. Talvez se ainda o fosse isso nunca teria acontecido.
Ajoelhou-se fatigada pelo esforço contra o próprio corpo
-Esta bem donzela.
Ela colocou a mão no peito de Nikolai, como uma forma de
apoio ao seu corpo machucado. Precisava de um momento para respirar.
-Grato meu amigo.
-Quer se matar minha querida?
-Se essa fosse uma opção...
-Nunca mais repita isso Halphy!
-Ora essa... Não me chamou de Donzela agora.
-Óbvio! – irritado soltou o alquimista – Você parece mudar de
humor, como se estivesse mudando um de seus virotes em sua arma.
-Desculpe. É que só queria...
-Se livrar desse item? – completou o jovem.
Ela concordou com a cabeça.
O jovem começou um discurso:
-Acredito que enquanto estamos vivos ainda podemos mudar as
coisas. É óbvio que muitas vezes a nossa vida parece nos sufocar. E detalhes
parecem nos limitar. Porém, enquanto vivos podemos fazer o que queremos. Mesmo
que pareça absurdo. De certa maneira, o que pretendo um dia conseguir seria um
absurdo... Compreende o que quero dizer? Tente se livrar desse mal. Só que viva
o quanto puder por todos aqueles que não puderam.
A imagem de Jean se fez presente na mente de Halphy,
instantaneamente. Entendia o que aquele homem que mexia com um tipo de magia
diferente queria dizer.
-Mas e você Laskov? O que pretende com tanto ardor que ainda
lhe faz viver para contemplar outro dia? Já que perdeu um grande amor...
Ele soltou um sorriso malicioso. Halphy esperava outra coisa
sair daqueles lábios.
-É bem diferente do que você imagina. Eu suponho... Quero
enfrentar a fera que tomou a vida de minha amada.
Um vento sombrio bateu no cabelo do jovem. Era como se até o
tempo, que começava a ficar mais ameno, soubesse de suas intenções. Halphy
sentiu o pior calafrio. Como se uma premonição seguisse aquelas palavras. E ela
dizia que não sairia vivo daquela tarefa que impôs a si mesmo.
Enquanto se afastava daquela casa – que com certeza era uma
de milhares, destruídas por uma das Alianças – ela pedia mais informações. Seus
passos eram decididos e firmeza sobre eles continham. Sua cabeça ainda estava
enevoada. Cheia de problemas. Ainda assim era uma nova mulher e queria saber
tudo para começar a agir.
-Mallmor abandonou o Pacto de Guerra. Antes, no entanto,
entregou um artefato de poder equivalente ao do Desalmado e do Cavaleiro da
Pele de Platina. É chamada como Rosa Negra, pelo que eu soube. O Príncipe Negro
dos Anões foi para próximo de Jerusalém, junto com uma comitiva de seus mais
fiéis homens. Já o resto do exercito do dragão partiu na direção do tal lugar
onde originalmente o Portal Infernal foi aberto. Ninguém, a não ser Sinestro
sabe sua verdadeira localização. E eu não conseguiria retirar muitas
informações das tropas. Quase toda sua formação, agora é composta por mortos
famintos e revenants. Aqueles que não são assim, quase sempre fazem parte de
grupos perigosos. Como ogros cheios de raiva ou necromantes perigosos. Ao que
tudo indica também, o poderoso Matadouro morreu em combate.
Nesse instante, Halphy parou o discurso do amigo e o segurou
pelo braço. Aquele monstro era extremamente perigoso. Os duendes verdes e ogros
idolatravam-no como a um rei. Mesmo seus poucos dons arcanos seriam o bastante
para triturar um oponente em alguns instantes.
-Quem o fez?
-Foi ao norte. Nas terras gélidas. Ele morreu para os Dragões
da Justiça.
Halphy o soltou imediatamente. Sorriu como uma criança. E em
seguida correu. Mais rápido que um lobo em disparada. Ou que uma águia
sobrevoando os céus. Até mesmo mais veloz que um peixe em águas límpidas.
Nikolai tentou a seguir com grande confusão em sua mente.
Parecia ter revivido na jovem algo que não fazia a mínima
idéia do que se tratava. Ainda assim, ele acreditou ser algo deveras bom.
-Para onde vai? – gritava já sem fôlego, sendo que pouco ele
havia corrido na verdade. Estava desacostumado com aquilo. Ainda que o tenha
feito no castelo.
-Não usei o poder de minha bola de cristal, mas meu instinto
me diz que se não estiverem... Ao menos devem estar indo na direção de Avalon.
E é praticamente impossível comunicação através de magia lá. Além disso, é o
único ponto de referência que tenho para saber onde eles estão. Mesmo que não
seja lá que os encontre. Vamos seu ocioso. Deixe a preguiça e moleza de lado e
me acompanhe. Necessito de seus dons ainda. Se quiser me ajudar.
-Quem esta em Avalon? E essa terra não é uma lenda? Nunca
soube de um homem que esteve lá.
Com o inverno acabado e a vontade de Halphy finalmente
revitalizada, aquele lugar parecia mágico agora. Subiu em algumas pedras e
notou que havia montanhas mais a frente em seu caminho. Uma jornada dura que
iria conseguir superar. Tinha que apressar o passo de qualquer forma possível.
Talvez, ela mesma fosse chave para algo muito maior em toda a Gaya.
-Avalon é real. Meus pés tocaram aquela grama e aquele chão
mágicos. Pretendo me reencontrar com os Dragões da Justiça. Eu acredito... Eu
sei que eles podem impedir Sinestro. Assim eu espero.
Aqueles seres estavam em cima um lugar, onde deveria ser uma
montanha no mínimo. Ao menos parecia ser. Algo dentro deles dizia que o lugar
não ficava em um mundo comum. Devia-se ao fato que o céu estava repleto dos
mais magníficos dragões dourados. Sem um sol sequer, mas parecia de dia. E o
céu tinha dons em dourado poderoso, quase vivo que forçavam a vista daqueles
estranhos no lugar. Tanto que não conseguiam definir como estavam vestidos os
seus estranhos companheiros. Pelo menos eles eram assim uns aos outros.
Eram cerca de cinco figuras em volta de um obelisco. Nele,
havia um símbolo, claramente ligado a um dragão dourado. Pareciam confusos,
pois foram convocados por algo ou alguém. Havia entre eles – ao que tudo
indicava – dois homens, uma mulher, um anão e um ogro. Cada um armado e
equipado. Muito bem por sinal, apesar de não conseguir ver os detalhes.
Antes que pudessem fazer qualquer coisa – boa ou má – uma voz
se fez ouvir.
-Ouçam! A terra em pisais é chamada Império dos Dragões do
Sol. Fui eu que a criei. E sou pleno com meus poderes sobre tal localidade.
Desafiem-me e saberão muito mais sobre isso. Da forma mais terrível possível.
Conjurei-os até aqui por um motivo. Um crime bárbaro ocorreu em meu plano
natal. Algo bárbaro, que não tem precedentes nos mundos conhecidos. Se pudesse
interferiria nesse assunto quando soube dele. Não o posso. Por causa das leis
que regem este universo. E isso me impede de punir a culpada por crime tão
grave. Porém, conheço brechas dentro das matrizes nos mundos. Inclusive de
Gaya. Seres mortais têm como cumprir o que não posso por fatores maiores. Onde
vós podereis cumprir minha vontade e a justiça mais que divina. Pois ela foi
cúmplice de um assassinato. Tal facínora que cometeu esse ato perverso e
pérfido eu lidarei pessoalmente, ao meu modo. Entretanto quero que eliminem
qualquer vestígio da existência repugnante da amaldiçoada mulher. Ainda assim,
não tenho como os projetar em meu mundo de nascença. Isso ocorre já que um
poder antigo, tratado como Paradoxo impede muitas coisas de ocorrerem por lá.
Inclusive vossa incursão, sendo de lugares tão distantes, como sois vós. Compreendam
e espereis. Já que um dia voltarei a convocá-los para eliminar Halphy Brown. A
última mortal que viu meu irmão vivo. Não há com o que se preocupar. Ela
partirá para a Cidade dos Portais em breve. Tenho certeza disso. Seja nos
Impérios Esquecidos, Dragaurus, Terras do Falcão das Cinzas, Ofício de Guerra e
Nevoa Sangrenta... Eu procurei os melhores aventureiros que pude. Serão
recompensados como quiserem. E com quanto quiserem.
Somente a mulher questionou aquilo tudo. Quando o fez se
adiantou na frente do obelisco.
-Mas quem é você para fazer tudo isso? No mínimo um semideus
ou algo dessa estirpe. Só que nunca antes havia sido convocada por tal poder.
Perdoe-me se pareço tola quando a isso.
Surgiu vindo do nada, um par de olhos dourados como o sol
naquele céu. Uma cabeça surgia na forma de nuvens grossas e trovejantes ao
redor daquele par de globos com a cor do ouro. Tinha a forma de um imenso
crânio de dragão. Sua boca alargada, seus dentes protuberantes e até os chifres
cheios de poder. Nada era comum naquele ser. E com certeza não se tratava de um
mero semideus.
-Sou Ixxanon, deus dos dragões dourados e de todos os
aspectos que punem os caóticos e maus. Meu poder é supremo. Não preciso pedir
perdão a nenhum ser, visto que meus dons superam qualquer erro cometido quando
poderia ser morto. Por tanto este dom também lhes concedo. Nunca precisais
pedir desculpas pelo que farão, pois será em meu nome. E que vocês lembrem-se
que os convocarei mais uma vez. E quando o fizer... Caçarão para mim.
Então, literalmente com um mero sopro, aquela forma tão
magnífica fez com que os aventureiros sumissem tão rapidamente, quando
apareceram. Em seguida cinco estrelas partiam para direções extremamente
opostas. Era claro que se tratavam dos ainda misteriosos caçadores a mando de
Ixxanon. Cada qual deveria ter retornado a sua terra de origem. Já que todos
nasceram em mundos completamente diferentes, essa diversidade poderia auxiliar
os jovens nos intentos que o dragão pediu a eles.
A forma dracônica se dissipou bem lentamente, como se fosse
um manto caindo ao chão de uma casa. Quase de forma triste. Não sem antes
deixar algo cair rapidamente. Parecia que era uma lágrima. Mas se alguém visse
aquilo, pensaria se tratar de uma estrela cadente.
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