Eu não sou um homem bom.
Em 2013, ao assistir episódios de
Doctor Who, eu consegui sair de um momento depressivo da minha vida. Nada mais
justo que usar esse texto para homenagear a produção da BBC... E também exorcizar
alguns demônios. Ao menos os de 2016.
Depois de vários episódios,
incluindo os da sexta e sétima temporadas, de certa forma me identifiquei com o
Doutor. Como um rapaz com seus pouco mais de trinta anos se identifica com um
ser alienígena que viaja no tempo e espaço? Pela personalidade.
O Doutor sempre está acompanhado
de um de seus “companions”. Seres, quase sempre humanos, que firmam os pés dele
no chão. De qualquer forma, esses personagens o deixam. Não por vontade
própria. Muitos ficam o quanto podem. Outros o abandonam para viver suas
simples vidas. Outros morrem.
Dessa forma, uma das coisas que
notei é que – como o Doutor – eu sou um solitário. Muitos amigos fizeram parte
de minha história. Por conta de escolhas, ou simples mudanças necessárias, eles
não estão diariamente na minha vida.
Assim como o Doutor eu sinto
saudades deles. Assim como ele eu queria ir até as últimas consequências para
entender isso. Poderia viajar até os fins do tempo. Mas não é só por isso que
digo de sermos parecidos.
Eu machuquei pessoas. Pessoas que
amei. Que confiaram em mim. Não importa quando tempo conhecia elas. Magoei
pessoas. E mesmo que nunca tivesse falado uma única palavra com elas, não me
sinto digno para fazer algo assim. E foram minhas escolhas esse ano que causaram
dor para essa gente.
Também sempre fui vitimista e
crítico. Não o tipo de pessoa que crítica tanto para o bem quanto para o mal.
Falava coisas ruins de tudo. Lógico, fazia coisas boas. Ainda não sentia que
minha balança moral pendia para algo bom. Confuso? Sim esse sou eu.
Perturbado. Confuso.
Desorientado. Ansioso. Fraco. Medroso. Não covarde, mas medroso. Este sou eu.
Assim como o Doutor... E o que ele me fez? O que esse personagem fictício me
mostrou, para que mesmo sendo uma pessoa horrível aos meus olhos, eu pude
agradecer por esse ano?
Que eu não sou um homem bom.
Primeiro ele não é imaginário.
Não como nós estamos acostumados com imaginário. Ele sofre por ter causado
muita dor e sofrimento. Pois quando ele fecha os olhos, ele escutava mais
gritos do que qualquer um poderá contar. Ele se importa. O que ele fez com
tanta dor? Ele se manteve firme com ela. Para nunca esquecer o que sofreu. Pois
sempre lembrando o que ocorreu ele evitaria causar essa dor aos outros. Ninguém
devia pensar assim. Pois ninguém é perfeito. Nem os santos. E assim como ele,
não é perfeito, eu também nunca fui. Estar sozinho não era uma maldição, mas um momento de compreensão. Assim evita machucar pessoas inocentes.
Esse ano eu vi coisas que ninguém
acreditaria. Maravilhas que poucos compreenderiam. Perdi coisas que fizeram muitos
chorarem. Eu soube de segredos que destruiriam pessoas. Gente maligna e cruel.
Pois sempre fui bom para escutar. Poderia fazer tanto mais com essas
informações. Causar dor. Mas como o Doutor eu corro. Por ser covarde? Não. Pois
estou sendo bondoso. Tanto uma possibilidade para aqueles que querem me causar
dano, de evitar seus futuros erros. Eu não sou bom, nem mau. Não sou um
presidente, ou policial, para fazer justiça com as próprias mãos. Eu sou um...
Idiota! Com um caderno. E lápis. Extremamente feliz. Pois eu tenho minhas
histórias e estórias. Pois elas nada mais são do que para onde vão nossas memórias
esquecidas.
Eu, como o Doutor, tenho um lado
maligno. Valeyard. O Destruidor de Mundos. Mas não serei tão mal a esse ponto.
Pois compaixão e amor são bênçãos disfarçadas com nomes simples.
Feliz 2017. Assim como 2016 foi
para mim. Em qualquer lugar no tempo e espaço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário